O debate desta quinta-feira de tarde do Congresso da Fenafar foi “Mais democracia para o Brasil avançar – A nova ordem do mundo do trabalho e os impactos no trabalho farmacêutico”. A discussão — que trouxe o médico e diretor da Fundação Maurício Grabois, Aloisio Barroso, e a diretora da Fenafar, Lavínia Magalhães — abordou a 4ª Revolução Industrial e a Indústria 4.0 e seus impactos no mundo do trabalho, também os impactos da Reforma Trabalhista no trabalho farmacêutico.
Barroso fez uma digressão histórica sobre a evolução da industrialização no mundo. Desde a manufatura, passando pela 2ª e 3ª revolução industrial até os dias atuais, até a projeção de cenários a partir do uso das novas tecnologias, da inteligência artificial (IA) e da robotização para o futuro do trabalho. Ele citou alguns exemplos dessas novas tecnologias na transformação da sociedade, como o do robô Watson, que analisando casos de câncer, identificou uma proteína para o seu tratamento, falou também das inúmeras cirurgias que já são realizadas com o uso de robôs, e de fábricas que já têm todas as suas etapas de produção monitoradas por inteligência cia artificial, que através da hiperconectividade produzida pela internet e do uso do Big Data já se pode ter fábricas autogerenciadas. Esses exemplos foram para mostrar que a 4ª Revolução Industrial não é algo do futuro, é algo do presente e já está modificando as relações de trabalho.
Entre rupturas e continuidades, o capital busca se valorizar
Ao trazer um breve histórico das quatro revoluções industriais, Barroso colocou duas questões bases para a compreensão do processo de desenvolvimento do capitalismo. Uma é que o capital busca se valorizar o tempo todo. A outra é que o sistema capitalista se desenvolve em ciclos de desenvolvimento e crise. É a busca dessa valorização que faz surgir novos padrões técnicos que contribuem para a superação das crises, uma vez que são esses novos padrões permitem um processo de acumulação do capital.
A cada revolução industrial, surge um novo padrão técnico. Mas ele chama a atenção, “não tem uma ruptura total no paradigma técnico, há uma evolução, uma combinação entre coisas novas e velhas, com elementos de continuidade e ruptura”. E essas mudanças têm uma incorporação importante de novas tecnologias, de novas metodologias de organização da produção, dependentes do conhecimento científico.
Sobre a 4ª Revolução Industrial e a Indústria 4.0 Aloisio Barroso diz que ela é fruto de transformações que vem acontecendo à muito tempo, “uma fusão de tecnologia que borram as linhas divisórias entre as esferas físicas, digitais e biológicas. Ela fomenta a inteligência artificial, a robótica, a impressão 3D, os drones, a nanotecnologia, a biotecnologia, a estocagem de dados e de energia, os veículos autônomos, os novos materiais e a Internet das Coisas”.
Barroso conclui dizendo que esta é uma revolução desigual, já que há cerca de 1,3 bilhão de pessoas que ainda não tem acesso à energia elétrica – um padrão técnico do século XIX, mais de metade da população mundial sem acesso à internet. Então, uma revolução que promove o desaparecimento de muitas profissões, que amplia a contingência de desempregados no mundo, e que ainda é difícil dizer que nova sociedade ela vai produzir, se não será uma sociedade de maior desigualdade.
Ataque ao trabalho e à organização sindical
A diretora regional Nordeste da Fenafar, Lavínia Magalhães focou a sua contribuição no debate sobre os impactos da Reforma Trabalhista no trabalho
farmacêutico. Ela citou o aumento do desemprego e das contratações sem carteira assinada e das dificuldades de inserção no mercado de trabalho.
As consequências dessa reforma para a organização sindical, “com o fim da obrigatoriedade da contribuição sindical, as dificuldades para negociar as convenções coletivas , no contexto de uma reforma que afeta o piso salarial, que flexibiliza direitos, que permite a negociação individual, o que esvazia os sindicatos e que legaliza a prevalência do negociado sobre o legislado”.
Todos esses elementos, ressaltou, aumentam as dificuldades para o financiamento dos sindicatos, que acabam se restringindo à contribuição associativa que é baixa e tem alto índice de inadimplência. Com isso, todos os sindicatos da nossa categoria reduziram seus quadros funcionais, o horário de atendimento e muitos estão fechando suas sedes”, lamenta Lavínia.
Neste cenário, Lavínia chama a atenção para as dificuldades nas negociações, com retirada de cláusulas sociais e a perda da ultra-atividade, a adoção do
Lavínia diz que o papel desse 9º congresso é justamente encontrar os caminhos para enfrentar esse cenário, buscar formas de manutenção dos sindicatos, buscando novos arranjos para o trabalho. trabalho intermitente.
No debate muitas questões foram incorporadas às reflexões e informações trazidas pelos debatedores, colocando a centralidade do trabalho na discussão de como enfrentar essa onda ultraliberal, o papel dos trabalhadores no enfrentamento dos monopólios e a relação das questões abordadas com a luta política atual no Brasil, que retira recursos e trava os investimentos públicos com a Emenda Constitucional 95.
por Renata Mielli, do Espírito Santo
Publicado em 02/08/2018