A crise do Capital e os impactos no mundo do Trabalho

Nesta quinta-feira, os farmacêuticos presentes ao 7º Congresso da Fenafar iniciaram os debates do evento discutindo a profunda crise financeira que atinge os países da Europa e seus impactos no Brasil.

 


 

por Renata Mielli, de Florianópolis 

 

O vice-presidente da CTB – Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil, Nivaldo Santana, abriu sua participação alertando para a importância do movimento sindical compreender o contexto político internacional e nacional, e como os trabalhadores e trabalhadoras devem se posicionar neste cenário para contribuir com o avanço democrático, com a consolidação de direitos e avanço do desenvolvimento.

 

As 3 grandes crises

 

Nivaldo fez um resgate histórico das grandes crises do capitalismo. “A primeira, no início do Século XX, culminou na 1ª Guerra Mundial. A segunda foi marcada pela quebra da Bolsa de Nova Iorque em 1929 e, como a anterior, levou à 2ª Guerra Mundial, depois da qual o capitalismo se reestruturou. A crise atual, de acordo com a análise de economistas renomados mundialmente, tem sido considerada a 3ª grande crise do capitalismo. Ela teve inicio em 2007 – com a bolha imobiliária nos Estados Unidos – e foi agravada em 2008 com a quebra de bancos e seguradoras, se propagando por outros países da Europa e hoje atinge todo o mundo”.

 

Outra característica desta crise, destacada pelo dirigente da CTB, é que ela teve um impacto maior nos países centrais do capitalismo e um efeito menor nos países periféricos. “Nos vivemos um período de transição econômica, no qual a pujança econômica internacional tem se movimentado para as regiões asiáticas”, constatou.

 

Um terceiro fator que distingue o cenário atual é que houve uma estatização da crise. “Para salvar o setor privado em falência, o Estado injetou bilhões nos bancos e multinacionais, gerando um endividamento público que quebrou os Estados soberanos, como na Grécia, Espanha e outros, e que teve como consequência a redução de investimentos públicos em áreas sociais, desemprego e diminuição de direitos trabalhistas”, disse Nivaldo.

 

Como sair do buraco?

 

E o que tem sido feito para superar a crise? Ai, de acordo com Nivaldo, está outra parcela dos problemas que estão levando vários países para o buraco. Para o sindicalista, “quem conduz os processos de recuperação dessa crise são os mesmos setores econômicos e sociais que a causaram e, estas pessoas têm como ideário econômico a cartilha neoliberal. Daí, o “remédio” que eles têm dado para a crise é a “austeridade fiscal”, que além de não curar a doença a está agravando, porque o resultado dessa austeridade é mais demissão, arrocho salarial, retirada de direitos, desnacionalização da economia. Ou seja, um cardápio indigesto que está provocando um retrocesso sem precedentes na Europa”. E alertou: “está em curso na Europa um processo de desmonte do Estado de Bem-Estar Social”.

 

Então, as medidas que os grandes países capitalistas adotam são as três clássicas: os países ricos jogam a crise nas costas dos países mais pobres, jogam a crise nas costas dos trabalhadores – demitindo funcionários públicos, limitando o sistema previdenciário, arrochando salários – e a outra medida é a destruição de forças produtivas pela guerra. A guerra é um componente econômico do capitalismo para superar crises.

 

“Por isso, os trabalhadores em todos estes países têm ressaltado a necessidade de se construir uma agenda alternativa para superar a crise, que tenha no Estado um fator estragégico de indução de crescimento, com mais desenvolvimento econômico, distribuição de renda e redução de desigualdades e defendendo a soberania nacional.

 

Os impactos da crise no Brasil

 

O Brasil também está sofrendo com a crise. “Devemos ter um recuo do PIB neste ano, alguns economistas projetam algo em torno de 2%, apesar de estarmos vivendo uma alteração na política macroeconômica com redução na taxa de juros – que é uma das mais baixas do último período – o que amplia o crédito e estimula o setor produtivo” disse Nivaldo. Para ele, apesar das várias medidas positivas que têm sido adotadas pelo governo, elas “são insuficientes e não compõem uma estratégia global de desenvolvimento para o Brasil, embora os níveis de emprego e renda ainda se mantenham estáveis, de forma localizada já estamos vendo alguns problemas”, destacou.

 

Outra coisa que preocupa o sindicalista é a mudança do perfil da economia do Brasil. “Em 1980, a produção industrial do Brasil era maior que a da China, Coréia, Indonésia e Tailândia juntos. Hoje, perdemos terreno, porque temos vivido um processo de desendustrialização, de reprimarização da economia. Estamos exportando pouco valor agregado, nossa cesta de exportação é de produtos brutos, matérias-primas composta por commodities, o que cria uma vulnerabilidade estratégica. De outro lado, estamos importando produtos de maior valor agregado. Esse cenário gera uma distorção na economia”, explicou Nivaldo.

 

Mas, Nivaldo Santana acredita que o Brasil tem potencial para, a partir desta crise, engatar um processo de desenvolvimento e avanço, “a crise pode ser uma oportunidade para o país, para isso é preciso saber aproveitar as brechas, o que só pode ser feito com políticas firmes que revertam essa tendência à industrialização, que criem mais investimentos no mercado interno, ampliem a integração regional com países da América Latina. Isso só será alcançado se o país reunir uma maioria política que tenha a convicção de que o caminho para superar a crise é impulsionar o desenvolvimento com justiça social”.