Marcha Mundial pela Ciência mobiliza pesquisadores

Milhares de cientistas fizeram marchas em cerca de 500 cidades no mundo neste sábado (22). O objetivo é destacar a importância da pesquisa científica para o mundo e protestar contra cortes orçamentários na área científica. No Brasil, mais de 20 cidades reuniram cientistas, professores, pesquisadores e estudantes reuniram-se neste sábado (22) em vários pontos do mundo para participar da Marcha pela Ciência. O ato foi convocado em mais de 500 cidades no mundo.

 

A marcha lembra ainda o Dia da Terra, comemorado neste sábado (22). A inspiração para o ato veio dos Estados Unidos, onde cientistas estão se articulado contra os cortes no orçamento da área de pesquisa e o posicionamento do governo de Donald Trump em relação a temas como o aquecimento global.

São Paulo

Em São Paulo, apesar da chuva, os manifestantes reuniram-se no Largo da Batata, zona oeste da capital. No local, foram montadas tendas onde as pessoas podiam obter, por exemplo, informações sobre a dengue. Também foi montado um pequeno palco para os discursos. O número de manifestantes não foi informado.

O pesquisador Joaquim Adelino de Azevedo Filho e presidente da Associação dos Pesquisadores Científicos do Estado de São Paulo (APQC) disse que o ato é mundial e visa a demonstrar a importância da ciência. “Há 40 anos, logo depois da 1ª Guerra Mundial, o Brasil importava sementes de hortaliças e frutas. Com a guerra, isso ficou inviável. O Brasil teve então que investir em pesquisas para produzir aquilo que a população estava acostumada a comer”, disse, acrescentando que os 19 institutos científicos do estão “há 20 anos sofrendo um desmonte”.

A presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Helena Nader, ressaltou que o ato de é mundial e apartidário. “Ele está presente em mais de 60 países e 600 cidades e 25 delas no Brasil. Hoje é o dia do Planeta Terra. Está sendo uma marcha pela ciência porque algumas pessoas passaram a questionar o valor da ciência”, explicou.

Helena Nader disse ainda que a ciência no país vive uma crise.”A produção científica está indo muito bem, com aumento do número de publicações e da qualidade medida pelo impacto. No entanto, quando se olha o financiamento, ele está inversamente proporcional. Com o contingenciamento, não temos como sobreviver. E isso não vem deste ano. Vem de alguns anos”, acrescentou.

Brasília

Em Brasília, os manifestantes reuniram-se em frente ao Museu da República, na zona central da cidade. Acompanhados por um caminhão de som e portando faixas, cartazes e balões eles marcharam pela Esplanada dos Ministérios em direção ao Congresso Nacional. Lá, espetaram os balões no gramado como forma de chamar a atenção dos parlamentares.

A conselheira da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e professora da Universidade de Brasília (UnB) Laila Espíndola destacou a diminuição de recursos para o setor e a fusão entre o antigo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação e a pasta das Comunicações.“Já está começando a Escolha de Sofia. Estamos tendo que escolher onde alocar recursos”, afirmou a professora, uma das organizadoras da marcha no Distrito Federal.

No início do ano, o governo federal contingenciou recursos de várias áreas por causa do ajuste fiscal.

Rio de Janeiro

No Rio de Janeiro o ato ocorreu pela manhã em frente ao Museu Nacional, na zona norte da cidade. Levando tesouras, os participantes protestaram contra o corte no orçamento do ministério.

A presidenta do sindicato dos trabalhadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Justa Helena, lembra que, sem investimento de grande porte, a pesquisa não avança. “Por exemplo, se não tivesse tido pesquisa em relação à febre amarela, hoje a gente não poderia produzir as vacinas para a febre amarela que estão salvando muitas vidas no nosso país. É um processo lento, mas que precisa caminhar”.

O diretor do Instituto Oswaldo Cruz, Wilson Savino, que compareceu ao evento representando a presidência da Fiocruz, afirma que os cortes de verba têm afetado as pesquisas. “Vai ser um atraso muito maior nosso em relação ao desenvolvimento da ciência no mundo como um todo. É o que a gente pode chamar de tiro no pé, não investir em ciência e tecnologia e em educação quando um país está em crise econômica.”

O reitor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Roberto Leher, destaca que a ausência de recursos desestimula os jovens a ingressarem no mundo científico.

“Se não tem bolsas de iniciação científica em quantidade suficiente, se os laboratórios estão desorganizados e desconstruídos, se projetos de pesquisa têm que ser interrompidos por falta de verba, é claro que isso é uma sinalização objetiva para a juventude: se afastem da ciência”.

Belo Horizonte

Em Belo Horizonte houve uma caminhada na Praça da Liberdade. “Os cientistas brasileiros ficaram horrorizados com o corte de 44% do orçamento federal para a ciência, anunciado pelo governo no último dia 30 de março”, anuncia o site da Academia Brasileira de Ciência. “Isto deixará o Ministério de Ciência, Tecnologia, Inovação e Comunicações (MCTIC) com o menor orçamento em pelo menos 12 anos, de R$2,8 bilhões, equivalente a 898 milhões de dólares – um corte de R$2,2 nos R$5 bilhões de fundos que o governo havia prometido para 2017”.

A Associação Nacional de Pós-Graduandos-ANPG, presente na marcha de BH através de seu diretor Philipe Pessoa lançou um manifesto onde registra “como alarmante a não garantia de mais de R$ 640 milhões para o pagamento de bolsas de estudo no ano de 2017”.

A Deputada Federal do PCdoB, Jô Moraes, presente à marcha, destacou a importância de transformar em campanha nacional a proposta feita pelo Professor Beirão de retomar, de imediato alcançar 1,25% do PIB para a ciência e ter como referência o cumprimento das metas do milênio com as quais o Brasil assumiu compromissos.

Mais de 500 cidades do mundo protestam em defesa de ciência

Nos EUA, o ato reuniu mais de 70 mil manifestantes em frente à Casa Branca contra os cortes propostos por Donald Trump. Outras cidades, como Nova York e Chicago, também fazem atos em apoio à “Marcha pela Ciência”. Em Berlim, os manifestantes carregaram faixas como “Ciência, não silêncio” e “Amamos especialistas – aqueles que têm evidências”, e marcharam da Universidade Humboldt até o Portão de Brandemburgo.

Os participantes do protesto fizeram uma parada em frente à Embaixada da Hungria para protestar contra a nova lei húngara que ameaça fechar a Universidade da Europa Central, financiada por George Soros. Os organizadores dizem que 11 mil pessoas participaram do evento, que teve como principal objetivo destacar a importância da ciência em democracias.

“Nós, berlinenses, sabemos pela nossa história o que a repressão da liberdade significa. É por isso que temos a responsabilidade de nos mobilizar por uma ciência livre e uma sociedade aberta e tolerante”, disse o prefeito de Berlim, Michael Müller, que liderou a marcha.

Da redação com agências – Foto de Capa, agência Estado
Publicado em 24/04/2017