No dia do Farmacêutico, live aponta desafios e possibilidades da profissão 

Uma LIVE nacional em comemoração ao Dia do Farmacêutico e da Farmacêutica que aconteceu na sexta-feira, 20 de janeiro, reuniu oito diretores da Federação Nacional dos Farmacêuticos (Fenafar) para um bate papo sobre os desafios e possibilidades do trabalho farmacêutico a partir do novo período inaugurado no Brasil em 1º de janeiro de 2023. 

Para a atividade a Fenafar convidou também o Coordenador da Área de Geração de Conhecimento para a Promoção do Trabalho Decente do Escritório da Organização Internacional do Trabalho (OIT) no Brasil, José Ribeiro, que possui acúmulo de informações e dados sobre o trabalho da categoria farmacêutica no Brasil, tais como, salários por região, jornada de trabalho, assédio moral e adoecimento pelo trabalho.  

No seu relato, José Ribeiro trouxe uma série de dados sobre a categoria: 

  • Os farmacêuticos são mais de 200 mil trabalhadores em atuação no brasil dos quais 68% são mulheres,  
  • 68% da categoria trabalha entre 40 e 44 horas semanais, 20% trabalha mais de 44 horas e 10% chega a trabalhar 50 horas semanais, o salário não acompanha a jornada maior.  
  • No Brasil, entre os profissionais de saúde, a media de horas trabalhadas por semana é de 38 horas semanais. Profissionais médicos e da enfermagem trabalham 39,5 horas, dentistas e nutricionistas trabalham 37 horas, fisioterapeutas 36 horas e farmacêuticos possuem, em média a maior carga horária, com 42 horas semanais. 
  • Os farmacêuticos são a única categoria da área da saúde que ultrapassa a média de 40h semanais, uma sobrecarga extenuante que dificulta a conciliação entre trabalho e Família 
  • Além das jornadas exaustiva, os dados apresentam uma pressão muito grande em ralação a saúde mental dos profissionais farmacêuticos. 

No passado, a Fenafar já desenvolveu uma parceria com a OIT, e agora, a expectativa é pela assinatura de um novo termo de parceria técnica entre as duas entidades visando a busca de informações relacionadas ao trabalho farmacêutico. O termo de parceria está em processo de elaboração e a assinatura deve ocorrer em breve. 

Durante a sua fala, o presidente da Fenafar, Fábio Basílio, cumprimentou os farmacêuticos e farmacêuticas destacando a “importância desse profissional tão fundamental e que a cada dia ganha mais importância na vida dos brasileiros, esse profissional que está na linha do cuidado farmacêutico, desde a pesquisa de novos medicamentos, passando pela produção desses medicamentos, até o diagnóstico de patologias e doença, além da dispensação e do auxílio ao paciente após a aquisição do medicamento.” 

O presidente também destacou que os farmacêuticos são profissionais que atuam em diversas áreas de um dos setores da economia que é responsável pela movimentação, apenas em 2022, de mais de 150 bilhões de reais. “Apesar desses números vultuosos, somos os profissionais da área da saúde com a maior carga horária de trabalho e um dos menores salários. 

“Nosso objetivo nesse momento é buscar identificar quais são os fatores que levam a essa situação, tentar descobrir porque isso está acontecendo e tentar transformar essa situação, buscando a mudança de paradigma diante desse novo período iniciado em 1º de janeiro.” apontou. 

Além do presidente, mais sete diretores da Fenafar participaram do LIVE e todos apontaram os baixos salários, a carga horária extenuante e a insalubridade como questões importantes a serem discutidos imediatamente. Durante as falas foi unânime também a observação de que somente com a união da categoria em torno das entidades sindicais será possível avançar na luta por melhores condições de trabalho e remuneração.  

André Cavalcante (CE) – Primeiro Vice-Presidente 

“Nós, como entidades sindicais temos que quebrar uma logica perversa, a logica do ‘estude e trabalhe enquanto os outros dormem’. Como se fosse errado o farmacêutico ter direito ao lazer e a curtir a família. Temos que mostrar para os colegas que o trabalho é importante, mas também é importante ter tempo para a família e não apenas trabalhar até morrer. Não podemos virar escravos do trabalho. Não podemos deixar essa logica dominar as relações de trabalho.” 

Debora Melecchi (RS) – Segundo Vice-Presidente 

“Precisamos fortalecer os sindicatos nos estados, porque o sindicato não é apenas uma diretoria eleita, o sindicato somos todas e todos nós. Só dessa forma, organizados é que vamos conquistar o que desejamos. Precisamos estar unidos e muito atentos a chamada modernização da legislação trabalhista que nos vendeu mentiras. Nós precisamos reverter esse quadro e lutar pelos nossos direitos trabalhistas.” 

Holdack Velloso (PE) – Diretor Regional Nordeste 

“A balança de negociação entre patrões e empregados é muito desequilibrada. Eles são os donos, possuem o dinheiro. Nós, os trabalhadores, não somos sócios, mas somos quem produz e temos a necessidade do emprego e do salário para sustenta a família. Desta situação desequilibrada surge o adoecimento. Eu sou fruto dessa situação desigual, adoeci e vejo diversos colegas na mesma situação, resultado de tanta exploração.” 

Lituânia de Almeida (AM) – Diretor Regional Norte 

“Durante a pandemia a atuação dos farmacêuticos foi muito exigida, mas também enaltecida. O farmacêutico hoje não é apenas o profissional que se encontra atras do balcão, estamos na UBS na farmácia hospitalar, na comunitária, tá na estética, no ensino na pesquisa e em diversas outras áreas. No cenário de futuro, nós precisamos lutar pelos colegas para conseguir uma carga horária melhor, salários melhores e descanso. Os farmacêuticos precisam estar junto com o seu sindicato. Nós precisamos andar juntos para termos uma condição melhor para todos.” 

Fábio Augusto do Carmo (PR) – Diretor Regional Sul 

“Durante a pandemia o profissional farmacêutico começou a demostrar para a sociedade que ele efetivamente é um profissional da saúde fazendo os testes de Covid-19 e orientando a população. Foi nesse momento da pandemia que os farmacêuticos começaram a ser reconhecidos como profissional de saúde entrando nas equipes multidisciplinares em meio a pandemia. Houve uma evolução. No entanto em meio a essa evolução nós não tivemos a efetiva valorização. Por isso como desafio do futuro a luta pelo piso salarial nacional é fundamental assim como a insalubridade para que ocorra uma mudança no senário.” 

Wille Marcio Calazans (MT) – Diretor Regional Centro-Oeste 

“Durante a pandemia nós fomos muito requisitados, fomos a linha de frente e os primeiros a dar o suporte para a população fazendo todo o atendimento daqueles que chegavam com potencial de covid-19. Ninguém arredou o pé, todos fizeram a sua função. A insalubridade é ainda um grande problema. Ela precisa ser reconhecia aos profissionais que estão em contato com diversos agente que podem causar alterações na saúde do profissional. Sindicalize-se, retome as ações, junte com os sindicatos.” 

 Catarine Cavalcanti (RJ) – Diretor Regional Sudeste 

“Eu que trabalhei na linha de frente no auge da covid-19 e não tive preparo psicológico pra atuar com os pacientes, que por conta da situação haviam perdido pessoas próximas. Nossa atuação destacada em todas as áreas foi muito importante.” 

“No nosso dia a dia, não é possível que o farmacêutico tenha que parar um atendimento ou a aplicação de injetável, para atender o caixa ou executar questões administrativas, e essa é uma realidade dentro das drogarias, é uma realidade nacional.” 

“Não é possível que uma farmácia tenha lucros de mais de 70%, e os farmacêuticos continuem ganhando 3 mil reais.” 

Comunicação Fenafar