CNS aponta que mais de R$ 3 bilhões em verba para a pandemia estão paradas

Segundo levantamento feito pela Comissão de Financiamento e Orçamento (Cofin) do Conselho Nacional de Saúde (CNS), o Ministério da Saúde possui R$ 3,4 bilhões desde maio e que ainda não foram utilizados para o combate à pandemia. O valor corresponde a parte do orçamento emergencial destinado ao Ministério da Saúde para ações de enfrentamento à Covid-19 no país.

 

 

Ainda segundo o CNS, R$ 74 milhões já foram perdidos por não terem sido destinados a tempo para nenhuma ação. O não emprego de tais recursos expõe a falta de coordenação e a necessidade de fortalecimento do SUS, com destaque para ações na Atenção Primária, em especial na Estratégia Saúde da Família, na Vigilância em Saúde e nas Redes de Atenção, como destaca o início da a campanha O Brasil precisa do SUS, da Frente pela Vida.

Leia e compartilhe a Carta ao Povo Brasileiro, da campanha O Brasil precisa do SUS

Por conta da publicação da matéria abordando a questão no jornal O Globo, o ministro da saúde, Eduardo Pazuello informou em nota que existe ainda a “possibilidade de execução integral dos saldos até o encerramento do exercício financeiro de 2020”. Além dos R$ 3,4 bilhões, o Ministério da Saúde tem outros cerca de R$ 2,2 bilhões não empenhados, ou seja, ainda sem destinação definida, também oriundos de MPs emergenciais. O total, portanto, é de R$ 5,6 bilhões, que corresponde a 12,8% dos créditos extraordinários liberados à pasta para a pandemia: R$ 44,2 bilhões.

Pazuello afirma ainda que o uso dos recursos ficarão para 2021, em medidas pactuadas com secretários estaduais e municipais de Saúde, na abertura e manutenção de leitos de UTI. Além disso, o ministro também aponta a realização de cirurgias eletivas que foram represadas pela pandemia, e nas ações para fazer a vacinação da Covid-19.

O Consultor do CNS, Francisco Fúncia, criticou a postura do Ministério e diz não haver justificativas plausíveis para o não investimento dos recurso: “Não é justificável, num cenário de emergência sanitária, em que há a abertura do crédito extraordinário com flexibilização de procedimentos administrativos para facilitar a execução, ficar seis meses sem usar o recurso”.

Fonte: Abrasco

O Brasil Precisa do SUS – Carta ao Povo Brasileiro

São mais de 170 mil brasileiras e brasileiros mortos pela pandemia de Covid-19 desde março. No país, a Covid-19 mata mais pessoas negras, pobres e se dissemina rapidamente entre trabalhadores de serviços essenciais e informais, assim como entre populações vulnerabilizadas. A desigualdade social e a desvalorização da vida serviram de terreno fértil para o vírus.

 

 

Leia, divulgue e junte-se a esta campanha – acesse o documento em PDF

Ações relevantes de enfrentamento, que deveriam ter sido lideradas pelo governo federal, foram sabotadas pelo presidente Jair Bolsonaro. A ausência de coordenação nacional, testes armazenados sem uso e recursos financeiros retidos são alguns exemplos. Essa desorientação propositada tem alimentado as mais altas taxas de mortalidade e letalidade da Covid-19 nas Américas, só comparáveis às dos Estados Unidos, Peru e Chile.

O presidente da república incentivou aglomerações, desarticulou medidas de proteção de populações vulneráveis, como os povos indígenas. Não existe plano para a futura vacinação, o que gera ansiedade e insegurança na população. Essas aberrações levaram à denúncia do governo Bolsonaro por crime contra a humanidade no Tribunal Penal Internacional, em Haia, Holanda.

Diante disto, coube aos governadores, prefeitos e secretarias municipais de saúde atuarem para minimizar a tragédia que a nação vive. O SUS, nosso Sistema Único de Saúde, demonstrou sua importância para o enfrentamento dos desafios impostos pela pandemia.

O SUS é base essencial para saúde e bem-estar da população. No entanto, precisa de recursos humanos, materiais e financeiros para conter a circulação do novo coronavírus. Precisa de coordenação uniforme, nacional, articulada, e medidas de segurança sanitária. Precisa de orçamento adequado. Os valores para 2021 são menores do que os de 2020 – menos 40 bilhões de reais! Sem orçamento suficiente, não poderá cumprir seu papel de cuidar e salvar vidas. 

É preciso investir na Atenção Primária, em especial na Estratégia Saúde da Família, na Vigilância em Saúde e nas Redes de Atenção para garantir medidas de prevenção, proteção, monitoramento de casos e seus contatos e assistência pelas equipes de saúde, atuando em suas comunidades. Ciência, tecnologia e inovação em saúde para laboratórios públicos, produção de equipamentos, fármacos, vacinas e material de proteção necessitam de investimento.

Responsabilidades pelas mortes e doenças evitáveis que ocorreram durante a pandemia devem ser apuradas. Ao mesmo tempo, reconhecer a grandeza do SUS, que salvou a vida de milhões de pessoas e poderá salvar ainda mais com estrutura e financiamento adequados.  A saúde do Brasil precisa do SUS. A economia do Brasil precisa do SUS. O povo brasileiro precisa do SUS forte, público, integral e universal. Defender o SUS é defender a vida. Junte-se a esta campanha. O Brasil Precisa do SUS.

Fonte: Abrasco

Em defesa da vida e do povo, CTB exige Vacinação Já!

Em sua última reunião no ano de 2020, realizada nos dias 17 e 18 de dezembro, a Direção Nacional da CTB celebrou os 13 anos da Central, fundada em 12 de dezembro de 2007, e aprovou a seguinte resolução política:

1- O Brasil chega ao final de 2020 castigado pela covid-19, o desemprego em massa e um governo irresponsável, negacionista e corrupto, que se comporta como um autêntico genocida. A doença ceifou a vida de 183.822 mil brasileiros e brasileiras até o dia 16 de dezembro. O número de óbitos voltou a crescer e as secretarias estaduais de saúde registraram no dia 16 de dezembro 968 mortes em 24 horas pela covid-19 sem contar SP. Significa que o país voltou ao patamar de mais de 1 mil mortes por dia. Mais de 7 milhões de pessoas já foram infectadas.

2- A tragédia sanitária não é uma fatalidade do destino, mas o resultado inevitável da inação e do negacionismo do presidente Jair Bolsonaro, razão pela qual ele foi denunciado pela ABJD (Associação Brasileira de Juristas pela Democracia) no TPI (Tribunal Penal Internacional) por crime contra a humanidade e sua política foi classificada de homicida pela Sociedade de Medicina e Cirurgia do Rio de Janeiro. Não por acaso o Brasil hoje ocupa a segunda posição no ranking dos países com mais óbitos por covid, atrás dos EUA e à frente da Índia. Os três campeões são governados por líderes da extrema direita que negligenciaram a letalidade da doença.

3- Refletindo o avanço e as conquistas da ciência, associada à concentração de esforços e recursos para combater o mal, vacinas foram desenvolvidas e testadas em tempo recorde, demonstraram notável eficácia e já estão sendo aplicadas na China, nos EUA, na Rússia e Inglaterra. Muitas outras nações, entre elas a vizinha Argentina, já compraram a vacina e devem iniciar sua aplicação ainda neste mês.

4- Em contraste, o Brasil não tem sequer um plano e uma logística de imunização. Jair Bolsonaro estimula a propagação de Fake News contra a vacina, abriu uma guerra bizarra contra governadores e faz de tudo que está ao seu alcance para sabotar a imunização, inclusive exigir a assinatura de um termo de responsabilidade de quem vai ser vacinado. Corremos o risco de ficar no fim da fila da vacinação e o preço será pago em vidas humanas.

5- A conduta insana do líder da extrema direita brasileira desperta forte indignação em amplos setores da sociedade brasileira, que se mobilizam em todo o território nacional para exigir Vacinação Já!

6-  A classe trabalhadora é a principal vítima da pandemia, à qual ficou mais exposta e vulnerável, assim como do desemprego em massa e da queda ou mesmo perda total da renda. Por esta razão, a Direção Nacional da CTB orienta dirigentes e militantes classistas a ocuparem a linha de frente das batalhas pela vacinação imediata, prorrogação do auxílio emergencial e um plano de combate ao desemprego ancorado nos investimentos públicos.

7- A pandemia evidenciou a importância do Sistema Único de Saúde (SUS) e da luta popular pelo seu fortalecimento.

8- De mãos dadas com a crise sanitária caminha a depressão das economias e, em seu rastro, a devastação dos mercados de trabalho. Centenas de milhões de empregos foram destruídos no mundo.

9- No Brasil a taxa de desocupação aberta do IBGE subiu a 14,4%, batendo novo recorde histórico. Mais da metade da população em idade ativa não tem ocupação, o que traduz um desperdício colossal de forças produtivas e um sofrimento imensurável das camadas mais pobres e vulneráveis da nossa classe trabalhadora.

10- A aprovação do auxílio emergencial no Congresso amenizou a situação social e impediu um mergulho mais profundo da economia na recessão, mas teve seu valor reduzido à metade pelo governo e sua vigência expira neste mês. Em aliança com as outras centrais, a CTB luta pela prorrogação do benefício enquanto perdurar a pandemia e o desemprego em massa, bem como pelo resgate do valor original de R$ 600,00.

11- Em meio às adversidades e à crise é preciso destacar algumas notícias positivas, como a vitória do MAS na Bolívia, a convocação de uma Assembleia Nacional Constituinte exclusiva e com composição paritária de gênero no Chile, a derrota do republicano Donald Trump nos EUA a aprovação de um imposto extraordinário sobre grandes fortunas na Argentina, a vitória eleitoral das forças progressistas na Venezuela e Uruguai.

12- Este conjunto de acontecimentos sinaliza o enfraquecimento da onda conservadora que invadiu o continente americano nos últimos anos e uma mudança na direção dos ventos políticos. Atesta também a falência do neoliberalismo, que só produz miséria social e estagnação econômica.

13- No Brasil, em meio ao turbilhão de notícias ruins é preciso ressaltar a vitória na aprovação e regulamentação do Fundeb e a derrota no Senado das manobras de políticos privatistas e bolsonaristas para desviar recursos do fundo para escolas privadas, igrejas e o Sistema S. 

14- A conjuntura internacional também foi marcada pelo acirramento do conflito entre EUA e China pela liderança econômica e geopolítica do mundo, duelo destinado a ter um papel determinante nos movimentos da diplomacia internacional ao longo das próximas décadas.

15- As eleições realizadas em 15 e 29 de novembro (segundo turno) revelaram o esvaziamento da bolha bolsonarista que, em 2018, resultou na eleição de vários governadores e parlamentares, além do próprio presidente, com uma massa apreciável de votos para candidatos da extrema direita. A maioria dos candidatos apoiados diretamente por Bolsonaro foi derrotada no pleito, que por outro lado resultou num expressivo avanço do DEM e outras legendas de direita e centro-direita abrigadas no chamado Centrão.

16- A derrota dos candidatos de Bolsonaro reflete o descontentamento popular com o rumo obscurantista e reacionário do governo, que se verifica especialmente nas regiões metropolitanas e no seio da juventude.

17- Outro fato notável do pleito, que merece reflexão mais aprofundada, foi o nível recorde de abstenção que em média alcançou 29,5% do eleitorado no segundo turno. Embora influenciado pela pandemia do coronavírus, o fenômeno reflete o desalento e a despolitização massiva no seio do povo brasileiro, além da forte presença e participação da milícia no processo eleitoral em muitos municípios, principalmente cariocas.

18- Embora desgastado, Bolsonaro e o bolsonarismo ainda contam com uma base política e social apreciável e que não deve ser subestimada. Além disto, o capitão reformado fez uma repactuação com o Centrão e agora entrou na disputa pela Presidência da Câmara Federal. É preciso observar ainda que a política de restauração neoliberal está em sintonia com os interesses das classes dominantes e tem amplo respaldo no seio da grande burguesia nacional e estrangeira.

19- O governo persiste na política de Estado mínimo, fundada na contenção dos investimentos públicos, privatizações e entrega do patrimônio do povo aos grandes capitalistas, sobretudo estrangeiros. Ataca o funcionalismo e os serviços públicos com sua proposta de reforma administrativa. Quer impor a chamada carteira verde e amarela, permitindo contratação à margem da CLT.

20- Em unidade com as outras centrais, os movimentos sociais e as forças progressistas a CTB defende uma política econômica oposta ao neoliberalismo e que supõe a revogação da EC 95 e o fim do nefasto congelamento dos dispêndios públicos; o aumento substancial dos investimentos públicos em infraestrutura, saúde, educação, ciência e habitação; a ampliação do crédito e do apoio aos pequenos empreendedores e aos agricultores familiares; auditoria da dívida pública e uma reforma tributária progressiva com redução da participação dos impostos indiretos na carga, aumento progressivo das alíquotas do imposto sobre herança e taxação das grandes fortunas e das remessas ao exterior de lucros e dividendos, correção da tabela e  mudança das alíquotas do IRPF. 

21- Sem a ampla mobilização da classe trabalhadora e do conjunto das forças democráticas e populares não será possível evitar novos retrocessos. Devemos intensificar as lutas em defesa dos interesses e direitos da classe trabalhadora, do patrimônio público e contra as privatizações e a reforma administrativa de Paulo Guedes, acumulando forças para derrotar Bolsonaro e abrir caminho para um novo projeto de desenvolvimento nacional, com democracia, soberania e valorização do trabalho.

22- A Direção Executiva da CTB deseja um final de ano feliz para as lideranças classistas e o conjunto da classe trabalhadora brasileira ao mesmo tempo em que reitera a necessidade de intensificar a resistência e a luta contra o retrocesso.

Fonte – CTB

Já está na hora de alterar o contrato intermitente de trabalho, por Marcos Verlaine*

Há 3 anos em vigor, a Reforma Trabalhista (Lei 13.467, sancionada em julho de 2017) — começou a viger em 11 de novembro de 2017 —, trouxe profundas e devastadoras alterações na CLT (Consolidação das Leis do Trabalho), que prejudicou largamente os trabalhadores.

 

 

Diante desse cenário de precarização explícita das relações de trabalho, já está na hora de promover mudanças nesse marco legal. Matéria do G1, veiculada na semana passada, mostra que em 2 anos dobrou essa modalidade de contratação. Assim, é preciso aperfeiçoa-la.

É o caso do contrato intermitente de trabalho, introduzido nas relações laborais, a partir do novo marco legal instituído pela Reforma Trabalhista. Pelo contrato intermitente, o trabalhador não tem vínculos com a empresa e só recebe quando é convocado para trabalhar e o pagamento fica restrito apenas às horas trabalhadas.

‘Salário’ aviltante

Por meio de denúncias nas redes sociais veio à público que rede de supermercados oferece vagas de operador de caixa intermitente, com pagamento de apenas R$ 4,81, a hora/trabalho, com jornada de 4 horas e 6 dias por semana.

Assim, o empregador paga salário de (pasmem!) R$ 115,44 por mês, sem direito à tíquete, pois a alimentação é feita na empresa.

Com esse tipo de contrato de trabalho, nesse formato, com os valores oferecidos acima, o empregador poderá contratar 5 empregados — para fechar o mês — e pagar apenas R$ 577,20. Ou seja, pouco mais que metade de 1 salário mínimo — R$ 1.040. E está se falando aqui de setor da economia que não foi afetado pela pandemia. Pelo contrário!

Por óbvio, isto é mais que absurdo e precisa mudar. Há que se estabelecer regras mais adequadas e equilibradas para contratação, como acontece, por exemplo, na Itália, Portugal e Alemanha.

Movimento Sindical

Mais que denunciar, cabe ao movimento sindical, em articulação com o Congresso Nacional, propor alterações concretas na lei. É preciso negociar com todos os atores políticos e sociais, a fim de produzir mudanças nesse cenário de terra arrasada que a Reforma Trabalhista produziu para os trabalhadores e o movimento sindical, desde que a lei entrou em vigor.

O melhor cenário seria revoga-la na íntegra, mas na impossibilidade de se fazer isso, já que a correlação de forças no Congresso não permite, é necessário ir alterando pontualmente essa lei draconiana.

Este alerta não é novo. Já identificamos outras fissuras na lei que têm causado perdas para os trabalhadores, como é o caso do fim da obrigatoriedade da homologação da rescisão do contrato de trabalho no sindicato.

Ação sindical nacional

O movimento sindical, além das denúncias que precisam ganhar além das redes sociais, mas também os outros meios tradicionais de comunicação, necessita articular com os poderes, a fim de alterar esse quadro.

Essa articulação passa pelo Congresso Nacional, com os líderes partidários (todos), bem como os presidentes das 2 casas legislativas — Câmara e Senado. E deve chegar aos outros representantes de poderes.

É preciso dialogar com o governo, com a corte trabalhista (TST) e os empresários, com o propósito de negociar novo texto legal para alterar essa aberração produzida, e que necessita de mudanças urgente, pela Reforma Trabalhista.

Com a palavra e ação, o movimento sindical!

(*) Jornalista, analista político e assessor parlamentar licenciado do Diap

Fonte, DIAP

Produção legislativa: derrotas e vitorias dos trabalhadores

Neste ano legislativo, houve 360 votações nominais, com registro do voto de cada parlamentar no plenário da Câmara. Dessas, 241 foram de proposições principais ou acessórias, em grande maioria, os chamados DVS (Destaques de Votação em Separado), e 119 foram procedimentais, como requerimentos utilizados para obstruir votações no plenário da Casa. Leia no artigo de Neuriberg Dias*.

 

 

O balanço da produção legislativa no Congresso Nacional — Câmara dos Deputados e Senado Federal — tendo como parâmetro o início da vigência, em 20 de março do Decreto 6/20, que reconheceu o estado de calamidade pública em todo o País para facilitar a adoção de medidas emergências e temporárias para enfrentamento do novo coronavírus (Covid-19) foi menor na quantidade e maior na qualidade, em relação a 2019.

Nesse período de pandemia, foram transformadas em lei 134 propostas aprovadas pelo Congresso Nacional, sendo 127 leis ordinárias sancionadas, 4 leis complementares e 3 emendas constitucionais. Dentre essas, destaque para a predominância do Poder Executivo, que teve a autoria de 83 ou 62% das leis incorporadas ao ordenamento jurídico. E 51 ou 38% foram de iniciativa do Poder Legislativo.

 

No primeiro semestre de 2020, o Poder Legislativo foi o protagonista nas inciativas de leis, porém, no segundo, foram aprovadas 49 leis, que versam sobre Orçamento, além da conversão de medidas provisórias em leis, prerrogativas exclusivas do presidente da República, levando a aprovação de mais leis do Executivo. Em resumo, o Legislativo manteve independência em relação ao Executivo.

Além dos projetos sobre orçamento, são exemplos de iniciativa do Executivo a Lei 14.040/20, que estabelece normas educacionais excepcionais a serem adotadas durante a pandemia, a Lei 14.041/20, que dispõe sobre a prestação de apoio financeiro pela União aos estados, ao Distrito Federal e aos municípios.

Como exemplo de iniciativa dos parlamentares, citam-se a Lei 13.982/20, que institui a renda mínima de R$ 600 mensais durante a pandemia, a Lei 13.999/20, que cria linhas de crédito para ajudar as micro e pequenas empresas, as EC 108/20, que dispõe sobre o Fundeb e 106/20, que autorizou o chamado orçamento de guerra que é um dos pilares dos pacotes aprovados pelos parlamentares, que autorizou o governo a gastar sem limites com objetivo de ajudar:

1) saúde, liberação de recursos para o atendimento de toda a população;
2) pessoas, com a ajuda social para as pessoas de R$ 600, por 3 meses, prorrogáveis; empresas, com a suspensão de alguns tributos e empréstimos a juros baixos;
3) empregos, com a ajuda emergencial em caso de suspensão do contrato ou redução de jornada, bem como ajuda com renda emergencial mensal aos trabalhadores da cultura; e
4) governos estaduais e prefeituras, com ajuda financeira para enfrentar a pandemia e compensar perdas de arrecadação.

Iniciativas legislativas do governo

Neste ano legislativo, houve 360 votações nominais, com registro do voto de cada parlamentar no plenário da Câmara. Dessas, 241 foram de proposições principais ou acessórias, em grande maioria, os chamados DVS (Destaques de Votação em Separado), e 119 foram procedimentais, como requerimentos utilizados para obstruir votações no plenário da Casa.

No computo geral, o governo ganhou mais que perdeu, conforme aponta levantamento feito pelo DIAP. No total — 241 votações classificadas, excluídas 14 em que houve a liberação da bancada —, o governo ganhou em 224 ou 93% das votações que foram seguidas pela orientação palaciana no plenário da Câmara.

E perdeu somente em 17 votações com destaque para a apreciação do PLP 149/19, do Poder Executivo, conhecido como plano Mansueto, com regras de equilíbrio fiscal, que em função da pandemia, os parlamentares transformaram no auxílio emergencial para socorrer estados e municípios.

Os números refletem mais o consenso dos partidos na maioria das votações nominais pela iniciativa, pertinência temática ou circunstancial da pandemia, do que fidelidade à orientação de governo e poder de agenda dada a falta de articulação de uma base que dificultou a tramitação de sua agenda até agora.

Ao promover mudanças nas lideranças e apoiar o candidato do “Centrão”, deputado Arthur Lira (PP-AL), na disputa para a presidência da Câmara, o governo tenta melhorar o seu poder para construção de uma agenda no Congresso para os próximos 2 anos.

Vitórias e derrotas

A pressão para manter 100% dos recursos do Fundeb para a rede pública na votação do PL 4.372/20, que regulamenta o Fundeb (Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação), representou uma vitória relevantes para os trabalhadores, sobretudo os da Educação, no Congresso.

Identifica-se como derrota, nesta reta final de esforços antes do recesso, a aprovação do PLP 101/20, que mudou as regras para os estados refinanciarem suas dívidas em troca de medidas de ajuste fiscal como a aplicação do Teto de Gastos. A matéria ainda aguarda sanção presidencial.

Para melhor compreender toda agenda indicada para votação, desde o início da sessão legislativa em 2020, o DIAP sistematizou placar com vitorias e derrotas, sendo totais ou parciais, nas 12 principais propostas de interesse dos trabalhadores da iniciativa privados e do setor público examinadas pelo Congresso Nacional.

Vitória dos trabalhadores

1) Contribuição Sindical – MP 873/19 – não foi votada pelas 2 Casas do Congresso — Câmara e Senado —, teve seu prazo de validade expirado em 28 de junho de 2019. A medida, publicada em 1º de março, reforçava as mudanças já determinadas pela Reforma Trabalhista (Lei 13.467/17) ao tentar impedir o desconto em folha da contribuição sindical, que passaria a ser feita por boleto bancário encaminhado à residência do empregado ou à sede da empresa.

2) Liberdade Econômica – MP 881/19 – transformada na Lei 13.874/19, conhecida como Lei da Liberdade Econômica, teve durante sua tramitação mudanças na tentativa de introduzir a autorização do trabalho aos domingos e feriados, sem necessidade de permissão prévia do Poder Público e a revogação da Lei 4.178/62, que veda a abertura de bancos e outros estabelecimentos de crédito aos finais de semana. Portanto, ameaçava a jornada de trabalho dos bancários, que garante folga aos sábados.

3) Carteira de Trabalho Verde e Amarela – MP 905/19 – publicada em 12 novembro, além de instituir o Contrato de Trabalho Verde e Amarelo, buscava implementar nova reforma trabalhista, com diversas alterações e inovações relevantes também nas legislações previdenciária e tributária. Aprovada na Câmara dos Deputados, e sem consenso no Senado, a MP caducou em 20 de abril de 2020.

4) Manutenção do Emprego e da Renda – MP 936/20, convertida na Lei 14.020/20, diferentemente do texto original enviado pelo governo, durante a tramitação na Câmara e no Senado, foi aprovada com mudanças relevantes nas regras que permitiram melhorar a participação dos sindicatos nos acordos e convenções coletivas e na compensação para os trabalhadores da redução de salários e da jornada de trabalho ou da suspensão do contrato de trabalho durante o estado de calamidade pública relacionada ao coronavírus.

5) Contratação Temporário no Serviço Público – MP 922/20 buscava ampliar regras de contratação temporária no Serviço Público, perdeu a validade em 29 de junho de 2020. O texto da MP permitia a contratação dos servidores para várias áreas como, por exemplo, para contratação de professores substitutos e o suprimento de demandas excepcionais para aperfeiçoamento de médicos na área de atenção básica em saúde em regiões prioritárias para o SUS (Sistema Único de Saúde).

6) Participação dos trabalhadores no FAT e Caixa Econômica Federal como operador do FGTS – MP 889/19, convertida na Lei 13.932/19 foi aprovada permitindo aos trabalhadores com contas vinculadas no FGTS 1 saque imediato de até R$ 500. Criou o saque-aniversário e autorizou outras medidas relativas à gestão e aplicação dos recursos do FGTS. Mas pela pressão dos trabalhadores foi possível derrotar a intenção do governo e do relator de retirar a Caixa como gestora exclusiva do Fundo e de acabar com a participação dos trabalhadores no Condefat (Conselho Deliberativo do Fundo de Amparo ao Trabalhador).

7) Fatiamento da Caixa Econômica Federal – MP 995/20 – caducou. Permitia que o governo criasse novas subsidiárias a partir das já existentes e as negociasse livremente no mercado. Foi classificada como uma das principais ameaças à manutenção da Caixa 100% pública.

8) Constitucionalização e regulamentação do Fundeb – Senado aprovou e Câmara confirmou a manutenção de 100% dos recursos do Fundeb para a rede pública na votação do PL 4.372/20, convertido na Lei 14/113/20, que regulamentou o Fundeb (Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação). Ante a EC 108/20, foi uma importante vitória com sua promulgação que tornou permanente e constitucional o principal fundo de financiamento da educação pública no Brasil.

Derrota dos trabalhadores

1) Extinção do Mistério do Trabalho e Emprego – extinção do MTE por meio da MP 870/19, convertida na Lei 13.844/19, reorganizou a estrutura administrativa do governo federal, conforme vinha anunciando o presidente durante o período de transição de governo. Foi publicada em edição extra do Diário Oficial da União, no dia 1º/01/19.

2) Reforma da Previdência – aprovada no Congresso, tramitou como PEC 6/19. Foi promulgada como Emenda à Constituição 103, que mesmo com mudanças importantes que afetavam as pessoas mais vulneráveis, trabalhadores rurais e professores, dentre outros aspectos, a reforma trouxe enormes retrocessos, com a perda de direitos tanto para os trabalhadores e servidores, quanto para aposentados e pensionistas ao pedir o benefício previdenciário.

3) Congelamento do salário dos servidores – veto ao PLP 39/19, que condicionou a ajuda à estado e municípios à proibição de aumento para servidores até 2021. Deputados e senadores incluíram no texto, a possibilidade de excetuar algumas carreiras, entre essas, a de Saúde e Segurança, mas o presidente vetou esse. O Congresso manteve o veto do presidencial.

4) Teto de Gastos para estados e municípios – aprovado o PLP 101/20, que mudou as regras para os estados refinanciarem suas dívidas em troca de medidas de ajuste fiscal, como a aplicação do Teto de Gastos. A matéria ainda aguarda sanção presidencial.

(*) Jornalista, analista político, assessor técnico do Diap licenciado e sócio-diretor da Contatos Assessoria Política.

Ato Público: CNS e outras instituições cobram instalação de comissão no Congresso que definirá orçamento para 2021

O Conselho Nacional de Saúde (CNS) participou, nesta terça-feira (17/11), de um ato público virtual para pressionar parlamentares a instalarem a Comissão Mista de Orçamento (CMO), composta por deputados e senadores. Esta comissão é uma das mais importantes do Legislativo, responsável por analisar os projetos da Lei Orçamentária Anual (LOA) e da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), que estabelece os parâmetros do orçamento para 2021.

 

 

A formação da CMO tem sido sucessivamente adiada por falta de acordo entre as lideranças do Congresso para a distribuição de vagas e presidência da Comissão. O atraso e a indefinição prejudicam a participação social e a integridade dos serviços públicos em 2021.

O ato foi realizado pela Coalizão Direitos Valem Mais, uma articulação que reúne mais de duzentas redes, plataformas, fóruns, conselhos nacionais de direitos, instituições acadêmicas, associações de gestores e entidades empresariais. Na ocasião, foi lançado um manifesto público pela instalação urgente do processo orçamentário do ano que vem, com condições adequadas para a participação da sociedade civil.

“O atraso e a indefinição decorrentes de disputas internas do Congresso vêm gerando prejuízos à participação social e podem comprometer a manutenção dos serviços públicos em 2021. A não instalação do processo orçamentário até o momento poderá abrir espaço para adoção de medidas autoritárias e aligeiradas de aprovação do Orçamento no Congresso, em um contexto marcado por gravíssima crise sanitária associada à crise econômica”, consta no documento.

Para o presidente do CNS, Fernando Pigatto, a demora para formação da Comissão pode agravar ainda mais a crise sanitária que o Brasil enfrenta, causada pela pandemia da Covid-19. “Esta é uma ação que precisamos intensificar para garantir recursos para o SUS, porque é o SUS que tem salvado vidas nesta pandemia. Já lançamos uma petição pública pela manutenção do piso emergencial para a Saúde em 2021, de mais de R$ 35 bilhões. É urgente que este cronograma de orçamento do ano que vem seja apresentado à sociedade”, afirma.

Pressão popular

O ato público “Brasil na pandemia: por um orçamento que proteja a população e o meio ambiente” teve a participação de diversas representações sociais das áreas de Assistência Social, Saúde, Educação, Segurança Alimentar, Meio Ambiente, Direitos das Mulheres, Igualdade Racial, Direitos Indígenas, Infância e Adolescência, Ciência e Tecnologia, entre outros.

“Nesse momento, este ato político demarca nossa posição para um orçamento que possa dar conta dos enfrentamentos que esta pandemia está nos convocando a todos”, afirma Jolúzia Batista, que compõe a coordenação colegiada da Plataforma Dhesca.

“A instalação dessa comissão é garantia de vida, porque não podemos compreender o direito dos povos indígenas sem imaginar que isso dependa do orçamento. Há uma diminuição enorme de recursos que deixam nossas comunidades em uma situação muito delicada. Não ter ainda uma comissão instalada para discutir orçamento é chegar à beira do caos”, avalia Kâhu Pataxó, representante do Movimento Unido dos Povos e Organizações Indígenas da Bahia (Mupoiba).

Apoio no parlamento

Parlamentares alinhados às propostas defendidas pela Coalizão Direitos Valem Mais também participaram do ato político, entre eles Afonso Florêncio, Nilto Tatto, Talíria Pertone, Jandira Feghali, Glauber Braga, Maria do Rosário e Padre João.

“Vivemos um momento que se consolida a ideia de avanço nas reformas neoliberais, que aumentarão ainda mais o desemprego, a concentração de renda e a miséria. Para enfrentar essa realidade, precisamos de recursos nas áreas sociais e é isso o que está em disputa. O fato de não colocar em funcionamento a CMO, que é a base para se fazer essa disputa, talvez seja a luta principal neste momento”, avalia o deputado Nilto Tatto.

“Vou pressionar também para que se instale essa comissão. Espero que a gente consiga democratizar o debate econômico e apresentar saídas que tirem o Brasil de um cenário de país continental mas com profunda desigualdade social, que infelizmente se expressam também na desigualdade racial e de gênero”, afirma a deputada Talíria Petrone.

A CMO é composta por 42 parlamentares titulares, sendo 31 deputados e 11 senadores. O cálculo para preenchimento das vagas, por bloco e partido, considera dados de fevereiro de 2019, que estão sendo questionados agora.

Conheça o manifesto

Confira o ato público Brasil na pandemia: por um orçamento que proteja a população e o meio ambiente

Fonte: SUSConecta

OMS declara 2021 Ano Internacional dos Trabalhadores de Saúde e Cuidadores

Os Estados membros na 73ª Assembleia Mundial da Saúde (AMS), realizada virtualmente nos dia 18 e 19 de maio e retomada de 9 a 14 de novembro deste anos, reconheceram a dedicação e o sacrifício de milhões de profissionais de saúde e cuidados na vanguarda da pandemia Covid-19 e, por unanimidade designaram 2021 como o Ano Internacional dos Trabalhadores de Saúde e Cuidados (YHCW) .

Estados-membros e atores não estatais, em uníssono, falaram sobre o papel crítico dos profissionais de saúde e cuidados para garantir nossa saúde e prosperidade. Eles enfatizaram a urgência e o imperativo de abordar os desafios persistentes dos profissionais de saúde.

Como parte do aniversário de dez anos e da revisão do Código de Prática Global da OMS para o Recrutamento Internacional de Pessoal de Saúde, a AMS discutiu a crescente escala da migração internacional de profissionais de saúde. Os Estados Membros reconheceram a alta relevância do Código, particularmente no contexto da Covid-19, e pediram sua implementação reforçada.

Além disso, os Estados Membros expressaram compromisso com os princípios e práticas éticas do Código, recomendando priorização do apoio e salvaguardas aos países com maior vulnerabilidade, incluindo maior investimento.

O Código foi identificado como um instrumento regulatório líder e universalmente reconhecido sob a administração da OMS e, como tal, os Estados Membros solicitaram à OMS e aos parceiros de desenvolvimento que fortaleçam seu financiamento, implementação e monitoramento.

No início da semana, em seu discurso na AMS, Sua Alteza Real, a Princesa Muna da Jordânia, lembrou-nos que aplausos sem ação não são mais aceitáveis e exortou os Estados-membros a investirem na saúde, nos sistemas de saúde e nos profissionais de saúde.

A 73ª Assembleia Mundial da Saúde, por meio de sua decisão de fortalecer a implementação do Código e designar 2021 como os YHCWs, reflete uma visão coletiva sobre a força de trabalho de saúde e cuidados. A Secretaria também foi solicitada a atualizar as Orientações Estratégicas sobre Enfermagem e Obstetrícia e submetê-las à 74ª Assembleia para consideração.

Refletindo imediatamente após a decisão da Assembleia, Jim Campbell, Diretor do Departamento de Força de Trabalho de Saúde na sede da OMS, declarou: “A decisão de hoje dá uma direção clara sobre o consenso e as ações necessárias na força de trabalho de saúde e cuidados. A OMS exorta todos os Estados Membros, Instituições de Financiamento Internacional, Iniciativas Globais de Saúde e parceiros a investirem na prontidão da força de trabalho de saúde, educação e aprendizagem para controlar a pandemia, manter os serviços de saúde e se preparar para uma vacina COVID-19 ”.

Em todo o mundo, a Covid-19 já contaminou mais de 51 milhões de pessoas causando pelo menos 1,2 milhão de mortes. As Américas é uma das regiões mais afetadas e notificaram somente na semana passada 150 mil novos casos.

Na América do Sul: Chile, Paraguai e Uruguai conseguiram achatar a curva de contaminação. Mesmo assim, o vírus continua uma ameaça.  A OPAS disse que vários países da Europa, que passam por uma segunda onda de contaminação, devem servir de exemplo para as nações latino-americanas e caribenhas.

O vice-diretor da OPAS voltou a afirmar que para controlar o vírus é preciso manter o sistema de vigilância que detectam as altas nos casos da Covid-19 e as medidas de prevenção como uso de máscaras, distanciamento social, medidas de higiene e outros protocolos.

Fotos/Ilustrações: 

OMS Síria: Os trabalhadores de saúde têm um papel fundamental em assegurar saúde e bem-estar para a população.

Fonte: 

OMS

Pandemia amplia desigualdade racial no trabalho, aponta Dieese

O Dia da Consciência Negra, celebrado em 20 de novembro (sexta), se aproxima e o cenário não é nada animador. A persistente desigualdade entre negros e brancos no mercado de trabalho ficou ainda mais acentuada durante a pandemia da Covid-19.

 

 

Homens e mulheres negros sentiram, de forma mais grave, os danos do isolamento e da redução do nível de atividade econômica. É o que revela o Boletim Especial do Dieese, baseado em pesquisa do IBGE.

Os dados mostraram que mais de 6,4 milhões de homens e mulheres negros saíram do mercado de trabalho, entre o 1º e o 2º trimestre de 2020. Ou seja, perderam ou deixaram de procurar emprego por acreditar não ser possível conseguir nova colocação. Entre os brancos, o número de pessoas nessa mesma situação chegou a 2,4 milhões.

Segundo José Silvestre Prado de Oliveira, diretor do Dieese, os dados revelam uma piora das condições dos negros no mercado de trabalho, seja do ponto de vista da taxa de desemprego, fechamento de postos de trabalho ou em relação à remuneração.

A desigualdade é ainda maior quando comparada a remuneração da mulher negra com a do homem branco. “No segundo trimestre de 2020, o salário médio do homem branco ficou em torno de R$ 3.450,00. Enquanto da trabalhadora negra foi de R$ 1.575,00, em média”, afirma o diretor do Dieese.

Silvestre lembra que políticas de cotas ou ações afirmativas, estabelecidas nos governos Lula e Dilma, visavam diminuir essa desigualdade. “Mas infelizmente, no governo atual temos um comportamento odioso em relação à população negra. A escolha de Sérgio Nascimento de Camargo para a presidência da Fundação Cultural Palmares reflete essa postura”. Nas redes sociais, Sérgio minimizou o racismo no País.

Para Mônica Custódio, secretária de Promoção da Igualdade Racial da CTB, o movimento sindical deve atuar pra combater esse problema histórico. “A pandemia só piorou um problema existente. E as Centrais têm o poder de trazer para a pauta sindical essa conscientização, que vai além da questão econômica. Só através do combate ao racismo conseguimos mudar essa desigualdade cada vez mais presente em nosso País”, completa.

Dieese – Clique aqui e baixe o Boletim da Desigualdade.

Fonte: Agência Sindical

Ações de laboratórios que desenvolvem candidatas a vacina disparam mesmo sem eficácia comprovada

Várias empresas do setor registram fortes altas após divulgarem seus avanços à imprensa, mas sem publicar todos os dados necessários. Venda de ações que estavam nas mãos de diretores da Pfizer e Moderna alimenta as dúvidas

 

 

A pandemia mostrou que não é preciso provar a eficácia de uma vacina para aumentar em dezenas de milhões de dólares as cotações dos principais envolvidos. O exemplo mais recente é o da Pfizer e o anúncio de que sua vacina contra a covid-19 tem eficácia “superior a 90%”. No mesmo dia, o principal executivo dessa multinacional norte-americana, Albert Bourla, embolsou mais de 30 milhões de reais vendendo ações da empresa que tinha em sua carteira. Em maio, vários executivos da Moderna fizeram operações semelhantes num valor superior a 480 milhões de reais, enquanto a companhia subia com força na Bolsa. Ainda não há certeza de que estas imunizações sejam efetivas.

Há pouco mais de uma semana, na manhã de segunda-feira, as Bolsas comemoravam com alvoroço o comunicado da Pfizer: o índice espanhol Ibex, por exemplo, registrou sua maior alta em uma década, os operadores estouravam champanhe nos dois lados do Atlântico, e a própria Pfizer subia 8%. A companhia já está fechando contratos milionários para vender sua vacina a vários países, mas o fato é que a única prova pública de sua eficácia é um comunicado de imprensa da própria companhia, que não responde a perguntas fundamentais: a vacina evita a covid-19 grave? Quantos vacinados adoeceram? Essa injeção será capaz de salvar a vida de idosos, os mais ameaçados pelo novo coronavírus?

O valor de mercado da também norte-americana Moderna disparou em relação ao começo do ano depois que a empresa anunciou bons dados da sua vacina contra o coronavírus através de comunicados de imprensa, meses antes da publicação de estudos científicos detalhados que possam sustentar essas afirmações. Nesta segunda-feira a história se repetiu: euforia nas Bolsas após um anúncio alentador sobre a efetividade de seu projeto (94%), mas também sem um aval científico além do press release da própria companhia. Só agora a Agência Europeia de Medicamentos começará a revisar os primeiros resultados.

Após um ano e meio de comportamento plano na Bolsa desde sua estreia no pregão, o valor das ações da Moderna agora quase quintuplicou. Tudo ao calor de sua vacina, ainda experimental. Em maio, quando a empresa com sede em Cambridge (Massachusetts) anunciou resultados preliminares positivos da fase 1 de sua imunização, seu valor de mercado subiu 20% em apenas uma jornada. Dois meses depois, quando anunciou que a vacina passaria à última fase de ensaio, a alta semanal foi de 50%, batendo um novo recorde histórico. Seu presidente, seu executivo-chefe e seus diretores técnico e médico aproveitaram a ocasião para se desfazer de boa parte de seus pacotes de ações, com remunerações milionárias.

Para evitar acusações de uso de informação privilegiada, essas operações precisam ser planejadas com antecedência e evitar qualquer vinculação com um negócio em andamento. Mas casos como o de Bourla na Pfizer levantam suspeitas. Há razões para pensar que não seja assim: um estudo de 2006 analisou 3.000 transações desse tipo e demonstrou que os executivos vendem sempre logo antes de as ações desmoronarem nas Bolsas, ou logo depois de uma alta. Outra análise, das universidades Harvard e Columbia sobre a base de mais de 40.000 movimentações do gênero entre 2004 e 2014, demonstrou que os executivos obtêm lucros acima do normal neste tipo de operação.

“É inaceitável que o principal diretor de uma empresa ganhe tanto dinheiro no mesmo dia que se faz um anúncio tão vago, sem que saibamos detalhes sobre a eficácia da vacina”, opina Marcos López Hoyos, presidente da Sociedade Espanhola de Imunologia. “Habitualmente um anúncio assim exige muitos mais dados sobre efetividade, isto é inédito. O pior é que estas operações dão combustível aos antivacinas, porque parece que seu desenvolvimento é só negócio, e não ciência, quando não é assim”, acrescenta. No mundo financeiro também há muitas dúvidas. “Estas movimentações mandam uma mensagem contraditória e chocante”, opina Ana Gómez, analista da consultoria Renda 4. “Isto sim me abala: o timing é o pior possível. É preocupante”, acrescenta Enrique Zamácola, diretor de renda variável da Link Securities.

O EL PAÍS perguntou às direções da Pfizer e da Moderna se consideram que operações desse tipo, embora totalmente legais, são éticas. Ambas se limitaram a responder que os planos de venda de ações são fechados com meses de antecedência e se ajustam às normas dos reguladores. A Moderna, além disso, acrescenta que todos os seus diretores aceitaram não vender mais pacotes de ações desta forma enquanto os ensaios de sua vacina não terminarem e a empresa não apresentar sua solicitação de aprovação. Fontes da Pfizer afirmam que os dados revelados nesta semana correspondem à primeira análise intermediária de resultados feitos por um comitê independente, e que a companhia planeja publicar os dados detalhados do ensaio em uma revista científica com revisão por especialistas independentes.

Também o laboratório Gilead (EUA) se tornou um dos nomes do ano na imprensa e nos pregões graças ao anúncio do seu polêmico fármaco remdesivir. Mas, nesse caso, as conclusões tiveram menos reflexo na Bolsa: após o aquecimento vivido na primeira metade de 2020, sua ação hoje está inclusive mais barata do que em 1º de janeiro. Os ensaios clínicos mostram que este fármaco não salva vidas de infectados, só reduz o tempo de internação de alguns pacientes. Mas isso não impediu que a empresa fechasse acordos milionários de venda do remdesivir, por exemplo com a União Europeia, onde espera distribuir até meio milhão de doses a cerca de 2.000 euros (12.870 reais) por paciente.

O acordo foi fechado dias antes de a Organização Mundial da Saúde (OMS) anunciar que, segundo seus dados, o remdesivir não salva vidas nem influencia na duração da internação. A empresa questiona a confiabilidade do estudo do organismo e está realizando novos ensaios clínicos para esclarecer efeitos de seu fármaco enquanto planeja aumentar a produção do medicamento, inicialmente desenvolvido sem sucesso para tratar o ebola.

Uma fonte da companhia informa que “até o momento os dados de maior qualidade publicados avalizam o uso do remdesivir para pacientes com covid-19” e ressalta que esses dados “permitiram que este tenha sido o primeiro fármaco aprovado por mais de 50 autoridades reguladoras em todo o mundo”. No caso dos EUA, essa aprovação é definitiva, mas em muitos outros a autorização é temporária, em condições de emergência. A agência reguladora de medicamentos na UE está revisando os dados para avaliar uma possível autorização total.

“Pela forma como o processo está se dando, e quero acreditar que numa tentativa de transparência, está-se correndo muito e comunicando-se muito cedo”, opina Gómez, da Renda 4. “Por um lado se dá informação ao mercado com o adendo de que ainda não foi revisado nem publicado em nenhuma revista científica, mas, por outro, isto coincide com que o mercado está ansioso por notícias.”

“As empresas têm de evitar a todo custo dar passos em falso: [recuos] podem se voltar contra elas por perda de credibilidade. O risco de dano à reputação é enorme: leva anos para construí-la, e é possível pô-la a perder muito rapidamente”, acrescenta Gómez. No passado, completa Zamácola, da Link Securities, “vimos muitíssimos tropeções em empresas biotecnológicas conhecidas ou nem tanto: se os progressos comunicados ao mercado sobre um medicamento acabam por não ser um sucesso, os investidores perdem a confiança”. É, contrapõe por e-mail Evan Seigerman, analista do Credit Suisse especializado na indústria farmacêutica, “algo comum nesse setor que empresas anunciem seus avanços em comunicados de imprensa para depois compartilhar os dados do estudo em conferências médicas ou em revistas revisadas por pares. Não acredito que agir no curso normal dos negócios seja alimentar uma bolha.”

Pharmamar, o grande sucesso espanhol na Bolsa este ano

A biotecnológica espanhola Pharmamar trilha um percurso similar aos seus pares de outros países: mais do que dobrou de valor em 2020, embora hoje esteja longe dos máximos de meses atrás, quando chegou a capitalizar mais de dois bilhões de euros. Sua trajetória recente nos pregões, que lhe permitiu entrar no Ibex (o seleto grupo que reúne as 35 empresas mais valorizadas da Espanha), transcorreu em paralelo às notícias sobre seu medicamento Aplidin, divulgado desde março como potencialmente benéfico no tratamento do coronavírus e sobre o qual a Comissão Nacional do Mercado de Valores (CNMV) acaba de solicitar mais informações, pedindo à companhia galega que esclareça sua eficácia na luta contra a covid-19.

A companhia ainda não divulgou estudos científicos detalhados sobre a efetividade do fármaco contra a covid-19, como reconhece um porta-voz ouvido por este jornal. A empresa explica também que já respondeu ao pedido de esclarecimentos do órgão regulador e espera detalhar os resultados de seu ensaio clínico “em um congresso ou em uma revista científica em breve”.

Dúvida sobre a rentabilidade em curto prazo

Com outros negócios praticamente afundados pelos confinamentos, os laboratórios farmacêuticos – e sobretudo as empresas de biotecnologia – passaram a um primeiríssimo plano como único trampolim possível para tirar o mundo do atoleiro da covid-19. Mas não totalmente: aos movimentos especulativos de curtíssimo prazo com as ações destas empresas se soma que várias delas, como a AstraZeneca, prometeram não fazer negócios com seus fármacos contra a covid-19. O que obteriam, então, em termos puramente financeiros, além de melhorar sua reputação em longo prazo?

Algumas, como Gilead e Regeneron, sim deixaram entrever sua intenção de engordar seu balanço com seus tratamentos. E, de todas as formas, como recorda Seigerman, do Credit Suisse, nenhuma renunciou explicitamente a ganhar dinheiro “mais adiante, quando já não estivermos nesta fase da pandemia e as vacinas continuarem sendo necessárias”. Inclusive se nos primeiros compassos não conseguirem rentabilidade, em médio prazo o mercado mundial criado pela necessidade de vacinar potencialmente toda a humanidade é enorme: o próprio banco de investimento suíço fala em 10 bilhões de dólares (mais de 54 bilhões de reais) por ano só nos EUA. O negócio está lá, mas muitos dos que hoje anunciam com fanfarra os seus possíveis fármacos não ficarão nem com as migalhas do bolo.

Pequenos sobem mais

Há uma regra geral que quase todo o setor cumpre: quanto menores as empresas envolvidas em anúncios desse tipo, maior é o salto na sua cotação ao publicarem avanços em algum tratamento. Com um faturamento pouco superior a 100 milhões de dólares, contra os 52 bilhões da Pfizer, sua companheira de viagem no desenvolvimento da vacina que atrai os olhares de todo o mundo, a alemã BioNTech triplicou seu valor mercantil desde o começo do ano. Em apenas duas jornadas, a de segunda-feira – quando surpreendeu o mundo com a suposta eficácia de sua vacina – e a de terça, disparou 23%.

Fonte: El País

Em defesa do processo democrático de gestão da Fiocruz.

O presidente da Fenafar, Ronald Ferreiro dos Santos, e o primeiro diretor de Relações Internacionais da Fenafar, Rilke Novato, reiteram neste artigo a importância do processo eleitoral conduzido pela Fundação Osvaldo Cruz. Uma das mais importantes instituições de pesquisa do país terá eleições na próxima semana e é preciso reiterar que o governo federal reconheça e respeite o resultado da eleição. Leia na íntegra.

 

 

A Fundação Osvaldo Cruz, uma das instituições de pesquisa mais importantes do país, está em processo eleitoral para escolha de novo presidente. A campanha eleitoral, com regras definidas por regulamento, acontece até 16 de novembro. Todos os eleitores (servidores da Fiocruz de todos os estados em que a instituição está presente) poderão participar dos debates e discutir as ideias das candidaturas para o futuro da Fiocruz. A eleição ocorrerá nos dias 17, 18 e 19 de novembro.

A Fenafar, assim como outras organizações e pesquisadores, vem a público manifestar a importância desse processo democrático e participação de gestão construído ao longo dos anos pela Fiocruz.

Consolidada na esteira da afirmação da democracia no Brasil, com o fim da ditadura militar, o processo eleitoral para a Presidência da Fiocruz foi instituído e aprovado pelo I Congresso Interno da Fiocruz, realizado em 1988, Nele estavam representados delegados eleitos de todas as unidades da Fundação, aprovou um Regimento Eleitoral que instituiu mandatos para o cargo de presidente da Fiocruz e para os diretores das unidades por meio de processos eletivos, a fim de garantir os princípios de representatividade e descentralização decisória. O presidente da Fiocruz é nomeado pelo presidente da República por indicação do ministro da Saúde, após a escolha de um candidato de uma lista tríplice, eleita pelo voto pela comunidade da Fundação e definida em regimento próprio.

A construção desse processo democrático não ocorreu sem embates, mas com excessão da nomeação ocorrida em 1989 pelo então presidente Fernando Collor, que não respeitou a listra tríplice, todos os governos reconheceram a soberania do processo eleitoral conduzido pela Fiocruz e nomearam os primeiros nomes da lista tríplice, respeitando a autonomia científica e de gestão da Instituição.

No entanto, diante das sucessivas intervenções do governo federal nas instituições científicas e tecnológicas e diante do flagrante desrespeito à autonomia das universidades, ao nomear reitores que não foram escolhidos pelo voto dos servidores dessas instituições, alertamos a sociedade para a necessidade de defendermos o processo eleitoral conduzido pela Fiocruz e exigir que o presidente Jair Bolsonaro respeite o resultado das eleições, nomeando para a presidência da Fiocruz a pessoa que sair vitoriosa nesse processo.

Não vamos aceitar qualquer tipo de intervenção e ingerência do governo federal nos rumos de uma nas mais renomadas instituições públicas de pesquisa do mundo.

É preciso fortalecer a autonomia e gestão democrática e participava!

por Ronald Ferreira dos Santos e Rilke Novato Públio.