Congresso da Fenafar debate organização sindical

Na manhã desta sexta-feira, 10, aconteceu o debate sobre “A organização dos farmacêuticos, suas relações de trabalho no contexto do mercado brasileiro e do movimento sindical”. Para contribuir com essa discussão durante o 7º Congresso da Fenafar, 5º Simpósio Nacional de Assistência Farmacêutica e 3º Encontro Nacional dos Farmacêuticos no Controle Social foram convidados o diretor de comunicação da Fenafar, Ronald dos Santos, o presidente da CTB-MG, Gilson Reis e Jacy Afonso de Melo – Secretário de Organização da Central Única dos Trabalhadores.


 

por Renata Mielli, de Florianópolis 

 

O diretor de comunicação da Fenafar, Ronald dos Santos, se baseou nos princípios da atuação sindical definidos pelos farmacêuticos em seu 1º Congresso, que aconteceu na Praia Grande, para falar do papel do movimento sindical na luta pela redução das desigualdades, no combate à concentração de renda e pela valorização dos trabalhadores.

 

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Ele listou o que chamou de seis mandamentos da organização sindical dos farmacêuticos:

 

1) Sindicato de Luta – “que prepara os trabalhadores para a luta política, defendendo um salário digno e uma vida digna”, 2) Sindicato Organizado – “que faz a luta de forma planejada, preparando sua estrutura para reagir aos ataques contra a categoria por parte dos empresários e governo”, 3) Sindicato Unitário – “porque é na unidade que podemos enfrentar as adversidades”, 4) Sindicato Democrático – “que respeita as decisões tomadas em seus fóruns e abre espaço para que todas as ideias sejam debatidas, respeitando todas as opiniões que visem contribuir para o fortalecimento da categoria. As decisões da federação nunca devem ser tomadas pela cúpula, daí a importância da realização de assembléias, congressos e seminários com reuniões periódicas da diretoria e do conselho”, 5) Sindicato Politizado – “que vincule a luta econômica à luta política, já que as duas andam juntas. Uma entidade que valoriza apenas a luta econômica não consegue elevar a consciência classista de sua base”, 6) Sindicato Independente – “que deve estar desvinculado de partidos políticos, de empregadores, instituições religiosas e de governo, o que não significa se omitir das decisões políticas”.

 

Em seguida, Ronald fez um paralelo entre a atuação sindical dos sindicatos com o papel da enzima. A enzima tem a função de diminuir a energia de ativação para os processos acontecerem, e esta é a função dos sindicatos e dos trabalhadores.

 

O diretor da Fenafar destacou que é a produção social da riqueza x apropriação privada da riqueza a principal contradição do capitalismo, a grande responsável pelas crises econômicas do mundo.

 

A partir daí, trouxe dados do mercado farmacêutico, demonstrando que 77,1% dos medicamentos “produto do trabalho do farmacêutico”, se movimenta nas farmácias e drogarias, 15,5% em clínicas e e hospitais particulares, 7,4% em outros espaços. Dos cerca de 111 mil estabelecimentos farmacêuticos, 98% empregam menos de 20 profissionais, e 2% empregam mais de 20 assalariados e movimentam 38 bilhões de reais, enquanto todo o restante movimenta 29,3 bilhões.

 

“Ao discutir o nosso trabalho temos dedicado tempo para destacar a nossa importância na saúde pública e em outros espaços. Mas a ferramenta do nosso trabalho está na farmácia e qual é a relação que se dá entre capital e trabalho nestes espaços é que precisamos compreender para poder atuar em defesa da nossa categoria e da saúde”, avaliou.

 

Ronald mostrou dados que demonstram como se dá a distribuição das receitas nestes estabelecimentos, aonde os trabalhadores recebem uma média mensal de R$ 1002,00, enquanto os proprietários dos estabelecimentos recebem aproximadamente R$ 220 mil reais por mês, o que dá a dimensão da concentração de renda.

 

“São nestes espaços que nós temos que enfrentar as contradições entre capital e trabalho. São nestes espaços que a Fenafar e os sindicatos tem que ver aplicados os seus princípios, a sua política”, salientou. E, completou: “Eentender a farmácia como estabelecimento de saúde é entender a lógica da concentração e lutar contra isso. Também ai se materializa a luta pelo piso nacional e a campanha pela redução da jornada de trabalho, que estão relacionadas com a luta por mais justiça social e distribuição de riqueza”.

 

Gilson Reis, da CTB, abordou os desafios do movimento sindical discutindo a estrutura, a organização e o financiamento do movimento sindical. Fez uma retrospectiva histórica da processo de estruturação do movimento sindical no Brasil e destacou que um dos principais desafios da atualidade é garantir o direito da organização sindical por local de trabalho. de trabalho, no brasil não conseguimos superar o modelo de organização por local de trabalho. “Ter um sindicato organizado por local de trabalho, contribui para termos um sindicato mais enraizado e presente no dia a dia da luta dos trabalhadores.

 

No debate sobre organização sindical, defendeu a unicidade sindical como melhor modelo para fortalecer a luta dos trabalhadores. Em sua opinião, a defesa do pluralismo sindical surge, sempre, nos momentos de crise econômica como meio para fragilizar a lista dos trabalhadores. Para além do debate em torno do conceito de organização temos que discutir o caráter ideológico, porque a fragmentação fragiliza a luta dos trabalhadores.

 

Sobre financiamento, destacou que acabar com o imposto sindical hoje é dar um “tiro no pé” do movimento sindical. “Está claro que quem deve financiar a luta dos trabalhadores são os próprios trabalhadores”, contudo, salientou Gilson, dizer que esse financiamento deve vir de assembleias democráticas dos sindicatos é ignorar que o ambiente do trabalho da maneira como está hoje não garante as condições para isso. “Como podemos pensar em assembleias democrática se 1/3 dos trabalhadores são demitidos todos os anos numa alta rotatividade”, exemplificou.

 

Gilson destacou que é urgente se criar “um fórum das centrais e estabelecer uma agenda política para discutir problemas estruturais graves do mundo do trabalho”. Ele avalia que “a pauta sindical está interditada. Nós não conseguimos reverter vários dos prejuízos que tivemos nos anos 90 e temos que aproveitar esse governo para tentar avançar. Precisamos trabalhar, de forma unitária, pela plataforma dos trabalhadores, construída na Conclat”.

 

Convidado para participar do Congresso da Fenafar, o dirigente da CUT, Jacy Afonso agradeceu à federação e registrou que essa é uma iniciativa fundamental e que deve servir de exemplo para todo o movimento sindical. Isso porque a Fenafar é uma entidade filiada à CTB, mas abriu espaço para o diálogo entre as duas centrais no debate, o que deveria passar a ser uma prática de outras entidades, filiadas à CUT e a CTB.

 

Sobre a forma de organização do movimento sindical, Jacy Afonso disse defender a liberdade. “Não adianta ter uma lei que diga como deve ser a organização sindical. Se a vocação pela unidade não existir por vontade não é a lei que vai garantir. Eu não defendo pluralidade sindical eu defendo a liberdade e essa é uma vocação dos trabalhadores”.

 

Jacy avalia que existe um acomodamento do movimento sindical e discorda que são as crises econômicas que impõem a pauta da pluralidade sindical para fragilizar a luta dos trabalhadores. “Mesmo existindo mais de uma estrutura sindical eu defendo que haja unidade na ação sindical”, afirmou.

 

Para o dirigente cutista os trabalhadores precisam debater os caminhos para recuperar o papel do movimento sindical. Ele fez uma análise do crescimento da esquerda no país e da sua representação no Congresso Nacional. No entanto, o crescimento das bancadas de partidos historicamente ligados à luta dos trabalhadores, como PT e PCdoB não se reflete no fortalecimento das pautas dos trabalhadores no Congresso. O que, na sua avaliação, mostra que o movimento sindical precisa se reinventar e procurar novas formas para convencer os trabalhadores da sua importância.