Unidade dos trabalhadores da América Latina contra o retrocesso e por direitos

Por três dias, Montevidéu se tornou a capital mundial do movimento sindical. Sede do Encontro Sindical Nossa América, o ESNA, a capital uruguaia recepcionou mais de 70 organizações sindicais de 19 países (a maioria das Américas, mas Europa e Asia também estavam representadas) com o objetivo de aprofundar o debate sobre a conjuntura mundial e a crise econômica que vem colocando em risco os direitos, a dignidade e a integridade de milhões de trabalhadores em todo o mundo.

 

A Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil – CTB foi uma das entidades sindicais organizadoras do evento e levou ao debate o risco institucional vivenciado hoje no Brasil, compartilhando com os companheiros das Américas (e também do Japão e do Reino Unido) as ameaças aos direitos trabalhistas, às liberdades e às leis que lançam sobre o Brasil novamente a sombra do autoritarismo.

A diretora de relações internacionais da Fenafar, Gilda Almeida, que também é dirigente da CTB participou do encontro e avaliou que “avançam as pautas comuns e a unidade política dos trabalhadores na América Latina. A agenda de mudanças e de ampliação dos direitos está condicionada à unidade para enfrentar a onda conservadora que está sendo criada no continente”.

Gilda foi uma das participantes da mesa de abertura do evento que contou a conferência do ex-presidente Pepe Mujica. Ele lembrou que muitos trabalhadores morreram lutando por direitos que, por vezes, levaram décadas para serem conquistados e reconhecidos. Amaldiçoou o apelo do sistema capitalista que, em conluio com a mídia massificadora, forma cidadãos cada vez mais consumistas, alimentando o círculo vicioso do capital.

O admirado líder uruguaio afirmou que a América Latina enfrenta “uma época amarga” de sua história, mas ‘no hay que esmorecer’: “A imensa maioria dos povos compartilha de uma realidade que não é dos condes, rainhas e milionários. E o direito dessa imensa maioria tem de prevalecer”, disse ele a uma plateia de trabalhadores de mais de 70 organizaçõe sindicais de 19 países, na Universidade de la Republica, região central de Montevidéu.

Documento afirma lutas e apresenta agenda

Ao final do encontro, um documento foi produzido coletivamente com uma agenda de lutas e um forte compromisso de princípios, defesa e solidariedade entre as nações. A “Declaração de Montevidéu” contempla os principais temas de consenso entre os países.

Vale notar que, sob o mesmo nome, foi lançado há 49 anos, em setembro de 1967, uma outra Declaração de Montevidéu, essa assinada pelo ex-presidente João Goulart que, exilado no Uruguai desde o golpe no Brasil, tentava junto à Frente Ampla (com Juscelino Kubitschek e outros) restaurar a democracia no país. O documento é um valioso libelo histórico em defesa da democracia, da liberdade e dos direitos dos trabalhadores.

Propósitos contemplados no ESNA e enaltecidos no encerramento do evendo no sábado (2).

Divanilton Pereira, secretário de relações internacionais da CTB e coordenador da FSM Cone Sul, destaca a representatividade do coletivo presente no ESNA neste momento de conjuntura adversa. “O encontro teve um resultado positivo, reviu paradigmas e formulou uma pauta concreta, com ações focadas na articulação unitária, defesa da democracia e valorização do trabalho: eixos fundamentais para a construção de uma nova proposta civilizatória”, diz ele.

Integração e mídia

Entre todos os países presentes, as diferenças não são tão expressivas quando as semelhanças vivenciadas por suas trabalhadoras e trabalhadores nestes tempos em que o movimento sindical mundial enfrenta uma inflexão dramática após mais de uma década de avanços.

Brasil, Paraguai, Venezuela, Argentina e Honduras são alguns dos países que sofrem diretamente com a ofensiva imperialista e do capital, com ataques à liberdade sindical, criminalização de movimentos sociais, redução de direitos e violência da soberania nacional.

A Declaração de Montevidéu denuncia agressões aos direitos humanos e a tentativa imperialista de frustrar os tratados internacionais firmados entre os países da região, principalmente a Unasul, Celacl e Alba:

“A realização do VII ESNA acontece em um momento de profunda crise mundial do capitalismo e uma brutal ofensiva imperialista contra os povos de todo o mundo. Na América há a intenção de acabar com alguns avanços em matéria de mudanças políticas e integração, caso da ALBA-TCP, a UNASUL e especialmente a CELAC, que exclui de sua organização os EUA e o Canadá. É evidente a ofensiva imperialista em Honduras e no Paraguai, e agora na Venezuela, no Brasil e na Argentina. No plano geopolítico, se pretende limitar o papel da China, sua aproximação com a Rússia e agrupamentos como os BRICS. É um claro exemplo de hegemonia contra qualquer intenção de multilateralismo das relações internacionais.”

O documento também deu destaque para a necessidade de conscientizar os trabalhadores e formar opiniões que fujam da maciça dominação dos grandes grupos de mídia comprometidos com o poder econômico que continuam a dominar os meios de comunicação.

“A desigualdade e empobrecimento generalizado de nossos povos é consequência direta do regime capitalista e de suas propostas de saída da crise que ocultam a manipulação da consciência social promovida pelas classes dominantes. Neste sentido se destaca o papel dos meios de comunicação concentrados e propriedade de consórcios de mídia de caráter transnacional. Trata-se de uma estratégia integral que modula a cultura social majoritária para afirmar um sentido comum favorável aos interesses dos que mandam e dominam a sociedade contemporânea”.

E para isso, frisou a importância de se investir nas mídias alternativas:

“Importante destacar os esforços de integração dos meios de comunicação, entre os quais se pode mencionar a Telesur, com a qual assumimos o compromisso de ser solidários, e toda manifestação de comunicação popular”.

Abaixo, a agenda apresentada pela Declaração de Montevidéu das ações combinadas entre todos os paíes presentes no encontro para este ano:

1. Jornada mundial em solidariedade à Venezuela no dia 19 de abril de 2016.

2. Jornadas continentais de 18 a 25 de maio de 2016, de luta em defesa da

democracia, da soberania, da integração, dos direitos sociais e especialmente a defesa

do direito à greve e contra a criminalização da luta social.

3. Jornada pela retirada das tropas do Haiti em 1 de junho de 2016.

4. Solidariedade com as liderança sindicais e sociais que estão presas: Julia Amparo Lotan

(Guatemala), Milagro Sala (Argentina), Huber Ballesteros, Oscar López (Puerto Rico preso

nos EUA) e os 13 companheiros camponeses do Curuguaty no Paraguai; exigimos liberdade imediata.

5. Reparação às família dos 43 desaparecidos no México, como parte da luta do povo mexicano.

6. Reconhecimento da luta histórica do SME, desde sua autonomia de classe.

7. Solidariedade com a luta da classe trabalhadora francesa contra reforma trabalhista que está em curso.

Desde o ESNA, convocamos a todos a lutar por estas demandas no 4/11, para promover uma grande jornada continental sem exclusões e lutar a favor da democracia, da paz, da integração soberana dos povos, dos direitos sociais, do direito à greve e outras reivindicações de nossos povos; e contra o livre comércio que sustenta as transnacionais e o imperialismo. A data escolhida é para comemorar o histórico Não à ALCA declarado em 2005.

Viva o VII° ESNA!!!

Viva a unidade internacionalista das trabalhadoras e dos trabalhadores!!!

Montevidéu, 2 de abril de 2016”

Da redação com CTB