Acesso a medicamentos e tecnologias na Covid-19: do panorama global às perspectivas nacionais

Em artigo, o médico, pesquisador da Ensp/Fiocruz Jorge Bermudez aborda como o acesso a tecnologias, em particular medicamentos, sempre esteve na pauta dos debates sobre saúde e os eixos que a Organizção Mundial da Saúde tem apontado para orientar a adoção de políticas públicas no âmbito dos estados nacionais. Ele traz essa discussão para o contexto da pandemia e as perscpetivas atuais dessa questão.

 

 

O acesso a tecnologias, com ênfase em medicamentos, sempre esteve em pauta nos debates sobre saúde, ou, pelo menos, muito intensamente nas últimas duas décadas. A Organização Mundial da Saúde (OMS) tem apontado quatro eixos fundamentais a esse respeito: a seleção racional e desenvolvimento de produtos; preços acessíveis a governos e consumidores; financiamento sustentável; e sistemas de abastecimento confiáveis, incluindo serviços públicos e privados.

Em que pesem diretrizes muito claras, as discussões sempre esbarraram nos dilemas do confronto entre saúde e comércio, enfrentando diversas barreiras ao acesso, entre as quais destacamos os preços elevados de produtos monopólicos, a segmentação de mercados, a falta de investimento em medicamentos para doenças relacionadas e perpetuadoras da pobreza e principalmente a dissintonia entre oferta e demanda.

Todos os problemas decorrentes das dificuldades em promover o acesso equitativo a tecnologias e romper as barreiras da iniquidade ficam mais evidentes em tempos de crise e mais ainda hoje, no enfrentamento da pandemia provocada pelo coronavírus SARS-CoV-2.

Antes da deflagração da pandemia, a OMS já havia incluído a expansão do acesso a medicamentos como um dos dez desafios para esta década anunciados em janeiro de 2020, diante da constatação de que cerca de um terço da população mundial não tem esse acesso e de que o gasto com medicamentos é um dos maiores para os sistemas de saúde. Outras iniciativas relevantes e de caráter global incluem o relatório do Painel de Alto Nível do Secretário-geral das Nações Unidas em acesso a medicamentos divulgado em setembro de 2016; o Relatório da Comissão Lancet sobre medicamentos essenciais para cobertura universal de saúde, também de 2016; e a discussão sobre acesso a medicamentos e vacinas na Assembleia Mundial da Saúde em 2019 (documento A72/17), aprovando o denominado road map para o período 2019-2023.

Em que pesem diretrizes muito claras da OMS, as discussões sempre esbarraram nos dilemas do confronto entre saúde e comércio, enfrentando diversas barreiras ao acesso, entre as quais destacamos os preços elevados de produtos monopólicos, a segmentação de mercados, a falta de investimento em medicamentos para doenças relacionadas e perpetuadoras da pobreza e principalmente a dissintonia entre oferta e demanda

Com a Declaração de Emergência em Saúde Pública de interesse internacional pela OMS, em 30 de janeiro de 2020, uma série de iniciativas de caráter internacional foi imediatamente deflagrada. Cabe destaque para a reunião de ministros da saúde do G-20, em 19 de abril; a Assembleia Geral das Nações Unidas, aprovando a Resolução A/RES/74/270 versando sobre solidariedade global para lutar contra Covid-19 e a Resolução A/RES/74/274 que ressalta a cooperação internacional para assegurar o acesso a medicamentos, vacinas e equipamentos médicos para enfrentar a Covid-19 [ver aqui].

No âmbito da OMS, ressaltamos o lançamento da iniciativa ACT Accelerator (Access to Covid-19 Tools Accelerator) em 24 de abril, iniciativa estruturada pela OMS e líderes mundiais, contando com o apoio de mais de 40 países e tendo coletado mais de 8 bilhões de euros para o desenvolvimento e a produção de diagnósticos, medicamentos, tratamentos, testes e vacinas contra a Covid-19. Ainda no âmbito da OMS, a Assembleia Mundial da Saúde foi realizada pela primeira vez de maneira virtual durante os dias 18 e 19 de maio. O tema que dominou todas as discussões foi o enfrentamento à pandemia, sendo aprovada a Resolução WHA73.1 (Resposta a Covid-19). Essa resolução, além de reafirmar a relevância da Covid-19, que afeta desproporcionalmente países e populações pobres e mais vulneráveis, enfatiza a necessidade de se levar em consideração, identificar e prover opções no contexto do Acordo Trips da OMC e da Declaração de Doha sobre Trips e Saúde Pública, para impulsionar a capacidade de desenvolvimento, produção e distribuição necessários ao acesso equitativo e oportuno de produtos para combater a pandemia.

Adicionalmente, foi lançada, em 29 de maio, sob a liderança do presidente da Costa Rica e do diretor-geral da OMS, uma iniciativa complementar, o C-TAP (Covid-19 Technology Access Pool), objetivando que todas as vacinas, testes, diagnósticos, tratamentos e outras ferramentas na resposta ao coronavírus tem que estar disponíveis universalmente como bens públicos globais. Essa iniciativa é de caráter voluntário e fundamentado na solidariedade global, hoje contando com o apoio de mais de 35 países e constituindo uma plataforma tecnológica para o licenciamento voluntário de tecnologias.

Como fica evidenciado, há todo um movimento global intenso de solidariedade e busca de soluções para o enfrentamento da pandemia. Entretanto, temos que considerar que todos esses esforços têm que ser acompanhados de movimentos e compromissos nacionais capazes de interiorizar e incluir nos nossos marcos regulatórios as necessárias adequações ou até alterações legislativas. Por outro lado, iniciativas de caráter voluntário não necessariamente são universalizadas ou automaticamente atingem todas as populações mundiais. O confronto entre saúde e comércio tem sido cada vez mais evidente, mesmo nestes tempos de pandemia.

Como priorizar as necessidades mundiais na dualidade acesso x demanda diante da capacidade ou capacidades de produção vai ser sempre uma incógnita. Os sublicenciamentos e outras medidas de caráter voluntário não necessariamente cobrem aquelas populações mais necessitadas; o escopo geográfico proposto pela indústria detentora de patentes coloca a barreira da propriedade intelectual cada vez mais presente no dia a dia dos países, em especial naqueles de renda média.

Como fica evidenciado, há todo um movimento global intenso de solidariedade e busca de soluções para o enfrentamento da pandemia. Entretanto, todos esses esforços têm que ser acompanhados de movimentos e compromissos nacionais capazes de interiorizar e incluir nos nossos marcos regulatórios as necessárias adequações ou até alterações legislativas

O Brasil tem sido pródigo em contradições e em trilhar caminhos na contramão do mundo, com autoridades negando a gravidade da pandemia ou até promovendo aglomerações e relutando em seguir recomendações da OMS ou baseadas na Ciência, enquanto vemos uma curva ascendente e chegamos próximos ao milhão de casos e mais de 40 mil mortes, relaxando o isolamento e priorizando os negócios, na falsa dicotomia em que priorizar vidas com o distanciamento social acaba com a economia.

Mas o Brasil é maior do que seus governantes e temos tido propostas concretas que nos auxiliam na luta por assegurar a saúde como direito de todos e dever do Estado, conforme premissa de nossa Constituição.

Na defesa da saúde como direito, compartilhamos da luta por incluir uma PEC que assegure que o acesso a medicamentos seja considerado direito humano fundamental, proposta conduzida pela Frente Parlamentar em defesa da assistência farmacêutica, presidida pela deputada federal Alice Portugal (PCdoB-BA).

No que se refere a assegurar que todas as tecnologias utilizadas para o enfrentamento da emergência de saúde representada pela pandemia – sejam vacinas, medicamentos, diagnósticos, reagentes, dispositivos médicos, equipamentos de proteção individual, suprimentos e quaisquer outras tecnologias – tornem-se automaticamente objeto de concessão de licença compulsória por todo o período em que perdurar a situação de emergência de saúde pública, conforme já nos posicionamos em diversas oportunidades, louvamos o PL 1.462/2020, protocolado por 11 deputados de diversos partidos políticos no Congresso Nacional.

Em que pesem as restrições orçamentárias e o sufocamento das políticas públicas e do SUS impostas pela Emenda Constitucional 95/2016, esse mesmo SUS está sempre na linha de frente do combate à pandemia e na luta por melhores condições de saúde e de vida de nossas populações. Haveremos de resistir!

Jorge Bermudez é Médico, pesquisador da Ensp/Fiocruz; membro do Painel de Alto Nível em Acesso a Medicamentos do Secretário-Geral das Nações Unidas.

Fonte: Centro de Estudos Estratégicos da Fiocruz
Publicado em 15/06/2020

Gilead: o Brasil excluído no enfrentamento da pandemia

A história se repete em ciclos! A farmacêutica americana Gilead, uma empresa predadora, exclui o Brasil de um potencial tratamento da Covid-19. Esperada por muitos, visto ceticamente por outros, essa postura tem, surpreendentemente, a ajuda de organizações brasileiras de indústria farmacêutica e propriedade intelectual. Leia no artigo de – por Jorge Bermudez e Achal Prabhala.

 

 

Em artigo recente, alertamos que qualquer tratamento potencial para a Covid-19, se fosse produto novo, protegido por patente, teria o acesso dificultado nos países de renda média – como já ocorre em outros casos, que levaram às licenças voluntárias para um pool de patentes de medicamentos. Essa dificuldade de acesso pode acontecer, apesar da solução multilateral do pool de patentes de tecnologias relacionadas à Covid-19 solicitado pela Costa Rica e atualmente sob o escrutínio da Organização Mundial da Saúde.

A trilha de senso humanitário da Gilead é bem conhecida. Como detentora da patente do sofosbuvir, o primeiro antiviral de ação direta licenciado (DAA), eficaz na cura da hepatite C, lançou o medicamento no final de 2013 ao custo de US$ 84 mil por tratamento (12 semanas ou 84 dias). Foi chamado, assim, de pílula de mil dólares. Após reclamações e falta de acessibilidade não apenas de países pobres, a Gilead anunciou em setembro de 2014 contratos de licenciamento com sete fabricantes de genéricos indianos, oferecendo um preço de acesso de US$ 900 por tratamento, em um escopo de 91 países de baixa e média renda, cobrindo quase 100 milhões de pessoas, mas excluindo 49 milhões em países de renda média (ver aqui e aqui).

Essa exclusão alcançou o Brasil, onde foi estabelecida uma negociação bilateral, trazendo o preço para cerca de US$ 6 mil por tratamento. Como as reivindicações de patentes da Gilead estavam em avaliação no INPI, escritório de patentes no Brasil, um acordo de cooperação técnica envolvendo a Fiocruz e um consórcio de empresas privadas nacionais desenvolveu a versão genérica do sofosbuvir. No entanto, as demandas judiciais da Gilead bloquearam a possibilidade de que essa versão mais barata e bioequivalente abastecesse o sistema nacional de saúde (SUS) (ver aqui).

Atualmente, o Brasil enfrenta o dilema de ter ou não acesso a um dos medicamentos em potencial que podem ser utilizados no tratamento do Covid-19, o Remdesivir da Gilead, um dos produtos submetidos a vários ensaios, incluindo o Solidarity Trial da OMS. O Remdesivir acaba de receber a Autorização de Uso Emergencial pelo FDA dos EUA para o tratamento da Covid-19, permitindo um uso mais amplo no tratamento de pacientes hospitalizados. Essa autorização, com base na gravidade da doença dos pacientes, foi anunciada pela Gilead em 1º de maio de 2020.

Considerando que a Gilead está registrando patentes de Remdesivir em quase 70 países para garantir o monopólio, eles acabaram de anunciar que assinaram o que chamam de “acordos de licenciamento voluntário não exclusivos, com cinco fabricantes de medicamentos genéricos baseados na Índia e no Paquistão, para expandir ainda mais o suprimento de Remdsivir”. A Cipla Ltd., Ferzsons Laboratories, Hétero Labs Ltd., Jubilant Lifesciences e Mylan estão autorizadas a fabricar Remdsivir para distribuição em 127 países com um escopo geográfico definido pela Gilead, principalmente de renda baixa e médio-baixa e estabelecendo seus próprios preços. Como previmos em nosso artigo recente, já mencionado, a menos que outras medidas sejam tomadas – caso de países como Canadá, Alemanha, Israel, Chile, Peru e Equador –, o Brasil pode ficar preso na armadilha da Gilead de exclusão do monopólio. Com essa visão, um grupo suprapartidário de deputados submeteu um projeto de lei ao Congresso (PL 1462/2020), alterando a atual Lei da Propriedade Industrial; o objetivo é propor licenças compulsórias automáticas para tecnologias relacionadas ao Covid-19, justificadas pela declaração nacional e/ou global de emergência de saúde devido à pandemia.

Atualmente, o Brasil enfrenta o dilema de ter ou não acesso a um dos medicamentos em potencial que podem ser utilizados no tratamento do Covid-19, o Remdesivir da Gilead

Pareceria que, no interesse de garantir o acesso e salvar vidas, seria naturalmente esperado discutir, aprovar e implementar essa proposta, apoiada pelo Conselho Nacional de Saúde e recebendo forte apoio internacional. No entanto, ficamos chocados ao ler as reações que se seguiram à apresentação do projeto de lei. A Interfarma, representação corporativa de empresas farmacêuticas multinacionais, reagiu listando os benefícios do arcabouço legal atual da propriedade intelectual no Brasil, promovendo a inovação e garantindo benefícios legais em diferentes segmentos industriais (ver aqui). Mencionando a alegação da IFPMA [Facts and Figures 2017] de que cada novo produto inovador no mercado corresponde ao investimento de um bilhão de dólares, 6 mil tentativas, 400 pesquisadores e uma média de dez anos, eles exortam a necessidade de proteger e incentivar a indústria farmacêutica para garantir o desenvolvimento de produtos e o bem-estar das pessoas. O posicionamento termina com a chamada para não enfraquecer o sistema da propriedade industrial e, portanto, não concordando com a proposta incluída no projeto de lei. Nada estranho, vindo deles.

A ABPI [Associação Brasileira de Propriedade Intelectual] veio com documento na mesma linha, concluindo que o projeto de lei, assim como os que o originaram, desconsidera a legislação vigente e os acordos internacionais dos quais o Brasil é signatário, trazendo também insegurança. Esse artigo também não é uma surpresa.

Pareceria que, no interesse de garantir o acesso ao Remdesivir e salvar vidas, seria naturalmente esperado discutir, aprovar e implementar a proposta do PL 1462/2020, apoiado pelo Conselho Nacional de Saúde e recebendo forte apoio internacional. No entanto, ficamos chocados ao ler as reações que se seguiram à apresentação do projeto de lei

Por outro lado, uma nota técnica da Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão analisa o Projeto de Lei (PL 1462/2020), confronta os direitos individuais versus direitos coletivos, discute o Acordo Trips da OMC e os monopólios, a Declaração de Doha sobre o Acordo Trips e a saúde pública, concluindo que, sem lugar a dúvidas, o PL 1462/2020 está em absoluta conformidade com nossa Constituição Federal, não apresenta disfunção com nossa atual Lei de Propriedade Industrial e está em conformidade com questões internacionais relacionadas a direitos de propriedade intelectual e suas interações com a saúde pública (ver aqui).

A surpresa, em termos, ficou por conta de uma Nota Técnica proveniente dos fabricantes privados nacionais, representados corporativamente pela FarmaBrasil, com argumentos frágeis e invocando organizações governamentais que ficariam encarregadas de lidar com uma visão estratégica da propriedade intelectual dentro da estrutura atual. A sentença final está se manifestando contrária a todos os projetos de lei propostos, alinhando-se, portanto, a outros opositores do licenciamento compulsório.

Devemos considerar que o atual governo está negando a seriedade da pandemia devida ao coronavírus. O presidente da FarmaBrasil fez parte recentemente de um grupo de 15 empresários que se uniram ao presidente da República em uma visita ao STF, em 7 de maio passado (ver aqui), que tinha como principal objetivo reclamar da necessidade de continuar o distanciamento social /confinamento, que atualmente é uma medida mundial para a contenção da pandemia, e defesa da abertura do comércio, ignorando o fato de o Brasil já contar com mais de 12.400 mortes e 178.000 casos da Covid-19.

A história se repete em ciclos! Quais serão as lições aprendidas no Brasil e repassadas para nossas futuras gerações? Uma história de dolorosa resistência, compromisso com salvar vidas e garantir o acesso a todos? Ou teremos a ganância se superpondo à necessidade, negando a pandemia e deixando muitos para trás?

*Jorge Bermudez é pesquisador sênior da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Ensp/Fiocruz), Ministério da Saúde, Brasil. Foi membro do Painel de Alto Nível do Secretário-Geral da ONU sobre Acesso a Medicamentos e atuou como diretor executivo da Unitaid, em Genebra, Suíça, entre 2007-2011.
**Achal Prabhala é membro da Fundação Shuttleworth e coordenador do projeto AccessIBSA, que faz campanhas para acesso a medicamentos na Índia, Brasil e África do Sul.

Fonte: Fiocruz
Publicado em 18/05/2020

Contra monopólios, CNS recomenda ampliação nacional da capacidade produtiva de medicamentos

Em documento destinado aos três poderes da União, CNS destaca que a importação de tecnologias e insumos pode sofrer restrições em função de monopólios.

 

 

O Conselho Nacional de Saúde (CNS) recomendou nesta quarta (22/04) aos Poderes Executivo, Federal e estaduais, que aprovem linhas de crédito para a ampliação da capacidade tecnológica e produtiva dos laboratórios nacionais de medicamentos e insumos para o enfrentamento da pandemia.

documento, aprovado ad referendum, também recomenda a aprovação de linhas de crédito aos pequenos e médios empreendedores do ramo têxtil, para a produção de equipamentos individuais destinados à proteção da população.

O CNS considera que o enfrentamento à pandemia do Novo Coronavírus tem sido mais efetivo em países com referência política à soberania e ao desenvolvimento nacional, que atenderam às orientações da Organização Mundial da Saúde (OMS), utilizando métodos como a testagem em massa, isolamento social e uso de máscaras pela população.

Também destaca que a importação de medicamentos, equipamentos, tecnologias, insumos e dispositivos médicos, pode sofrer restrições em função de monopólios legais, tais como as patentes e outros direitos de propriedade intelectual.

A recomendação, elaborada pela Comissão Intersetorial de Ciência, Tecnologia e Assistência Farmacêutica (Cictaf) do CNS, é destinada também ao Poder Legislativo, para que aprove com urgência o Projeto de Lei (PL) nº 1462/2020, que dispõe sobre a flexibilização das regras para o licenciamento compulsório de medicamentos, insumos e equipamentos médicos.

Já ao Poder Judiciário, o CNS recomenda que o Supremo Tribunal Federal (STF), decida em favor da inconstitucionalidade da Emenda Constitucional (EC) 95, que congelou os investimentos em Saúde até o ano 2036 e, desde 2018, já causou o prejuízo de R$ 22 bilhões ao Sistema Único de Saúde (SUS).

LEIA A RECOMENDAÇÃO DO CNS NA ÍNTEGRA

Fonte: SUSConecta
Publicado em 23/04/2020

Entidades lançam carta em defesa da saúde coletiva e da bioética

A Fenafar e outras entidades publicam carta defendendo às orientações da Organização Mundial da Saúde para combater a Covid 19 e repudiam a postura do presidente Jair Bolsonaro. Leia na íntegra abaixo.

 

Carta das entidades de saúde coletiva e de bioética à população brasileira
Imprescindível o respeito aos direitos humanos e ao conhecimento científico na resposta urgente à Covid 19

Dando continuidade à nota publicada em 24 de março, as entidades signatárias desta carta vêm à público reforçar seu posicionamento contrário ao pronunciamento do Presidente da República em cadeia nacional de rádio e televisão e à fragilização reforçada no dia 25 de março pela equipe técnica do Ministério da Saúde, contrariando as adequadas medidas e recomendações inicialmente adotadas para o estágio atual da disseminação da Covid.

Como é de conhecimento geral, os primeiros casos da doença surgiram na América Latina com certo retardo em relação à China e aos países europeus. No Brasil, o primeiro caso ocorreu no dia 26 de fevereiro e, na Argentina, em 3 de março de 2020, quando a Covid-19 já se configurava como pandemia.

A Organização Mundial da Saúde vem traçando diretrizes de enfrentamento da doença a partir do momento em que foi caracterizada sua magnitude e relevância para todo o mundo. A estratégia de isolamento físico das pessoas, baseada em evidências científicas robustas, tem sido adotada na grande maioria dos países afetados. Em alguns casos, como Itália ou Espanha, tais medidas foram adotadas tardiamente, do que derivam as consequências dramáticas que vimos acompanhando pela imprensa e em publicações científicas internacionais.

Diferentes instituições governamentais, profissionais de saúde e pesquisadores apontam evidências científicas sobre a existência de grupos sociais mais vulneráveis à doença, tanto pela idade, pelas condições de trabalho (profissionais de saúde, de limpeza e trabalhadores do comércio de itens essenciais) quanto pelas condições socioeconômicas (por exemplo, desempregados, subempregados, em situação de rua, privados de liberdade). Neste último caso, mais que vulneráveis, são grupos vulnerados, ou seja, incapazes de se protegerem adequadamente do coronavírus pelas condições desfavoráveis de vida e pelo abandono social/institucional.

Dentre as várias ações que podem minimizar a vulnerabilidade da sociedade brasileira e a vulneração de diversos grupos sociais, e oferecer condições adequadas para o país enfrentar a pandemia estão: (a) o distanciamento físico imediato entre as pessoas para diminuir a velocidade de contágio; (b) a proteção do Estado, viabilizando alimentação e suporte financeiro imediato e adequado para atender às necessidades básicas das populações vulneradas; (c) a ampliação imediata do financiamento e das condições de funcionamento do SUS; (d) a garantia de equipamentos de proteção individual e de condições de trabalho para os profissionais de saúde e a todas e todos aqueles que necessitam estar nas vias públicas para os serviços essenciais; e (e) o estímulo e o financiamento imediato de condições para o desenvolvimento de pesquisas relativas à doença, nos diferentes âmbitos do conhecimento científico.

No entanto, em nome da economia brasileira e de interesses financeiros de alguns setores sociais, posicionamentos vêm sendo veiculados relativizando a necessidade do isolamento social como forma de controle do impacto da doença na sociedade. Assusta quando essa conduta negacionista à ciência e contrária às orientações de instituições sanitárias nacionais e internacionais é assumida pelo governo, conforme visto nos pronunciamentos recentes e reiterados do Presidente da República e do Ministro da Saúde. Vale enfatizar que para o enfrentamento da pandemia, o Brasil conta com a experiência dos erros e dos acertos das políticas públicas dos países nos quais a epidemia se iniciou antes e não pode se furtar a considerá-los na definição de suas ações.

Não há dúvida de que a crise econômica será uma das consequências da pandemia de Covid-19, uma vez que requer isolamento social para ser controlada. No atual cenário, o custo econômico é um dos aspectos a serem ponderados, porém de caráter secundário em relação ao custo social e o valor da vida humana que são prioritários. Esse é o preço a se pagar para que muitas vidas sejam salvas e para que no futuro a economia também possa ser recuperada. É preciso investir muito mais no Sistema Único de Saúde e nas universidades públicas que produzem ciência e tecnologia. É preciso produzir equipamentos para salvar vidas – mais respiradores, mais leitos; mais estratégias de proteção para os trabalhadores da saúde; mais profissionais de saúde no SUS; mais pesquisas em medicamentos e vacinas.

Ressaltamos que será necessário que nos unamos para exigir o necessário investimento em estratégias sociais para realmente reverter as imensas desigualdades sociais e a pobreza que ainda caracterizam a sociedade brasileira. Além disto, exigimos que o estado deverá proteger as pessoas que precisam continuar trabalhando durante a pandemia, em especial, os trabalhadores da saúde que expõem suas vidas para salvar outras vidas.

Reiteramos nosso repúdio à condução irresponsável do ocupante da cadeira de presidente em relação à saúde pública.

Exortamos as instituições da República a reagir em relação à flexibilização do isolamento ratificada pelo Ministério da Saúde e interromper esta irresponsabilidade, retornando as medidas de contenção cientificamente demonstradas para o adequado enfrentamento neste momento crítico da pandemia.

26 de março de 2020

Assinam esta carta as seguintes entidades:

Associação Brasileira de Antropologia – ABA
Associação Brasileira de Enfermagem – ABEN
Associação Brasileira de Fisioterapia do Trabalho – ABRAFIT
Associação Brasileira de Ensino Odontológico  – ABENO
Associação Brasileira de Saúde Bucal Coletiva – Abrasbuco
Associação Brasileira de Saúde Coletiva – ABRASCO
Associação Brasileira de Saúde Mental
Associação Brasileira dos Terapeutas Ocupacionais- ABRATO
Associação Brasileira de Nutrição – Asbran
Associação Nacional de Pós-Graduação em Ciências Sociais – ANPOCS
Cátedra Unesco de Bioética da Universidade de Brasília
Centro Brasileiro de Estudos em Saúde – CEBES
Conselho Federal de Seviço Social Cfess
Conselho Federal de Nutricionistas CFN
Federação Nacional dos Farmacêuticos Fenafar
Federação Nacional dos Enfermeiros FNE
Federação Nacional dos Nutricionistas FNN
Núcleo de Estudos em Sociologia, Filosofia e História das Ciências da Saúde – NESFHCS/UFSC
Núcleo de Pesquisa e Extensão em Bioética e Saúde Coletiva – NUPEBISC/UFSC
Red Latinoamericana y del Caribe de Derechos Humanos y Salud Mental
Rede de Cuidados em Saúde para Imigrantes e Refugiados de São Paulo
Rede Nacional de Ensino e Pesquisa em Terapia Ocupacional
Rede Unida
Sociedade Brasileira de Bioética – SBB
Sociedade Brasileira de História da Ciência – SBHC
Sociedade Brasileira de Sociologia – BSB
Sindicato dos Servidores do Sistema Nacional de Auditoria do Sus UNASUS SINDICAL

Coronavírus e a importância da soberania na produção e distribuição de medicamentos

“Nossa capacidade de resposta a emergências deixa clara a relevância da ciência e tecnologia e da soberania nacional na produção de medicamentos”

 

 

Por Jorge Bermudez* e Fabius Leineweber**

O alerta foi dado nos países centrais e na Índia. O New York Times anunciou, a partir de repórter na cidade indiana de Mumbai, que a epidemia de coronavírus afeta diretamente a capacidade produtiva da China e, consequentemente, a exportação de matérias-primas para as empresas produtoras genéricas na Índia.

Em audiência pública no Senado dos EUA, o diretor da agência norte-americana FDA declarou que um produto estava em risco de desabastecimento e que uma lista de outros 20 medicamentos estava sendo monitorada, produtos cujos fabricantes dependiam de importação da China para sua produção (ver aqui e aqui). Não há informação publicamente disponível sobre quais seriam esses produtos. Entretanto, foi noticiado que em pouco mais de um mês, a FDA está realizando contatos e avaliação com vistas a avaliar toda a cadeia de abastecimento de produtos provenientes de empresas na China.

Em nota oficial, a FDA informa que está monitorando toda a cadeia de abastecimento de medicamentos junto a mais de 180 fabricantes; a indústria de dispositivos médicos com 63 fabricantes que representam empresas baseadas na China; o abastecimento de biológicos e hemoderivados, incluindo terapia celular e gênica, sem relato de riscos de desabastecimentos destes; alimentos; e produtos veterinários, com 32 empresas que importam da China. A agência também propõe uma série de medidas destinadas a mitigar os riscos de desabastecimento.

No Reino Unido, desde 11 de fevereiro, o sistema de saúde britânico, NHS, solicitou análise de risco do impacto do coronavírus e retenção dos estoques de suprimentos médicos. Ressalta-se que estavam com estoques de medicamentos maiores que o normal devido ao Brexit. Na França, a legislação de seguridade social está mudando (aprovada em final de dezembro), incluindo uma exigência de estoque mínimo com multas (ver aqui). A Alemanha, por sua vez, está reforçando a notificação compulsória de desabastecimento (ver aqui).

O governo indiano acaba de proibir a exportação, inicialmente de 26 medicamentos, sem autorização governamental expressa. Essa ordem objetiva proteger o abastecimento interno para a população indiana, considerando que aproximadamente um quinto das exportações de medicamentos genéricos no mundo é proveniente das empresas da Índia. Entretanto, os produtores indianos importam da China muitas das matérias-primas – insumo farmacêutico ativo (IFA) – por causa dos preços competitivos. Entre os produtos relacionados na Índia com restrições à exportação, estão incluídos antimicrobianos (tinidazol, metronidazol, cloranfenicol, eritromicina, neomicina, clindamicina e ornidazol), acetaminofem, progesterona, aciclovir e as vitaminas B1, B6 e B12.

No setor farmacêutico como um todo, continuamos sendo um país dependente da importação de insumos e intermediários, quando não também de produto acabado

Apenas nos últimos dias, a imprensa no Brasil começou a noticiar o impacto que as importações da China pode gerar no nosso setor farmacêutico (ver aqui). Entretanto, em recente Edital, a Anvisa limitou-se a “convocar empresas a fornecerem informações sobre estoques dos produtos sujeitos à vigilância sanitária que podem ser utilizados como insumos essenciais para o enfrentamento ao novo Coronavírus”.

No setor farmacêutico como um todo, continuamos sendo um país dependente da importação de insumos e intermediários, quando não também de produto acabado. A balança comercial de produtos farmacêuticos apresentou déficit de R$ 5,9 bilhões, em 2018, e as importações são na maioria de insumos, em que a dependência de matéria-prima chega a 90%, principalmente proveniente da Índia, China e Alemanha (ver aqui).

Embora os riscos de desabastecimento de medicamentos ainda não sejam evidentes para nosso país, os exemplos das ações nos EUA e na Índia servem de alerta para o Brasil, sem alarmismo, estruturar e coordenar adequadamente nossa cadeia de fornecimento e capacidade produtiva pública e privada. O fortalecimento do SUS, e não seu sucateamento, deve ser a tônica a ser defendida, na contramão das medidas liberais que o governo federal vem implementando. Nossa capacidade de resposta a emergências, como o coronavírus, deixa clara a relevância de políticas sociais, da pesquisa, da ciência e tecnologia e da soberania nacional na produção de medicamentos.

O fato de a China ter sido capaz de construir um hospital em dez dias e mobilizar um enorme contingente de profissionais de saúde mostra a importância de políticas públicas que levaram décadas sendo estruturadas no Brasil. O SUS vai estar sempre como nossa linha de frente!

*Jorge Bermudez é pesquisador da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Ensp/Fiocruz), membro do Painel de Alto Nível em Acesso a Medicamentos do Secretário-geral das Nações Unidas.

**Fabius Leineweber é Tecnologista em Saúde Pública do Instituto de Tecnologia em Fármacos (Farmanguinhos/Fiocruz).

Foto: Jorge Bermudez durante Encontro Regional Preparatório para 8º Simpósio Nacional de Ciência Tecnologia e Assistência Farmacêutica (8º SNCTAF), realizado em Recife, em setembro de 2018.

Fonte: Centro de Estudos Estratégicos da Fiocruz
Publicado em 09/03/2020

Plenária define Jornada de Lutas pelo direito à Saúde

Em um momento decisivo para a Saúde e para a garantia dos direitos sociais, a luta em defesa da Saúde pública e contra o desmonte do Sistema Único de Saúde (SUS) é uma das principais pautas programação do Fórum Social das Resistências 2020, realizado em Porto Alegre. Na tarde da quarta-feira, 22, uma plenária dos movimentos em defesa do direito à saúde reuniu dezenas de organizações, e lançou o movimento Saúde é Direito de todos e todas! 

Com auditório lotado, os participantes dialogaram sobre as principais demandas da Saúde e deliberaram sobre o calendário de ações da Jornada de Lutas para 2020. O movimento é um dos desdobramentos da 16ª Conferência Nacional de Saúde e se apoia nas suas resoluções. “O intuito do movimento é transformar as resoluções em uma plataforma de mobilização social na defesa da saúde e do SUS, vinculadas à luta em defesa da democracia”, explica Ronald Ferreira dos Santos, presidente da Fenafar e um dos coordenadores do movimento.

De acordo com Fernando Pigatto, presidente do CNS, o objetivo da Jornada de lutas é fortalecer as demandas da população brasileira para a melhoria do SUS. “A grande participação aqui reforça o fato de a Saúde ser a maior preocupação do povo brasileiro. Temos um saldo muito positivo, não apenas de mobilização, mas de organização para um ano de muitos desafios que teremos na luta para garantir a Saúde como direito”.

Entre as principais pautas, os debatedores destacaram a luta pela revogação imediata da Emenda Constitucional 95/2016 – que congelou recursos em políticas sociais por 20 anos -, a privatização da Saúde, as mudanças no financiamento da Atenção Primária sem aval do controle social e as as mudanças na Política Nacional de Saúde Mental (PNSM), que vão contra os princípios da Reforma Psiquiátria.

“Diante desse cenário, há uma tarefa grandiosa para nós, lutadores da Saúde pública. Uma tarefa para a qual precisamos reunir forças políticas, sindicais, entidades, movimentos sociais para garantirmos a pluralidade das ideias aqui colocadas, com a direção política da defesa e do fortalecimento da Saúde”, disse a conselheira nacional de saúde, representante da Conselho Federal de Assistência Social (CFESS), Elaine Pelaez, que também faz parte da coordenação do movimento.

Ronald Ferreira dos Santos, destacou a necessidade de “dialogar e envolver amplos setores populares no processo de defesa da saúde como direito”. Para isso, avalia, é fundamental conferir uma nova marca para esse movimento, com uma chamada que dialogue mais com a população. Saúde é direito de todos e todas! Temos que sublinhar o termo direito. São nossos direitos que estão sendo sistematicamente atacados. Há uma disputa de narrativa em curso e temos que enfatizar nossa posição: de que a cidadania pressupõe um Estado em que as pessoas são portadoras de direitos. A Saúde pode estabelecer esse diálogo.

Para isso vamos utilizar todas as oportunidades de ação, como no caso do 8 de março (Dia Internacional da Mulher), 07 de abril (Dia Mundial da Saúde), 01 de maio (Dia do Trabalhador), em especial na semana do dia 07 de abril, quando foi aprovada uma séria de ações junto à universidade, parlamento etc.

Políticas fragilizadas em várias áreas

Vitória Davi, conselheira nacional de saúde representante da União Nacional dos Estudantes (UNE), relacionou os erros do Ministério da Educação (MEC) na publicação das notas do último Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) com o desmonte do SUS.

“A UNE e a União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes) estão atuando para garantir que os jovens que tiveram suas notas prejudicadas no Enem consigam a correção. Fazem agora com o Enem o que estão fazendo com o SUS há muito tempo”, criticou. Segundo ela, os gestores públicos cada vez mais estão “descredibilizando o SUS e agora tentam descredibilizar uma prova tão importante para milhões de jovens brasileiros”.

Semana da Saúde e Eleições 2020

Entre as principais atividades para 2020, ficou definida que a Semana Nacional de Saúde será realizada de 2 a 7 de abril, com diversas ações conjuntas nos territórios, unindo conselhos municipais, estaduais e entidades. Também ficou definida, por se tratar de um ano eleitoral, a busca pelo diálogo com futuros(as) gestores(as) comprometidos(as) com a Saúde como direito humano.

“É um momento decisivo importante para a luta do povo e precisamos trazer as nossas reflexões e criar um movimento em torno dessas ações”, destacou o ex-presidente do CNS, representante da Federação Nacional dos Farmacêuticos (Fenafar), Ronald dos Santos.

Apresentação de resultados

De acordo com o relatório do CNS, em 2018, o foco da Semana Nacional de Saúde foi a luta contra o congelamento dos investimentos públicos em Saúde, que culminou num grande ato para entrega de um abaixo-assinado no Supremo Tribunal Federal (STF), em abril.

Já em 2019, ano da 16ª Conferência, o foco foi a potencialização, na Semana da Saúde, da realização das Conferências Municipais de Saúde. Participaram da Plenária Nacional da Saúde conselheiros e conselheiras nacionais, estaduais e municipais de saúde, lideranças, representantes de entidades, frentes e partidos políticos.

Na avaliação do presidente da Fenafar, a plenária foi extremamente vitoriosa. “A Fenafar participa da coordenação deste movimento. Dia 20 de fevereiro tem o indicativo de fazer uma atividade no dia Internacional da Justiça Social, tem indicativos de lutas contra a LGBTfobia, agenda de moradia. A pauta A saúde é direito de todas, tem que ter como referência essa luta. Milhões de brasileiros mobilizados”.

Da redação com Susconecta
Publicado em 24/01/2020

 

Vacina é tão importante quanto o aleitamento materno: não pode ser negada à criança e ao adolescente

A Comissão de Seguridade da Câmara aprovou por unanimidade o Projeto de Lei Nº 3.842/2019, de autoria da deputada Alice Portugal (PCdoB/BA), que pune a conduta de quem divulgar ou propagar, por qualquer meio, notícias falsas sobre as vacinas componentes de programas públicos de imunização.

 

 

A proposta também pune quem se omitir ou se opor, sem justa causa fundamentada, à aplicação das vacinas previstas nos programas públicos de imunização em criança ou adolescente submetido ao seu poder familiar, ou tutelado.

Segundo estudo da ONG Avaaz em parceria com a Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), sete em cada dez brasileiros acreditam em alguma fake news sobre vacinação. O estudo mostra também que 21 milhões de brasileiros não se vacinaram ou não vacinaram uma criança por desinformação, como medo de efeitos colaterais propagados por notícias falsas.

“Essa campanha contra a vacinação é algo muito sério. São muitas fake news disseminadas sobre os riscos da vacinação. A saúde pública sempre asseverou eventuais riscos ou efeitos indesejáveis de uma vacina ou outra, mas dentro de um percentual estatístico mínimo diante dos benefícios da imunização humana. Extinguimos praticamente a poliomielite. Acredito que a imunização é tão importante como a defesa do aleitamento materno e precisa ser fortalecida no Brasil”, disse Alice durante a votação da matéria.

O projeto segue agora para apreciação na Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJC) e depois seguirá para o Plenário da Câmara.

Fonte: Alice Portugal
Publicado em 06/12/2019

Fenafar e Sinfar-SP defendem FURP em audiência na Alesp

Na última quinta-feira, 24/10, o auditório Franco Montoro da Assembleia Legislativa de São Paulo ficou lotado para defender a Fundação para o Remédio Popular (FURP). A audiência pública que reuniu especialistas, sindicatos e parlamentares, contou com a participação da diretora da Regional Sudeste da Fenafar, Ana Claudia Silva Navarro, também diretora do Sindicato dos Farmacêuticos do Estado de São Paulo. 

Também estiveram presentes na audiência a diretora de Relações Internacionais da Fenafar e diretora do Sinfar, Gilda Almeida, além dos diretores do sinfar Deodato Rodrigues, Bruno Fernandes, Fabio Garcia e Hugo de Oliveira. Maria José Martins de Souza, funcionária da FURP há 26 anos e ex-diretora do Sinfar.

A audiência marcou, também, o lançamento da Frente Parlamentar em Defesa da FURP e da Fundação Oncocentro, que será coordenado pela deputada Beth Sahão.

A deputada Beth Sahão, afirmou que “o fato de ter um auditório cheio de pessoas entusiasmadas e com esperança de que o governo do Estado não leve a cabo a destruição da Furp e do Oncocentro já justifica o lançamento desse grupo. Frentes Parlamentares são um importante instrumento de luta, de resistência, de apresentação de propostas, enfim, de ações efetivas que possam buscar objetivos no segmento”, explicou.

A farmacêutica Ana Claudia Navarro, que representou a Fenafar e o Sinfar-SP na audiência, avalia que a iniciativa foi de extrema importância. Ela destaca que o apoio de parlamentares e da Alesp à luta contra a extinção da FURP é essencial, e conta que os parlamentares ficaram sabendo do interesse do governador João Dória em privatizar ou fechar o laboratório através de entrevista que ele concedeu à rádio Bandeirantes.

A participação de funcionários da FURP, especialistas em saúde pública, da coordenadora do curso de Farmácia da Faculdade de Farmácia e Bioquímica da Universidade de São Paulo, Dra. Primavera, e representantes dos trabalhadores e da categoria farmacêutica foram fundamentais para apresentar aos deputados da Assembleia o que representa a FURP para a Saúde Pública não apenas do Estado de São Paulo, mas para todo o Brasil.

Ana Claudia, que atua como farmacêutica em posto de saúde, exemplifica que muitos dos medicamentos dispensados no SUS são produzidos na FURP. “O DIU que a gente coloca nas mulheres nos postos de saúde é produzido pela FURP, a penicilina que ficou em falta no país. Vai ser uma perda para a Saúde Pública, estamos falando de vidas”, exemplifica.

Em sua participação na audiência, a representante da Fenafar e do Sinfar destacou a importância da FURP – maior laboratório público da América Latina, para a saúde pública. “É na FURP que se produz, com exclusividade, inúmeros medicamentos para doenças negligenciadas e, que se forem interrompidos, não haverá interesse econômico para os laboratórios privados produzirem. Se parar a produção muitos pacientes ficarão desassistidos, não há tempo hábil para substituir essa produção em larga escala no país”, alerta.

Ana Cláudia destacou que ao longo do ano de 2018, nos seminários preparatórios para a 16ª CNS — organizados pela Fenafar e pela Escola Nacional dos Farmacêuticos — e que culminaram no 8º Seminário Nacional de Ciência, Tecnologia e Assistência Farmacêutica, inúmeras propostas e resoluções apontaram para o fortalecimento dos laboratórios públicos para defender a soberania brasileira na produção de medicamentos.

A deputada Beth Sahão também foi enfática ao destacar que a Saúde não é um negócio. “É sempre bom lembrar que saúde não é mercadoria, é bem-estar para a população, e isso precisa ser tratado com dignidade”, concluiu.

O senador Major Olímpio (PSL) também compareceu ao lançamento da Frente e esclareceu o porquê defende a continuação dos trabalhos pela Fundação Para o Remédio Popular. “Precisamos abrir os olhos sobre o que pode acontecer por conta da ganância e especulação empresarial. É preciso saber quais laboratórios de remédios estão verdadeiramente interessados em que o Estado de São Paulo deixe de produzir medicamentos.”

Da redação
Publicado em 29/10/2019

“EaD na graduação em Saúde produz danos à vida”, diz conselheira de saúde

A Comissão Intersetorial de Recursos Humanos e Relações de Trabalho (Cirhrt) do Conselho Nacional de Saúde (CNS) participou, nos dias 18 e 19 de setembro, do Encontro de Formação Profissional da Área da Saúde. O evento foi promovido pela Comissão de Educação do Fórum dos Conselhos da Área da Saúde (FCFAS), em Brasília, com o objetivo de traçar estratégias para o fortalecimento de ações na formação profissional da área da saúde.

 

 

A avaliação de cursos de graduação da saúde, residências da área da saúde e graduação na modalidade de Ensino à Distância (EaD) na formação de profissionais da área estiveram entre os destaques do encontro.

A conselheira nacional de saúde Francisca Valda, da Associação Brasileira de Enfermagem (Aben), representou o CNS. Na ocasião, ela destacou a interrupção no processo de atualização das Diretrizes Curriculares Nacionais, sem qualquer explicação do Ministério da Educação (MEC) ao CNS. Valda também criticou a EaD na graduação em Saúde, que não assegura a formação de habilidades técnicas. Segundo ela, o conhecimento prático da área é adquirido somente presencialmente, com vivências em cenários de práticas e estágios na rede de serviços do SUS.

Dados preocupantes

Dados da plataforma e-MEC do Ministério da Educação apontam que a oferta de vagas autorizadas na modalidade EaD totalizaram 1.083.504, em maio de 2019, em 11 das 14 profissões da saúde. As vagas estão distribuídas em 19.651 polos não supervisionados, sendo que alguns estão localizados em shoppings e centros comerciais, onde não há condições para aulas em laboratórios.

O debate revelou problemas no ensino por EaD que chegam a fiscalização dos conselhos federais das profissões da saúde por denúncias de estudantes, como o anúncio de aulas práticas presenciais inexistentes, cancelamentos frequentes de aulas tutoriais e notas e aprovação em disciplinas nunca cursadas.

“As instituições credenciadas vendem os cursos como semipresencial, flex, híbrido, entre outros apelidos que não existem na legislação educacional”, afirmou a assessora da presidência do Conselho Federal de Farmácia (CFF), que compõe o Fórum de Conselhos Federais da Área da Saúde (FCFAS),  Zilamar Fernandes. “Isso é fraude, faz mal à saúde, produz danos à vida e pode até levar a mortes de pessoas sob cuidados, nos serviços de saúde”, completa a conselheira Valda.

O FCFAS é formado por treze conselhos. Todos os representantes dos conselhos profissionais presentes no encontro assumiram a responsabilidade de combater, por meio de estratégias políticas, legais e de comunicação, o ensino na modalidade a distância para a graduação na área da Saúde.

Ascom CNS
Publicado em 24/09/2019

Defesa do SUS: Abertura da 16ª Conferência Nacional de Saúde reúne milhares de pessoas em Brasília

A cerimônia de abertura da 16ª Conferência Nacional de Saúde (8ª+8), realizada neste domingo (4/08), reuniu milhares de pessoas no Pavilhão de Exposições do Parque da Cidade, em Brasília. Entre o público, estavam profissionais de saúde, gestores(as), usuários(as), pesquisadores(as), além de diversos ativistas do Sistema Único de Saúde (SUS). Todos e todas em defesa da maior política social do mundo.

Ao abrir oficialmente o evento, o presidente do Conselho Nacional de Saúde (CNS), Fernando Pigatto, convocou a plenária para um debate onde a escuta seja exercida e as diferenças políticas sejam respeitadas. “Nós construímos esta conferência de forma unitária. A representação que hoje está aqui na mesa contribuiu de forma decisiva para este evento. Por isso, temos que celebrar juntos todas as diferenças que existem entre nós. Essa é a verdadeira democracia que pregamos”, afirmou.

O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, também esteve presente na mesa de abertura e desejou ao público um evento proveitoso, que seja capaz de tornar o sistema de saúde brasileiro cada vez mais íntegro, equânime e solidário. “Estamos aqui para desejar que esta conferência seja um marco histórico e que façam um bom debate”.

O presidente da Fenafar e Coordenador adjunto da 16ª Conferência, Ronald Ferreira dos Santos, pontuou que a construção do SUS, desde sua concepção na 8ª Conferência, em 1986, é reconhecida mundialmente. “No Cazaquistão, onde mais de 190 países discutiam os 40 anos de Alma-Ata em 2018, todos os cinco continentes colocaram como referência de processo civilizatório o SUS brasileiro. Portanto, o que discutimos aqui é o nosso processo civilizatório”, discursou.

Ele reitorou em sua intervenção que “todo poder emana do povo”. Segundo ele Ronald, “o que estamos discutindo aqui é o nosso processo civilizatório. Precisamos colocar a igualdade e a liberdade no centro das atenções. Os gestores precisam entender o tamanho da responsabilidade dessa conferência. Não vamos aceitar o desmonte das políticas públicas, vamos alimentar nossos corações com solidariedade, amor e nossas capacidades de luta”.

A representante da Organização Pan-Americana da Saúde/Organização Mundial da Saúde (Opas/OMS) no Brasil, Socorro Gross, destacou que o tema desta edição, “Democracia e Saúde” “Além de ser um dos maiores, mais complexos e mais invejados sistemas públicos de saúde do mundo, o SUS tem raízes em valores e princípios intrinsecamente ligados ao que representa a democracia: a proteção dos direitos humanos fundamentais”.

Gross disse ainda que o SUS não é apenas uma conquista para o Brasil, mas para todas as Américas. “O SUS é a concretização do direito da população brasileira a ter uma vida melhor, mais justa, mais digna, mais feliz”, afirmou, reiterando que ele é resultado de um importante processo democrático, que reconhece que todas e todos podem realizar o seu direito ao mais alto padrão possível de saúde, como preconiza a OMS.

Willames Freire, presidente do Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems), afirmou que o SUS é o maior sistema de inclusão social do mundo. “Nosso compromisso é com um sistema de saúde equânime, que atenda todos os brasileiros de forma integral. Nós fazemos saúde pública com paixão, determinação, ousadia e perspicácia, mas, acima de tudo, com batalha, luta e perseverança”.

Por sua vez, Alberto Beltrame, presidente do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), afirmou que a 16ª Conferência é uma “verdadeira consagração da democracia, da participação popular, do controle social e da formulação das políticas públicas de saúde do país”. Para ele, o direito à saúde e o direito à vida são absolutos e não podem ser relativizados.

Titular da Subcomissão Permanente da Saúde na Câmara dos Deputados, a parlamentar Carmem Zanotto (Cidadania – SC) desejou que a 16ª Conferência resgate os princípios do SUS e reiterou a necessidade de mais recursos financeiros para fazer frente às demandas cotidianas do sistema de saúde.

Fenafar na 16ª CNS

Lideranças farmacêuticas de todo o Brasil (diretores da Fenafar, sindicatos filiados e diretores da Escola Nacional dos Farmacêuticos) compõem a delegação da 16ª CNS. Além de delegados e delegadas eleitos em conferências estaduais, os farmacêuticos participam como observadores e contribuem para enriquecer as discussões da Conferência com propostas debatidas ao longo dos Encontro de Farmacêuticos preparatórios para a 8ª+8. São contribuições voltadas para a defesa do Sistema Único de Saúde, para o fortalecimento da Política de Assistência Farmacêutica no Brasil e para a defesa da soberania na área de Ciência e Tecnologia.

Sobre a 16ª Conferência

A 16ª Conferência Nacional de Saúde (8ª+8) é organizada pelo Conselho Nacional de Saúde (CNS) e realizada pelo Ministério da Saúde (MS). Considerada o maior espaço de participação social do Brasil, o evento reúne mais de cinco mil pessoas de todo o país para propor melhorias ao Sistema Único de Saúde (SUS), sendo um resgate à 8ª Conferência, realizada em 1986, responsável por definir as bases para construção do SUS na Constituição de 1988. O relatório final do evento vai gerar subsídios para a elaboração do Plano Plurianual 2020- 2023 e do Plano Nacional de Saúde.

Fonte: Da redação com SUSConecta
Publicado em 05/08/2019