#MarchaPelaVida: entidades defendem a Ciência e denunciam atitude do governo diante da pandemia

Nas cinco regiões do país, instituições de referência para as políticas públicas e os direitos humanos se uniram em uma grande marcha virtual nesta terça (09/06). A #MarchaPelaVida reuniu mais de 500 entidades, entre as quais a Fenafar e vários sindicatos dos farmacêuticos de todo o país, além de movimentos sociais, artistas, ativistas e intelectuais com objetivo de cobrar respostas do poder público e sensibilizar a população diante do caos na Saúde pública e nas políticas sociais.

 

 

“Não podemos ficar parados, por isso seguimos em marcha, exigindo do governo e fazendo nossa parte para destruir o seu projeto de morte”, disse Fernando Pigatto, presidente do CNS, durante a Marcha.

Número de óbitos omitidos, flexibilização de medidas de isolamento indo contra as recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS), trocas consecutivas de ministros da Saúde em meio ao cenário emergencial, estímulo a manifestações que apoiam a ditadura militar, desrespeito aos profissionais de imprensa e ao serviço público, negação da ciência e das evidências técnicas, indicação da Hidroxicloroquina/Cloroquina sem estudo concluído que comprove eficácia diante da Covid-19. Essas são apenas algumas das práticas atuais de descaso do Estado que levam à manifestação virtual organizada pela #FrentePelaVida.

São mais de 37 mil mortes registradas desde o início da epidemia no Brasil, onde grande parte delas seria evitável se o Sistema Único de Saúde (SUS) não estivesse subfinanciado e as medidas de enfrentamento estivessem sendo aplicadas conforme as evidências técnicas e científicas. Para Fernando Pigatto, presidente do Conselho Nacional de Saúde (CNS), “não podemos ficar parados, por isso seguimos em marcha, exigindo do governo e fazendo nossa parte para destruir o seu projeto de morte. As vidas não são apenas números, elas valem mais”.

Gulnar Azevedo, presidenta da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), afirmou que “lutar pela vida significa seguir a Ciência e fortalecer o SUS, garantindo equidade e acesso universal. Tudo pode ser recuperado, inclusive a economia, a unica coisa que não tem volta quando perdemos é a vida”. Dom Walmor de Oliveira, presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), em vídeo, disse que “marchar pela vida é o convite que deve ecoar no coração de nós todos, enfrentando a cultura de morte”.

Populações vulnerabilizadas sofrem mais

As vidas da população negra e de outros segmentos vulnerabilizados não podem ser esquecidas, pois são os que mais sofrem em contexto de crise, afirmou Lúcia Souto, presidenta do Centro Brasileiro de Estudos de Saúde (Cebes). “A vida e a democracia estão sendo afrontadas. A desigualdade do Brasil é imoral, baseada numa matriz da escravidão. É inadmissível. Precisamos distribuir a riqueza produzida por todos os brasileiros. É inaceitável o racismo estrutural que permeia a sociedade brasileira”. Dirceu Greco, presidente da Sociedade Brasileira de Bioética (SBB), complementou. “Essa disparidade foi ainda mais escancarada pela pandemia”.

Jurema Werneck, diretora da Anistia Internacional no Brasil, lembrou que “as pessoas em favelas, em situação de rua, pessoas em privação de liberdade, mulheres, povos indígenas, comunidades quilombolas, povos e comunidades tradicionais, trabalhadores informais, LGBTQI+”, dentre outros segmentos vêm sendo gravemente afetados nesse momento.

José Carlos Dias, presidente da Comissão Zilda Arns, afirmou que “o momento exige a superação das diferenças e união de todos os democratas pela restauração da paz e da economia”. Para ele, “não devemos nos intimidar, nem perder a esperança”. Socorro Gross Galiano, representante da Organização Pan-Americana no Brasil (Opas), defendeu o controle social. “O direito à participação social é pilar fundamental da construção coletiva das políticas de Saúde”.

Felipe Santa Cruz, presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) disse que “a batalha que estamos travando não é a marcha dos soldados, é a marcha da cidadania contra o abandono da Ciência e o discurso preconceituoso, isolacionista e terraplanista que vem ganhando assustadora força no nosso país”.

SUS contra a necropolítica

O médico Drauzio Varella, em depoimento gravado, afirmou que a Covid-19 no Brasil poderia ser ainda pior se não fosse o SUS. “Sem o SUS viveríamos uma barbárie. É o maior sistema de Saúde do mundo. É o grande programa de distribuição de renda. É o que permite defender a vida dos brasileiros agora. O SUS não é perfeito, tem problemas de gestão, de financiamento, de troca de ministro de Saúde como se troca de camisa, mas o SUS melhorou desde o início da epidemia até agora. Que fique essa lição para quando a epidemia terminar. O SUS ainda é vilipendiado pelos brasileiros e é injusto”.

A procuradora federal dos Direitos do Cidadão, do Ministério Público Federal (MPF), Débora Duprat, também em depoimento gravado, trouxe à tona o conceito de “necropolítica”, referenciando o teórico Achille Mbembe. “Estão apostando numa política de eliminação de vidas, numa escala ascendente de pobreza e miséria extrema, voltando o país para o Mapa da Fome. A pandemia torna mais evidente essa política, num estado precarizado em investimento em Saúde”, criticou.

Tuitaço é o quinto assunto mais comentado no Brasil

Um tuitaço foi realizado para reforçar a Marcha Virtual pela Vida com as hashtags: #MarchapelaVida e #FrentepelaVida. O assunto foi o quinto mais comentado no dia de hoje, no país, na rede social. O objetivo da mobilização no Twitter foi chamar a atenção para o fortalecimento dos valores fundamentais para que a sociedade brasileira tenha condições de enfrentar a pandemia de coronavírus: a vida, a saúde e do SUS, a solidariedade, a preservação do meio ambiente, a democracia, a ciência e a educação.

Encaminhamento

A #FrentePelaVida vai continuar reverberando seus princípios e valores declarados no manifesto da #MarchaPelaVida. As entidades envolvidas seguirão com ações concretas de enfrentamento à crise social, política e econômica em todos os estados brasileiros. Outras entidades podem se somar à frente por meio do site.

Saiba mais

Um ato político com a presença de diversos parlamentares também foi realizado. Também ocorreu uma marcha simbólica ao Congresso Nacional por meio de um app. Foram mais de cinco mil pessoas em caminhada virtual na #MarchaPelaVida. As atividades encerraram com um coral que uniu diversos artistas em um canto coletivo virtual (foto principal). Essas e outras ações realizada pelas diversas entidades parceiras você encontra no site: www.marchavirtualpelavida.org.br

A Frente pela Vida é conduzida pela Associação Brasileira de Imprensa (ABI), Abrasco, Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), CNBB, CNS, Cebes, SBB, Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e Rede Unida.

Veja a transmissão da #MarchaPelaVida na íntegra

Veja o ato político da #MarchaPelaVida

Saúde, economia e sensatez na pandemia, por Leandro Farias

O distanciamento social tem custos econômicos, mas adotá-lo parcialmente ou renunciar a ele pode custar muito mais caro.

 

 

É “natural” que haja um “tensionamento” para a flexibilização das medidas de distanciamento social por conta dos impactos econômicos gerados. Os resultados divulgados da economia no primeiro trimestre mostram queda de 3,4% na população ocupada e redução de 2% no consumo das famílias. O déficit primário em Abril foi de 92,9 bilhões de reais, e parece haver pouco espaço para uma expansão fiscal vigorosa como uma crise dessa magnitude exige.

Porém, precisamos reforçar que a economia é feita por pessoas. Os números revelam que apenas o Estado do Rio de Janeiro ultrapassou a marca de países inteiros (China, Índia e Rússia!) em número de mortes confirmadas por covid-19: 6.781 mortes e 69.499 casos confirmados.

Um estudo da Fiocruz indica que, mesmo com a restrição parcial ou total ―o chamado lockdown― o coronavírus continuará circulando, e qualquer nível de relaxamento resultará em aumento de casos e mortes (dezenas de milhares), uma vez que, na ausência de uma vacina ou medicamento para covid-19, as medidas de distanciamento social são necessárias por alguns períodos até 2024.

“(…) a adoção das medidas de distanciamento social resulta em custos econômicos, mas adotá-las parcialmente ou renunciar a elas pode significar não só custos maiores, mas também graves impactos para a saúde. (…) Podem gerar dezenas de milhares de óbitos que seriam evitáveis”, dizem os pesquisadores.

Relembrando: a economia é feita por pessoas. Convido você, leitor, a fazer a seguinte reflexão: Quanto tempo leva para que um profissional se torne capacitado para desempenhar tal função? Quanto tempo VOCÊ levou para se tornar apto para executar o seu trabalho? Lembrando que os processos de “ficar de pé”, “andar”, “falar”, “ler”, “escrever”, “fazer contas” e todo o período acadêmico são inclusos no seu tempo de aprendizado.

Na economia é preciso haver quem produza e quem compre, e para isso é necessário haver saúde. Consultas, exames, internações e medicamentos têm um custo elevado, basta olhar o percentual do PIB estadunidense destinado a assistência à saúde.

Segundo dados da Subsecretaria de Atenção Hospitalar Urgência e Emergência, do início de abril até a semana passada, 1.298 pacientes morreram com síndrome respiratória aguda grave na fila à espera de um leito nas 26 emergências da Prefeitura do Rio. E neste momento, leitor, haveria centenas de pessoas na fila por leitos de enfermaria e UTI.

Levantamento feito pela Ministério Público do Rio de Janeiro mostra que há 1.886 leitos impedidos de funcionar em 27 hospitais da rede federal, estadual e municipal, e 55% deles, por conta de falta de profissionais, seguido de infraestrutura.

Enquanto isso, em plena pandemia, investigações expõem possíveis relações entre lideranças políticas, empresários, o governador do Rio e o escritório de advocacia da primeira-dama, cenário semelhante a um “passado bem recente”.

Mais de 700 milhões de reais foram destinados à montagem e ao funcionamento de sete hospitais de campanha, porém, dos sete hospitais prometidos para o final do mês de abril, apenas um está em funcionamento, o Hospital do Maracanã, que, apesar de inaugurado, segundo reportagens, tem demonstrado desorganização e precariedade.

Em 31 de dezembro a China enviou o alerta à Organização Mundial de Saúde sobre a covid-19. Após um mês, a Itália registrou os dois primeiros casos (dois turistas chineses). Em 26 de fevereiro, anunciamos o primeiro caso, um homem que retornou de viagem da Itália. Ou seja, o Brasil acompanhou antecipadamente a gravidade e as medidas sanitárias adotadas pela China, Europa e EUA.

Ainda não existe vacina ou medicamento para eliminarmos o vírus. Por ser uma doença nova, ainda estamos pesquisando e buscando entender quais os efeitos do vírus em nosso organismo. Precisamos ganhar tempo! Por isso a importância de não sobrecarregarmos o nosso sistema de saúde. A retomada gradual da economia requer, primeiramente, respeitar e seguir com as medidas de distanciamento social, implantação de um programa de testagem em massa da população e ampliação da oferta de leitos hospitalares. Economicamente falando: toda vida importa!

Leandro Farias é farmacêutico sanitarista da Fiocruz, fundador do Movimento Chega de Descaso

“Quem possui a patente desta vacina?”, pergunta o jornalista na TV. “O povo, eu diria. Não há patente”, responde o médico e cientista norte-americano Jonas Salk na famosa entrevista que concedeu em 1955, após lançar a primeira vacina contra a poliomielite, doença contagiosa que desafiava a medicina na época. “Você poderia patentear o sol?”, continuou o cientista, que se tornou inspiração para quem defende medicamentos acessíveis à população.A provocação do pesquisador faz sentido. O preço dos medicamentos está diretamente ligado à existência (ou não) de uma patente – instrumento que garante exclusividade na fabricação e venda de um produto. Sem concorrentes, os valores dos remédios tendem a ser mais altos – o que garante lucro maior à indústria farmacêutica.

No Brasil, contudo, uma singularidade da legislação permite que o monopólio de um remédio dure mais tempo do que a média mundial, o que atrasa a entrada de genéricos no mercado, que são mais baratos.

Por conta disso, o Ministério da Saúde vai desperdiçar R$ 3,8 bilhões nos próximos dez anos com a compra de nove medicamentos, indicados para o tratamento de câncer, hepatite C, reumatismo e doenças raras. O gasto foi estimado por pesquisadores do Grupo de Economia da Inovação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Enquanto o prazo de uma patente farmacêutica é de 20 anos em outros países, no Brasil a duração média é de 23 anos. Há casos que passam dos 28 anos. “A legislação brasileira dá um benefício extra às empresas que não estava previsto [no tratado internacional que determinou duas décadas como tempo padrão]”, diz a economista Julia Paranhos, coordenadora do estudo.

Artigo 40, parágrafo único

O problema no Brasil gira em torno da Lei de Propriedade Industrial, aprovada em 1996 sob forte lobby do setor farmacêutico. Um artigo da lei autoriza o tempo extra às patentes caso o Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) demore mais de 10 anos para analisar um pedido. Atualmente, o órgão leva em média 13 anos para concluir uma análise do setor farmacêutico – o que amplia para 23 anos, em média, o monopólio sobre um remédio.

Um exemplo é o dasatinibe, usado no tratamento de leucemia. Nos últimos cinco anos, o Ministério da Saúde gastou em média R$ 69 para cada comprimido. Na Índia, a versão genérica é vendida a R$ 16. O remédio similar poderia chegar ao Brasil em abril de 2020, quando completa 20 anos a patente do dasatinibe. Porém, o mercado nacional continuará fechado até novembro de 2028, porque o INPI demorou 18 anos para analisar o pedido.

O polêmico trecho da lei está em debate no Supremo Tribunal Federal, onde uma ação de 2016 da Procuradoria-Geral da República pede o fim da prorrogação de patentes no Brasil, mas não há prazo para o julgamento.

O INPI concedeu 683 patentes farmacêuticas desde 1997, das quais 630 (92%) foram beneficiadas com a prorrogação acima dos 20 anos, segundo levantamento do grupo de pesquisa da UFRJ, que investiga o setor há mais de 10 anos.

Mesmo quando a prorrogação não se aplica, como no caso das patentes pedidas antes de a lei entrar em vigor, a indústria farmacêutica recorre ao artigo 40 para entrar com ações na Justiça pedindo a extensão do monopólio. É o caso do humira (para artrite reumatoide e outras doenças), do laboratório norte-americano Abbvie. Uma ação judicial garante à empresa a exclusividade no Brasil até fevereiro de 2020, embora sua patente tenha expirado em 2017.

Enquanto uma decisão definitiva da Justiça não sai, a insegurança jurídica mantém concorrentes fora do mercado. Com isso, nos últimos cinco anos, o Ministério da Saúde repassou R$ 3,7 bilhões à Abbvie para comprar o humira. Ao final dos três anos de prorrogação da patente, o prejuízo estimado ao Ministério da Saúde será de R$ 990 milhões, segundo o estudo.

O humira é o medicamento de maior faturamento no mundo todo, com vendas globais de US$ 19,9 bilhões só em 2018. Para se ter ideia de como o fim da patente impacta seu preço, na Europa, a Abbvie ofereceu descontos de 80% após a chegada dos primeiros similares. Afinal, qual o preço real dessa droga?

Família de patentes

A prorrogação de patentes farmacêuticas tornou-se padrão no Brasil por dois motivos: o alto número de pedidos de invenção apresentados pelas empresas e o baixo número de examinadores do INPI.

Atualmente existem 319 funcionários responsáveis por analisar invenções de todos os setores da economia. Mas na fila há 160 mil pedidos pendentes, ou 501 por examinador, segundo o INPI. O cenário é pior do que o encontrado nos Estados Unidos, Europa, Japão, Índia e México.

Já o excesso de pedidos de patentes farmacêuticas foi investigado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), órgão ligado ao Ministério da Saúde. No caso do adalimumabe, o estudo identificou 33 pedidos apresentados ao INPI pela Abbvie e suas concorrentes. Apenas dois pedidos foram concedidos, um foi rejeitado, oito foram arquivados e 22 continuam na fila.

Além de amontoar a pilha de trabalho do INPI, os múltiplos pedidos de patente para um mesmo princípio ativo são uma estratégia da indústria farmacêutica para “perpetuar a exclusividade de um produto”, diz a farmacêutica Roberta Dorneles da Costa, pesquisadora da UERJ e uma das autoras do estudo da Fiocruz.

“A indústria farmacêutica adota diferentes estratégias para manter o monopólio. O primeiro passo é criar essa rede interminável de patentes”, diz Carlos Portugal Gouvêa, professor de direito comercial da USP. “Outra estratégia são os processos judiciais, porque enquanto não há uma decisão final, os concorrentes ficam afastados”, completa Paranhos.

O INPI reconhece que o número de examinadores é baixo e que “a demora na análise de pedidos de patentes tem levado à extensão do prazo de proteção”. O órgão informou que em julho começou um plano para reduzir o tempo de análise das patentes para cinco anos: a meta é reduzir a pilha de pedidos em 80% até 2021.

Procurada, a Abbvie não comentou a prorrogação do monopólio do humira nem tratou dos vários pedidos de patente para o medicamento. O laboratório disse à Repórter Brasil que o preço do remédio caiu nos últimos dez anos.

O Ministério da Saúde disse à Repórter Brasil que se pronunciará após a publicação do estudo.

Negociação de preços

Outro medicamento analisado pela UFRJ é o sofosbuvir, indicado para a hepatite C, doença que atinge 71 milhões de pessoas no mundo e mata 400 mil por ano, a maior parte em países pobres. Desenvolvido pela Gilead, o sofosbuvir parece tão revolucionário como a vacina de Salk, já que cura a hepatite C em 95% dos casos. Mas o alto preço cobrado pela Gilead e a barreira aos genéricos mantém a erradicação da doença num horizonte distante.

No Brasil, o Ministério da Saúde gastou mais de R$ 1,7 bilhão com o sofosbuvir desde 2014, pagando em média R$ 258 por comprimido, segundo o levantamento da UFRJ. Em países de baixa renda, porém, ele é vendido por R$ 2,95 (98% menos), enquanto nos Estados Unidos chega a R$ 4.000. O pedido de patente no Brasil foi apresentado em março de 2008, mas após 11 anos a análise ainda não foi concluída. A UFRJ estima em R$ 346 milhões o custo extra ao Ministério da Saúde para cada ano de prorrogação da patente do sofosbuvir.

Ao defender a prorrogação das patentes, a Interfarma (representante das empresas estrangeiras no Brasil) diz que os laboratórios não aproveitam comercialmente os 20 anos de monopólio, já que os primeiros 10 anos são dedicados a pesquisas e testes para criar o medicamento. A entidade diz que os investimentos farmacêuticos são altos e que a sustentabilidade do negócio “requer a manutenção do direito à propriedade industrial”.

O presidente do laboratório brasileiro com o maior número de patentes, no entanto, defende duração de 20 anos para o monopólio, “tal como é reconhecido no mundo inteiro”, diz Ogari Pacheco, do Cristália. Para a Libbs, que financiou a pesquisa da UFRJ, a prorrogação de patentes “atrasa a entrada de genéricos” e “aumenta muito os gastos do SUS”. A Abifina, representante das farmacêuticas brasileiras, classifica este trecho da lei como inconstitucional e diz que que algumas empresas usam a lei para “extensão artificial do prazo das patentes”.

Para os pesquisadores da UFRJ, além de mostrar a necessidade de investimentos no INPI, o estudo indica que o governo brasileiro pode gastar menos com medicamentos. “É possível o Ministério da Saúde buscar formas de negociar os produtos e conseguir preços mais baixos”, diz Paranhos.

“O futuro está em nossas mãos”, disse Salk em 1985. “Para decidir se usaremos a ciência, a tecnologia e o conhecimento que possuímos para o melhor, em vez de para o pior”.

Fonte: Repórter Brasil, por Diego Junqueira
Publicada em 09/09/2019

Cerca de 200 mil empresas sonegam o pagamento do FGTS de 7 milhões de trabalhadores

Cerca de 200 mil empresas deixaram de pagar o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) de 7 milhões de trabalhadores e trabalhadoras. De acordo com informações da Procuradoria-­Geral da Fazenda Nacional (PGFN), órgão vinculado ao Ministério da Fazenda, são 198,7 mil empresas devedoras. Um dado alarmante aponta pelo órgão é nem todas as empresas listadas entre as devedoras estão inscritas na dívida ativa, ou seja, o valor desse débito é maior.

O relatório aponta que somente em São Paulo, são 52,8 mil empresas devendo depósitos no FGTS de seus empregados e ex-­empregados, em um total de R$ 8,69 bilhões em débitos. No Rio de Janeiro, as dívidas chegam a R$ 4,1 bilhões, distribuídos entre 27,7 mil empresas inadimplentes.

A PGFN indicou que somente em inscrições de empresas na dívida ativa há um débito de R$ 24,5 bilhões.

Classe trabalhadora paga a conta

A Procuradoria-­Geral da Fazenda destacou inda que o assalto às contas dos trabalhadores poderia ser ainda maior. Durante a gestão Dilma Rousseff, a Procuradoria da Fazenda conseguiu recuperar R$ 466,9 milhões, efetuando a cobrança junto às empresas.

Alerta

Caso o trabalhador ou trabalhadora verifique que a sua empresa, ou mesmo a empresa que já trabalhou, não fez os depósitos corretamente, eles devem procurar a Superintendência Regional do Trabalho, vinculada ao Ministério do Trabalho. O ministério é o órgão responsável pela fiscalização dos depósitos nas contas do FGTS dos trabalhadores.

Fonte: CTB

Quanto tempo você vai ter que trabalhar a mais se o desmonte da previdência for aprovado? Calcule

A Associação Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal do Brasil (Anfip) disponibiliza, em sua página eletrônica, uma calculadora que permite ao trabalhador saber quanto tempo a mais ele terá que trabalhar caso seja aprovada a proposta de “reforma” da Previdência encaminhada pelo governo Temer.

 

Com a ferramenta, é possível saber quanto será alterada a situação e perspectiva de aposentadoria para mulheres com menos de 45 anos de idade e homens com menos de 50. Acima dessa faixa etária, valem as regras de transição e o sistema da Anfip não realiza esse cálculo. Também não pode ser feita a simulação para as categorias que hoje têm aposentadoria especial como professores, policiais, trabalhadores rurais e trabalhadores que recebem adicional de insalubridade ou de periculosidade.

Pela calculadora é possível verificar, por exemplo, que uma mulher que tem hoje 30 anos e 10 de contribuição em regime de CLT, ao invés de se aposentar com benefícios integrais aos 53, como estabelece a regra atual, terá que permanecer no mercado de trabalho até 0s 69 se a PEC 287 for aprovada no Congresso Nacional. Para obter a aposentadoria proporcional, essa mesma pessoa, que poderia ter o benefício aos 50 hoje, terá que trabalhar até os 65.

Já para o homem, celetista, que tem 44 anos e 24 de contribuição, só vai conseguir ter direito à aposentadoria proporcional aos 65, sendo que hoje ele teria esse direito aos 50. Para receber os proventos integrais, assegurados pelas regras atuais aos 53, t terá que esperar até os 69.

Faça seu cálculo aqui.

Fonte: CTB

CNS recomenda que congresso derrube veto presidencial que tira dinheiro do combate à Covid-19 para pagar dívida pública

O Conselho Nacional de Saúde (CNS) recomendou, na última sexta (05/06), que o Congresso Nacional derrube o veto do presidente da república ao Projeto de Lei de Conversão, aprovado em maio pelo Poder Legislativo (PLV nº 10/2020), referente à Medida Provisória nº 909/2019. Ou seja, com o veto do presidente ao PLV, o recurso destinado para combate à pandemia passa a ser subtraído para pagamento da dívida pública.

 

 

“Isso é uma  afronta às necessidades de segurança sanitária. As mortes que estão ocorrendo hoje no Brasil podem ser evitadas”, disse o presidente do CNS.

De acordo com a recomendação do CNS, elaborada pela Comissão Intersetorial de Orçamento e Financiamento (Cofin), “o veto presidencial expressa elementos da política econômica de austeridade fiscal inadmissíveis em qualquer tempo e estão em oposição à emergência sanitária declarada pelo Congresso Nacional para o enfrentamento e combate à pandemia da Covid-19”.

Segundo o presidente do CNS, Fernando Pigatto, “o veto presidencial significa deslocar recursos do combate à emergência sanitária para pagamento de juros e amortizações da dívida pública, isso é uma  afronta às necessidades de segurança sanitária. As mortes que estão ocorrendo hoje no Brasil podem ser evitadas”, destacou, lembrando que a Emenda Constitucional 95/2016, proposta pelo governo e aprovada pelo congresso, já tirou R$ 22,5 bilhões do Sistema Único de Saúde (SUS).

Getúlio Vargas, coordenador-adjunto da Cofin, representante da Confederação Nacional das Associações de Moradores (Conam), defendeu a derrubada do veto pelos parlamentares. “Esse veto tem que ser derrubado. Não é pouca coisa que está em jogo, a gente está falando de R$ 8,6 bilhões para estados e municípios, que fazem o enfrentamento real à pandemia”, disse, referindo-se ao fundo garantido pela medida provisória n°909/2019. Getúlio também lembrou o decreto de calamidade pública no Brasil, que exige do governo ações e recursos para salvar vidas nesse contexto.

Leia a recomendação na íntegra

Fonte: SUSConecta
Publicado em 09/06/2020

Entidades sindicais e jurídicas se aliam contra desmonte da previdência e da CLT

Para fazer frente ao rolo compressor que vem sendo lançado sobre os brasileiros pelo governo federal, entidades da área jurídica e sindical do estado de São Paulo criaram o braço regional do Fórum Interinstitucional de Defesa do Direito do Trabalho e da Previdência Social (Fids) para combater o avanço das reformas trabalhista e previdenciária no Congresso Nacional, nesta sexta-feira (17).

 

A reunião ocorreu na sede da Associação dos Advogados de São Paulo (AASP) e estavam presentes representantes do Ministério Público Federal, Ministério Público do Trabalho, do Instituto dos Advogados Previdenciários, da Associação dos Juízes pela Democracia, da OAB, da Associação Brasileira dos Advogados Trabalhistas (Abrat) , do Sindicato dos Advogados de São Paulo (Sasp) e das centrais sindicais CTB, CUT, UGT e Intersindical, entre outras.

Ao longo de três horas, advogados, juízes e dirigentes sindicais pontuaram os graves impactos das medidas que o governo deseja implementar na vida dos brasileiros e suas incongruências jurídicas e falta de sustentação legal.

A mesa foi conduzida pelo advogado e presidente da Abrat, Roberto Parahyba, que vê nos dois projetos de reforma uma “violação do espirito do ordenamento jurídico como um todo” e defende que direitos sociais não podem ser avaliados do ponto de vista estritamente econômico, como vem ocorrendo nesse governo. “O mínimo que se espera é que sejam promovidos debates democráticos sobre os temas”, diz ele.

A proposta do fórum é justamente aliar a representatividade institucional do movimento sindical e das entidades jurídicas para desenvolver ações populares que ajudem a informar a população sobre a gravidade do que está em jogo com a eventual aprovação do projeto de lei trabalhista e da Proposta de Emenda à Constituição 287, da Previdência.

O assessor jurídico da CTB, Magnus Farkatt, defendeu que o fórum trabalhe com a perspectiva de criar ações objetivas, atos populares, que repercutam nas mídias sociais e produzam pressão concreta sobre os parlamentares paulistas – por meio do envio de emails e telefonemas aos gabinetes tentando demovê-los de aprovar estes projetos.

“Precisamos criar um movimento que traduza a resistência em âmbito estadual e só terá sentido se determinarmos uma agenda de lutas e focarmos em mobilizações institucionais”, diz Farkatt.

A agenda prévia do fórum estadual do Fids definida na reunião prevê ato em Brasília, no próximo dia 22 de fevereiro, no auditório Nereu Ramos, no Congresso, uma nova reunião 3 de março e atos de protesto contra as reformas em 8 de março, no dia internacional da Mulher, que este ano vai enfocar o combate ao desmonte da previdência.

Fonte: CTB

Bolsonaro comemora a “volta” da cloroquina enquanto até assintomáticos recebem a droga no SUS

Sem protocolo baseado em evidências científicas, e com pesquisas mundiais em xeque, tratamento da covid-19 com base no medicamento cresce no Brasil.

 

 

“A cloroquina voltou!”, comemorou o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) na noite desta sexta-feira. Ele se referia a mais um capítulo da novela envolvendo idas e vindas de pesquisas sobre a eficácia ou não do uso da substância no tratamento de pacientes com o novo coronavírus. Nesta semana, a The Lancet retirou de sua plataforma, a pedido dos autores, o estudo global que concluía que a cloroquina e seu derivado, a hidroxicloroquina, não ofereciam nenhum benefício para os pacientes, inclusive podendo aumentar o risco de morte em 30% dos casos. Dúvidas em relação à pesquisa fizeram a própria Organização Mundial da Saúde (OMS) anunciar que retomará os testes com os medicamentos, interrompidos após a publicação do estudo. Enquanto pesquisadores do mundo todo se debatem sobre a eficácia ou não da substância e, principalmente, sobre seus efeitos colaterais, no Brasil não somente sua produção segue a todo o vapor, como os comprimidos têm sido distribuídos pela rede pública até para pacientes assintomáticos, contrariando o protocolo do Ministério da Saúde.

Foi o que aconteceu com o cozinheiro Lucas Bittencourt, 23 anos, da cidade de Porto Feliz, a 118 quilômetros de São Paulo. Ele trabalha em uma residência e fez o teste PCR, que atesta a presença do coronavírus, a pedido da chefe, que faz parte do grupo de risco. Para sua surpresa, já que não tinha sintoma algum, o resultado foi positivo. “Assim que soube fui ao posto de saúde. Só pediram para eu ficar isolado e me deram os remédios”, afirma ele. Os remédios mencionados por ele formam parte de um kit com sete medicamentos que obedecem ao protocolo de tratamento precoce adotado pela cidade para suspeitas de covid-19.

No kit estão incluídos hidroxicloroquina (para tratar malária e doenças autoimunes), azitromicina (antibiótico), ivermectina (vermífugo), celocoxibe (doenças autoimunes), paracetamol (febre e dores no corpo), metoclopramida (náusea e vômitos), enoxaparina (anticoagulante). Ao tomar o coquetel, o cozinheiro afirma ter sentido ânsia, dor de barriga e diarreia, mas elogiou a orientação recebida no posto de saúde. “Não tive medo de tomar a cloroquina”, diz. “Se eles me recomendaram é porque sabem o que estão fazendo”.

A Prefeitura de Porto Feliz afirmou em nota que “não há distribuição de kits no município”. E que o protocolo de prescrição da cloroquina só é realizado para pacientes sintomáticos após exames como função renal e hepática, tomografia computadorizada de tórax e eletrocardiograma laudado por cardiologista, bem como a “autorização formal de cada paciente”. E que só então é decidido pelo médico “se há ou não indicação com segurança do uso da hidroxicloroquina e das demais medicações que compõe o protocolo”.

No final do mês passado, o Ministério da Saúde emitiu novas diretrizes para a aplicação da cloroquina e hidroxicloroquina em pacientes não só graves – como já era admitido – mas também com sintomas leves da doença, contanto que houvesse consentimento do médico e do paciente. A utilização desses medicamentos, fortemente defendida pelo presidente Jair Bolsonaro, despreza o fato de que os estudos sobre seu uso ainda são inconclusivos. O protocolo também vai contra o que aponta a única pesquisa brasileira sobre a droga. Em 18 de abril, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) publicou uma nota afirmando que doses altas da cloroquina não eram indicadas para o tratamento de pacientes graves com a covid-19 e que ainda não era possível atestar a eficácia de seu tratamento sobre a doença. Os resultados, ainda iniciais, até hoje não avançaram e não há conclusão sobre o estudo.

Por isso, o Tribunal de Contas da União (TCU) deu dez dias, a contar do último dia 3, para que o Ministério da Saúde e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) expliquem a fundamentação técnica e jurídica que levou ao novo protocolo. O ministro Benjamin Zymler, do TCU, destacou que essa nova orientação pode elevar os gastos públicos em saúde, tanto com a compra do medicamento, quanto com a realização de exames.

De fato, até o final de maio, o Laboratório Químico Farmacêutico do Exército (LQFEx) já havia produzido 1,25 milhão de comprimidos de cloroquina para atender à demanda do Ministério da Saúde. Antes do início da crise da covid-19 o LQFEx produzia um lote de 250.000 comprimidos a cada dois anos, sendo esta demanda exclusiva do Exército Brasileiro, para o combate à malária. Os números da produção da droga são altos, em comparação aos anos anteriores, mas o Ministério da Saúde já distribuiu aos Estados quatro vezes mais que essa produção. Até o momento, 4,3 milhões de comprimidos da cloroquina foram enviados para as secretarias estaduais da Saúde em todo o país. Segundo a pasta, quatro empresas têm registros válidos junto à Anvisa para fornecer o medicamento: Apsen Farmacêutica, Sanofi Aventis, Medley Sanofi no Brasil, e EMS Indústria Farmacêutica. Elas são responsáveis por abastecer o mercado público e privado no país.

Do número total de comprimidos distribuídos, quase 1 milhão foram enviados para São Paulo, o epicentro desta pandemia e Estado com o maior número de casos e óbitos até este sábado, 6 de junho. Apesar da grande remessa recebida, o governador João Doria (PSDB) lembrou, em entrevista ao EL PAÍS, que “a ciência não recomenda [o uso da droga], exceto em casos muito especiais, com prescrição médica e a aceitação do paciente, porque os efeitos colaterais são muito graves, principalmente para cardíacos”. Ele classificou a orientação do Governo Federal como uma “vontade deliberada de recomendar o uso indiscriminado” da substância.

Mas os municípios paulistas não necessariamente seguem o governador. Em entrevista para o Jornal da Cultura, o prefeito de Porto Feliz, o médico Antonio Cássio Prado (PTB), afirmou que o kit distribuído pela rede a pessoas como o cozinheiro Lucas Bittencourt, mencionado no início desta reportagem, custa menos de 40 reais e “tem eficiência na fase inicial da doença, nos primeiros cinco ou seis dias”.

O caso da bancária Bruna Torres de Lara, 27 anos, foi diferente. Ela procurou o posto de saúde de Porto Feliz com dores no corpo, falta de ar e tosse excessiva. Fez eletrocardiograma, exames de sangue e tomografia, que detectou uma mancha no pulmão. Saiu do atendimento com uma receita médica e um kit com os sete medicamentos. Não fez exame para detectar o novo coronavírus na rede pública, mas optou por seguir o protocolo de cinco dias e o isolamento de duas semanas. Assinou o termo de consentimento, que deixa claro os riscos dos medicamentos. “Não sei se foi por excesso de medicação, ou se foi a hidroxocloroquina, mas em um dos dias me deu um mal estar forte, dor de cabeça, ânsia, diarreia”, conta. Os sintomas duraram pouco, mas ela decidiu fazer o exame de PCR na rede privada para ter certeza. O resultado saiu uma semana depois, após ela terminar os medicamentos, e foi negativo para o coronavírus.

A prefeitura de Porto Feliz não quis compartilhar o protocolo técnico com a reportagem, nem responder em qual pesquisa se baseia. A assessoria de comunicação informou por telefone apenas que é o mesmo utilizado na cidade de Floriano, no Piauí, que chamou a atenção da ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves. A ministra se disse “impactada” com o “milagre do uso da cloroquina associada a medicamentos”, após uma visita à cidade de cerca de 60.000 habitantes, que teria obtido bons resultados com os fármacos. O protocolo foi recomendado pela médica piauiense Marina Bucar Barjud, que trabalha no Hospital HM Puerta del Sur em Madri, com base em sua na experiência na Espanha.

“O que mais querem, que desça um anjo do céu para dizer que o remédio dá certo? São milhares de cientistas no mundo atestando, médicos do mundo inteiro atestando, que mais vocês querem?”, afirmou Damares, em entrevista coletiva durante a visita ao Hospital Regional Tibério Nunes na segunda semana de maio, que utiliza o protocolo. A cidade piauiense registrou 18 mortes e 82 casos confirmados; 39 pessoas se recuperaram da doença.

A reportagem tentou falar com Marina Bucar, que tem dado consultorias sobre o protocolo para municípios brasileiros, mas segundo seu irmão, o também médico Walter Bucar Barjud, a médica está com “muito trabalho, assessorias importantes, treinamento e orientações para médicos que estão salvando vidas com sua ajuda” e não poderá dar entrevista.

Embates teóricos

Não é a primeira vez que uma pesquisa sobre os medicamentos é derrubada de uma publicação científica. No dia 20 de maio, a revista medRxiv retirou do ar o primeiro estudo que recomendou a utilização de cloroquina e hidroxicloroquina em pacientes com a covid-19. O trabalho dos pesquisadores franceses ganhou repercussão mundial, levando líderes como o presidente dos EUA Donald Trump a defender as drogas. O uso indiscriminado das drogas pós-publicação, especialmente fora do ambiente hospitalar, causou preocupação no próprio órgão regulador de alimentos e medicamentos do EUA (FDA). “Autorizamos seu uso temporário apenas em pacientes hospitalizados com covid-10 quando os ensaios clínicos não estão disponíveis ou a participação não é viável”, afirmou o FDA. Segundo o órgão, “estes medicamentos têm vários efeitos colaterais, incluindo problemas sérios de ritmo cardíaco que podem ser fatais”.

O trabalho dos pesquisadores franceses recebeu uma enxurrada de críticas pela metodologia e amostra reduzida – apenas 30 pacientes -, o que fez com que os autores pedissem a retirada da pesquisa do ar e também que ela não fosse citada em outros trabalhos científicos. “Por conta da controvérsia sobre a hidroxicloroquina e da natureza de seu estudo, eles [autores] gostariam de avaliar o manuscrito após revisão metodológica”, afirmou em nota a revista científica.

O estudo em defesa da cloroquina e da hidroxocloroquina caiu justamente quando aconteceu a divulgação de uma pesquisa considerada mais robusta, na The Lancet. O estudo teria sido realizado com 96.000 pacientes em 600 hospitais de todo o mundo, inclusive Brasil. A pesquisa parecia ter concluído a questão, ao afirmar categoricamente que os medicamentos aumentavam o risco de morte e piora cardíaca. França e Itália proibiram seu uso, enquanto a Bélgica alertou sobre sua utilização fora dos ensaios clínicos. Mas também não passou pela revisão da comunidade científica. Uma carta aberta assinada por mais de 120 pesquisadores criticaram inconsistências no estudo. A agência de medicamentos espanhola concluiu que o estudo não fornecia provas sólidas e recomendou que se continuem os ensaios clínicos com esses fármacos no país.

Paralelamente, uma investigação do jornal britânico The Guardian revelou problemas com as informações passadas pela empresa norte-americana Surgisphere, cujo banco de dados de pacientes e pesquisas médicas foi utilizado na pesquisa. Dados da Austrália, por exemplo, mostravam um número de mortos maiores do que o registrado do país. A companhia – que tem poucos profissionais da área média entre seus colaboradores, mas, curiosamente, tem um escritor de ficção científica e um ator pornô na equipe -, se recusou a liberar o acesso ao banco de dados alegando confidencialidade.

Fonte: El País Brasil
Publicado em 08/06/2020

Trabalhadores se unem contra desmonte da Previdência: “Pedalada na Constituição”

Medida emergencial para estancar um suposto rombo no setor, a proposta de reforma da Previdência apresentada pelo governo de Michel Temer representa um ataque frontal à aposentadoria e, em especial, à classe trabalhadora. A avaliação é feita por especialistas e dirigentes de centrais sindicais que se reuniram nos dias 7 e 8 de fevereiro, em São Paulo, em seminário promovido pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese).

 

“O projeto de reforma da Previdência apresentada pelo governo é uma pedalada na Constituição”, afirma Vilson Romero. Para o presidente da Associação Nacional dos Auditores da Receita Federal (Anfip), a tese de rombo, comprada por todos os grandes meios de comunicação, é fruto de uma “contabilidade criativa”. “Para o governo e para o neoliberalismo em geral, a Previdência é uma questão meramente matemática”, critica.

Segundo Romero, somadas todas as fontes de financiamento, o sistema não tem déficit. Logo, o governo opta por ‘cortar na carne’ da população ao invés de enfrentar agendas como o combate à sonegação e uma política de juros que só beneficia o rentismo, já que fatias significativas da seguridade social são realocadas para amortizar a dívida pública.

Para o economista Eduardo Fagnani, o argumento do governo de que a reforma da Previdência tem como referência políticas de países desenvolvidos é uma falácia. “Reformar a Previdência com parâmetros europeus é ignorar a realidade socioeconômica do país”, salienta. A analogia feita pelo professor da Unicamp é de que os exemplos tomados são de países que já estão na ‘primeira divisão’. “Como fazer uma reforma de Série A em um país que ainda está na Série C?”, questiona.

Uma reforma a temer

De acordo com Fagnani, as principais vítimas da proposta do governo Temer são as mulheres, os trabalhadores e trabalhadoras do campo, além da juventude pobre. “Não faz sentido tratar como igual quem é desigual”, argumenta. “O que se gasta com juros, desonerações fiscais, sonegação, entre outros problemas, ultrapassa a cifra do trilhão, o que supera e muito o suposto rombo da Previdência”. Enquanto mantém intocados os privilégios na aposentadoria dos militares ou pautas como as citadas pelo economista, que ‘mexem no queijo’ das elites, o governo agrava a situação de setores mais vulneráveis da sociedade.

No caso da mulher, a idade mínima para aposentadoria será igual a dos homens: 65 anos. “É um ataque brutal às mulheres”, alerta Carmen Foro. Segundo a vice-presidenta da CUT, as mulheres serão submetidas a condições de vida ainda mais penosas – além de trabalhar igual ou mais que os homens e receber menos, a mulher ainda sofre, por exemplo, com assédios e abusos. Quanto à população rural e aos jovens das periferias, a necessidade de trabalhar desde cedo e muitas vezes sem carteira assinada amplia a desigualdade de condições ignorada pela reforma. O mesmo vale para os cidadãos que vivem em regiões com baixa expectativa de vida, algumas na qual a longevidade média sequer chega à idade mínima imposta pelo governo.

Centrais somam forças contra retrocesso iminente

Durante o seminário do Dieese, as centrais sindicais reforçaram a necessidade de unidade da classe trabalhadora para enfrentar a luta contra a reforma da Previdência. Apesar da maioria parlamentar disposta a condenar milhões de brasileiros a ‘trabalhar até a morte’, os trabalhadores acreditam que a luta pode barrar ou ao menos reduzir os danos do desmonte. CTB, CSP-Conlutas, CSB, CUT, CGTB, Intersindical, UGT, Força Sindical e NCST foram as entidades participantes da atividade na capital paulista.

“As centrais têm papel crucial nesse momento delicado do país”, defende Raquel Kacelnikas, vice-presidenta do Dieese. “É dever delas disseminar informação e municiar os trabalhadores de conteúdo para a luta contra a reforma. Como o monopólio midiático está ao lado deste governo e sua proposta de reforma, é tarefa dos trabalhadores construir esse contraponto e travar a luta contra o retrocesso”.

Fonte: Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé, Felipe Bianchi / Foto: Erika Cecconi

Em carta aberta, OAB se posiciona oficialmente contra a reforma da Previdência

A Organização dos Advogados do Brasil (OAB) divulgou carta aberta que aponta abusos na Proposta de Emenda Constitucional 287, do governo federal, que promove uma ampla reforma na Previdência Social.

 

Após mais de 17 horas de reunião na sede do Conselho da OAB, em Brasília, os membros de comissões de direito previdenciário de todo o país, juntamente com outras dezenas de entidades representativas de categorias profissionais, elaboraram uma carta aberta contra a reforma da Previdência.

As mudanças, segundo a carta, “desfiguram o sistema da previdência social conquistado ao longo dos anos e dificulta o acesso à aposentadoria e demais benefícios à população brasileira que contribuiu durante toda a sua vida”.

As entidades listaram 10 abusos, entre eles, a exigência de idade mínima de 65 anos para aposentadoria de homens e mulheres, a necessidade de o contribuinte ter 49 anos de contribuição para ter acesso ao benefício integral, a redução do valor geral das aposentadorias e a precarização da aposentadoria do trabalhador rural e o fim da aposentadoria especial para professores. Além disso, o Conselho da OAB considera abusivas as propostas de pensão por morte e benefícios assistenciais abaixo de um salário mínimo.

Um dos pontos de discordância é justamente a base da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) nº 287/2016, que tem o discurso de catástrofe financeira e deficit como justificativa para a iniciativa. Para a OAB, o tão divulgado rombo da Previdência não existe. Usar esse argumento evidenciaria “grave descumprimento” à Constituição Federal, que insere a Previdência no sistema de Seguridade Social, juntamente com as áreas da Saúde e Assistência Social – sistema que, de acordo com a carta, “tem sido, ao longo dos anos, altamente superavitário em dezenas de bilhões de reais”.

As entidades que assinaram a carta – entre elas, além da OAB, o Conselho Federal de Economia (Cofecon), a Associação Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal do Brasil (Anfip) e a Associação Nacional dos Advogados Públicos Federais (Anafe) – criticam também o mecanismo de Desvinculação de Receitas da União (DRU), que permite que 30% dos recursos da Seguridade Social sejam destinados para outros fins, “especialmente para o pagamento de juros da dívida pública, que nunca foi auditada, como manda a Constituição”.

O documento também salienta o impacto econômico da reforma nos municípios: “Prejudicará diretamente a economia dos municípios, uma vez que a grande maioria sobrevive dos benefícios da previdência social, que superam o repasse do Fundo de Participação dos Municípios (FPM)”.

Em conjunto, elas exigem que o governo federal divulgue “com ampla transparência” as receitas da Seguridade Social, “computando todas as fontes de financiamento previstas no artigo 195 da Constituição Federal, mostrando ainda o impacto anual da DRU, as renúncias fiscais que têm sido concedidas, a desoneração da folha de salários e os créditos tributários previdenciários que não estão sendo cobrados”.

Confira a carta, na íntegra:

“As entidades abaixo nominadas, reunidas no Conselho Federal da OAB em 31 de janeiro de 2017, manifestam preocupação com relação ao texto da proposta de Reforma da Previdência (PEC 287/2016), tendo em vista que ela está fundamentada em premissas equivocadas e contem inúmeros abusos contra os direitos sociais.

A PEC 287/2016 tem sido apresentada pelo governo sob discurso de catástrofe financeira e “déficit”, que não existem, evidenciando-se grave descumprimento aos artigos 194 e 195 da Constituição Federal, que insere a Previdência no sistema de Seguridade Social, juntamente com as áreas da Saúde e Assistência Social, sistema que tem sido, ao longo dos anos, altamente superavitário em dezenas de bilhões de reais.

O superávit da Seguridade Social tem sido tão elevado que anualmente são desvinculados recursos por meio do mecanismo da DRU (Desvinculação de Receitas da União), majorada para 30% em 2016. Tais recursos são retirados da Seguridade Social e destinados para outros fins, especialmente para o pagamento de juros da dívida pública, que nunca foi auditada, como manda a Constituição.

Diante disso, antes de pressionar pela aprovação da PEC 287/2016, utilizando-se de onerosa campanha de mídia para levar informações questionáveis à população, exigimos que o Governo Federal divulgue com ampla transparência as receitas da Seguridade Social, computando todas as fontes de financiamento previstas no artigo 195 da Constituição Federal, mostrando ainda o impacto anual da DRU, as renúncias fiscais que têm sido concedidas, a desoneração da folha de salários e os créditos tributários previdenciários que não estão sendo cobrados.

A proposta de reforma apresentada pelo governo desfigura o sistema da previdência social conquistado ao longo dos anos e dificulta o acesso a aposentadoria e demais benefícios à população brasileira que contribuiu durante toda a sua vida.

Dentre os abusos previstos na PEC 287/2016 destacamos os seguintes:

1) Exigência de idade mínima para aposentadoria a partir dos 65 (sessenta e cinco) anos para homens e mulheres;

2) 49 (quarenta e nove) anos de tempo de contribuição para ter acesso à aposentadoria integral;

3) Redução do valor geral das aposentadorias;

4) Precarização da aposentadoria do trabalhador rural;

5) Pensão por morte e benefícios assistenciais em valor abaixo de um salário mínimo;

6) Exclui as regras de transição vigentes;

7) Impede a cumulação de aposentadoria e pensão por morte;

8) Elevação da idade para o recebimento do benefício assistencial (LOAS) para 70 anos de idade;

9) Regras inalcançáveis para a aposentadoria dos trabalhadores expostos a agentes insalubres;

10) Fim da aposentadoria dos professores.

Além disso, a reforma da previdência prejudicará diretamente a economia dos municípios, uma vez que a grande maioria sobrevive dos benefícios da previdência social, que superam o repasse do Fundo de Participação dos Municípios (FPM).

Diante disso, exigimos a suspensão da tramitação da PEC 287/2016 no Congresso Nacional até que se discuta democraticamente com a sociedade, de forma ampla, mediante a realização de audiências públicas que possibilitem a análise de estudos econômicos, atuariais e demográficos completos, a fim de que se dê a devida transparência aos dados da Seguridade Social.

É necessário garantir a participação da sociedade no sentido de construir alternativas que venham melhorar o sistema de Seguridade Social e ampliar a sua abrangência, impedindo o retrocesso de direitos sociais.”

Fonte: CTB

Por rentabilidade, farmacêuticas demitem e trocam seus funcionários

A indústria farmacêutica observou aumento de faturamento e de unidades vendidas no ano passado, mas, pela primeira vez desde 2011, o número de pessoas empregadas no setor caiu.

 

O último trimestre foi o pior, com perda de 1.500 trabalhadores. O resultado do ano foi negativo em 107.

O saldo aconteceu por ajustes de pessoal nas divisões de vendas e no administrativo das empresas, segundo Nelson Mussolini, presidente do Sindusfarma (sindicato do segmento).

Na área de produção, houve um movimento de troca de trabalhadores com salários mais altos por novos contratados com remuneração mais baixa, afirma ele.

“Outras áreas da economia perderam bons profissionais. Tem sobra de gente qualificada na rua. A indústria farmacêutica substituiu trabalhadores com altos salários por outros, que estariam desempregados.”

As companhias venderam 4% a mais de remédios no ano passado, e 11% em receita total, mas têm enfrentado queda na rentabilidade por causa de aumentos de matéria-prima e de custos de produção, diz Mussolini.

“Quando as empresas passam por isso, fazem cortes. No passado, eles não aconteciam em pessoal porque não conseguiam repor gente do mesmo nível. Agora, elas conseguem fazer isso.”

Um eventual aquecimento do mercado de trabalho não deve influenciar as contratações do setor, mas seria favorável para as vendas, afirma.

Fonte: Folha de S.Paulo