Vamos lutar para continuar dizendo que, no Brasil, Saúde é Direito!

Escutar a sociedade, construir coletivamente e reafirmar que a Saúde é um Direito e que as políticas de Assistência Farmacêutica e C&T devem estar em sintonia com esse direito foi o principal ensinamento e resultado do processo que culminou no 8ª Simpósio Nacional de Ciência, Tecnologia e Assistência Farmacêutica.

O encerramento da atividade aconteceu nesta terça-feira, 11, e foi repleto de emoção de todos os participantes que construíram os 10 encontros regionais e o simpósio.

Altamira Simões, conselheira nacional de saúde representando o segmento dos usuários foi enfática ao dizer da importância desse processo. Ela, que integra a Comissão Intersetorial de Atenção à Saúde das Pessoas com Patologias do CNS, ressaltou como esse tema é próximo da vida das pessoas. “A gente só precisa mudar a linguagem, para a comunidade que está lá na atenção básica possa entender”. Nesse aspecto, disse que é preciso “transversalizar as lutas, saúde é moradia, saúde é emprego, saúde é educação, é saneamento básico. Temos que ter esse entendimento amplo”.

Ela relatou a riqueza de todo o processo. “Fomos avançando no conhecimento e sobretudo avançamos na escuta que é nosso papel como representantes do controle social. A metodologia do encontro era a escuta, nós éramos facilitadores, nós tínhamos que escutar o que o grupo tinha para dizer. Essa é uma metodologia para a vida. Quando a gente para para escutar a gente fala mais do que quando a gente se pronuncia”, disse.

Altamira foi enfática ao dizer que será preciso ter “muita afetividade para vencer esses quatro anos. Não tem como ser ativista do SUS e apoiar o governo Bolsonaro, são duas coisas divergentes”.

Cartão Postal do Brasil

Representando a Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), André Lacerda também trouxe o seu relato. “Foi um período de muito aprendizado, nós não imaginamos o que iria ser”, disse.

Como os demais, André , que também é farmacêutico, elogiou a equipe que construi os encontros e o Simpósio, que “não trouxe apenas a sua expertise, mas também o coração. Eu aprendi, enquanto farmacêutico, e me sinto muito feliz porque eu aprendi ciência, tecnologia e Assistência Farmacêutica com os não farmacêuticos”.

Endossando a necessidade de manter a luta em defesa da saúde pública, André disse que “o maior cartão postal que o Brasil tem na área da saúde é o SUS. Nós temos o que mostrar e ensinar para o mundo. São essas sementes que estamos plantando aqui e que geraram flores, frutos e amigos”.

Mário Moreira vice-presidente da Fiocruz, elogiou a Carta que foi aprovada no Simpósio e disse que ela, e as diretrizes e propostas contribuirão para de forma “em certa medida inovadora, trazer esse tema da Assistência Farmacêutica, C&T como aspecto central para a 16ª Conferência.

Carlos Gadelha ressaltou o caráter histórico do momento e a necessidade de se pensar “em coalizões para o desenvolvimento econômico, social, ambiental, e essa junção da Assistência Farmacêutica com Ciência e Tecnologia pode dar muitos frutos e temos que ter muito cuidado para não nos dividirmos em dois campos. Conhecimento é soberania e não temos saúde sem conhecimento voltado para o interesse público”.

Saúde é Direito!

Silvana Nair Leite falou do tamanho do desafio que foi, para a Escola Nacional dos Farmacêuticos, coordenar todo esse processo. “Gerou muita preocupação no início, de correr o país e conseguir envolver a pessoas. Será que as pessoas virão e terão condições de se engajarem no tema e se sentirem confortáveis para ajudar a construir coletivamente? Isso tudo gerou muito ansiedade. Demanda, incerteza e a necessidade de desenvolver alguma coisa”, reconheceu. Mas, ao final, a jornada foi rica, cheia de vivências, aprendizados e produziu resultados importantes.

Ainda sobre a metodologia, ela avalia que “funcionou muito bem, tanto dos encontros regionais, quanto deste simpósio de chegar a propostas amplas, representativas e prioritárias. Tínhamos um medo de as prioridades fossem de um eixo só, mas vejam que isso não aconteceu. Temos amplitude, diversidade e o debate da C&T e Assistência Farmacêutica como base da luta pelo direito à saúde”.

Todo esse debate para ela tem ainda outros dois significados. Demonstrou a generosidade das pessoas, e que é preciso lutar para evitar que o Brasil caia nos “mesmos questionamentos que têm corrido o mundo se a saúde é mesmo um direito do cidadão ou se ela é alguma outra coisa. Essa bandeira que a gente tem que defender, e nós temos que ter condições de defendê-la num momento como este. Para a gente possa continuar dizendo que saúde, no meu país, é um direito. Não é todo mundo que pode dizer isso”, afirmou. Silvana.

Moyses Toniolo, representou o Conselho Nacional de Saúde no encerramento, e também destacou que dentre todas as discussões e o acúmulo de conhecimento produzido no processo dos encontros e do Simpósio, “o mais incrível de tudo isso que está acontecendo nessa etapa nacional para além dos aspectos técnicos e políticos é ver que nós construímos relações de afeto. E isso é por causa do potencial do ser humano, porque algo que era para ser meramente técnico, que é discutir C&T e Assistência Farmacêutica, nós somos seres humanos e cada um de nós carregamos muitas histórias. E nós partilhamos essas histórias”.

Moyses lembrou Cazuza: “meus heróis viveram de overdose, dizia Cazuza. Os meus não. Os meus heróis estão vivos e nos ensinando com a história que se constrói a cada dia.” 

O conselheiro agradeceu a todos os parceiros que contribuíram para a realização do Simpósio, e em particular à Fenafar, através do Ronald, “porque ele percebeu o que podia ser feito e ele acolheu. Tudo isso aqui vai ficar para a história”. 

Renata Mielli