Fenafar assume novo mandato no Conselho Nacional de Saúde para o triênio 2024-2027

Nesta quinta-feira (19/12), durante a 78ª Reunião Extraordinária do Conselho Nacional de Saúde (CNS), realizada em Brasília, foram empossados os novos conselheiros e conselheiras nacionais de saúde para o mandato 2024-2027. A segunda vice-presidenta da Fenafar, Débora Melecchi, foi reconduzida como conselheira titula do CNS, representando os farmacêuticos brasileiros, e passará a ocupar a primeira suplência no novo mandato. A cerimônia contou com a participação da ministra da Saúde, Nísia Trindade, e consolidou importantes avanços na representação social no órgão.

A Fenafar destaca a relevância da atuação junto ao CNS, em defesa do Sistema Único de Saúde (SUS) e das políticas públicas que promovem a valorização do trabalho farmacêutico. A entidade reafirma seu compromisso político e empenho na defesa do SUS, das políticas públicas e do controle social, elementos essenciais para garantir avanços no acesso à saúde e na valorização profissional.

Eleição da nova mesa diretora do CNS

A reunião também marcou a posse da mesa diretora para o triênio 2024-2027, com Fernanda Magano eleita presidenta do CNS. Representante do segmento dos trabalhadores pela Federação Nacional dos Psicólogos (Fenapsi), Fernanda tem uma trajetória de destaque no órgão e é apenas a segunda mulher a assumir sua presidência em 87 anos de história. A primeira foi Maria do Socorro de Souza, que liderou o CNS de 2012 a 2015.

A composição do CNS segue um modelo paritário, com 50% das vagas destinadas a usuários do SUS, 25% a trabalhadores do sistema e 25% a gestores e prestadores de serviços. Os representantes do governo federal, do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) e do Conselho Nacional de Secretários Municipais de Saúde (Conasems) são indicados por seus respectivos titulares.

Categoria mobilizada: Farmácia não é supermercado, supermercado não é farmácia

Na terça-feira (10/12), farmacêuticos de todo o Brasil, estiveram em Brasília numa intensa movimentação para barrar os projetos de lei que querem autorizar a venda de medicamentos em supermercados.

A mobilização, que contou com a participação da Fenafar e demais entidades farmacêuticas, além de lideranças sindicais, também discutiu a venda, pelas farmácias, de produtos que não são medicamentos.

Todo esse esforço da categoria já começa a apresentar resultados concretos. Durante uma reunião com a deputada Alice Portugal (PCdoB-BA), foi proposta a criação de uma lei para impedir que as farmácias vendam produtos não previstos na Lei nº 5991/73. A proposta busca reforçar as conquistas da Lei nº 13.021/14, que define a farmácia como estabelecimento de saúde.

Supermercado não é farmácia

A mobilização ocorre num momento em que há projetos em tramitação na Câmara e no Senado que querem liberar a venda de medicamentos em supermercados. Esses projetos, patrocinados por setores empresariais do varejo, representam uma grave ameaça à saúde pública, ao promover o uso irracional de medicamentos.

“A Fenafar é contrária à venda de medicamentos em supermercados porque medicamentos não são mercadorias comuns. Eles exigem controle, orientação e acompanhamento por profissionais farmacêuticos para garantir o uso seguro e responsável,” destacou o presidente da Fenafar, Fábio Basílio que participou da mobilização.

Farmácia não é supermercado

Além da resistência ao avanço desses projetos de lei, a Fenafar também é contra a prática, cada vez mais comum, de grandes redes farmacêuticas comercializarem produtos alheios a um estabelecimento de saúde como carnes, carvão, refrigerantes e itens de limpeza, itens que não estão em conformidade com as normas estabelecidas pela Lei nº 5991/73 e pela Lei nº 13.021/14.

“Essas práticas desvirtuam o papel das farmácias como estabelecimentos de saúde e precisam ser combatidas. Defendemos que farmácias estejam alinhadas à sua função principal: atender às necessidades de saúde da população,” reforçou Basílio.

A Fenafar reafirma sua posição de que farmácia não é supermercado, e supermercado não é farmácia.

Fenafar lança petição pública contra a venda de medicamentos em supermercados

Colegas farmacêuticas e farmacêuticos,

Mais uma vez, precisamos nos mobilizar amplamente para barrar ataques ao acesso racional e seguro aos medicamentos.

A saúde pública do nosso país está sob ameaça. Dois projetos de lei em tramitação – o PL 1774/19, na Câmara dos Deputados, e o PL 2158/23, no Senado Federal – buscam autorizar a venda de medicamentos isentos de prescrição (MIPs) em supermercados. Essas propostas podem ser votadas a qualquer momento, colocando em risco a segurança e o bem-estar da população.

Esse projeto representa um grave risco para a saúde pública, ao banalizar o uso de medicamentos sem a orientação necessária, colocando vidas humanas em perigo. Além disso, desconsidera a importância do trabalho farmacêutico, essencial para atender às necessidades da população com responsabilidade e respeito à vida.

A Fenafar e seus sindicatos filiados estão mais uma vez mobilizados, em ampla ação social e política, para impedir esse retrocesso que ameaça a saúde pública, a assistência farmacêutica e a valorização do trabalho dos farmacêuticos.

Convidamos todos os colegas farmacêuticos e farmacêuticas a somarem forças nesta agenda:

Assinem a petição pública construída pela Fenafar, expressando seu repúdio a esta proposta.
– Compartilhem a petição com colegas, familiares e amigos.
– Procurem os parlamentares e reforcem a importância de votarem contra este ataque à saúde e ao trabalho farmacêutico.

Juntos, podemos barrar este retrocesso e proteger a saúde da nossa população!

Luta contra a escala 6×1: Uma centelha no mundo do trabalho

Manifestações confirmam desconforto com o desperdício da vida em empregos mal pagos, exaustivos e enfadonhos. Como a campanha pode ampliar-se e ser resposta ao capitalismo do século XXI. Por que contra-argumentos são insustentáveis.

Na última semana a bandeira pelo fim da jornada de trabalho 6×1 retornou à agenda pública brasileira. A pauta, que tomou muito setores da esquerda de surpresa, tem atraído milhares de trabalhadores e trabalhadoras que veem suas vidas sufocadas pela jornada extenuante e por condições de trabalho cada vez mais precárias. Não são poucos os relatos nas redes sociais de sobrecarga e assédio no âmbito de trabalho e só a petição pública feita pelo Movimento Vida Além do Trabalho (VAT) já conta com mais de 2 milhões de assinaturas.

A forte adesão à proposta de acabar a jornada 6×1 e reduzir a jornada é um grito de socorro contra a subordinação do tempo da vida somente ao trabalho, com escalas que desorganizam a vida, com baixos rendimentos e ausência de oportunidades de trabalho. O grito é tão forte que sensibiliza grande parte da sociedade, especialmente, a juventude que busca ter horizontes mais promissores para a sua vida. A vida não é só trabalho. Pelo contrário, o trabalho precisa proporcionar as condições para as pessoas viverem ela em todas as suas dimensões. Mesmo quem trabalha na jornada “padrão” 5×2 está cansado o suficiente para saber que deve ser desumano trabalhar seis dias e folgar um, que nem sempre coincide com o domingo. O fim de semana de dois dias é curto e passa rápido – mal se descansou e o final de domingo se apresenta angustiante com o retorno ao trabalho na manhã seguinte. Na 6×1 não há fim de semana, há um respiro breve entre outros seis dias de trabalho.

As pessoas querem viver além do trabalho

A onda de protestos na sociedade contra a jornada 6×1 expressa um descontentamento mais amplo das pessoas com o mundo do trabalho. O sentimento é que se trabalha muito, se recebe insatisfatoriamente e resta pouco tempo para o descanso, o ócio, o lazer, a sociabilidade com a família e os amigos, o estudo, o cuidado com a saúde física e mental, a vida sexual e outras tantas dimensões que compõem o ser humano para além do trabalho. Ecoa-se o grito desesperado de quem percebe que sua vida está toda em função do trabalho e da reprodução social, ao passo que as coisas que importam são postas em segundo plano. Não há dúvida que o trabalho é um eixo estruturante da vida social. O problema não é trabalhar, mas somente trabalhar e entrar em uma dinâmica de luta pela sobrevivência que não lhe permite viver. Vale lembrar que a média salarial no Brasil, ainda que tenha tido um crescimento anual de 4% entre 2023 e 24, é de R$ 3.222,00, segundo dados da PNAD (abril, 2024), e que 53 milhões de brasileiros necessitam uma ocupação ou uma ocupação melhor, somando desocupados, desalentados, pessoas sem condições de trabalhar mas que gostariam, trabalhadores sem carteira assinada ou que estão em busca de estratégias de sobrevivência. Ainda, possuir um trabalho formal não é garantia de que se tenha um trabalho não precário.

A juventude tem encontrado um mundo do trabalho que lhe parece insuportável, para o qual está levantando sua voz e dizendo: isso não é vida. Ainda que a atenção no último período tenha se dado aos chamados “jovens sem-sem” (sem estudo e sem trabalho), o que corresponde a 25% dos jovens brasileiros, há hoje 70% de jovens inseridos no mercado de trabalho. Não à toa o movimento VAT é encabeçado por jovens, a exemplo do seu principal expoente Rick Azevedo. A promessa de que a educação lhes salvaria tem resultado em frustração para muitos, apesar de ter níveis de escolaridade superiores aos de seus pais não tem garantido uma vida melhor. Aproximadamente 15% dos jovens que se formaram no ensino superior conseguem emprego na sua área de formação (NUBE, 2020). Há ainda uma grande frustração com o que se encontra no mercado de trabalho, que não somente é incapaz de proporcionar recompensas financeiras satisfatórias como oferece ocupações em que as pessoas não se realizam.

Nesse sentido, mais que uma crítica pontual ao regime de jornada trabalho seis por um, há uma manifestação social latente sobre as relações com o trabalho e as condições em que se trabalha. O nível de adoecimento psíquico decorrente do trabalho é alarmante e atinge toda a classe trabalhadora. Só em 2022, segundo o INSS, mais de 209 mil pessoas foram afastadas do trabalho por transtornos mentais em nosso país. Reproduz-se uma sociedade adoentada, com jornadas exaustivas, assédios de diferentes natureza, pressões por resultados crescentes, insegurança financeira e a convivência com o medo permanente de perder o emprego. Para a OIT (2022), houve um aumento significativo no número de pessoas com algum problema de saúde mental, com um total de 13% de pessoas em 2019 em nível mundial e, estima-se, que 12 bilhões de dias de trabalho são perdidos devido a esse tipo de problema, custando ao redor de um trilhão de dólares à economia. Há uma relação direta entre jornadas extenuantes e adoecimento físico e mental do trabalhador.

Quanto à juventude, segundo o Dossiê da Fiocruz de 2024, Panorama da situação de saúde de jovens brasileiros, entre 2016 e 2022 , identificou-se que a taxa de acidente de trabalho foi maior entre os jovens em comparação com as demais faixas etárias – 219,78 casos para jovens de 20 a 24 anos, 209,44 no caso de jovens de 25 a 29 anos, ambos calculados por 100.000 habitantes -, indicando uma maior exposição dos jovens ao acidente de trabalho, tendo como causa primeira as circunstâncias relativas às condições de trabalho. Os grupos profissionais mais notificados entre os jovens foram os trabalhadores da produção de bens e serviços industriais e os inseridos nas atividades de serviço, vendedores do comércio em lojas e mercados. Além disso, na última Conferência da Juventude em 2023, o tema da saúde mental foi o mais lembrado, recebendo 41% das propostas para resolução do problema. Não à toa, já que 8 a cada 10 jovens entre 15 e 29 anos apresentaram algum transtorno de saúde mental em 2022. Para a Fiocruz, o número de notificações de jovens com transtorno mental relativo ao trabalho é maior entre os jovens de 25 a 29 anos com prevalência do sexo feminino. As principais causas são estresse pós-traumático, transtornos de adaptação, transtorno misto ansioso e depressivo e ansiedade generalizada. Em síntese, é um quadro assustador para o futuro do país.

A jornada 6×1 é apenas parte do problema. Não obstante, seu enfrentamento tem o potencial de mobilizar pautas historicamente centrais das lutas dos movimentos dos trabalhadores. Revogar a jornada 6×1 parece um passo importante na direção da redução da jornada de trabalho em geral – nunca é demais lembrar que as 44 horas por semana (acrescidas das horas extras) foram instituídas há 36 anos na Constituição Federal de 1988 e que o Brasil está bastante defasado frente experiências bem-sucedidas de implementação de jornadas laborais abaixo das 40 horas semanais em diversos países, tais como as experiências recentes de instituição de jornadas de quatro dias na Islândia, na Alemanha, na França, na Inglaterra, na Bélgica, nos Emirados Árabes, entre outros1.

Vale também lembrar que uma parte significativa dos trabalhadores brasileiros não tem acesso aos direitos do trabalho, muitas vezes trabalhando numa escala 7×0, isto é, sete dias de trabalho sem descanso, a exemplo de muitos trabalhadores informais, por conta própria e de empresas de plataformas digitais – atualmente cerca de 40% dos trabalhadores estão na informalidade, traço histórico da formação do nosso mercado de trabalho. Com um excedente estrutural de força de trabalho que se manteve durante o processo de industrialização e da expansão do assalariamento, o nosso passado escravocrata legou à população negra, especialmente às mulheres, os trabalhos mais precários, com os piores salários e as piores condições laborais. Em um mercado de trabalho heterogêneo e marcado pela desigualdade, a informalidade e a precariedade não são específicas de um ou outro momento, mas marcas estruturais que se acentuaram no período neoliberal.

O falacioso argumento econômico

Os principais argumentos daqueles que se posicionam contrariamente ao fim da jornada na escala 6×1 são de natureza econômica – o que por si só é um fato interessante, pois no campo da sociabilidade, da autonomia humana e da saúde física e mental não há margem para dúvida: a escala 6×1 é péssima. A síntese do argumento econômico é que eliminar a possibilidade de escala 6×1 teria por efeito a redução de empregos e o aumento de custos para os negócios e, portanto, aumento de preços para os consumidores e prejuízo para as empresas. Os defensores da manutenção atual fazem “terrorismo” ao dizer que a simples aprovação da proposta seria ruim para o conjunto da economia, com perda de competitividade (e falência) das empresas, gerando aumento do desemprego.

Trata-se de um argumento recorrente, utilizado em outros momentos históricos para alarmar a sociedade que a introdução de um direito ou proteção social quebraria a economia e o país – foi assim quando da implementação do 13º salário ou do salário mínimo. Para exemplificar, se o governo brasileiro tivesse ouvido os economistas hegemônicos (neoclássicos), a grande mídia e os setores empresariais, não teria instituído a política de valorização do salário mínimo em 2004 em diante. Os argumentos hegemônicos apontavam que a elevação do salário mínimo geraria inflação, desemprego, informalidade e um imenso déficit nas contas públicas. Todos sabemos que os resultados não foram os previstos, pelo contrário, é incontestável que o salário mínimo teve efeitos muito positivos sobre a economia e uma melhora do bem estar de muita gente.

O fato é que o custo do trabalho é baixo no Brasil e não representa uma ameaça à competitividade das empresas. Entre 2012 e 2019, o custo unitário do trabalho na indústria teve tendência de queda. Em 2019 a queda foi de 3,6%, sendo o terceiro país com maior redução, atrás apenas da Argentina e França. Segundo a Confederação das Indústrias (2020), o principal fator para a queda do custo do trabalho foi o aumento da produtividade, cujo crescimento médio foi de 2,9%, somado à queda do salário real em 1,3%.

Na comparação do salário mínimo no plano internacional, segundo levantamento da OCDE em 2021, considerando seus países integrantes mais Brasil e Rússia, o valor da hora trabalhada foi de US$5,2 para o Brasil, deixando o país na 30° posição, a frente somente do México, cujo valor/hora trabalho é de US$ 3,3. Em primeiro lugar com o melhor valor/hora trabalho está Luxemburgo com US$27,7, seguido de Holanda com US$26,2 e Austrália com US$25,2.

Por outro lado, o Brasil possui uma das mais altas jornadas anuais do mundo. Segundo levantamento da OCDE (2022), o Brasil ocupa a 4° posição de 46 países considerados, com uma média anual de 1936 horas trabalhadas. Em primeiro lugar está o México com 2128 horas, seguido de Costa Rica com 2073 horas e, em terceiro lugar, Colômbia com 1964 horas anuais. Recorde-se que, durante o discurso de posse da presidenta do México, Claudia Scheinbaum, em outubro de 2024, a nova mandatária apontou como promessa do governo a redução da jornada de trabalho de 48 horas semanais para 40 horas. Já os países com a menor média anual são Alemanha em primeiro lugar com 1349 horas anuais, seguido de Dinamarca com 1363 horas e Luxemburgo com 1382 horas.

O importante é enfatizar que a redução da jornada de trabalho é uma demanda elementar dos trabalhadores no capitalismo, uma vez que os ganhos de produtividade decorrentes dos avanços tecnológicos, de processos e de gestão permitem se produzir cada vez mais com menos trabalho. Reduzir a jornada de trabalho com preservação dos salários é uma forma de distribuir esses ganhos de produtividade construídos pela coletividade.

O fim da escala 6×1 e a adequação dos negócios à nova realidade

A benéfica extinção da jornada 6×1 produziria efeitos modestos e diferenciados entre as empresas, conforme o setor de atividade, a estrutura de mercado e o porte do negócio. Em todo caso, as empresas se adequariam à nova realidade e essa excrescência que pesa sobre os ombros de milhões de trabalhadores deixaria de ser prevista na lei.

Para a economia como um todo, nada mudaria significativamente. Embora a alteração dos custos das empresas e o repasse para os preços dependam de muitos fatores, qualquer impacto seria pontual – once and for all, isto é, caso ocorra um aumento de preços em determinados bens e serviço, esse aumento não se repetirá, pois no momento seguinte a legislação será a mesma e, portanto, os custos também.

A elevação dos custos somente ocorreria simultaneamente ao aumento do nível de emprego, na medida em que os negócios que utilizam a escala 6×1 decidam contratar novos trabalhadores para suprir a ausência de força de trabalho ocasionada pela transição para outras escalas, como a 5×2 ou até mesmo a 4×3. Vale notar que, se isso acontecer, haveria um duplo benefício social: menos trabalhadores em jornadas degradantes e o aumento dos postos de trabalho. Portanto, o aumento de custos, por um lado, poderia produzir efeitos compensatórios na economia como um todo em virtude do aumento da massa salarial – mais gente trabalhando e proporcionando maior dinamismo econômico.

Como indicado, o repasse de custos para os preços depende de muitos fatores e pode variar significativamente de acordo com o segmento de atividade, a concorrência e a estrutura de mercado. Em mercados muito competitivos, como bares e restaurantes em grandes centros urbanos, o movimento dos preços deverá acompanhar a dinâmica de acomodação das novas escalas de trabalho. Certamente uma parte dos estabelecimentos buscará absorver a mudança legal sem novas contratações de trabalhadores, sem que os custos sejam impactados nesse caso. E, outra parte, que considera lucrativo manter o mesmo padrão de funcionamento do estabelecimento, poderá ampliar as vagas, incorrendo em algum aumento de custos, mas que se justificaria pelo volume de vendas – caso contrário não haveria contratação adicional. Ao mesmo tempo, com mais tempo livre para as pessoas, as atividades de lazer e cultura podem aumentar, o que traria mais clientes. Por outro lado, em mercados dominados por redes de grandes empresas, como os supermercados e farmácias, os novos custos associados à eliminação da jornada 6×1 podem ser absorvidos por esses negócios, de modo a produzir diferentes combinações entre redução marginal da taxa de lucro e aumento marginal nos preços dos bens e serviços vendidos.

Esses seriam os efeitos econômicos mais gerais que poderiam ser esperados com o fim da jornada na escala 6×1. Mas a realidade pode variar entre indústria, comércio e serviço; entre pequena, média e grande empresa. A esse respeito, faremos alguns apontamentos, destacando que a mudança é benéfica em todos os sentidos para os trabalhadores e trabalhadoras, e em nada impactaria negativamente a vida social – ao contrário. Assim como pode ser benéfica para economia, com menor nível de absenteísmo, adoecimentos, ganhos de produtividade, com trabalhadores satisfeitos e descansados, maior nível de atividade, pois pode ampliar o consumo.

Falta examinar agora quais seriam as consequências reais para os empregadores. E, muito mais importante, como seria possível construir, a partir da luta protagonizada pelo movimento VAT, uma agenda contemporânea e abrangente para recuperação geral dos direitos do Trabalho. É o que veremos num próximo texto.

1 Como mostra Dal Rosso et al. no livro O futuro é a redução da jornada de trabalho (2022, p. 26): “[…] algumas experiências começam a chamar atenção, tais como na Finlândia (que está experimentando uma jornada de quatro dias por semana e há uma proposta da atual primeira-ministra de instituir no país uma jornada de seis horas diárias); experimentos, ainda que localizados, de redução da jornada de trabalho estão em curso na Bélgica, na Escócia, na Islândia, na Espanha, no Japão, nos Emirados Árabes, entre outros. Na Coréia do Sul, ainda que a jornada permaneça longa, houve uma redução de 6,3 horas por mês a partir de 2019. Na mesma perspectiva, a agenda da redução da jornada de trabalho ganhou visibilidade com a posição do IG Metal da Alemanha a favor da Jornada de Trabalho de 32 horas; o movimento “4dayworkweek” que iniciou na Nova Zelândia e rapidamente teve adesão de empresas nos EUA, Grã-Bretanha, Irlanda e logo depois em muitos outros países, inclusive no Brasil; na Grã- Bretanha, em 2019, o líder do Partido Trabalhista se posicionou favorável a semana de quatro dias sem perdas de salários e, como último destaque, em outubro de 2020, o Comitê Executivo da Confederação Europeia de Sindicatos (CES) sugeriu uma agenda coordenada de negociações para a redução da semana de trabalho sem redução dos salários e medidas para o controle do tempo de trabalho, qualidade de vida no trabalho e garantia de renda em caso de doença”..

Fonte: Outras Palavras
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Nota da Fenafar: Defesa da Prescrição Farmacêutica e do Direito à Saúde

A Fenafar, que representa 21 sindicatos da categoria no Brasil, manifesta seu profundo descontentamento com a decisão judicial que declarou a inconstitucionalidade da Resolução nº 586/2013, do Conselho Federal de Farmácia (CFF).

Essa medida proíbe farmacêuticos(as) de exercerem a prescrição de medicamentos isentos de prescrição médica, um retrocesso que prejudica a saúde pública e limita o acesso da população ao cuidado de saúde qualificado.

A prescrição farmacêutica, regulamentada pelo CFF, é uma prática embasada em critérios técnicos, éticos e científicos, alinhada às necessidades de saúde dos pacientes e às políticas de saúde do país, como os protocolos clínicos do SUS.

A decisão prejudica diretamente milhares de profissionais que já atuam com a prescrição de fitoterápicos e medicamentos isentos de prescrição, atendendo a população em situações específicas, como controle de obesidade, diabetes e hipertensão.

A restrição compromete o acesso da população a esse cuidado de saúde acessível e qualificado, gerando significativo desemprego entre os profissionais farmacêuticos, o que impacta negativamente o setor de saúde e a economia do país.

Ao retirar do farmacêutico(a) a autonomia de prescrever medicamentos isentos de prescrição médica, a decisão reforça barreiras que distanciam a população do cuidado primário e essencial, sobrecarregando outros níveis do sistema de saúde.

Além disso, essa decisão reflete um corporativismo ultrapassado, restringindo práticas que são reconhecidas mundialmente e que ampliam o acesso da população a cuidados de saúde.

Repudiamos veementemente as ações do Conselho Federal de Medicina, que se aproveita do cenário para disseminar desinformação e discursos depreciativos contra os farmacêuticos(as).

Essa postura enfraquece a colaboração necessária entre os profissionais de saúde para fortalecer o sistema de saúde e desvaloriza o papel de uma categoria que diariamente trabalha em prol do bem-estar da população.

A Fenafar entende ser fundamental que a Justiça reveja essa decisão, reconhecendo a importância da atuação clínica do farmacêutico. Nos colocamos ao lado do CFF no recurso dessa sentença e em defesa da saúde pública e da valorização do trabalho farmacêutico.

Fenafar

20 de novembro: Dia da Consciência Negra

Em 2024, o Brasil dá um passo histórico na valorização da luta contra o racismo e na celebração da cultura afro-brasileira: pela primeira vez, o Dia da Consciência Negra é comemorado no dia 20 de novembro, em todo o território nacional. A data, sancionada como feriado pelo presidente Lula em 2023, marca um momento de reflexão, celebração e mobilização por igualdade racial e justiça social.

O 20 de novembro foi instituído como Dia Nacional da Consciência Negra em homenagem a Zumbi dos Palmares, um dos maiores símbolos da resistência negra no Brasil colonial. A data foi escolhida não apenas para homenagear sua memória, mas também para promover debates sobre a igualdade racial, a valorização da cultura afro-brasileira e a resistência ao racismo.

Por Que o Feriado Nacional é Importante?

O reconhecimento do 20 de novembro como feriado nacional vai além de uma homenagem. Ele simboliza a valorização da resistência de Zumbi dos Palmares e da contribuição afrodescendente para a construção da identidade brasileira e um incentivo à criação de políticas públicas voltadas para a inclusão e valorização da população negra.

O feriado oferece uma oportunidade para aprofundar debates sobre a diversidade cultural e os impactos do racismo estrutural na sociedade brasileira e é um momento propício para ações educativas, culturais e sociais que promovam discussões sobre racismo, igualdade e justiça.

Antes de 2023, o Dia da Consciência Negra era considerado feriado em seis estados brasileiros e em cerca de 1.200 municípios, dependendo de legislações estaduais e municipais. Em novembro do mesmo ano, o Congresso Nacional aprovou um projeto apresentado pela bancada negra da Câmara dos Deputados, transformando a data em feriado nacional.

A sanção presidencial foi considerada um marco não apenas pelo feriado, mas pela abertura de espaço para uma reflexão nacional uniforme.

Essa conquista reflete uma longa caminhada de movimentos sociais, lideranças negras e ativistas que lutam por reconhecimento e por políticas públicas efetivas para combater o racismo estrutural no Brasil.

Abrafarma quer manter a escala 6×1

A postura da Abrafarma de ser contra o fim da escala 6×1 é, no mínimo, uma prova gritante de como as redes de farmácias enxergam seus trabalhadores: números, não pessoas.

Para os farmacêuticos e farmacêuticas, que vivem na pele o que é suportar jornadas extenuantes, sem condições adequadas de descanso, essa resistência dos empresários não é nenhuma surpresa.

Afinal, é do nosso suor que eles tiram o lucro – e não do discurso de “preocupação com o atendimento ao público” – como querem fazer parecer.

Quem realmente conhece o “chão da farmácia” sabe que essa “preocupação” é uma desculpa esfarrapada para não perder dinheiro.

Ano após ano, os lucros do setor farmacêutico batem recordes, movimentando bilhões de reais. As redes têm caixa para melhorar as condições de trabalho, mas resistem, pois, isso significaria uma redução nos lucros dos acionistas.

Essa é a realidade nua e crua: quanto menos folga do trabalhador, mais ganhos para os patrões.

No entanto, o impacto dessa exploração afeta a saúde dos farmacêuticos, que enfrentam desgaste físico e mental, tornando o ambiente de trabalho insustentável e prejudicando até a qualidade do atendimento.

A escala 6×1, tira dos trabalhadores o tempo para viver fora do trabalho – sobra cansaço, falta convivência com a família, lazer e momentos de diversão que são essenciais para a saúde e o bem-estar.

É hora de deixar claro: quem cuida da saúde da população também merece condições dignas de trabalho.

A Fenafar, repudia essa visão desumana que coloca o lucro acima da qualidade de vida dos profissionais.

O fim da escala 6×1 é mais que uma questão de folga – é sobre respeito e dignidade para quem está na linha de frente.

Fim da escala 6×1: a saúde dos farmacêuticos deve vir antes dos lucros

A Fenafar considera inaceitável que, em pleno século 21, farmacêuticos brasileiros ainda sejam submetidos a uma escala de trabalho que privilegia os lucros das grandes redes de farmácias à custa do bem-estar e da saúde desses profissionais.

Recentemente, o CEO da Abrafarma, Sérgio Mena, argumentou que a proposta de reduzir a jornada de trabalho, com o fim da escala 6×1, prejudicaria o setor, chamando a medida de “populista”. Essa postura escancara uma visão ultrapassada e desumana, que precisa ser revista.

Se a Abrafarma realmente se preocupa com a qualidade no atendimento, como dito, deveria se comprometer com a contratação de mais profissionais para garantir que os farmacêuticos possam ter uma rotina de trabalho mais justa, digna e saudável. Dinheiro para isso não falta. Somente em 2023, as redes de farmácias faturaram cerca de R$ 91,3 bilhões, alcançando margens de lucro extraordinárias.

Em vez de reconhecer a exaustiva carga de trabalho dos farmacêuticos e a urgente necessidade de mais contratações, o setor insiste em manter um modelo que coloca uma pressão desmedida sobre esses profissionais.

Mena também declarou que “não estava no radar” uma mudança na escala de trabalho. Essa fala desconsidera anos de reivindicações da categoria por escalas mais equilibradas em todas as negociações coletivas de trabalho realizada anualmente.

A luta por um novo modelo de jornada, é legítima e necessária para a saúde mental e física dos farmacêuticos. O que realmente preocupa os empresários do setor é a possibilidade de reduzir suas margens de lucro com o aumento no número de contratações, não com a qualidade do atendimento ao público.

A escala 6×1 é um modelo desgastante, que mina a saúde dos farmacêuticos e compromete sua qualidade de vida. Para a Fenafar, o bem-estar desses profissionais deve ser uma prioridade, e o direito a uma jornada de trabalho mais justa não é algo “populista” — é uma medida essencial e humana. A sociedade e o próprio setor de saúde só têm a ganhar com a valorização dos farmacêuticos, que merecem condições dignas para exercerem seu papel com excelência.

Homenagem especial à Farmacêutica Clair Castilhos

A farmacêutica Clair Castilhos Coelho foi homenageada pela Fenafar nesta segunda-feira, (11) durante evento realizado na UFSC e Florianópolis. A homenagem, em comemoração aos 50 anos da Fenafar, reconhece a contribuição de Clair Castilhos para a saúde pública e a assistência farmacêutica no Brasil, destacando seu papel de liderança e pioneirismo.

Em outubro, durante uma Sessão Solene em comemoração aos 50 anos, realizada na Câmara dos Deputados em Brasília, a Fenafar prestou homenagem a 20 personalidades que contribuíram para o desenvolvimento da profissão farmacêutica, para a assistência farmacêutica no Brasil e para a história da Federação.

Devido à impossibilidade de participar naquela oportunidade, Clair recebeu o troféu e diploma das mãos da Diretora de Educação da Fenafar, Silvana Nair Leite, e da Coordenadora de Projetos do Instituto Enfar, Fernanda Manzini, durante Sessão Especial do Projeto Integra no VII Congresso da ABCF.

A entrega da homenagem foi um momento emocionante de reconhecimento e gratidão onde a trajetória da farmacêutica Clair Castilhos foi celebrada como inspiração para toda a categoria.

Clair Castilhos, além de farmacêutica-bioquímica e sanitarista, é professora aposentada da UFSC e foi a primeira mulher vereadora em Florianópolis. Ela também coordenou a 1ª Conferência Nacional de Medicamentos e Assistência Farmacêutica em 2003, um marco nas políticas de saúde do país.

Pelo fim da Escala 6×1 e a valorização dos trabalhadores 

A proposta pelo fim da escala 6×1 está mobilizando milhares de pessoas contra uma prática de jornada de trabalho exaustiva, que limita o tempo livre dos trabalhadores e gera impactos negativos na saúde física, mental e nas relações familiares das pessoas. 

Uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) de autoria da deputada federal Érika Hilton (PSOL-SP), tramita na Câmara Federal, e tem apoio de quase 100 deputados federais. A PEC visa não apenas pôr fim ao extenuante modelo de escala 6×1, mas também estabelecer uma semana de trabalho de 4 dias com a carga horária semanal limitada a 36 horas.  

Com a parceria do Movimento Vida Além do Trabalho (VAT), a proposta ganhou ampla adesão nas redes sociais, com mais de um milhão de apoiadores, e promove uma mudança significativa para a qualidade de vida e saúde dos trabalhadores brasileiros. 

A proposta busca atualizar o artigo 7º da Constituição Federal, que atualmente prevê jornadas de até 44 horas semanais, reduzindo-a para 36 horas, sem mudanças na carga diária de até 8 horas. A redução também preserva integralmente os salários dos trabalhadores, para garantir a estabilidade econômica e o poder de compra da classe trabalhadora, fundamentais para o sustento familiar e a economia do país. 

A PEC propõe o modelo de quatro dias de trabalho seguidos por três dias de folga, o que atende à necessidade de equilíbrio entre trabalho e vida pessoal, tendência já adotada em diversos países. No Reino Unido, por exemplo, experiências piloto demonstraram que a jornada 4×3 reduziu sintomas de burnout em 71% dos trabalhadores e melhorou a produtividade, além de gerar uma pequena elevação na receita das empresas. Além disso, estima-se que essa medida, ao redistribuir a carga de trabalho, poderia gerar aproximadamente 6 milhões de novos empregos no Brasil. 

A PEC precisa de 171 assinaturas para ser discutida no Congresso. A Fenafar incentiva a participação de todos nessa iniciativa; 
– Pressione os deputados do seu estado a assinar a PEC.
– Assine a petição pública. AQUI
– Compartilhe informações sobre a campanha.

Apoie esta campanha e ajude a colocar o Brasil na vanguarda da humanização das relações trabalhistas. Para assinar e conhecer mais sobre a campanha, acesse o site disponível na BIO e compartilhe essa iniciativa nas suas redes sociais. 

Como é hoje a Escala 6×1 
O trabalhador cumpre seis dias consecutivos de trabalho com apenas um dia de folga, o que agrava significativamente o cansaço e o desgaste dos trabalhadores. O objetivo do debate em torno do tema é a readequação dessa jornada e a criação de políticas que promovam o equilíbrio entre vida pessoal e profissional, a exemplo do direito a férias regulares, limitação de horas extras e condições de trabalho saudáveis.