A organização sindical só tem razão de existir em função de representar o trabalhador

O trabalho em favor da vida foi o tema da segunda mesa do 10º Congresso da Fenafar que apresentou aos participantes, questões importantes sobre o trabalho dos profissionais farmacêuticos. Mediada pelo vice-presidente da Fenafar, Fábio Basílio, a mesa teve como palestrantes o Presidente da Fenafar, ex-presidente do CNS, Ronald Ferreira dos Santos, o Presidente do Sindicato dos Farmacêuticos de Pernambuco, Holdack Velôso e a Diretora Administrativa e Financeira da Sociedade Brasileira de Farmácia Hospitalar e Serviços de Saúde – SBRAFH, Maely Peçanha Fávero Retto

Primeira a falar, Maely Peçanha da Sbrafh, que também é Conselheira do Conselho Nacional de Saúde falou sobre a sua experiência como farmacêutica hospitalar durante a pandemia. Ela trabalha no hospital Miguel Couto que foi referência no tratamento de Covid-19 durante a pandemia.

Ela relata que trabalha no Sistema Único de Saúde há 20 anos e que “é muito difícil ser farmacêutico no serviço público pois a gente trabalha muito e não tem plano de cargos e salários e apesar de ter mestrado e doutorado eu não ganho nada a mais por isso”

Maely relata que o ambiente hospital é muito complexo, sendo, portanto, muito difícil trabalhar dentro de um hospital, e que durante a pandemia essa complexidade e dificuldade ganharam em proporção.

“Primeiro por que a gente não sabia o que era o vírus, tinha medo de trabalhar sem informações, não tínhamos máscara, não havia máscara e com o passar do tempo começaram a faltar medicamentos”

A falta de informações e a falta de profissionais também angustiava os trabalhadores da linha de frente. “A gente ia trabalhar sem saber o que nos esperava, todo dia uma realidade diferente, muita gente se afastou e as equipes foram ficando cada vez mais reduzidas”.

E a morte. Lidar com a morte deixou marcas profundas principalmente por que não se sabia como ajudar. “Muitos de nós adoeceram, e quem ficava tinha que dar conta de tudo, não tinha opção.

Houve ainda a questão salarial. “Os residentes receberam 600 reais de auxílio para trabalhar durante a pandemia e nós, farmacêuticos, não recebíamos nem insalubridade, assim como não recebemos até hoje”.

Maely, relata ainda que em parceria com demais entidades do setor a Sbrafh participou da elaboração de diversos protocolos e documentos orientando sobre o manejo de medicamentos aos profissionais buscando instrumentaliza-los para atuação frente a pandemia. Todo o conteúdo produzido foi encaminhado ao Ministério da Saúde esperando que uma atitude mais enfática fosse tomada, mas infelizmente isso não aconteceu.

O mundo do trabalho

Ao iniciar a sua fala, o presidente da Fenafar, Ronald dos Santos destacou que o trabalho não está apenas no tema do 10º Congresso da Fenafar, para além disso, o trabalho é o próprio sujeito deste congresso e tem sido a razão da existência da Federação Nacional dos Farmacêuticos.

“A organização sindical só tem razão de existir em função de representar o interesse do trabalhador, fora isso, tem várias outras: as igrejas, os partidos políticos, os times de futebol. A razão da existência da nossa organização é o trabalho”.

Ronald destacou que ao fazer esse debate, precisamos olhar para o mundo real, que é a relação do capital com o trabalho e como ela se desenvolve. Segundo ele “há uma crise, que se arrasta, ela é anterior a pandemia e que se agudiza a cada dia”. Nessa situação, quando há crescimento econômico, o lucro é concentrado nas grandes empresas, e o salário vai perdendo o valor.

O presidente da Fenafar apresentou uma série de dados com as consequências das reformas estruturais que interferiram no mundo do trabalho: Redução de jornada com redução de salários, retirada de direitos, flexibilização, contratos intermitentes contrato por uma hora, “e o que é pior: diminuição do número de contratos com salários maiores e aumento dos contratos que pagam entre ½ e 1 salário mínimo”.

“Eu digo sempre que é preciso ter lado e o nosso lado é o do trabalho”. Nessa direção, a Fenafar tem sido protagonista de uma série de agendas princípios e bandeiras que tem sido apresentada e debatida ao longo de todos os 10 congressos que é a importância da unidade dos trabalhadores, da classe trabalhadora.

Não é ilegítimo, apesar de tentarem apresentar com algo feio, lutar pelos direitos dos trabalhadores. O papel dos sindicatos é defender o direito dos trabalhadores, é legitimo, está na constituição.

Ronald destacou que é preciso organizar a estrutura sindical para dar resposta a todas estas questões.

“Para se ter uma ideia, eu tenho ditos em alguns lugares, que orçamentos da Fenafar, não é 10 vezes menos do que o orçamento do Conselho Federal de Farmácia, não é 100 vezes menos, não é mil vezes menor, o orçamento da Fenafar é 1.300 vezes menos que o orçamento do CFF.”

A Fenafar não é nada sem os sindicatos, nós sequer existimos sem os sindicatos, portanto estruturá-los material e politicamente é fundamental, concluiu.

Relato de experiência

No seu relato, o Presidente do Sindicato dos Farmacêuticos de Pernambuco, Holdack Velôso revelou que se formou em farmácia depois de já ter completado 50 anos de idade. Disse que ao trabalhar em uma farmácia comunitária percebeu a importância da profissão.

Relatou as diversas experiências a frente do Sindicato, negociando com os setores, industrial de transporte importação e hospitalar, distribuição, clinicas e laboratórios, farmácias do comércio e de manipulação. Segundo ele de 2015 até hoje, em apenas três momentos foi aplicado um índice de reajuste acima da inflação. “E o lucro fica na mão de quem, dos trabalhadores é que não é”.

Haldock relatou ainda um caso curioso: “em todo esse tempo de negociações, eu nunca vi a cara do presidente do sindicato dos hospitais, ele nunca sentou na mesa de negociações, eles são muito importantes”, Ironizou.

No caso dos hospitais, houve redução do piso, “virou contra-piso”. Mesmo os farmacêuticos que possuem pós-graduação não recebem nenhum percentual maior. “O lucro vai para o bolso dos patrões”. “Como trabalhador a gente trem que lutar eternamente, é injusto não podermos reivindicar se quer a reposição da inflação”.

Josemar Sehnem – Redação Fenafar