1º de Maio se transforma em grito de luta pela democracia, contra o golpe

A tradicional festa do trabalhador comemorada em todo o mundo no 1º de maio este ano foi um ato de luta e resistência democrática no Brasil. A manifestação organizada pelas centrais sindicais e movimentos sociais no Vale do Anhangabaú, em São Paulo, reuniu 100 mil pessoas determinadas a resistir ao golpe político e institucional que vem avançando no Congresso Nacional e pode ter seu desfecho decisivo no próximo dia 12, no Senado Federal.

Entre os presentes, o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, a vice-prefeita, Nádia Campeão, parlamentares de diferentes partidos, entre eles a deputada federal Jandira Feghali (PCdoB-RJ), e líderes sindicais e dos movimentos sociais. A presidenta da República, Dilma Rousseff, chegou ao vale às 13h30 e discursou por 40 minutos. Reafirmou sua decisão de resistir até o fim à ofensiva golpista, acusou o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, de liderar um processo do “quanto pior, melhor” contra seu governo.

“Esse senhor foi o principal agente na história de desestabilizar o meu governo. Ele levou à frente uma política chamada de ‘quanto pior, melhor’. Quanto melhor para ele, pior para o governo e para o povo brasileiro. Se praticam isso contram mim, o que vão praticar contra os trabalhadores, contra as pessoas anônimas deste pais?”.

Como estava previsto, ela anunciou aumento de 5% no imposto de pessoa física para 2017 e reajuste de 9% no programa Bolsa Família – e fez questão de informar que esta medida não “foi inventada agora”, mas está no orçamento da União e foi aprovada pelo Congresso em agosto passado. Dilma também deu um dado importante: a ideia lançada por artífices do golpe de reduzir o alcance do Bolsa Família aos 5% mais pobres da população brasileira representará uma drástica redução de acesso ao benefício.

“Eles falam que vão dar só para os 5% mais pobres. E estes 5% são 10 milhões de pessoas – sabe quantos milhões de pessoas recebem hoje o bolsa família? 47 milhões. São 37 milhões de pessoas que ficarão sem assistência”, afirmou.

Prometeu resistência. “O meu mandato me foi dato por 54 milhões de pessoas que acreditam em um projeto – este que eles querem impor ao Brasil não é o projeto vitorioso nas urnas em 2014. Se querem este projeto, devem ir às urnas em 2018, e se submeter ao crivo dos brasileiros. Se forem eleitos, o conseguiram legitimamente. Da forma como eles querem, sem votos, não passarão”, concluiu.

“Este primeiro de maio é um marco na história do povo brasileiro”, diz Araújo

O presidente da CTB, Adilson Araújo, afirmou que defender a democracia e se contrapor ao golpe, denunciando os reais interesses desta onda conservadora, são os caminhos que dão sentido ao 1º de maio e à causa de todos os trabalhadores e trabalhadoras do Brasil.

“Ganha força a necessidade de tomar as ruas para impedir o retrocesso e fazer valer a imediata retomada do crescimento econômico e destinar centralidade ao processo de valorização do trabalho”, diz Araújo. Em seu discurso ele lembrou que no governo de Getúlio Vargas foi criada a CLT, que se tornou o mais importante instrumento da classe trabalhadora, e citou as conquistas da última década, todas ameaçadas pelas forças conservadoras. O secretário geral da CTB, Wagner Gomes, destaca que mais uma vez os trabalhadores e trabalhadoras das centrais sindicais e os trabalhadores rurais vão às ruas para dizer que não vão aceitar o golpe que está sendo tramado contra a presidenta Dilma. “Este primeiro de maio é dedicado ao direito democrático dos 54 milhões votos que ela teve. Vamos continuar brigando até o último minuto para que este golpe não se concretize”.

Para o presidente da CTB-SP, Onofre Gonçalves, este 1º de maio vai entrar para a história como a grande “festa da resistência”. “Resistência ao golpe que estão dando neste país e que todo trabalhador e trabalhadora sabe que são eles que vão pagar o preço se isto se concretizar”, afirmou Onofre, pouco antes de começarem os discursos no palco do Vale do Anhangabaú, na manhã deste domingo.

Joílson Cardoso, vice-presidente da CTB, diz que o 1º de maio é um momento muito difícil no Brasil, de ataque à democracia, à Constituição e ao voto popular. “Esse primeiro de maio enfrenta uma ameaça muito grande aos direitos dos trabalhadores, com a implantação do retrocesso e o fim das conquistas alcançadas até aqui pela classe trabalhadora”.

“Vamos resistir com as ferramentas históricas de luta da classe trabalhadora e do povo pobre deste país”, diz Boulos

Guilherme Boulos, coordenador do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), também reforçou a importância da união e da mobilização popular neste momento dramático da história do país. “Nós não temos nenhuma expectativa de que saia deste Congresso outra alternativa que não o golpe. Ali nos carpetes eles já consturaram e articularam uma vitória. A nossa chance de resistir, de barrar esse projeto desastroso de regressão social é nas ruas. É mobilizando, é com ocupação, é com bloqueio, greves, com as ferramentas históricas de luta e organização da classe trabalhadora e do povo pobre deste país.”

O diretor técnico do Dieese, Clemente Ganz, destacou que se este conjunto de medidas conservadoras que começa a ser debatido na sociedade se materializar, muitos direitos estarão em risco. “A crise econômica e dificuldade fiscal pode levar o governo, especialmente se Temer assumir, a desfazer políticas importantes, para as quais o movimento sindical lutou e construiu conjuntamente, como a valorização do mínimo, a proteção da previdência, as políticas relacionado ao direto do trabalho. Isto levaria à precarização do movimento sindical e das condições de trabalho”.

E como diz a vice-prefeita de São Paulo, Nádia Campeão, se o golpe à soberania do voto se consumar, os agentes da arbitrariedade “não irão parar por aí e se seguirão outros golpes: o golpe contra os direitos dos trabalhadores, entre eles o salário mínimos e os direitos previdenciários e muitos direitos e garantias sociais.