Dia da Consciência Negra, reflexão sobre a situação do povo negro

Em entrevista ao site da Fenafar, a farmacêutica Daniela Santos Oliveira, membro do Conselho Fiscal da Federação Nacional dos Farmacêuticos, fala sobre a importância desta data para a discussão sobre o racismo estrutural no Brasil e a necessidade de se criar mecanismo para enfrentar a discriminação contra a população negra.

O Dia da Consciência Negra é um dia voltado à reflexão social sobre as condições da população negra no Brasil. Não é uma data comemorativa. É um dia de luta e mobilização social, para denunciar o racismo. É uma data, também, para mostrar que com unidade e luta é possível sim combater a discriminação, a sub-representação na política e nos espaços de poder, as muitas violências.

É o que ressalta nessa entrevista para o site da Fenafar a farmacêutica Daniela Santos Oliveira. “O racismo no Brasil  é  ainda muito presente e doloroso, porque ele retira as chances de uma vida melhor, retira oportunidades, tenta retirar nossas forças”, afirma. Daniela já enfrentou ao longo de sua trajetória muitas formas de preconceito e precisou lutar muito para superar as exclusões impostas ao povo negro. “Foi com muito esforço e trabalho, e claro com o apoio de meus pais, que consegui estudar em uma boa escola e cursar Farmácia em uma universidade pública, uma realidade incomum para maioria da população negra”.

O dia 20 de novembro foi oficializado como Dia da Consciência Negra em 2003, e passou a integrar o calendário escolar a partir do ensino de história e cultura afro-brasileira. Em 2011, a presidente Dilma Rousseff oficializou a data como Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra. E em 2017 a data tornou-se feriado nacional.

Nesta entrevista Daniela Santos Oliveira fala da importância da data, do papel do movimento sindical no enfrentamento à discriminação. Daniela é formada pela Universidade Federal de Sergipe, trabalha no setor de farmácia hospitalar em hospital público. É mestre em Ciências Farmacêuticas pela mesma universidade e atua no Sindicato dos Farmacêuticos do Estado de Sergipe (SINDIFARMA-SE) desde 2008, onde já ocupou a secretaria-geral e atualmente é conselheira fiscal. Na Fenafar Daniela já participou do Conselho de Representantes e atualmente é membro do Conselho Fiscal.

O Brasil vive um momento no qual o racismo, infelizmente, aparece de forma mais explícita. Nesse cenário, o Dia da Consciência Negra ganha uma importância maior?
Daniela S. Oliveira:
 Acredito que o dia da Consciência Negra é importante para uma reflexão ampla de tudo que vem a acontecendo com povo negro, além de um dia para fortalecer nossa luta contra o preconceito racial. O racismo no Brasil é ainda muito presente e doloroso, porque ele retira as chances de uma vida melhor, retira oportunidades, tenta retirar nossas forças. Assim, este é um dia para mostrar que o racismo é cruel, ele mata e como é de fundamental importância combatê-lo. Já vivenciei diversas situações de racismo na vida e já vi acontecer com familiares e amigos pretos. Sempre é uma situação constrangedora. Para alcançarmos algo, temos que nos esforçar muito mais que os outros, muitas vezes sob olhares de desconfiança da nossa capacidade.

Como o racismo estrutural, que perpetua a exclusão e o preconceito contra a população negra, se manifesta no exercício da profissão farmacêutica? Há denúncias de profissionais que foram alvo de racismo no ambiente de trabalho?
Daniela S. Oliveira: O racismo estrutural é uma forma de estabelecer práticas de discriminar desde a época de escravidão. É querer incapacitar uma pessoa usando a cor de pele como motivo para retirar oportunidades, direitos, e traz sofrimento. Infelizmente ele é muito presente no Brasil, no qual há diferenciação de salários entre homens e mulheres e se for uma pessoa preta, este salário pode ser ainda menor. É você ver pessoas pretas em pouquíssimos cargos de liderança porque não é dada oportunidade.

Esse tipo de situação absurda de total desrespeito deve ser combatido pelos sindicatos. Na profissão farmacêutica, por exemplo, é notável a presença de poucos profissionais pretos. É necessário o investimento na educação periférica dando oportunidades para que mais pessoas possam ter acesso às Universidades públicas, ter programas sociais que consigam trazer mais dignidade. Acesso à educação é muito importante para combater as desigualdades e com ela combater o racismo, é imprescindível ter maior rigor para este crime.

Você avalia que o movimento sindical está incluindo devidamente a dimensão racial nas discussões sobre direitos trabalhistas e representatividade nas organizações?
Daniela S. Oliveira: 
O movimento sindical sem dúvidas é muito importante para combater todas as formas de preconceito sofridas pelo trabalhador. Porém, é inegável a falta de denúncias em relação a situações racistas. Isso ocorre muitas vezes por medo do funcionário denunciar ou por vergonha da situação sofrida. Entretanto, um sindicato deve estar sempre vigilante quanto a essas denúncias, fazendo visitas aos locais de trabalho e incentivando a denunciar quaisquer atos de racismo, além de prestar apoio à vítima.

Ainda é complicado falar de racismo no Brasil. É um assunto que machuca, desestrutura, criminaliza, mata pessoas pretas. Porém, não podemos esmorecer. A luta conjunta da sociedade e instituições públicas através de práticas antirracistas é fundamental para o fim deste crime e claro punição para as pessoas que o pratiquem.