Marcha das resistência canta a luta pela diversidade e democracia

Sob chuva e batuque de tambores, cerca de 2 mil pessoas participaram do ato e da caminhada pelas ruas de PortoAlegre, marcando a abertura do Fórum Social das Resistências 2020, que reúne ativistas de várias partes do mundo contra a perda de direitos sociais. Fenafar e sindicatos filiados participaram da Marcha, ao lado de outras entidades da saúde e do Conselho Nacional de Saúde, pautando a luta em defesa do SUS, pelo direito ao acesso a medicamentos.

 

 

Realizada junto com a XII Marcha Estadual pela Vida e Liberdade Religiosa, a manifestação percorreu o centro da cidade demonstrando a capacidade de unidade e resistência de variados segmentos sociais contra o avanço das políticas neoliberais e a crescente onda de intolerância e fascismo no Brasil e no mundo.

A concentração da marcha ocorreu no Largo Glênio Peres, em frente ao Mercado Público de Porto Alegre, local simbólico para povos e religiões de matriz africana. Lá, um carro de som reuniu representantes de diversas organizações. Por volta das 18h, a marcha seguiu pela Borges de Medeiros, com destino ao Largo Zumbi dos Palmares, mas os manifestantes seguiram em caminhada até as proximidades da Usina do Gasômetro.

 

Para o presidente da Fenafar, Ronald Ferreira dos Santos, a marcha de abertura do Fórum das Resistências é mais uma demonstração da luta do povo brasileiro contra o autoritarismo e o fascismo que assaltaram o Brasil. “Temos que estar todos unidos e na luta contra a agenda fascista e ultra-liberal deste governo. Eles querem vender o Brasil, acabar com nosso patrimônio natural, industrial, econômico. Querem transformar direitos inalienáveis do nosso povo em serviços prestados pela setor privado, querem mercantilizar tudo, até a vida. Não vamos permitir. Vamos resistir, por isso estamos aqui”, afirmou.

Representante da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso) no conselho internacional do Fórum, Salete Valesan Camba ressalta o agravamento do contexto político adverso. “Já tem muitos anos que o Fórum aponta isso. Desde 2000 que a gente aponta isso e, nesse momento, esse Fórum das Resistências marca, na mesma semana de Davos, que os povos do mundo estão insatisfeitos com os grandes organizadores do capital mundial”, afirma.

Para a mexicana Rosy Zúñiga, secretária-geral do Conselho de Educação Popular de América Latina e Caribe (CEAAL), o encontro em Porto Alegre “é muito importante para congregar os movimentos sociais de resistência frente aos retrocessos que se vive na América Latina, não só no Brasil, mas também no Chile, Equador, Haiti, Honduras”, afirma. “É muito benéfico nos juntarmos aqui para pensarmos juntos como nós vamos nos unir para sair dessa opressão.”

“No Chile, o povo está mobilizado, pensando como querem ser, querem uma nova constituição. No entanto, as forças oficiais não querem escutar o povo. Então nesse momento precisa ter solidariedade com o Chile”, exemplifica. “Temos a preocupação com o que passa na Bolívia, com o racismo, a discriminação sofrida por mulheres e povos indígenas. Também estão assediando muito os jovens, sobretudo no Brasil, os negros, e também as mulheres. Há uma preocupação muito grande com esse sistema patriarcal que existe agora. É preciso derrotar todo esse sistema que normaliza a violência”, afirma.

Intolerância religiosa

O Brasil é, constitucionalmente, um país laico. Ou seja, a liberdade de culto deve ser garantida a todas as pessoas em território nacional. Porém, o avanço do fundamentalismo e do racismo religioso tem feito o número de ataques às religiões de matriz africana ampliar de 2016 até aqui. Em 2018, com dados do Disque 100, foram mais de 500 ataques a espaços de culto da umbanda e do candomblé.

De acordo com Fernando Pigatto, presidente do CNS, é preciso que a Saúde seja compreendida de forma ampla, onde a liberdade de expressão e de culto fazem parte da qualidade de vida. A presença do CNS aqui demonstra o caráter diverso do controle social brasileiro nesse momento da história. A democracia, os direitos dos povos de matriz africana e os direitos humanos estão sendo violados. Democracia e Saúde precisam caminhar juntas”. Segundo ele, “estão construindo um cenário onde, intencionalmente, a saúde pública está sendo entregue à saúde privada”, criticou.

Kafelê Medusa, representante do Fórum dos Povos Tradicionais de Matriz Africana, denuncia que os ataques estão aumentando a ponto de ocasionarem, inclusive, assassinatos. “Essa marcha acontece no Brasil inteiro. É nosso direito constitucional. Somos povos seqüestrados da África e mantemos nossa tradição no Brasil. A perseguição aumentou muito de 2016 pra cá”. Ele também relata a dificuldade do registro das denúncias, pois muitas delegacias pessoalizam os ataques sem registrar o crime de intolerância. “Estão recrutando muitos policiais com o fundamentalismo religioso”, disse.

Sobre o Fórum

O 2º Fórum Social das Resistências está sendo realizado em Porto Alegre entre os dias 21 e 25 de janeiro, sob o lema “Democracia e Direitos dos Povos e do Planeta”. Reúne diversas atividades como plenárias, seminários, assembleias e debates. Soma-se a outras iniciativas previstas para este ano ao redor do mundo, articuladas no âmbito do Fórum Social Mundial (FSM).

Da redação com BdF e Susconecta