Desafios e contribuições do trabalho e educação farmacêutica para responder às necessidades sociais

A Mesa 4 do 11º Congresso da Fenafar, realizada no dia 7 de agosto, discutiu o tema “Desafios e Contribuições do Trabalho e da Educação Farmacêutica para Atender às Necessidades Sociais do País”. Foi um espaço de profunda reflexão sobre o papel da formação e do trabalho farmacêutico na construção de um país mais justo e com saúde integral. 

Sob coordenação de Maria Helena Braga, coordenadora geral do Instituto ENFar, a mesa teve como palestrante principal a professora Olgamir Amâncio, da Universidade de Brasília (UnB), que trouxe uma contribuição potente e crítica para o debate. 

Com uma fala abrangente e reflexiva, Olgamir Amâncio ressaltou a necessidade de uma formação acadêmica e profissional que esteja profundamente vinculada às demandas sociais e aos territórios, superando os limites da formação tradicional fragmentada e verticalizada ainda presente em muitas instituições. 

Ao abordar os desafios e contribuições do trabalho e da educação farmacêutica, ela defendeu uma abordagem integrada, interdisciplinar e intersetorial, que articule teoria e prática e esteja comprometida com a humanização dos processos formativos.  
 
Olgamir alertou para os impactos da tecnologia e da pandemia de COVID-19, que aprofundaram a mercantilização da educação e o individualismo, características de uma lógica de formação moldada pelo capital. Para ela, é fundamental combater essa lógica e promover uma formação voltada para a emancipação humana, que valorize os vínculos comunitários e a solidariedade. 

A professora também sublinhou a importância de reconhecer os territórios como espaços vivos de produção de saber, onde os saberes populares e ancestrais dialogam com os saberes acadêmicos. Essa perspectiva, segundo ela, amplia o horizonte da formação e qualifica o cuidado em saúde. 

Por fim, Olgamir defendeu a superação da formação tecnicista e a construção de uma educação crítica e comprometida com a transformação social. Citou a experiência do SUS como um modelo avançado de articulação entre trabalho, educação e participação social, e destacou o papel estratégico da extensão universitária na construção coletiva do conhecimento e na promoção da justiça social. 

Após a palestra, os participantes foram divididos em grupos para discutir perguntas reflexivas relacionadas ao tema. Os resultados dessas discussões foram apresentados em plenária e comentadas pelos debatedores. 

Deick Rodrigues Quaresma do Sindifarma-PA e diretor suplente da Fenafar mencionou a preocupação com a formação dos farmacêuticos, criticando a educação a distância (EAD) e a formação de colaboradores em vez de farmacêuticos. Ele enfatizou a necessidade de melhorar a formação e a comunicação entre os sindicatos e a base, além de retomar a proximidade com os diretórios acadêmicos. 

Renata Cristina Rezende Macedo do Nascimento professora da UFOP destacou a importância do diálogo entre o Ministério da Saúde e o Ministério da Educação para promover projetos de extensão e melhorar a formação dos profissionais. Ela também destacou a necessidade de cuidar da saúde mental dos estudantes, especialmente após a pandemia. 

Silvana Nair Leite professora da UFSC e diretora de Educação da Fenafar 

Silvana agradeceu a oportunidade de participar do congresso e destacou a evolução da formação farmacêutica ao longo das décadas e a necessidade de questionar e problematizar as práticas de trabalho. Silvana enfatizou a importância da formação crítica e do papel dos sindicatos na formação dos profissionais. Ela também apontou a necessidade de uma educação emancipadora e coletiva, que vá além das especializações individuais. 

Durante sua análise a palestrante Olgamir Amâncio destacou a importância do movimento sindical como uma escola de formação e a necessidade de uma compreensão mais ampla da luta de classes. Ele elogiou a metodologia do congresso e a importância do debate sobre o assédio moral e sexual. Olgamir também apontou a necessidade de uma formação adequada para os professores, a importância da extensão universitária e a necessidade de uma educação que dialogue com a realidade social e promova a transformação. 

A mesa concluiu com uma forte defesa da formação humanística, crítica e reflexiva, comprometida com os princípios do SUS e com a transformação da realidade social. A formação farmacêutica deve contribuir para a construção de um país com justiça social, saúde como direito e participação cidadã. 

Como sintetizou Olgamir, ao citar Anísio Teixeira: “A sabedoria é a subordinação do saber ao interesse humano, e não ao interesse do saber pelo saber.” 

Esse foi o espírito que atravessou toda a mesa: o compromisso com uma formação que forme não apenas profissionais técnicos, mas sujeitos éticos, críticos e engajados com a transformação do Brasil.