Sindicato dos Farmacêuticos de SP quer fórum em defesa da produção da fosfoetanolamina

O Sindicato dos Farmacêuticos no Estado de São Paulo (Sinfar-SP) vai encaminhar proposta de criação de um fórum composto por usuários, familiares, representantes da sociedade civil, sindicatos, médicos e cientistas para pressionar a produção e comercialização da fosfoetanolamina, mais conhecida como “pílula do câncer”. O anúncio foi feito no final do seminário Fosfoetanolamina em Debate, realizado em 11 de junho, na capital paulista.

 

“Entendemos que medicamento é uma questão estratégica, de soberania nacional, uma questão humana. A partir desse debate aberto hoje, com a comunidade científica e usuários, nós vamos chegar a um documento de encaminhamento para esse fórum”, disse o presidente do Sinfar-SP, Glicério Diniz Maia. “Vamos buscar ainda outras lideranças para fazer esse enfrentamento a quem quer que seja no cenário político ou nessa imprensa, essa mídia que infelizmente é contra os interesses do Brasil e do povo brasileiro”, disse, referindo-se sobretudo às pressões da indústria farmacêutica para obter para si as patentes – e os lucros – dos medicamentos.

Dirigente do Sinfar-SP e ex-presidenta da Federação Nacional dos Farmacêuticos, Gilda Almeida entende que é preciso muita organização para pressionar autoridades e a Justiça. “Trata-se de um tema que não interessa ao poder econômico e às multinacionais. Portanto, acho que devemos nos organizar para fazer uma grande pressão para que essa medicação comece a ser comercializada”, disse.”Todos nós sabemos que não é fácil lutar contra o poder econômico; não interessa às transnacionais que o medicamento funcione, que chegue às mãos de quem tanto precisa. Temos de organizar a sociedade civil, os usuários, movimento sindical, academia.”

No último dia 19 de maio, o Supremo Tribunal Federal (STF) acatou liminar da Associação Médica Brasileira (AMB) e cassou a lei 13.269, sancionada em 13 de abril pela presidenta afastada Dilma Rousseff, que autoriza o uso e a produção da substância para doentes de câncer mesmo sem o registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Os ministros derrubaram ainda a obrigatoriedade do governo de fornecer os medicamentos.

Em abril, a direção da Anvisa chegou a afirmar à imprensa que recomendaria a Dilma o veto à fabricação, distribuição e o uso da substância. Isso porque, segundo a agência, é perigoso distribuir para a população uma substância que não passou pelos testes que comprovem sua segurança.

Novas pesquisas

Além de usuários da substância em várias regiões do pais e seus familiares, o evento promovido pelo Sinfar-SP reuniu pesquisadores, farmacêuticos e advogados. O professor Gilberto Orivaldo Chierice, do Instituto de Química da USP em São Carlos, líder dos estudos que levaram à sintetização da substância em laboratório, e seu colega Salvador Claro Neto, criticaram a abordagem do tema pela grande mídia. “Esses veículos distorcem tudo o que a gente diz – e ainda por cima chamam de pílula quando o correto é cápsula. Mas podem chamar do que quiser porque o caminho é sem volta”, destacou Chierice.

Em sua palestra sobre os mecanismos de ação da substância sobre as células tumorais, Salvador Neto explicou a recomposição de estruturas celulares por meio da reposição de ácidos graxos presentes nas cápsulas. “É uma resposta do próprio organismo, em que ele dará conta de combater as células malignas.”

Pesquisador do Serviço de Bioquímica do Instituto Butantan, Durvanei Augusto Maria apresentou resultados promissores de suas pesquisas sobre tumor de pele e um tipo de leucemia em ratos. No primeiro caso, houve redução no tamanho da massa do tumor logo nos primeiros dias na maior parte das amostras. E quando não houve alteração no volume, cessou seu crescimento. No segundo caso, os resultados preliminares apontam para indução da morte programada das células, a chamada apoptose.

“Por enquanto, os resultados sugerem que em doses únicas, a substância não é tóxica e que também não houve efeitos colaterais”, disse Durvanei, que está iniciando testes em tumores de mama provocados nessas cobaias.

Entre seus orientandos, Arthur Cassio de Lima Luna estuda os efeitos da substância em câncer hepático, também em ratos, e Larissa Kim Higashi Carvalho, câncer de boca, com resultados preliminares igualmente promissores em relação a eficácia e segurança da ação da substância.

Lei

O advogado Daniel de Macedo Alves Pereira, titular do 2º Ofício de Direitos Humanos e Tutela Coletiva da Defensoria Pública Federal no Rio de Janeiro, apresentou cópias de declarações de médicos sobre a recuperação de seus pacientes após o uso da “pílula”, além de documentos que comprovam reuniões dos pesquisadores de São Carlos com diretores da Anvisa, de hospitais como o Sírio Libanês e até a Fiocruz.

“Isso tudo, mais os estudos aqui mostrados, demonstram não se tratar de ‘garrafadas’ ou charlatanismo. É ciência e o Estado não pode ser omisso. Meu conselho é que vocês continuem acionando a Justiça mesmo que tenhamos que esgotar todas as vias jurídicas.”

Fonte: Rede Brasil Atual