Ministro da Saúde prepara projeto para beneficiar planos de saúde

O projeto é contestado por especialistas em saúde para quem o ministério deveria se concentrar no combate à Covid-19

 

 

O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, disse que o ministério está estudando a possibilidade de criar modelo de compartilhamento de dados entre planos de saúde. O objetivo seria aumentar a concorrência no segmento de saúde complementar, como é o caso das instituições financeiras por meio do Open Banking.

A ideia por trás do ‘Open Health’, como o projeto de Queiroga foi batizado, é que as operadoras de planos de saúde privados possam oferecer produtos diferenciados aos clientes. Segundo ele, o projeto foi bem recebido pelo presidente Jair Bolsonaro (PL), e o governo estuda editar uma medida provisória (MP) para implantar o sistema.

“Saúde aberta”

“Em conversa com Campos Neto [presidente do Banco Central], dissemos: vamos criar uma ‘saúde aberta’, disse o ministro. Eufemismo para engendrar projetos privatizantes. Nesse momento, o que os brasileiros precisam é o Estado presente para oferecer suporte eficaz às grandes dificuldades de povo.

“Por que não usamos uma plataforma como ‘open banking’ para facilitar a portabilidade? Você sabe quanto tempo leva hoje a portabilidade (para um beneficiário mudar de um plano de saúde para outro)? Cerca de 90 dias”, indagou Queiroga.

“Então imagine em uma plataforma como essa onde você coloca seu CPF, seu plano aparece lá e alguns outros planos combinam com o seu perfil e você clica em cima [na tela do seu celular] e muda”, disse Queiroga ao jornal Valor Econômico.

A plataforma coletaria registros de pacientes e métricas adicionais de saúde, que seriam compartilhadas com as operadoras para oferecer “planos personalizados”, com preços mais baixos para quem usa menos o sistema de saúde, disse o ministro.

Além disso, de acordo com Queiroga, a adoção do modelo também reduzirá a carga sobre o sistema público de saúde, uma vez que muitas pessoas terão “acesso fácil” a cuidados de saúde adicionais.

Interesses empresariais

“Não tem cabimento o ministro Queiroga tentar agradar o setor empresarial em plena nova onda da pandemia, em meio à falta de testes de covid na rede privada, escândalo de operadora acusada pela CPI do Senado Federal, e previsão de mais um aumento das mensalidades dos planos de saúde acima da inflação. O titular da pasta da Saúde, que deveria estar à frente da condução de respostas ao recrudescimento de casos de Covid-19, registra, assim, mais um malogro de sua gestão”, repudia nota dos especialistas do GEPS (Grupo de Estudos sobre Planos de Saúde), da USP, e do GPDES (Grupo de Pesquisa e Documentação sobre Empresariamento na Saúde), da UFRJ.

“Ao prever a circulação livre de dados dos pacientes entre as operadoras, a medida tem dois propósitos explícitos: 1) permitir a seleção de risco, para que as empresas possam escolher aquelas pessoas que não tem nenhuma doença; e 2) facilitar a venda de planos “customizados”, de menor cobertura, baseados no histórico passado do paciente, sem considerar a imprevisibilidade futura das necessidades de saúde das pessoas”, prossegue o texto.

O texto dos especialistas conclui apontando: “No lugar de atender interesses de empresários da saúde em ano de eleição, o ministro Marcelo Queiroga devia, no momento, é se ocupar com a vacinação de crianças e coordenar efetivamente os esforços para o controle da nova onda de Covid-19 que ameaça colapsar o sistema de saúde mais uma vez”.

Fonte: HP
Foto: Ministro Queiroga durante depoimento na CPI da Covid (Foto: Jefferson Rudy / Agência Senado)

Frente Pela Vida mobiliza-se em defesa da CONITEC/SUS

A Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde – Conitec/SUS – foi criada pela Lei nº 12.401, de 28 de abril de 2011, que dispõe sobre a assistência terapêutica e a incorporação de tecnologia em saúde no âmbito do Sistema Único de Saúde – SUS.

 

 

A Comissão tem a atribuição de assessorar o Ministério da Saúde nos assuntos relativos à incorporação, exclusão ou alteração de tecnologias em saúde pelo SUS, bem como na elaboração de protocolos clínicos e diretrizes terapêuticas.

Desde sua criação a Conitec tem funcionado com transparência e eficiência na análise dos processos de incorporação de tecnologias, baseando suas recomendações nas melhores evidências científicas disponíveis. Para decidir pela recomendação ou não da incorporação ao SUS de uma tecnologia de saúde – medicamentos, vacinas, testes diagnósticos etc. – a Conitec examina, com rigor técnico, a eficácia, a acurácia, a efetividade e a segurança da tecnologia, além de avaliar a dimensão econômica, comparando custos e benefícios em relação às tecnologias já existentes.

Infelizmente, no último período, a Conitec tem sido moralmente assediada por autoridades políticas, inclusive dirigentes do próprio Ministério da Saúde, no sentido de fazer recomendações de tecnologias sem comprovada eficácia ou mesmo com evidências de provocar efeitos adversos, como o chamado “tratamento precoce” para a Covid-19.

Nos últimos dias, cresce a apreensão de toda a comunidade científica, em especial, da área da saúde, com a possibilidade de assumir a coordenação da Conitec pessoas sem a devida qualificação profissional. Se isso ocorrer, corre-se o risco de a Conitec passar a incorporar produtos e procedimentos sem critério técnico-científico, mas sim com base em crenças e ideologias políticas.

Neste sentido, a Frente pela Vida vem a público se manifestar em defesa da Conitec, com órgão técnico capaz de cumprir sua missão de proteção da saúde de todos os brasileiros.

Rio de Janeiro, 14 de janeiro de 2021
Frente Pela Vida

Abrasco – Associação Brasileira de Saúde Coletiva
ABrES – Associação Brasileira de Economia da Saúde
ABEn – Associação Brasileira de Enfermagem Associação
REDE UNIDA CEBES – Centro Brasileiro de Estudos de Saúde
FENAFAR – Federação Nacional dos Farmacêuticos
SBB – Sociedade Brasileira de Bioética
SBMFC – Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade
UBM – União Brasileira das Mulheres

Deputada propõe inclusão de farmacêutico no Programa Saúde da Família

O farmacêutico tem atuado apenas em nível central, ficando muitas vezes a cargo da enfermagem a responsabilização ao que se refere ao medicamento nas unidades de saúde e nas equipes do Saúde na Família.

A deputada federal Alice Portugal (PCdoB-BA) apresentou nesta sexta-feira (10) projeto de lei que estabelece a obrigatoriedade da inclusão do profissional farmacêutico na composição das equipes do Programa Saúde da Família (PSF) e junto aos Núcleos de Apoio à Saúde da Família.

“Os farmacêuticos e farmacêuticas são peças essenciais na saúde pública, garantindo à população o acesso a medicamentos e insumos da saúde. É o único profissional habilitado para a dispensação de medicamentos, especialmente aqueles tipificados como controlados devido aos riscos inerentes de seu consumo sem controle”, afirma Alice, única farmacêutica na Câmara dos Deputados e presidente da Frente Parlamentar em Defesa da Assistência Farmacêutica.

Alice destaca que a assistência farmacêutica está presente no SUS, porém sem a devida estruturação e regularização. O farmacêutico tem atuado apenas em nível central, ficando muitas vezes a cargo da enfermagem a responsabilização ao que se refere ao medicamento nas unidades de saúde e nas equipes do Saúde na Família.

“A discussão sobre a necessidade de incorporar esses profissionais ao Programa Saúde da Família ocorre desde que este programa foi considerado prioritário para o desenvolvimento da atenção básica no SUS e o meu projeto tem o propósito de tornar isso uma realidade. O Brasil só tem a ganhar com a aprovação desse projeto de minha autoria”, ressaltou a parlamentar.

Acesse e acompanhe o PL que trata do tema.

Fonte: Vermelho

Secretário de Saúde do ES apresenta experiências exitosas no estado durante seminário do CNS e ENFar

O desenvolvimento e o acesso às tecnologias e inovações em Saúde precisam continuar evoluindo dentro do Sistema Único de Saúde (SUS). O tema foi abordado no Seminário Integrador sobre Novo Marco Legal da Ciência, Tecnologia e Inovação, nesta segunda-feira (06/12).

 

 

O evento, promovido pelo Conselho Nacional de Saúde (CNS) e Escola Nacional dos Farmacêuticos (ENFar), apresentou aos participantes as experiências exitosas desenvolvidas no sistema público de saúde do estado do Espírito Santo.

O seminário contou com a participação do secretário de Saúde do Espírito Santo, Nésio Fernandes, que apresentou as ações realizadas pelo estado com base na Lei 10.973, que estabelece incentivos à inovação e pesquisa científica e tecnológica no ambiente produtivo. 

Segundo Nésio, em 2018, o estado contava com um sistema de saúde totalmente dependente da atenção hospitalar, que por sua vez era fragmentada e desconectada dos demais níveis de atenção. “Nós tínhamos a quinta pior cobertura da estratégia de saúde da família do Brasil. Nosso estado chegou a ter 87 médicos de família ativos para atuar em toda a atenção básica de todos os municípios do estado”, alerta.

Segundo ele,  em 2019, primeiro ano da atual gestão no governo do estado foram reconhecidos os desafios que estavam postos, entre eles uma atenção primária com baixa cobertura e uma sobrecarga na atenção secundária e hospitalar. Então foram implementadas medidas que permitiram mudar este quadro.

“Criamos o Instituto Capixaba de Ensino, Pesquisa e Inovação em Saúde (Icepi), nos moldes da Lei Federal 10.973, que é Instituto de Ciência e Tecnologia (ICT) público, vinculado à Secretaria de Saúde. Também criamos uma escola de saúde pública dentro do ICT e um subsistema estadual de ensino para integrar as ações do sistema de educação, com o sistema de saúde e sistema de ciência e tecnologia”, afirma Nésio.

“O mercado brasileiro é patrimônio do povo brasileiro e deve ser usado em favor da população, da ciência e da tecnologia. A prioridade deve ser o incentivo à ciência e pesquisa e a utilização de todo conhecimento científico em prol da população”, avalia o assessor técnico da vice-presidência de Produção e Inovação em Saúde da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Jorge Costa.

Além disso, o secretário destaca a criação de um projeto de formação massiva de médicos de família, enfermeiros e cirurgiões dentistas em comunidades, que conta atualmente com mais de mil profissionais. Isso permitiu que o estado saísse da quinta pior cobertura para a sétima melhor, devendo chegar entre as cinco melhores até dezembro.

“Criamos uma legislação bem ousada e robusta, que permitiu a realização de diversos processos. Quando chegou a pandemia, eles foram dinamizados de maneira incrível, o que permitiu enfrentar de maneira adequada a pandemia”, avalia Nésio ao informar que, no momento, o estado lança apoio aos municípios para formação em recursos humanos, entre outras ações.

“Tudo isso nos mostra o quanto é importante a vontade política de se fazer e, principalmente, o quanto a população brasileira é beneficiada com isso”, afirma o secretário executivo substituto do CNS, Marco Aurélio Pereira.

O seminário virtual faz parte do Projeto Integra e conta, atualmente, com mais de 500 conselheiros de saúde e lideranças de movimentos sociais e comunitários, além de profissionais de saúde de diferentes categorias de todos os estados brasileiros. Ele foi mediado pela coordenadora da ENFar, Silvana Nair Leite.

O projeto é realizado em parceria com a Fundação Oswaldo Cruz, com apoio da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), criado para promover estratégias para a integração de políticas e práticas da Vigilância em Saúde, Assistência Farmacêutica, Ciência, Tecnologia e Inovação em Saúde no âmbito da gestão participativa e dos movimentos sociais. 

“Os desafios que este projeto identificou vão se amplificar bastante em 2022 e as reflexões apresentadas hoje mostram que há possibilidade de fortalecer o papel do estado, como um estado que gere o bem-estar social e que produza direitos”, avalia presidente da Federação Nacional dos Farmacêuticos (Fenafar), Ronald Ferreira.   

 Assista o Seminário Integrador sobre Novo Marco Legal da Ciência, Tecnologia e Inovação

Fonte: SUSConecta

Voracidade das farmacêuticas e apartheid da vacina são obstáculos na pandemia, diz Bermudez

“Pfizer, Moderna e BioNTech estão hoje faturando um absurdo. Faturam mil dólares por segundo; 65 mil dólares por minuto; 93 milhões de dólares por dia. O faturamento deles no final de 2021 vai ser de 36 bilhões de dólares. Elas esperam, para 2022, faturar 101 bilhões de dólares. A voracidade da indústria farmacêutica multinacional não abre mão de entregar isso para que produtores na África ou no Brasil ou em outro lugar venham produzir as vacinas”.

É o que afirmou o médico Jorge Bermudez, pesquisador sênior e chefe do Departamento de Política de Medicamentos e Assistência Farmacêutica da Escola Nacional de Saúde Pública/ Fiocruz, em entrevista ao site Tutaméia.

Bermudez, que foi diretor da Escola Nacional de Saúde Pública, presidente do Instituto Vital Brazil e diretor da Farmanguinhos, avaliou os obstáculos para o controle da pandemia, as dúvidas sobre a variante ômicron, o papel da Fiocruz e os desafios para a saúde pública no Brasil. Veja a íntegra da entrevista abaixo.

“A situação é de cautela, de cuidado. O mundo só vai estar seguro quanto todo mundo estiver seguro.  Se não temos 80% da população mundial vacinada poderemos ter o que nós temos agora [ômicron}. Esse apartheid de vacina, essa discriminação da África. A África tem um bilhão de habitantes e tem menos de 10% da população vacinada. Tem países que só em 2026 vão conseguir vacinar a sua população total”.

A desigualdade é o tema central da conversa. Nos países ricos, sobra vacina e milhares de doses acabam indo para o lixo.

“Os países ricos compraram vacinas para eles em vez de financiar um sistema que fosse solidário. As iniciativas de solidariedade foram atropeladas pelos interesses comerciais e também pelo nacionalismo exacerbado desses países, que compraram quatro, cinco, seis vezes a sua capacidade, sem se importar com o que pudesse acontecer no resto do mundo”, ressaltou Bermudez.

“Temos que ter a vacinação no mundo inteiro para termos segurança de que podemos controlar a pandemia. Temos que continuar com as medidas de contenção, continuar com o uso de máscara, com o distanciamento social, não provocar aglomerações, não frequentar ambiente fechado sem máscara”, afirmou.

 

Fonte: Tutameia

Webinar apresenta resultados parciais do projeto Qualifica-AF

Apresentação dos resultados acontecer no dia 11 de novembro, com as presenças de Silva Nair Leite, coordenadora da Escola Nacional dos Farmacêuticos, e a professora Sandra de Castro Barros, do Departamento de Assistência Farmacêutica do Ministério da Saúde. O webinar foi mediado pelo representante da Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) André Ulysses.

Em sua apresentação, a representante do DAF/MS pontou que o projeto Qualifica-AF é uma pesquisa que envolve a avaliação do Projeto Qualifar-SUS, criado em 2012. O objetivo é identificar os diferentes graus de implantação do projeto nos 3508 municípios habilitados, sendo que apenas 49% receberam os recursos para o seu desenvolvimento.

O Qualifica-AF pretende apresentar um diagnóstico da AF no eixo estrutura do programa, a partir de uma amostra de pelo menos 1200 municípios.

Ao iniciar sua apresentação, Silvana salientou que se trata da apresentação dos resultados preliminares, uma vez que o projeto ainda está na fase de coleta de dados. 

O Estudo se assenta nos seguinte pontos: Organização e estrutura da Assistência Farmacêutica Municipal; Sistemas de Informação; Envio de dados para a Base Nacional dos Farmacêuticos (BNAFAR); Força de trabalho da AF; Relações Interinstitucionais; Impactos e dificuldades relacionados ao Qualifar-SUS; Necessidades do Município.

O projeto já atingiu 1202 municípios, com respostas válidas, mas com muitas disparidades ainda, destaca Silvana, alertando que é preciso que todos completem e participem da pesquisa.

Para acessar as informações sobre o projeto, clique aqui.

Assista a webinar na íntegra. 

 

Da redação

Eleição para o Conselho Nacional de Saúde ocorre dia 11 de novembro

O Conselho Nacional de Saúde divulgou a lista final das entidades e movimentos sociais habilitados a participarem das eleições para a nova gestão do CNS 2021-2024. As eleições ocorrerão em formato remoto no dia 11 de novembro de 2021.

Veja a lista final de entidades habilitadas (Eleições CNS)

As entidades se cadastraram de por meio do Sistema Eletrônico específico das Eleições CNS, no período de 20 de agosto até as 18 horas (horário de Brasília) do dia 5 de outubro de 2021. A Comissão Eleitoral do CNS avaliou as inscrições de acordo com o Regimento e no Calendário Eleitoral (Resolução CNS nº 657, de 09 de julho de 2021), segue disponível no site do CNS.

Da redação com informações do CNS

Quebra de Patentes: e se o veto de Bolsonaro cair?

Chances de Brasil tornar-se grande produtor de vacinas são reais. Em meio à pandemia, farmacêuticas isolaram-se. Emergem casos como o da África do Sul, que ousou produzir sem licença e conquistou apoio da OMS

 

 

Há grande expectativa no Congresso em relação à possível derrubada dos vetos de Bolsonaro a pontos da lei que permite quebrar patentes de vacina, em situações de emergência. O texto foi promulgado parcialmente pelo Senado em 3 de setembro. Os vetos provocaram grande desgaste para o governo. Há amplo apoio no Brasil e na comunidade global ao aumento da oferta de imunizantes, e a nova lei brasileira – uma conquista importante – poderia contribuir muito para reduzir o déficit de produção corrente.

No Congresso também existe apoio. As maiorias conservadoras estão conseguindo barrar a derrubada dos vetos, mas os setores democráticos não estão sem opções. A aprovação da lei foi positiva, diz seu criador, o senador Paulo Paim (PT). Ele ressalta que teve ajuda providencial dos presidentes do Senado e da Câmara, Rodrigo Pacheco e Arthur Lira. Assim como dos líderes partidários e das bancadas do legislativo. Um grupo expressivo de 240 entidades de todo o mundo enviou cartas de apoio à lei. Ela está como que suspensa, com todo o arcabouço jurídico instituído para quebrar o monopólio das corporações farmacêuticas, mas sem a chave de ouro: a entrega obrigatória da tecnologia de fabricação pelos fabricantes.

A Organização Mundial do Trabalho (OMC) e a Organização Mundial da Saúde (OMS) esse ano fizeram declarações públicas de apoio à quebra de patentes, que, acreditam, beneficiaria todo o planeta. O senador Paim fez menção a essa percepção, comemorando que o Brasil pode se tornar “um exemplo para o mundo”. O especialista Felipe de Carvalho concorda. Acha que Bolsonaro, alinhado aos interesses das farmacêuticas, contraria a tendência mundial. Como membro do Grupo de Trabalho sobre Propriedade Intelectual (GTPI), ele lembrou à Agência Pública que em maio desse ano, o presidente americano Joe Biden declarou apoio à medida, e o Parlamento Europeu fez o mesmo logo depois.

Ao mesmo tempo, jovens cientistas sul-africanos ousaram começar a construir a sua própria fábrica de imunizantes, utilizando a tecnologia do RNA-mensageiro, patenteada pela Moderna. Ou seja: seu ato, que em condições normais seria taxado de “pirataria”, driblou a indústria farmacêutica e tem apoio material da OMS – que fornece materiais e conhecimentos. O escândalo do apartheid vacinal tornou o passo possível: metade da produção de vacinas fica com os países desenvolvidos. Apenas 0,7% chega aos menos favorecidos. “Não podemos mais depender dessas superpotências”, declarou à imprensa o biotecnólogo Emile Hendricks.

Aos 22 anos, ele é um dos talentos da Afrigen Biologics and Vaccines, a empresa que quer fazer a engenharia reversa do imunizante da Moderna. Trata-se de descobrir o processo de fabricação do produto a partir das informações públicas, por meio de técnicas adequadas. A OMS ajuda, tentando ampliar o acesso global à tecnologia do RNA-mensageiro, uma inovação importante na arte de provocar reações de defesa do organismo.

No caso do Brasil, caso sejam derrubados os vetos, a lei prevê que nossa produção de vacinas seja distribuídas aos países pobres. A Afrigen pretende compartilhar abertamente o conhecimento que vier a ser obtido em seu país. Claro: as grandes farmacêuticas globais, donas do mercado, são contra. “Já estão começando a dizer que não temos capacidade para fazer o que queremos” diz o diretor da Afrigen, Petro Terblanche. “Mas vamos mostrar a eles.”

Fonte: Outras Palavras, por Flávio Dieguez
Foto de capa: Spencer Davis / Pixabay

Cursos de Saúde não podem ser ministrados no formato EaD

A Comissão de Seguridade Social e Família da Câmara dos Deputados aprovou no último dia 03 de novembro o parecer do deputado Dr. Luiz Ovando favorável ao do Projeto de Lei nº 5414/2016, que exclui os cursos de Saúde entre os passíveis de serem ofertados na modalidade de Ensino à Distância (EaD).

O uso da internet e a disseminação de plataformas de Ensino a Distância (EaD) no país iniciou, antes mesmo da pandemia, uma proliferação de cursos profissionalizantes e de Ensino Superior no formato EaD. A Fenafar, o Conselho Nacional de Saúde e outras entidades da área participaram de inúmeros debates, alertando para os graves problemas que essa modalidade de ensino adotada nos cursos de Saúde poderia trazer para a população.

“Essa foi uma grande luta que enfrentamos enquanto eu estava na presidência do Conselho Nacional de Saúde. Realizamos entre os anos de 2016 e 2017 inúmeras reuniões das Câmaras técnicas do Conselho, participamos de debates com outras entidades, no Congresso Nacional para alertar para os riscos que a implantação de cursos EaD na Saúde poderiam trazer para a sociedade. Na época, conseguimos aglutinar importantes autoridades e sensibilizar vários setores para esse tema.”

CNS lançou várias notas, a Fenafar lançou a campanha: “A vida não é virtual”, contra a adoção dos cursos EaD na área da saúde e nos cursos de farmácia. 

A pandemia da Covid-19 trouxe o debate à tona novamente, o que acelerou a discussão do Projeto de Lei nº 5414/2016, de autoria do então deputado Rodrigo Pacheco, que altera a Lei de Diretrizes e Bases da Educação, para prever que o ensino à distância, em todos os níveis e modalidades de ensino, e de educação continuada, NÃO ENVOLVA os cursos de formação na área da saúde. 

Os deputados seguiram o parecer do relator do PL, deputado Dr. Luiz Ovando, que se manifestou favoravelmente à mudança. Agora o PL precisa ser aprovado na Comissão de Constituição e Justiça e Cidadania (CCJ) e depois, será encaminhado à apreciação do Senado. O Conselho Federal de Farmácia (CFF) comemora a decisão da CSSF. 

“A pandemia trouxe novos desafios e colocou na agenda do dia a discussão de como deveremos incorporar as novas tecnologias nas várias dimensões da nossa vida. Mas, esse debate não pode ser feito sem levar em consideração as realidades particulares. Os cursos de Saúde não formam técnicos. Formam pessoas que têm como objeto do seu trabalho o cuidado com a vida de outras pessoas. Essa formação não pode ser feita por meio de uma tela”.

Para assistir a reunião, acesse – https://www.camara.leg.br/evento-legislativo/63827
Para apoiar o projeto de lei, acesse – https://bit.ly/2YnpBus
Para manifestar seu agradecimento aos deputados da CSSF, acesse – https://bit.ly/3ozD0uB

Da redação com informações da Agência Câmara
Foto: Reunião do CNS, presidida por Ronald Ferreira dos Santos, em 2017, para discutir os cursos EAD na Saúde

Molnupiravir para Covid-19: expandindo o acesso ou ampliando a exclusão?

A busca por medicamentos vem sendo efetuada de maneira frenética desde o início da pandemia de Covid-19, doença que já registrou 245 milhões de casos (ver aqui) e quase 5 milhões de mortes (ver aqui) no mundo e por isso já é considerada a pior tragédia sanitária e humanitária de todos os tempos.  Medicamentos antigos são reposicionados e  novos medicamentos vêm sendo  submetidos a ensaios pré-clínicos e clínicos nos países. Leia no artigo de Jorge Bermudez e Luana Bermudez*

 

 

A esperança de vacinar toda a população mundial se encontra ameaçada pelo “apartheid das vacinas” e o nacionalismo exacerbado dos países de alta renda; daí a necessidade de contar com tratamentos eficazes para evitar casos graves e óbitos. 

Quase um ano após o início da vacinação contra Covid-19 no mundo, mais de 6 bilhões de doses já foram aplicadas. Quando observamos a distribuição dessas doses, salta aos olhos a evidente desigualdade de acesso às vacinas. Enquanto países de alta renda já estão aplicando terceiras doses como reforço e vacinando crianças e adolescentes, países de baixa renda ainda estão começando a vacinar os profissionais de saúde (ver aqui).

Em agosto de 2021, os diretores do Fundo Monetário Internacional (FMI), Banco Mundial, Organização Mundial da Saúde (OMS) e Organização Mundial do Comércio (OMC) publicaram um comunicado conjunto (ver aqui) instando os países e a indústria farmacêutica a se comprometerem para alcançar a meta de vacinação de 10% da população de todos os países até setembro, 40% até o fim de 2021 e 70% até o fim de 2022. No fim de outubro de 2021, sabemos que diversos países não atingiram a meta de 10% de suas populações vacinadas e de acordo com projeções, muitos deles, em sua maioria no continente africano, não serão capazes de cumprir a segunda meta de 40% da população com pelo menos uma dose até o fim desse ano (ver aqui).

É inaceitável que tantas promessas de solidariedade e diversas iniciativas internacionais de promoção de acesso a tratamentos e vacinas de Covid-19 tenham sido bloqueadas pela ganância de uma minoria.

Muitos produtos foram testados e descartados quanto à possibilidade de serem utilizados no tratamento da Covid-19, incluindo anticorpos monoclonais e policlonais, produtos utilizados em oncologia, antivirais, entre outros. 

Mais recentemente, foi anunciado que em diversos modelos pré-clínicos, o molnupiravir seria um potente análogo de ribonucleosídeo que inibe a replicação do SARS-COV-2 e suas variantes. O medicamento tem a vantagem de ser administrado por via oral e está sendo investigado também o seu potencial profilático para uso pós-exposição, em pessoas, por exemplo, que coabitam com alguém já diagnosticado. Embora visto como uma possibilidade de utilização, foi anunciado que o tratamento tem que ter início precoce, entretanto o custo do tratamento, estimado em 700 dólares, se coloca como uma barreira ao acesso. 

No dia 27 de outubro de 2021 foi anunciado de maneira ampla que estava sendo implementado um acordo de licenciamento voluntário entre a empresa Merck, detentora das patentes do molnupiravir, com a iniciativa Medicines Patent Pool (MPP) . Esse acordo prevê que a MPP possa sublicenciar produtores em diversos países para suprir o medicamento num escopo geográfico de 105 países de baixa e média renda. Não é a primeira vez que, no caso dos licenciamentos voluntários, o detentor da patente define o escopo geográfico e permanentemente exclui os países de renda média alta. Na Região das Américas, somente os seguintes países foram incorporados nesse acordo: Belize, Bolívia, Cuba, Dominica, El Salvador, Guatemala, Guiana, Haití, Honduras, Jamaica, Nicaragua, Paraguai, Saint Lucia, Saint Vincent and the Grenadines, Suriname e Venezuela.

Temos mencionado anteriormente que, da mesma maneira que se manifesta o confronto entre Saúde Pública x interesses comerciais, ou que se explicitam as incoerências entre os direitos individuais, a Saúde Pública, as leis internacionais sobre direitos humanos e as regras do comércio (ver aqui), em geral os acordos voluntários não levam em consideração a carga de doenças, mas apenas a classificação de países por nível de renda. Temos discutido também que os mecanismos voluntários efetivamente podem ter resultados positivos, mas não são suficientes para quebrar os monopólios e assegurar a possibilidade de expansão da produção e acesso universal. Os licenciamentos compulsórios, conhecidos como “quebra de patentes”,  sao mecanismos complementares que representam o direito dos países de utilizar e produzir medicamentos para fins de saúde pública, assegurando o acesso a tecnologias e a sustentabilidade das políticas públicas.

A publicação do acordo pela MPP gerou diversas opiniões; por um lado cabe destacar a transparência do acordo, que é a primeira licença para uma tecnologia relacionada à Covid-19 publicada em sua totalidade (ver aqui). Essa transparência não foi vista, por exemplo, nos diversos acordos assinados para a aquisição e produção de vacinas contra Covid-19. James Love, diretor do Knowledge Ecology International (KEI), considera esse o melhor acordo que qualquer empresa fez até o momento para licenciamento de sua propriedade intelectual durante a pandemia e destaca que a área licenciada é grande o suficiente para induzir uma entrada eficiente de genéricos e economias de escala (ver aqui).

Esse acordo certamente representa um passo importante na promoção do acesso a possíveis tratamentos para Covid-19, e muitos defendem que  outras empresas com licenciamento de tratamentos promissor​​es (ver aqui) deveriam seguir o exemplo da Merck. No entanto, cabe destacar que, como de costume em licenciamentos voluntários, este acordo apresenta limitações importantes. A organização Médicos Sem Fronteiras (MSF) ressalta que esta licença exclui quase metade da população mundial, incluindo países de renda média-alta com capacidade de produção, como é o caso do Brasil e da China. Além disso, criticam também uma cláusula no contrato de rescisão caso alguma empresa sublicenciada pela Medicines Patent Pool (MPP), uma organização de saúde pública apoiada pelas Nações Unidas, exerça seu direito de contestação de patentes. Essa é a primeira vez que uma cláusula desse tipo é incluída em um acordo da MPP, e de acordo com o Conselho Diretor da organização, não há nenhuma intenção de exercer este direito (ver aqui). 

Assim, muitos consideram que esta licença voluntária mantém o modus operandi da indústria farmacêutica e defendem que a Merck deveria conceder uma licença global ao molnupiravir sem restrições geográficas e que a Universidade Emory, que desenvolveu o medicamento com importante financiamento do governo dos Estados Unidos, retire suas reivindicações de patentes.

Lembramos ainda que, no relatório do Painel de Alto Nível do Secretário-geral das Nações Unidas em acesso a medicamentos, foi ressaltado de maneira clara que a pesquisa financiada com recursos públicos deve gerar conhecimento aberto, amplamente acessível ao público. As universidades e instituições de pesquisa que recebem financiamento público devem, portanto, priorizar objetivos de saúde pública e não recebimento de recursos como resultados de suas práticas de patenteamento e licenciamento. Com essa finalidade, são propostos mecanismos de incentivos e as instituições devem adotar políticas e abordagens que catalisem a inovação e criem modelos flexíveis, para permitir o avanço da pesquisa biomédica e a geração de conhecimento para benefício público. 

Lamentamos que a divulgação dos termos do acordo entre a Merck e a MPP, embora com todas as manifestações positivas pela transparência e divulgação pública na íntegra, possa estar nos trazendo novamente para um novo “apartheid”, em se tratando de um mecanismo voluntário que exclui países de renda média alta, mas que não necessariamente tem condições de arcar com preços estabelecidos em carater de monopólio. Tendo quase a metade da população mundial excluída do licenciamento voluntário da Merck, que não leva em consideração a carga de doenças nem critérios epidemiológicos. A solidariedade que se buscou e preconizou no início da pandemia com relação às vacinas como bens públicos globais não resistiu aos anseios das empresas farmacêuticas de manter seus monopólios e se recusarem, na sua maioria, a transferir tecnologia como uma das formas de expandir o acesso.

O Brasil mais uma vez mostra progredir no caminho certo, graças à solidez de suas instituições públicas, em que pese as restrições orçamentárias-financeiras e o teto de gastos públicos gerado pela EC-95. A Fundação Oswaldo Cruz, que já está entregando ao SUS cerca de 120 milhões de doses da vacina, fruto da parceria com AstraZeneca, anunciou que se encontra dialogando com a empresa Merck para a definição de modelo de cooperação que permita a produção nacional do molnupiravir e o acesso ao produto no SUS, considerando os estudos globais de fase 3 em andamento e o potencial envolvimento em estudos futuros.

Temos que fortalecer nossas referências para assegurar o acesso universal da população brasileira às tecnologias em saúde. Em nível global temos como meta alcançar  os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da Agenda 2030, com a premissa de não deixar ninguém para trás. No âmbito nacional, temos a obrigação de insistir na saúde como direito de todos e dever do Estado, como consta o artigo 196 de nossa Constituição Federal. Para isso, precisamos fortalecer nosso complexo econômico e industrial da saúde e lutar pelo acesso a medicamentos como um direito de todos, inserido na política de saúde e no próprio SUS, patrimônio do povo brasileiro.

*Jorge Bermudez é pesquisador da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (ENSP/Fiocruz) e pesquisador-parceiro do CEE; Luana Bermudez é assessora da Presidência da Fiocruz e membro da UAEM Brasil (Universidades Aliadas por Medicamentos Essenciais).

Fonte: CEE – Centro de Estudos Estratégicos da Fiocruz