Entrevista com o novo presidente da Fenafar, Ronald dos Santos

Entrevista com o novo presidente da Fenafar, Ronald dos Santos

O novo presidente da Fenafar, Ronald Ferreira dos Santos, formou-se em 1993 pela Universidade Federal de Santa Catarina. Naquele ano, participou do 1º Congresso da Federação, que aconteceu na cidade de Praia Grande. Nestes quase 20 anos, esteve presente em todas as lutas desenvolvidas pela Fenafar e foi por duas vezes presidente do Sindicato dos Farmacêuticos de Santa Catarina. Conhece a fundo os problemas da categoria e mais, tem uma intensa participação na luta em defesa do SUS. É conselheiro do Conselho Nacional de Saúde. É um idealista, no sentido mais puro desta palavra. Acredita que é possível transformar a sociedade e faz deste ideal sua luta cotidiana. Durante palestra neste 7º Congresso, emocionou a todos ao lembrar um poema de Castro Alves que falava de liberdade e justiça.


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É com essa emoção aflorada e uma grande disposição para enfrentar desafios que Ronald pretende conduzir nos próximos 3 anos a Federação Nacional dos Farmacêuticos. Para ele, a presidência é mais uma tarefa que vai trazer novas responsabilidades. Mas ele não pretende fazer nada sozinho. A Fenafar é uma construção coletiva e em sua trajetória no movimento social, do qual participa desde 1984, sempre manteve-se vigilante contra as vaidades e personalismos que, ao seu ver, acabam por afastar as pessoas da verdadeira luta transformadora.

Veja abaixo, a íntegra da entrevista que Ronald Ferreira dos Santos concedeu à jornalista Renata Mielli para o site da Fenafar.

 

Lá em Praia Grande, quando você participou do 1º Congresso da Fenafar, você imaginava que um dia estaria na posição de presidente da entidade? O que significa para você ocupar esta função?

 

ronaldfsiteRonald – Na verdade, desde sempre, a minha trajetória de participação no movimento social – seja no movimento estudantil ou no movimento sindical – essa questão de presidir alguns processos sempre foi algo secundário. Esta é segunda vez que eu assumo a presidência de uma organização. Desde 84, quando eu comecei a participar – eu já fui diretor de entidade estudantil secundarista, universitária estadual, da UNE – a primeira vez que eu assumi a presidência foi no Sindicato dos Farmacêuticos de Santa Catarina, que eu tive a oportunidade de presidir por duas vezes. Então, imaginar ser presidente da Fenafar nunca foi um objetivo. Mas o que eu sempre quis, desde o primeiro congresso da Fenafar, é o que eu vi materializado aqui neste nosso 7º Congresso: uma entidade forte, representativa, com participação do Amazonas ao Rio Grande do Sul, com a política no comando, com respeito de todas as instituições. Ou seja, minha vontade sempre foi participar. Estar na presidência da Fenafar soma algumas responsabilidades. Eu tenho observado que um dos grandes gargalos do movimento social e da própria política é a vaidade, o personalismo, é a questão de concentrar construções coletivas em personalidades – uma coisa que é estimulada por aqueles que combatem as causas que o movimento social se propõe a defender. E eu tento me vacinar disso, procurando ver essas situações como uma tarefa. Estar à frente da Fenafar é uma tarefa, que na verdade me deixa bastante honrado pela confiança da categoria. Uma tarefa que vai cobrar mais da minha dedicação. E que sem falsa modéstia, já há alguns anos eu tenho dedicado boa parte do meu tempo para esta causa que estes colegas farmacêuticos dividem com a gente na Fenafar.

 

Quais são os principais desafios para essa gestão?

 

Ronald – Nós acumulamos algumas bandeiras e forças em várias frentes, mas precisarmos dar alguns saltos de qualidade. Sabe quando chega nos 100º e precisa daquele salto? Então, em algumas questões precisamos desse salto, como na nossa participação do Sistema Único de Saúde, como a questão de participarmos mais efetivamente do jogo do medicamento no setor privado. Na verdade, o trabalho do farmacêutico não tem grandes poderes de decisão e deveria ter, precisamos participar mais desse processo, ter uma remuneração melhor. Quem sabe buscar um acordo salarial com uma grande empresa que possa servir de referência, por exemplo. Eu acho que reunimos condições, energia e força para pensar nesses saltos. E há outras questões da nossa atuação na farmácia privada que precisamos avançar, como a questão da farmácia estabelecimento de saúde, valorizar outras áreas que têm uma presença importante do farmacêutico, a luta pela redução da jornada e pelo piso salarial nacional, e a questão de uma inserção que contribua mais para o desenvolvimento do SUS, aonde a gente possa atuar mais. Eu acho que acumulamos forças suficientes. Há outra coisa que eu acho que podemos dar um salto – e o Congresso mostrou isso – que é essa possibilidade concreta de a Fenafar ampliar a sua base de sindicatos, isso é muito possível.

 

Três das principais bandeiras da Fenafar passam pelo embate no Congresso Nacional. O que pode ser feito, além do que a Fenafar já tem desenvolvido, para tentar alterar mudar a correlação de forças no Congresso e alcançar vitórias?

 

Ronald – Temos que desenvolver uma luta no Congresso Nacional que nos permita alterar a correlação de forças existente e também algumas convenções sociais que dizem o que é certo e o que é errado. Então, o pulo do gato que eu acho que podemos dar é ver como desdobrar estas três lutas nacionais para os estados e traduzi-las em normas estaduais aprovadas pelas Assembleias Legislativas. O Rio de Janeiro, por exemplo, tem um piso estadual para o farmacêutico aprovado. Então, de repente, esse movimento pode ser um caminho. Até porque, uma parte dos deputados estaduais de hoje, serão os deputados federais de amanhã. Aqui em Santa Catarina, por exemplo, quem fez muitos movimentos com a gente e nos deu apoio em várias matérias foi a então deputada estadual Ideli Salvati, e que hoje está ministra. Além de continuar com a luta no Congresso Nacional, devemos ter uma ação mais local. E isso contribui para o fortalecimento dos sindicatos.

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Diretoria da Fenafar eleita no 7º Congresso

E quais os principais desafios do ponto de vista da estruturação da Fenafar?

 

Ronald – Ampliar a visibilidade da Fenafar nos estados que ainda é pequena. A ampliação da nossa presença vai se dar a partir da nossa capacidade de fazer com que os movimentos nacionais que a Fenafar conduz tenham capilaridade nos estados. Um exemplo é o Saúde + 10 que nós aprovamos aqui. A possibilidade de a Fenafar estar lá no estado é proporcional a capacidade de o sindicato desenvolver essa campanha nacional localmente. Neste sentido, eu acho que o novo que surge no 7º Congresso são as diretorias regionais, que podem ampliar essas ações e contribuir para esse fortalecimento. Nós temos acumulando muito nos últimos anos e isso nos permite dar aquele salto de qualidade ao qual eu me referi lá no início, na nossa atuação política.