Começa, na África do Sul, Congresso da Federação Sindical Mundial

Com a presença de cerca de 2 mil trabalhadores, de 111 países dos cinco continentes, teve início em Durban o Congresso da FSM. A Fenafar está presente no evento e integra a bancada da CTB, que no primeiro dia do evento denunciou o governo Temer e os retrocessos sociais e trabalhistas no Brasil.

 

A 17ª edição do congresso internacional da Federação Sindical Mundial (FSM) reúne sindicalistas provenientes de 1,2 mil centrais sindicais classistas e comprometidas com os lemas: unidade, luta e internacionalismo. Juntos, representam mais de 100 milhões de trabalhadores e trabalhadoras ao redor do mundo.

A CTB está presente com 44 delegados e delegadas, de todo o Brasil, todos dirigentes sindicais de diferentes áreas de atuação, e comprometidos com a denúncia do golpe, do governo ilegítimo de Michel Temer e das graves ameaças à classe trabalhadora. Esta é a maior delegação da história da central em um congresso internacional e reflete a exata dimensão que a CTB vem dando à crise que a classe trabalhadora mundial enfrenta no Brasil e em diversas partes do mundo.

“A base do movimento sindical é a mais atingida nessas circunstâncias, por isso ele deve estar na linha de frente contra essa barbárie. No entanto, precisa, antes de tudo, de uma ampla unidade política capaz de sensibilizar e mobilizar as camadas mais atingidas pelo livre arbítrio do mercado hoje hegemônico. E por isto o Congresso, neste momento, é tão importante”, avalia o secretário internacional da CTB, Divanilton Pereira, coordenador da FSM para o cone sul e um dos organizadores do encontro.

O presidente da CTB, Adilson Araújo, foi um dos primeiros oradores ainda no final da manhã desta quarta-feira (5). Denunciou a situação política brasileira, o golpe, os interesses poderosos dentro e fora do país envolvidos neste processo, e a infame e retrógrada política externa brasileira, que reverte um posicionamento progressista e solidário na América Latina que vinha sendo construído há 12 anos.

Atacou duramente os EUA e sua ativa atuação nos desmandos e desmontes em curso no Brasil, com destaque também à Petrobras: “Os EUA ganharão com a mudança das regras de exploração do pré-sal, feitas sob encomenda da multinacional Chevron com o descarado propósito de entregar o petróleo brasileiro aos monopólios estrangeiros de mão beijada”.

 

E finalizou, sob aplausos e gritos de Fora, Temer!, que permearam o dia inaugural do Congresso: “São imensos os desafios que emergem nesse cenário de adversidades para as forças progressistas, o sindicalismo classista, a CTB e a nossa querida Federação Sindical Mundial (FSM). A experiência histórica vai mostrando que não haverá um desfecho positivo para a crise nos marcos do capitalismo. É hora de reiterar e renovar a luta pelo socialismo”.

Mandela, Mabhida e Amandla

A abertura do evento contou com a participação do presidente do Congresso Nacional do país, Jacob Zuma, que, em seu discurso, condenou o imperialismo mundial pela tragédia dos imigrantes e refugiados e destacou a unidade dos trabalhadores e trabalhadoras como a chave para se avançar e reverter o cenário hostil dos tempos atuais.

Lembrou Nelson Mandela, líder maior e símbolo da luta contra o Apartheid e a opressão, e Moses Mabhida, lendário dirigente sindical e fundador do partido comunista no país. Mabhida dá nome ao estádio que sedia o congresso da FSM), um dos maiores do país.

George Mavrikos, presidente da FSM, fez um histórico das ações da federação ao longo de seus 71 anos de história, e foi seguido pelo presidente do Congresso das Centrais Sindicais da África do Sul (Cosatu), Sdumo Dlamini, que comunicou a todos que haverá uma greve geral nesta sexta-feira (8), motivada, principalmente, por revindicações sobre as condições de transporte e educação.

Ao longo do dia, os sindicalistas da Cosatu, única e histórica central sindical sul africana, encantaram o estádio, entoando cantos da música folclórica africana. Os dirigentes também usam uma palavra especial para convocar a luta e a união: Amandla, do idioma zulu, que significa “poder”, ao que todos respondem: “awethu”, que quer dizer “nosso”.

Leia a íntegra do discurso de Adilson Araújo na abertura do Congresso da FSM

Estimados companheiros e companheiras

Vivemos tempos de crise, adversidades e grandes desafios. O povo brasileiro sofre neste momento os efeitos do golpe de Estado que resultou no impeachment da presidenta Dilma Rousseff e na instituição de um governo ilegítimo presidido pelo usurpador Michel Temer.

O complô envolveu a mídia burguesa, setores majoritários do Poder Judiciário, bem como do Parlamento mais conservador e venal da história do país. A pretexto de combater a corrupção afastaram uma presidenta honesta e instalaram no Palácio do Planalto uma quadrilha de malfeitores, envolta em inúmeros escândalos e comprometida com uma agenda abertamente antipopular, antidemocrática e antinacional.

A bandeira da corrupção foi erguida como uma cortina de fumaça para encobrir os reais interesses que estão por trás do golpe e ludibriar as classes médias e o povo. São interesses poderosos das velhas classes dominantes: a aristocracia financeira internacional, a burguesia nacional, que não poupou esforços e recursos a favor do impeachment, e os latifundiários. São essas as forças sociais e políticas que estão por trás da farsa que vem sendo encenada no Brasil.

O golpe atende em primeiro lugar aos interesses geopolíticos e econômicos dos Estados Unidos. Ele se insere claramente na grande onda conservadora que invadiu a América Latina e o Caribe nos últimos anos e ameaça reverter o ciclo político progressista iniciado na região no alvorecer do século 21, que se expressou em fatos como a rejeição da ALCA, a criação da ALBA, da Unasul e da Celac, a ampliação do Mercosul. A reversão da política externa brasileira, agora hostil à integração regional e submissa aos desígnios de Washington, é uma das infames obras dos golpistas.

Os EUA ganharão também com a mudança das regras de exploração do chamado pré-sal, feitas sob encomenda da multinacional Chevron com o descarado propósito de entregar o petróleo brasileiro aos monopólios estrangeiras. Trata-se do petróleo depositado nas profundezas do oceano, onde foram descobertas pela Petrobras reservas estimadas em 176 bilhões de barris. Hoje já se extrai diariamente mais de 1 milhão de barris desta fonte, riqueza que os golpistas pretendem transferir de mão beijada ao capital estrangeiro.

Os governos Lula e Dilma promoveram uma política externa soberana, pautada pela integração regional, que já não batia continência para o império e estava perfeitamente alinhada com as forças progressistas do continente. Realizaram também um conjunto de políticas sociais que favoreceram a classe trabalhadora, com destaque para a política de valorização do salário mínimo.

Os avanços registrados ao longo dos últimos anos estão sendo revertidos e devastados pelo governo ilegítimo, que assumiu com o compromisso, selado com a burguesia e os magnatas do agronegócio, de aplicar “medidas duras” e “antipopulares”. Suas principais vítimas são a classe trabalhadora, o povo pobre, o campesinato, os pequenos produtores do campo e das cidades.

O pacote golpista começa por um ajuste fiscal rigoroso e danoso para os serviços públicos, o funcionalismo e a Previdência. Consta do cardápio ofertado à burguesia uma reforma trabalhista que ameaça conquistas e direitos históricos como férias de 30 dias, 13º salário, jornada de 44 horas semanais, licença maternidade, entre outros. Acena-se também com uma “reforma previdenciária” que amplia em pelo menos 10 anos o tempo de trabalho e contribuição antes da aposentadoria.

Temos consciência de que o pano de fundo desses acontecimentos que sacodem o Brasil e a América Latina é a crise global do capitalismo, que combina ingredientes econômicos, geopolíticos e ambientais e se arrasta há mais de oito anos. Em seu curso percebe-se o acirramento de todas as contradições do sistema, dos conflitos internacionais fomentados pelos EUA e seus aliados, das agressões e da espoliação imperialista, o fortalecimento da extrema direita, o desemprego em massa, a radicalização da luta de classes em todas as suas formas, uma nova corrida armamentista e o ressurgimento dos riscos de uma terceira e derradeira guerra mundial.

É generalizada, nos países capitalistas, uma feroz ofensiva do capital contra o trabalho. Governos a soldo do patronato querem suprimir ou flexibilizar direitos e desmantelar as redes de seguridade social, onde existem. Almejam jogar todo o ônus das turbulências que sacodem a sociedade burguesa sobre as costas da classe trabalhadora. A saída que enxergam para a crise é mais do mesmo, ou seja, a solução capitalista consiste em redobrar a dose de neoliberalismo, exacerbar a exploração capitalista e a opressão das nações mais pobres pelas potências imperialistas.

Neste rumo, o mundo caminha celeremente para a barbárie, com economias estagnadas, com crescimento exponencial dos refugiados, com o Mediterrâneo transformado em cemitério de imigrantes desesperados, com a construção de muros para separar os povos, com provocações e crescentes tensões no Mar da China, com a generalização dos golpes coloridos e a tentativa de recolonizar os países da periferia.

São imensos os desafios que emergem nesse cenário de adversidades para as forças progressistas, o sindicalismo classista, a CTB e a nossa querida Federação Sindical Mundial (FSM). A experiência histórica vai mostrando que não haverá um desfecho positivo para a crise nos marcos do capitalismo. É hora de reiterar e renovar a luta pelo socialismo.

No Brasil nosso caminho é o da resistência e da guerra sem quartéis contra os golpistas e em defesa dos direitos da classe trabalhadora, da democracia, da soberania nacional e da integração latino-americana e caribenha e dos povos oprimidos em todo o mundo.

Querem excluir a classe trabalhadora e os movimentos sociais do jogo político, mas não vamos permitir. As centrais sindicais devem seguir lutando unidas contra as reformas pretendidas pelo governo golpista. Os movimentos sociais têm ocupado diuturnamente as ruas gritando Fora Temer e pleiteando novas eleições. A CTB participa ativamente dessas manifestações com a certeza de que conta com todo apoio e solidariedade da nossa FSM e que, no final, a vitória será do povo.


Viva o Socialismo!
Abaixo o sistema capitalista-imperialista!

Vida longa à FSM!

Muito obrigado!  

Da redação com CTB