Entidades divulgam nota pública em defesa da formação presencial na saúde, 

Diante da publicação do Decreto nº 12.456, de 19 de maio de 2025, que regulamenta a oferta de cursos de graduação na modalidade de Educação a Distância (EaD), inclusive na área da saúde, diversas entidades representativas da área da saúde, entre as quais a Fenafar e o Instituto Enfar, se manifestam, por meio de uma nota pública, sua preocupação com os impactos dessa medida na formação dos profissionais e, consequentemente, na qualidade da assistência prestada à população. 

As entidades reafirmam seu compromisso com a defesa de uma formação 100% presencial para todos os cursos da área da saúde, por entenderem que o exercício profissional exige sólida formação teórica, técnica, ética e, sobretudo, prática, fortemente vinculada às realidades dos territórios e às necessidades do Sistema Único de Saúde (SUS). 

A nota expressa a necessidade urgente de revisão do decreto, especialmente do artigo 8º, para garantir que a formação nas profissões da saúde seja, obrigatoriamente, presencial. Além disso, cobra do Ministério da Educação e do Governo Federal a retomada do debate no Congresso Nacional sobre a regulamentação do Art. 80 da LDB, com base nos projetos de lei que buscam vetar o EaD na graduação em saúde. 

Confira, na íntegra, a nota pública assinada pelas entidades que dizem SIM à formação 100% presencial em defesa da vida, do SUS e da saúde da população brasileira: 

NOTAPÚBLICA 

Dizemos SIM à formação 100% presencial para todos os cursos de graduação em saúde.  

As entidades signatárias abaixo vêm publicamente manifestar preocupação com a assinatura e publicação do Decreto Nº 12.456, de 19 de maio de 2025, que dispõe sobre a Regulamentação da oferta de Educação a Distância (EaD) no ensino superior, incluindo os cursos da área da saúde, ocorrido em 19 de maio de 2025. 

O Sistema Único de Saúde (SUS), maior empregador da força de trabalho em saúde no país, exige profissionais com sólida formação humanística teórica, técnico-científica, ética, prática e social, alinhada às realidades, às vivências no território e às demandas da população.  

No contexto da formação profissional de nível superior o Decreto criou uma “nova” modalidade de ensino de graduação, a semipresencial, que na prática é formalização da EAD e faz diferenciação dentre as 14 profissões da saúde.  

A regulamentação de regras para EaD pelo Estado é uma necessidade social. A ausência de regras tem impacto direto na qualidade da formação, para o SUS e favorece ao mercado. O Brasil precisa de regras que assegurem o cuidado com a vida em suas múltiplas dimensões: humana, animal e ambiental.  

Flexibilizar a formação de qualquer uma dessas áreas tem impacto na capacidade de resposta do SUS, que exige práticas integradas e formação sólida desde o ingresso no ensino superior. 

Neste sentido, este coletivo defende a reedição do Decreto Nº 12.456/2.025, Art. 8º para contemplar esta alteração: a oferta de todos os cursos das profissões da saúde que constam na Resolução CNS Nº 287, de 08 de outubro de 1998 será realizada no formato presencial. Esta é uma proposta que tem como base as normas da “Ordenação da Formação de Profissionais de Saúde do SUS” aprovado pelo CNS em cumprimento ao Art. 200, inciso III da CF de 1988, a Lei Nº 8.080, de 19 de setembro de 1.990, e as deliberações de Conferências Nacionais de Saúde que expressam a necessidade social da formação em saúde presencial, vivencial e comprometida com o cuidado integral.  

E por fim, solicitamos que o Ministério da Educação dialogue com o Ministério da Saúde e o Governo Federal, na análise de alteração do Art. 8º do Decreto, e que priorize a regulamentação do Art. 80 da Lei Nº 9.394, de 1996 das Diretrizes e Bases da Educação (LDB) no Congresso Nacional, a partir dos Projetos de Lei Nº 5.414-B de 2016, autoria do então Deputado Rodrigo Pacheco, e nº 7.121 de 2017 apensado, de autoria da Deputada Alice Portugal que visam vetar a EaD em cursos da área da saúde.  

Dizemos SIM à formação 100% presencial para todos os cursos de graduação em saúde. Em defesa da vida e do compromisso ético e social dos profissionais com o SUS e com a saúde da população brasileira. Viva a participação social! Viva o SUS!  

Maio/2025 

Entidades que subscrevem esta Nota Pública Dizemos sim à formação presencial para todos os cursos de graduação em saúde. 

ABMMD-Associação Brasileira de Médicas e Médicos pela Democracia 

ABEN- Associação Brasileira de Enfermagem  

Abenfisio- Associação Brasileira de Ensino em Fisioterapia  

ABO Nacional – Associação Brasileira de Odontologia  

ABRATO-Associação Brasileira dos Terapeutas Ocupacionais  

AFB- Associação de Fisioterapeutas do Brasil  

ASBRAN-Associação Brasileira de Nutrição  

Asfoc-SN- Sindicato Dos Trabalhadores Da Fiocruz  

CFFa- Conselho Federal de Fonoaudiologia  

CFESS- Conselho Federal de Serviço Social  

CFF- Conselho Federal de Farmácia  

CFMV- Conselho Federal de Medicina Veterinária  

CNTS- Confederação Nacional dos Trabalhadores na Saúde  

COFFITO- Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional  

Conacs- Confederação Nacional dos Agentes Comunitários de Saúde 

CONFEF- Conselho Federal de Educação Física  

Enfar- Instituto Escola Nacional dos Farmacêuticos  

FASUBRA Sindical- Federação de Sindicatos de Trabalhadores Técnico-administrativos em Instituições de Ensino Superior Públicas do Brasil  

Fenafar- Federação Nacional dos Farmacêuticos  

FENAS- Federação Nacional dos Assistentes Sociais  

FIO- Federação Interestadual dos Odontologistas  

FMB-Federação Médica Brasileira  

FNE- Federação Nacional dos Enfermeiros  

SBFa- Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia 

No Congresso da Sbrafh, Fenafar celebra os 20 anos da PNAF

O presidente da Fenafar, Fábio Basílio, acompanhado da segunda vice-presidenta, Débora Melecchi, e da diretora de Educação, Silvana Nair Leite, participou nesta quinta-feira (23) de uma mesa-redonda no Congresso da Sociedade Brasileira de Farmácia Hospitalar (Sbrafh), que acontece em Recife-PE. O debate teve como tema central os “20 anos da Política Nacional de Assistência Farmacêutica (PNAF)”, marco fundamental para o fortalecimento do SUS e da profissão farmacêutica no Brasil. 

Na ocasião, foi exibido o documentário “Acontece porque o Brasil tem direito: 20 anos da Política Nacional de Assistência Farmacêutica”, uma produção que resgata, por meio de depoimentos emocionantes e registros históricos, a trajetória da PNAF e seu impacto na vida da população.

O filme é fruto de uma parceria entre o Instituto Escola Nacional dos Farmacêuticos (Enfar) e o Departamento de Assistência Farmacêutica e Insumos Estratégicos do Ministério da Saúde (DAF/SECTICS/MS), com apoio da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS). 

Gravado em diferentes regiões do país, o documentário revela como a assistência farmacêutica, ao garantir o acesso a medicamentos e promover o uso racional, transforma realidades, fortalece o SUS e concretiza direitos. 

A mesa foi moderada pelo professor Divaldo Lyra Jr., da Universidade Federal de Sergipe (UFS), e contou também com a participação de Jaqueline Rocha, do Departamento de Assistência Farmacêutica do Ministério da Saúde (DAF/MS), que destacou os desafios atuais e futuros para a consolidação da política. 

Além desse importante debate, o presidente da Fenafar também participou de uma palestra sobre “Saúde Mental em Ambiente Hospitalar: Evitando o Burnout”, tema de extrema relevância diante do crescente adoecimento mental dos trabalhadores da saúde.

Fábio destacou que a sobrecarga, aliada a más condições de trabalho e à falta de reconhecimento profissional, tem levado muitos profissionais ao esgotamento físico e emocional, refletindo-se em casos crescentes de depressão, ansiedade e síndrome de Burnout. 

O Congresso da Sbrafh, que ocorre de 22 a 24 de maio no Expo Center Recife, reúne profissionais, pesquisadores e especialistas de todo o país. Ao longo dos três dias, a programação aborda temas estratégicos e inovadores para a prática farmacêutica hospitalar, promovendo a troca de experiências e o fortalecimento da atuação profissional no cuidado à saúde. 

Fenafar reforça a luta por valorização do trabalho farmacêutico no SUS  

Nos dias 19 e 20 de maio, a Fenafar participou de mais uma reunião da Mesa Nacional de Negociação Permanente do SUS (MNNP-SUS), espaço estratégico de diálogo entre trabalhadores e gestão do Sistema Único de Saúde. A reunião resultou em importantes encaminhamentos em defesa dos direitos e da valorização do trabalho farmacêutico e das trabalhadoras e trabalhadores da saúde pública brasileira. 

Principais encaminhamentos: 

Calendário da MNNP-SUS e criação de novo GT de Emergências Sanitárias 

Foi aprovado o calendário das reuniões da mesa e dos grupos de trabalho (GTs). Um dos destaques foi a criação do GT de Emergências Sanitárias, uma proposta apresentada pela Fenafar ainda em 2024, que visa aprimorar os protocolos de resposta e a proteção dos profissionais em cenários de emergências sanitárias. 

Prioridade ao Plano de Carreira no SUS 

A valorização profissional foi tratada com prioridade. Foi entregue à mesa a Proposta de Carreira no âmbito do SUS, elaborada pela Comissão de Desenvolvimento de Pessoas da Carreira da Área da Saúde no SUS (CDEPCA/SUS). A proposta será debatida e aprofundada tanto na bancada sindical como na plenária geral da MNNP-SUS. 

Entre os encaminhamentos consensuados entre as bancadas da gestão e sindical estão: 

Realização de reuniões dos GTs focadas exclusivamente no tema do plano de carreira; 

Solicitação de audiência com o Ministro da Saúde, Alexandre Padilha, para tratar da proposta e cobrar o comprometimento institucional do MS; 

Mobilização sindical para realizar, com recursos próprios, uma agenda nacional em Brasília, com visitas aos gabinetes de parlamentares e articulação com o Congresso Nacional. 

Combate à precarização do trabalho 

A pauta das terceirizações e da “pejotização” dos vínculos de trabalho foi discutida como um dos principais desafios enfrentados pelas trabalhadoras e trabalhadores do SUS. A Fenafar defendeu a necessidade urgente de retomar o debate sobre vínculos estáveis, concursos públicos e condições dignas de trabalho. 

Apoio à criação da Frente Parlamentar Mista em Defesa das Trabalhadoras e dos Trabalhadores do SUS 

A reunião também apoiou fortemente a iniciativa dos deputados federais Jorge Solla (PT-BA) e Alice Portugal (PCdoB-BA) para formalizar a Frente Parlamentar Mista em Defesa das Trabalhadoras e dos Trabalhadores do SUS. 

A Fenafar conclama todas as entidades e lideranças sindicais a mobilizarem os(as) deputados(as) e senadores(as) de seus estados para aderirem à Frente! 

Para que os(as) Deputados(as) Federais é preciso que assinem escaneando o QR Code do card e preencham o formulário. 

Para os(as) Senadores(as), é necessário imprimir e preencher o formulário disponível aqui:  Formulário de adesão dos senadores(as) 

📋 Veja quem já assinou a Frente: 
🔗 Lista de adesões atualizada 

Acordo no MTE garante proteção a trabalhadores da EBSERH com duplo vínculo

Um importante avanço foi conquistado nesta terça-feira, 13 de fevereiro, em Brasília, com a conclusão da mediação no Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), que resultou em um acordo para proteger os empregados públicos da EBSERH que possuem duplo vínculo, bem como aqueles vinculados a outras esferas da administração pública.

A situação envolvia profissionais de diversas áreas da saúde, entre os quais os farmacêuticos. Esses trabalhadores vinham sendo notificados pela EBSERH para que optassem por um dos vínculos, colocando em risco sua estabilidade e fontes de renda.

Com a mediação do MTE e a anuência do Ministério Público Federal (MPF), o acordo firmado estabelece três pontos fundamentais:
– Definição de um marco temporal a partir da assinatura do acordo, garantindo a proteção dos trabalhadores que já estão atuando na empresa;
– Concessão de um prazo de 30 dias para que os profissionais que ainda não o fizeram apresentem suas declarações de acúmulo de cargos;
– Desistência das ações coletivas ajuizadas pelos sindicatos filiados às entidades nacionais envolvidas no processo.

As entidades sindicais tiveram papel fundamental na conquista que só foi possível graças à mobilização conjunta de todos as entidades na Mesa Nacional de Negociação Permanente (MNNP) da EBSERH — entre elas, a Fenafar, que participaram de todas as etapas de diálogo, reforçando a importância de se garantir justiça e segurança jurídica aos profissionais afetados.

O presidente Fábio Basílio destaca que a Fenafar, tem atuado ativamente em defesa dos profissionais de saúde que sofrem com a burocracia na aplicação da legislação sobre acúmulo de cargos. “Seguiremos firmes na luta para que esses profissionais não sejam punidos por exercerem duas funções públicas legalmente permitidas e tão essenciais à população”,

Esse avanço é resultado direto da força da mobilização sindical e da atuação coordenada das entidades representativas, que continuam vigilantes para garantir condições dignas de trabalho e respeito aos trabalhadores da saúde.

SBAC articula com lideranças nacionais, nova pauta estratégica para o Ministério da Saúde em defesa da PNDL

SBAC articula com lideranças nacionais, nova pauta estratégica para o Ministério da Saúde em defesa da Política Nacional do Diagnóstico Laboratorial – PNDL

Por: Paulo Roberto Boff

Florianópolis (SC), 12 de maio de 2025 – Na última sexta-feira (09/05), a sede do Sindicato dos Farmacêuticos de Santa Catarina (Sindfar/SC) recebeu uma reunião estratégica promovida pela Sociedade Brasileira de Análises Clínicas (SBAC). O encontro reuniu lideranças nacionais da saúde pública com o objetivo de construir uma pauta técnica e política a ser apresentada ao Ministério da Saúde, com foco na consolidação da Política Nacional de Diagnóstico Laboratorial (PNDL) e na valorização do papel dos laboratórios de análises clínicas na rede de atenção do Sistema Único de Saúde (SUS).

Estiveram presentes:
* Dra. Maria Elizabeth Menezes, presidente da SBAC;
* Dr. Fabio Basílio, presidente da Federação Nacional dos Farmacêuticos (Fenafar);
* Dr. Luis Henrique Costa, coordenador-geral de Assistência Farmacêutica e Medicamentos Estratégicos (DAF/SECTICS/MS);
* Dr. Ronald Ferreira dos Santos, da Coordenação-Geral de Articulação da Secretaria Nacional de Participação Social/Palácio do Planalto;
* Paulo Roberto Boff, consultor ad hoc da SBAC.

A reunião resultou na definição de ações prioritárias que serão desdobradas em articulações institucionais com diferentes áreas do Ministério da Saúde, dentre as quais merece destaque:
Proposição de agenda com a Coordenação-Geral de Evidências em Saúde:

Essa agenda tem como objetivo a formalização do pleito para que a PNDL seja reconhecida como política prioritária no enfrentamento das doenças transmissíveis, especialmente no combate às hepatites virais e outras condições de elevada carga epidemiológica, conforme diretrizes do programa Brasil Saudável.

O documento técnico a embasar a proposta para esta Coordenação, destaca pontos estruturantes como: A ampliação do acesso e a racionalização do uso de tecnologias diagnósticas; A capacidade instalada do setor, tanto em infraestrutura quanto em recursos humanos qualificados; A relevância econômica do segmento, que representa parcela significativa dos gastos em saúde no Brasil; A integração da PNDL ao cenário internacional, em alinhamento com a resolução aprovada na Cúpula do G20, realizada no Rio de Janeiro em 2024, que defende a produção regional de medicamentos e insumos estratégicos para a saúde.

Avanço institucional: agendas com a SAES e com o Secretário Executivo/MS:
Outros dois pontos centrais da reunião foram a organização de agendas estratégicas de alto nível no Ministério da Saúde, que deverão ocorrer nas próximas semanas.

A primeira será com o Secretário de Atenção Especializada à Saúde (SAES/MS), Dr. Mozart Sales, considerada instância central para a institucionalização da PNDL. A proposta é apresentar o conteúdo programático da política e dialogar sobre os caminhos para sua inserção como política estruturante da atenção especializada no SUS, com base em critérios técnicos, epidemiológicos e de custo-efetividade.

A SAES é reconhecida como o locus natural para coordenar a execução nacional das ações de diagnóstico laboratorial integradas à assistência especializada.

A segunda agenda será com o Secretário Executivo do Ministério da Saúde, Dr. Adriano Massuda, cuja articulação busca promover o reconhecimento público da histórica parceria entre o SUS e os laboratórios de análises clínicas, que atualmente respondem por cerca de 90% dos exames realizados na rede pública. A estratégia inclui a divulgação de dados e ações concretas que evidenciem o papel estratégico do setor, contribuindo para a construção de uma política nacional sólida, com ampla adesão e respaldo institucional.

Projeção política: tese para o Congresso da Fenafar
Como desdobramento político da reunião, também foi deliberada a elaboração de uma tese sobre a PNDL a ser submetida ao Congresso da Fenafar, que ocorrerá de 5 a 8 de agosto de 2025, em Ouro Preto (MG). A proposta será registrada no caderno de teses do evento e pretende mobilizar o conjunto da categoria farmacêutica em torno da construção e defesa de uma política pública essencial para a saúde coletiva.

A SBAC reforça, com esta iniciativa, seu compromisso com a construção coletiva de soluções estruturantes para o SUS, reafirmando o diagnóstico laboratorial como ferramenta indispensável à vigilância, prevenção e cuidado em saúde pública no Brasil.

11º Congresso Nacional da Fenafar: Trabalho, Saúde e Democracia no Brasil

Entre os dias 5 e 8 de agosto de 2025, a histórica cidade de Ouro Preto (MG) vai sediar o 11º Congresso Nacional da Federação Nacional dos Farmacêuticos (Fenafar). Com o tema “Trabalho, Saúde e Democracia no Brasil – desafios e contribuições das farmacêuticas e dos farmacêuticos”, o evento será um marco na trajetória da entidade, reunindo representantes dos 21 sindicatos filiados e farmacêuticos de todo o país para debater os rumos da categoria e os caminhos da saúde pública no Brasil. 

Como parte do processo de construção coletiva que caracteriza a atuação da Fenafar, a entidade preparou o Caderno de Subsídios, documento base que reúne as reflexões que serão debatidas no Congresso. A proposta é promover o compartilhamento de informações sobre a conjuntura nacional e internacional e sobre a atuação farmacêutica frente aos desafios do mundo do trabalho, das políticas públicas de saúde e da organização sindical. 

O lançamento oficial do caderno ocorrerá em uma live no dia 16 de abril, às 19h30, transmitida pelo canal da Fenafar no YouTube, com a participação dos diretores da entidade e dos representantes dos sindicatos filiados. 

A realização do Congresso em Ouro Preto também tem valor simbólico: é nessa cidade que está localizada a Escola de Farmácia da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), a mais antiga da América Latina, que completa 186 anos em 2025 — um marco da história da formação farmacêutica no país. 

Segundo o presidente da Fenafar, Fábio Basílio, o Congresso representa um momento estratégico para a categoria: 

“O 11º Congresso é uma ótima oportunidade de união e fortalecimento dos farmacêuticos e farmacêuticas neste momento de desafios e transformações. A cidade de Ouro Preto, símbolo de resistência e de importância histórica para o Brasil, foi escolhida para sediar o evento, buscando refletir o espírito de luta e renovação da nossa categoria.” 

Além de debate os temas propostos, o Congresso também será o espaço para eleição da nova diretoria da Fenafar para o triênio 2025-2028, e para a aprovação do novo plano de lutas e diretrizes que nortearão a atuação da entidade nos próximos anos. 

Veja o Caderno de Subsídios

Reflexões para avançar 

O Caderno de Subsídios traz um conjunto de reflexões profundas sobre os desafios contemporâneos. Um dos blocos aborda a situação econômica e política, analisando os efeitos das sucessivas crises sobre o mundo do trabalho e, especificamente, sobre o cotidiano das farmacêuticas e dos farmacêuticos brasileiros. 

Outro eixo trata do papel da categoria na defesa do SUS e da Assistência Farmacêutica, reafirmando a importância dos profissionais na consolidação das políticas públicas de saúde. 

Também estão em destaque temas como a organização sindical, os desafios da unidade da categoria, e a luta por um piso salarial nacional, pela regulamentação plena da Lei nº 13.021/2014, pela redução da jornada de trabalho, e pela isenção do imposto de renda para rendas de até R$ 5.000,00. 

Um capítulo importante aborda ainda o trabalho e a educação farmacêutica, evidenciando as condições precárias enfrentadas nas farmácias comerciais, como jornadas exaustivas, pressão por metas comerciais, e os processos de adoecimento decorrentes desse cenário. 

Participação ativa 

A escolha dos delegados que participarão do 11º Congresso já está em andamento. Até 30 de junho de 2025, os sindicatos estaduais promovem assembleias para discutir os temas do Congresso e eleger os delegados e suplentes. O número de representantes por estado é proporcional ao número de farmacêuticos inscritos, conforme dados do CFF outubro de 2024. 

Com tradição de luta, compromisso com a saúde pública e participação democrática, o 11º Congresso da Fenafar se projeta como um espaço decisivo para o fortalecimento da categoria e para a reafirmação do papel estratégico das farmacêuticas e dos farmacêuticos na construção de um Brasil mais justo e saudável. 

Congresso analisa proposta do governo que isenta de Imposto de Renda quem ganha até R$ 5 mil 

O projeto de lei que amplia a faixa de isenção do Imposto de Renda para trabalhadores com salários de até R$ 5 mil mensais já está em análise no Congresso Nacional. Enviado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 18 de março, o texto poderá beneficiar cerca de 36 milhões de contribuintes, cerca de 78% dos declarantes de Imposto de Renda no Brasil. 

Atualmente, a isenção vale para quem recebe até R$ 2.824 por mês (o equivalente a dois salários-mínimos). Com a nova proposta, aproximadamente 10 milhões de brasileiros deixarão de pagar qualquer valor de Imposto de Renda. 

A proposta também contempla alívio fiscal para contribuintes com rendimentos mensais entre R$ 5 mil e R$ 7 mil, com descontos progressivos no valor do imposto: 

R$ 5.500: desconto de 75% sobre o IR; 

R$ 6.000: desconto de 50%; 

R$ 6.500: desconto de 25%; 

Acima de R$ 7.000: incidem as alíquotas normais (7,5% a 27,5%). 

A iniciativa representa uma reformulação importante na tabela do IR, mantida praticamente congelada por anos. Segundo o presidente Lula, a medida é uma questão de justiça fiscal: “Não é justo, não é humanamente justificável que as pessoas mais pobres paguem a mesma quantidade de imposto, ou mais, do que os mais ricos”, afirmou em pronunciamento. 

Compensações: mais impostos sobre altas rendas 

Para compensar a perda de arrecadação estimada em R$ 35 bilhões anuais, o governo propõe criar uma alíquota progressiva até 10% sobre a renda total de quem recebe mais de R$ 50 mil por mês, considerando fontes como salários, aluguéis, dividendos e juros. Essa cobrança mínima seria aplicada de forma escalonada: 

Para quem recebe mais de R$ 600 mil por ano: pagamento mínimo obrigatório de IR; 

Para quem fatura acima de R$ 1,2 milhão anuais: aplicação direta da alíquota de 10%. 

De acordo com o Ministério da Fazenda, esta mudança afetará apenas 0,13% dos declarantes — cerca de 141 mil pessoas —, mas trará maior equilíbrio ao sistema tributário. 

Tramitação no Congresso e comissão especial 

A proposta será analisada por uma comissão especial criada na Câmara dos Deputados. O relator designado é o ex-presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL). O presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), reafirmou apoio à medida e disse que o debate ocorrerá com responsabilidade fiscal. 

Reações e críticas 

A medida tem recebido apoio popular, mas a oposição faz críticas. Parlamentares do Partido Liberal (PL), por exemplo, se opõem ao aumento de tributos sobre os mais ricos e defendem alternativas como cortes de gastos públicos. O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), afirmou que a taxação de altos rendimentos pode desestimular investimentos e impactar negativamente a economia. 

Apesar das críticas, o governo segue confiante. A ampliação da faixa de isenção foi uma das promessas de campanha do presidente Lula e, segundo ele, faz parte de um conjunto de reformas que visam ampliar a justiça social no país. 

Trabalhar, sinônimo de adoecer

Explodem, sob o inferno neoliberal, afastamentos por causas psíquicas. Doença é a resposta dos corpos às jornadas exaustivas, tarefas enfadonhas e insegurança permanente. Até as empresas perdem, mas o sistema não sai do abismo que criou.

por  Outras Palavras
arte: Joan Cornellà

O fenômeno do adoecimento mental massivo entre trabalhadores brasileiros, evidenciado pelos 472.328 afastamentos registrados em 2024, representa não apenas uma crise sanitária, mas uma manifestação concreta das contradições inerentes às relações de produção no capitalismo contemporâneo. Este crescimento expressivo de 68% em relação ao ano anterior constitui uma forma de insurgência silenciosa, em que os corpos e mentes dos trabalhadores registram, através do sofrimento psíquico, as tensões e pressões de um sistema produtivo cada vez mais exigente e precarizado. A experiência vivida por estes sujeitos comuns, especialmente mulheres, negros e os setores mais vulneráveis da classe trabalhadora, compõe um capítulo significativo da história social do trabalho no Brasil, revelando como as condições materiais de existência moldam não apenas as estruturas econômicas, mas a própria subjetividade dos indivíduos.

A questão do sofrimento psíquico relacionado ao trabalho não pode ser compreendida isoladamente como fenômeno médico ou psicológico, mas exige uma análise que considere as condições históricas e materiais em que se manifesta. Como argumenta Dejours, “o sofrimento mental aparece como intermediário necessário à submissão do corpo” no processo de dominação exercido pela organização do trabalho sobre o aparelho psíquico, transformando o adoecimento em consequência direta das relações laborais vigentes.1 Assim, é fundamental examinar como a precarização das condições de trabalho, a intensificação das jornadas e a crescente pressão por produtividade impactam a saúde mental dos trabalhadores brasileiros, reconhecendo que tais manifestações de sofrimento constituem respostas a um sistema que prioriza o lucro em detrimento do bem-estar coletivo.

Para além dos números impressionantes que atestam a dimensão do fenômeno – 472 mil licenças concedidas pelo INSS por questões de saúde mental, com afastamentos médios de três meses e impacto financeiro estimado em quase R$ 3 bilhões em 2024 – é preciso compreender as experiências concretas por trás dessas estatísticas. Cada afastamento representa uma história de vida, um sujeito histórico cuja experiência no mundo do trabalho culminou em sofrimento psíquico significativo. Estas histórias individuais, quando examinadas em seu conjunto, revelam padrões e tendências que emergem das condições materiais compartilhadas pela classe trabalhadora brasileira contemporânea.

O perfil dos afastamentos demonstra uma clara intersecção entre classe e gênero: 64% dos trabalhadores afastados são mulheres, com idade média de 41 anos, principalmente acometidas por quadros de ansiedade e depressão. Este dado revela como as relações de produção se articulam com estruturas patriarcais, produzindo sobrecarga específica para as mulheres trabalhadoras. Segundo Hirata, “a divisão sexual do trabalho é a forma de divisão do trabalho social decorrente das relações sociais entre os sexos”, manifestando-se tanto na distribuição desigual de homens e mulheres no mercado de trabalho quanto na valorização diferenciada das atividades realizadas por cada gênero.2 Na prática, isso se traduz em jornadas múltiplas, menores remunerações e maior responsabilidade no cuidado familiar, configurando experiência material específica que se reflete nos índices de adoecimento mental.

A experiência da pandemia de covid-19 opera como divisor de águas na compreensão deste fenômeno, tendo aprofundado vulnerabilidades preexistentes e exacerbado as contradições do sistema produtivo. O luto coletivo por mais de 700 mil vidas perdidas, o prolongado isolamento social, a intensificação do trabalho para os que permaneceram empregados e a escalada inflacionária criaram um cenário propício para o agravamento de quadros de sofrimento psíquico. Esse conjunto de fatores materiais, somado à insegurança econômica generalizada, produziu impacto desigual entre os diferentes estratos da classe trabalhadora, atingindo com mais força mulheres, negros e trabalhadores precarizados.

Pesquisas publicadas na revista Lancet demonstram que as mulheres foram desproporcionalmente afetadas pela crise pandêmica, enfrentando maior índice de desemprego e aumento significativo do trabalho não remunerado de cuidados domésticos e familiares.3 Este fenômeno evidencia como as crises socioeconômicas tendem a reforçar desigualdades estruturais, aprofundando vulnerabilidades preexistentes que se manifestam no adoecimento psíquico coletivo. A experiência destes grupos mais afetados constitui parte fundamental da história social do trabalho no Brasil contemporâneo, revelando as dinâmicas de poder que atravessam as relações produtivas.

As experiências individuais relatadas por trabalhadoras como Amanda Abdias, que assumiu tripla jornada após o marido perder o emprego durante a pandemia, ou Marcela Carolina, mulher negra que convive com depressão há mais de duas décadas, ilustram como as pressões econômicas e sociais se materializam em sofrimento psíquico real. Segundo Seligmann-Silva, “o processo de desgaste relaciona-se ao conjunto de tensões, desafios, dificuldades e esforços a que a pessoa é submetida na interação com o trabalho”, evidenciando a profunda conexão entre condições materiais de existência e saúde mental.4 Estes casos exemplificam como as opressões de classe, gênero e raça se entrelaçam, produzindo experiências particulares que não podem ser reduzidas a explicações monocausais ou descontextualizadas historicamente.

O adoecimento mental massivo entre trabalhadores brasileiros pode ser compreendido como forma não articulada de resistência às condições laborais cada vez mais exploratórias. Quando o corpo e a mente não suportam mais a intensidade das pressões cotidianas, o afastamento emerge como recurso último de autopreservação. Esta forma de resistência, ainda que não organizada coletivamente ou expressa em termos políticos explícitos, representa uma negação prática das condições impostas pelo capital, sinalizando os limites da exploração suportável pelo organismo humano.

Antunes observa que “a precarização estrutural do trabalho” característica do capitalismo contemporâneo manifesta-se através de múltiplas formas de desregulamentação e flexibilização, produzindo “uma processualidade contraditória que, de um lado, reduz o operariado industrial e fabril, e, de outro, aumenta o subproletariado, o trabalho precário e o assalariamento no setor de serviços”.5 Esta nova configuração do mundo do trabalho, marcada pela instabilidade, intensificação produtiva e fragilização dos vínculos empregatícios, constitui terreno fértil para o surgimento de formas específicas de sofrimento psíquico relacionadas à experiência laboral contemporânea.

A resposta estatal ao problema materializa-se em medidas regulatórias como a atualização da Norma Regulamentadora nº 1 (NR-1), que determina a fiscalização de riscos psicossociais no ambiente laboral pelo Ministério do Trabalho. Esta intervenção representa o reconhecimento oficial da dimensão sociopolítica do adoecimento mental no trabalho, ainda que sua eficácia permaneça questionável diante das causas estruturais do fenômeno. A implementação destas medidas reflete as disputas políticas em torno da regulação do trabalho, evidenciando como o campo da saúde mental tornou-se arena de confronto entre interesses divergentes de trabalhadores, empresas e Estado.

As multas previstas pela nova regulamentação variam entre R$ 500 e R$ 6 mil por cada situação identificada, além da determinação de prazos para ajuste do formato de trabalho visando evitar novos afastamentos. A contratação prevista de 900 novos auditores fiscais pelo Ministério do Trabalho busca dar conta desta nova demanda regulatória, representando resposta institucional às pressões sociais por melhores condições laborais. Contudo, como destaca Fontes, “o capitalismo contemporâneo tem na extração do sobretrabalho sob diferentes modalidades o seu fundamento”6, o que limita o potencial transformador de medidas meramente normativas que não alteram as relações de produção subjacentes.

A experiência da empresa Coris Seguro Viagem, que após identificar aumento de licenças por motivos psicológicos implementou medidas de apoio aos funcionários, exemplifica as tentativas empresariais de mitigar o problema sem questionar suas causas estruturais. Iniciativas como apoio psicológico, benefício de academia e orientação financeira constituem respostas paliativas que, embora possam produzir melhoras pontuais, não alteram fundamentalmente as relações de exploração que produzem o adoecimento em primeiro lugar. Estes casos ilustram os limites das soluções individualizantes para problemas socialmente determinados.

O fenômeno do adoecimento mental no trabalho manifesta aspectos de uma “economia moral” contemporânea, revelando como valores culturais e expectativas compartilhadas sobre direitos e responsabilidades moldam as relações econômicas. Quando trabalhadores brasileiros adoecem e se afastam em números recordes, expressam uma forma de avaliação moral das condições laborais consideradas injustas ou insuportáveis. O corpo adoecido torna-se, assim, testemunho material das contradições sociais que permeiam o mundo do trabalho, inscrevendo na carne e na psique os efeitos da exploração capitalista.

Para a Fundação Oswaldo Cruz, os impactos sociais da covid-19 afetaram de forma desigual diferentes estratos da população brasileira, “aprofundando vulnerabilidades preexistentes e criando novas formas de exclusão social”.7No campo da saúde mental, isto se manifestou no agravamento de quadros prévios e no surgimento de novos casos relacionados às condições materiais adversas enfrentadas durante e após a crise sanitária. A experiência traumática coletiva da pandemia combinou-se com pressões econômicas intensificadas, produzindo terreno fértil para o adoecimento psíquico massivo observado nos dados oficiais.

Os dados do Ministério da Saúde indicam que o número de suicídios é 45% maior entre pessoas pretas e pardas em comparação às brancas, evidenciando como o racismo estrutural opera como determinante social da saúde mental.8 Esta estatística alarmante demonstra a necessidade de análise interseccional que considere como diferentes formas de opressão – classe, gênero e raça – se combinam na produção de experiências específicas de sofrimento psíquico. A história social do trabalho no Brasil contemporâneo não pode ser compreendida sem considerar estas múltiplas determinações que constituem a experiência concreta dos trabalhadores.

Segundo estimativas da Organização Mundial da Saúde, aproximadamente 12 bilhões de dias úteis são perdidos globalmente todos os anos devido à depressão e ansiedade, representando perdas econômicas de aproximadamente US$ 1 trilhão anualmente.9 Estes números evidenciam as profundas contradições de um sistema produtivo que, ao priorizar ganhos imediatos em detrimento do bem-estar dos trabalhadores, produz prejuízos econômicos substanciais no médio e longo prazos. O adoecimento massivo emerge, assim, como sintoma das disfunções estruturais do próprio capitalismo contemporâneo.

A experiência das trabalhadoras entrevistadas pelo G1 revela como as pressões financeiras, a precariedade das condições laborais e as desigualdades estruturais se inscrevem nos corpos e mentes daqueles que vivem da venda de sua força de trabalho. Seus relatos constituem testemunhos valiosos para a compreensão da experiência da classe trabalhadora brasileira contemporânea, permitindo acessar dimensões do sofrimento psíquico relacionado ao trabalho que os dados quantitativos, por si só, não conseguem captar. Estas narrativas singulares de dor e resistência revelam os sujeitos históricos concretos por trás das estatísticas alarmantes.

A crise de saúde mental no trabalho evidencia o caráter contraditório das relações de produção contemporâneas. Por um lado, as empresas demandam trabalhadores produtivos, engajados e resilientes; por outro, submetem estes mesmos indivíduos a condições que inviabilizam sua saúde psíquica. A intensificação do trabalho, as metas inatingíveis, a insegurança permanente e a desvalorização sistemática produzem adoecimento generalizado, comprometendo a própria produtividade que o sistema busca maximizar. Esta contradição fundamental revela os limites intrínsecos do modelo produtivo vigente.

A pesquisadora Thatiana Cappellano oferece análise pertinente ao observar que “muitas pessoas foram demitidas [durante a pandemia], e as que ficaram aumentaram terrivelmente a intensidade do trabalho. Quando a pandemia acabou, isso não regrediu. Todo mundo continua trabalhando no mesmo ritmo acelerado, só que talvez a gente não tenha estrutura psíquica e física para suportar esse ritmo por tanto tempo”. Esta observação evidencia como transformações no processo produtivo impactam diretamente a saúde dos trabalhadores, estabelecendo ritmos e demandas incompatíveis com o bem-estar psíquico, caracterizando o que poderíamos denominar como processo de expropriação da saúde mental.

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística registra que as mulheres recebem remuneração inferior à dos homens em 82% das áreas profissionais, enquanto simultaneamente arcam com a maior parte do trabalho não remunerado.10 Este padrão social gera sobrecarga específica para as mulheres trabalhadoras, que enfrentam jornadas múltiplas, menores salários e maior responsabilidade no cuidado familiar. A experiência material destas trabalhadoras constitui elemento fundamental para compreender os índices elevados de adoecimento mental feminino, revelando como as desigualdades de gênero se articulam com a exploração de classe na produção de formas específicas de sofrimento psíquico.

O adoecimento mental massivo entre trabalhadores brasileiros revela, portanto, não apenas uma crise de saúde pública, mas uma profunda crise nas relações de trabalho contemporâneas. Os corpos e mentes adoecidos testemunham as contradições de um sistema produtivo que, ao subordinar o bem-estar coletivo às exigências de acumulação, produz formas generalizadas de sofrimento psíquico. A história que se desenrola diante de nossos olhos exige abordagem que reconheça a centralidade da experiência dos trabalhadores comuns como sujeitos históricos que, mesmo em condições adversas, continuam a forjar sua própria história – ainda que não exatamente nas condições por eles escolhidas.


Referências:

ANTUNES, Ricardo. O Privilégio da Servidão: O Novo Proletariado de Serviços na Era Digital. 2. ed. São Paulo: Boitempo, 2020.

CASEMIRO, Poliana; MOURA, Rayane. Crise de saúde mental: Brasil tem maior número de afastamentos por ansiedade e depressão em 10 anos. G1, São Paulo, 10 mar. 2025. Disponível em: https://g1.globo.com/trabalho-e-carreira/noticia/2025/03/10/crise-de-saude-mental-brasil-tem-maior-numero-de-afastamentos-por-ansiedade-e-depressao-em-10-anos.ghtml. Acesso em: 10 mar. 2025.

DEJOURS, Christophe. A Loucura do Trabalho: Estudo de Psicopatologia do Trabalho. 6. ed. São Paulo: Cortez, 2018.

FONTES, Virgínia. O Brasil e o Capital-Imperialismo: Teoria e História. 3. ed. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 2022.

FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ. Os Impactos Sociais da Covid-19 no Brasil: População Vulnerável e Respostas à Pandemia. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2023.

HIRATA, Helena. Nova Divisão Sexual do Trabalho? Um Olhar Voltado para a Empresa e a Sociedade. São Paulo: Boitempo, 2018.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Estatísticas de Gênero: Indicadores Sociais das Mulheres no Brasil. Rio de Janeiro: IBGE, 2024.

LANCET COMMISSION ON GENDER AND GLOBAL HEALTH. Gender Inequalities and COVID-19: Long-term Impacts on Work and Mental Health. The Lancet, v. 399, n. 10334, p. 1457-1488, 2023.

MINISTÉRIO DA SAÚDE. Boletim Epidemiológico de Suicídio e Autolesão. v. 3. Brasília: Secretaria de Vigilância em Saúde, 2024.

ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. Saúde Mental no Local de Trabalho: Diretrizes Globais. Genebra: OMS, 2023.

SELIGMANN-SILVA, Edith. Trabalho e Desgaste Mental: O Direito de Ser Dono de Si Mesmo. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2021.


Notas:

1 DEJOURS, Christophe. A Loucura do Trabalho: Estudo de Psicopatologia do Trabalho. 6. ed. São Paulo: Cortez, 2018.

2 HIRATA, Helena. Nova Divisão Sexual do Trabalho? Um Olhar Voltado para a Empresa e a Sociedade. São Paulo: Boitempo, 2018.

3 LANCET COMMISSION ON GENDER AND GLOBAL HEALTH. Gender Inequalities and COVID-19: Long-term Impacts on Work and Mental Health. The Lancet, v. 399, n. 10334.

4 SELIGMANN-SILVA, Edith. Trabalho e Desgaste Mental: O Direito de Ser Dono de Si Mesmo. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2021.

5 ANTUNES, Ricardo. O Privilégio da Servidão: O Novo Proletariado de Serviços na Era Digital. 2. ed. São Paulo: Boitempo, 2020.

6 FONTES, Virgínia. O Brasil e o Capital-Imperialismo: Teoria e História. 3. ed. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 2022.

7 FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ. Os Impactos Sociais da Covid-19 no Brasil: População Vulnerável e Respostas à Pandemia. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2023.

8 MINISTÉRIO DA SAÚDE. Boletim Epidemiológico de Suicídio e Autolesão. v. 3. Brasília: Secretaria de Vigilância em Saúde, 2024.

9 ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. Saúde Mental no Local de Trabalho: Diretrizes Globais. Genebra: OMS, 2023.

10 INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Estatísticas de Gênero: Indicadores Sociais das Mulheres no Brasil. Rio de Janeiro: IBGE, 2024.

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Unidade com amplitude na construção de dias melhores

8M – Sou mulher, sou farmacêutica, tenho direitos!

“Aos que não desistem
Do amor, da luta, da labuta!
Aos que não desistem
Da ternura
E daquela solidariedade
Incessante e itinerante!
Aos que não desistem
Da beleza contida
Na verdade,
Na unidade,
Na liberdade!”
Jussara Cony

Defendemos a democracia cidadã como a única forma de respeito à diversidade e à pluralidade, oferecendo a efetiva proteção dos direitos humanos. Sem essa base democrática, não há como assegurar que esses direitos sejam respeitados e promovidos.

Uma sociedade democrática é aquela que entende que a qualidade de vida das pessoas está acima do lucro exorbitante das empresas. 

Estes são alguns elementos pelos quais a democracia está em constante disputa, na qual se apresentam as diferentes concepções de sociedade 

Deste modo, depreendemos que a relação entre direitos humanos e democracia é estreita e indispensável, sendo os direitos humanos um fim, e a democracia, o meio que permite alcançar esse fim. 

A Fenafar, há 50 anos defende os direitos, valoriza o trabalho farmacêutico e os direitos de todas as pessoas, numa toada intransigente da defesa da democracia e de um desenvolvimento e soberano do Brasil.

E ao longo de décadas a categoria farmacêutica vem comprovando que tem capacidade para superar os desafios em prol de si, mas a toda cidadã e cidadão brasileiro. Não apenas pelo nosso fazer no atendimento às necessidades sociais, mas pela nossa atuação profissional, em diferentes frentes, que possibilitam qualidade de vida e desenvolvimento para o país. 

A força das mulheres é inigualável! A Organização das Nações Unidas (ONU) proclamou oficialmente o “Dia Internacional da Mulher” em 1977. Essa data comemora as conquistas femininas ao longo dos séculos e alerta sobre os graves problemas de gênero ainda existentes. 

E as farmacêuticas se colocam neste cenário há muitas décadas. Contribuindo no fortalecimento de distintas ações que de fato resultem em mudanças para que todas as pessoas vivam melhor. 

No campo da saúde das trabalhadoras e dos trabalhadores, o nosso olhar para as prioridades nacionais voltados para a vigilância e a promoção da saúde, para a formação de pessoas e os temas de interesse para estudos e pesquisas, com vistas a ampliar a implementação da Saúde do Trabalhador no Brasil e a interposição sobre os grandes problemas comuns ao país. Daí nosso empenho em participar das pautas de interesse da saúde da classe trabalhadora, que inclui as farmacêuticas e os farmacêuticos.

Neste sentido, o ano de 2025 nos oportuniza distintas agendas políticas como a 5ª Conferência Nacional da Saúde das Trabalhadoras e dos Trabalhadores (em agosto), o 11º Congresso da Fenafar (em agosto), a Conferência Nacional do Trabalho (outubro) e a 5º Conferência Nacional de Políticas para as Mulheres (setembro). 

Farmacêuticas e farmacêuticos! A construção de melhorias para uma vida digna é permanente! Essencial suas participações nas agendas dos sindicatos da categoria no seu Estado. As conquistas dependem de nossa união, persistência e resiliência!

Participe das agendas deste mês de março na sua cidade! 

E convidamos que você conheça outras publicações para o mês de março de 2025:

União Brasileira de Mulheres – https://acrobat.adobe.com/id/urn:aaid:sc:US:603872b7-90c5-4bd7-906f-c631ff6dbfa6?viewer%21megaVerb=group-discover

Central das Trabalhadoras e Trabalhadores do Brasil – https://www.ctb.org.br/2025/03/01/marco-mes-das-mulheres-e-avancos-na-luta-por-igualdade/

Sem Voice Trabalhador – https://youtu.be/HyAs27UY0I0?si=zMD78SZOii9SY2GK

Boletim – Mulher chefia mais domicílios, mas segue com menos direitos e oportunidades no trabalho – https://www.dieese.org.br/boletimespecial/2025/mulheres2025.html

Infográfico Brasil e regiões – Mulheres: a inserção no mercado de trabalho
https://www.dieese.org.br/infografico/2025/mulheresBrasilRegioes.html

Pela ratificação da Convenção nº 190 da OIT para promoção de direitos humanos

8M – Sou mulher, sou farmacêutica, tenho direitos!

Pela ratificação da Convenção nº 190 da OIT para promoção de direitos humanos!

“A vida começa quando a violência acaba”.
Maria da Penha

A pauta sobre violência no mercado de trabalho é permanente para a Fenafar. Consequentemente, é inerente a nossa defesa pela ratificação da Convenção nº 190 da OIT, em que governo brasileiro deu início ao processo de debate, em 2023, na busca em eliminar Violência e Assédio no Mundo do Trabalho, e que acompanhamos através da CTB.

A Fenafar lançou enquete sobre violência e desigualdade de gênero na profissão farmacêutica objetivando mapear o perfil das farmacêuticas e as violências enfrentadas por elas, a fim de desenvolver ações de prevenção e mitigação.

Tal iniciativa representa mais um passo importante na luta pela igualdade e dignidade no trabalho, reafirmando o papel crucial da Fenafar, e de seus sindicatos filiados, na defesa dos direitos da categoria farmacêutica e na construção de uma sociedade mais justa e democrática.

Como resultados parciais desta enquete destacamos das respondentes:

  • A maioria está entre 29 a 50 anos de idade (representando em torno de 70%).
  • 60% atuam no segmento varejista e 14% na área hospitalar.
  • Acima de 60% tem carteira assinada, 4% sem carteira assinada e 17% servidor(a) público(a).
  • Mais de 52% informaram que já estiveram submetidas(os) alguma forma de constrangimento repetido e prolongado, dos quais, mais de 20% por ter a obrigação de realizar tarefas humilhantes ou em condições insalubres. E infelizmente, mais de 70% buscaram outros espaços, que não o sindicato ou a justiça, para registrar sua situação.
  • O adoecimento mental teve registro em torno de 15% e ampla maioria não especificou o seu adoecimento.

Estes dados e informações reafirma que a Fenafar, e seus sindicatos filiados, tem interesse em estudar e aprofundar as diferentes formas de violências, em especial as de gênero (assédio moral, assédio sexual, diferenciação salarial na mesma função, dentre outros). Estas situações são problemas sociais do Brasil que se manifestam de diversas formas, desde discriminação e assédio no ambiente de trabalho até estupros e outras formas de agressão física e psicológica, atreladas às questões culturais de uma sociedade ainda tão patriarcal e machista.

Convidamos as farmacêuticas e os farmacêuticos a responderem a este formulário para que possamos traduzir em ações concretas na proteção às vidas de quem cuida de todas as pessoas. 

Para esta publicação vale registrar a Lei Maria da Penha (Lei nº 11.340/2006): farmacêutica vítima de violência doméstica. Esta Lei define a violência doméstica e familiar contra a mulher como crime e indica formas de evitar, enfrentar e punir essa violência. Mas ainda são muitos os desafios para sua implementação efetiva, tais como: falta de recursos financeiros públicos e pessoas capacitadas e em número suficiente, nos serviços, para a proteção de mulheres ameaçadas, na grande maioria, pelo seu companheiro; subnotificações, seja por medo seja por desconhecimento dos canais de denúncia; e a necessidade de conscientizar a sociedade sobre padrões de gênero.

Mas independentemente do tipo de violência, é de suma importância sabermos identificar, como enfrentar e mesmo superar esta grave situação de impactos diretos na vida das pessoas. A Fenafar realizou uma transmissão com estas abordagens. 

Existem materiais para consulta muito úteis, tais como:

Violência e Assédio Sexual no Trabalho, Ministério Público do Trabalho.
Guia de Prevenção ao Assédio Moral e Sexual, Ministério do Trabalho e Emprego.

Destacamos que este assunto precisa do envolvimento da(o)s colegas farmacêutica(o)s, afinal a luta é coletiva e exige a compreensão e apoio à mudança, em especial dentre os homens em suas vidas para que de fato possamos mudar a realidade com respeito a todas as pessoas.