Na manhã dessa terça-feira (6), a categoria farmacêutica se reuniu para discutir o papel das farmacêuticas e dos farmacêuticos na defesa da saúde e da assistência farmacêutica. A segunda mesa do 11º Congresso, coordenada pelo Primeiro Secretário da entidade, Dalmare Anderson de Sá, foi marcada por uma rica troca de experiências, análises políticas e propostas concretas para o fortalecimento da profissão e da saúde pública.
A atividade foi aberta com a palestra do diretor do Departamento de Assistência Farmacêutica e Insumos Estratégicos (DAF/MS), Marco Aurélio Pereira, que fez uma análise sobre a trajetória da assistência farmacêutica no Brasil e os caminhos para sua consolidação como política pública estruturante do SUS.
Marco Aurélio relembrou marcos históricos da profissão, como a criação da Política Nacional de Medicamentos, o fortalecimento do SUS e a implementação do Programa Farmácia Popular, destacando que foi coordenador da iniciativa entre 2010 e 2016. Ele apontou os desafios enfrentados ao longo das décadas, como a resistência à chegada dos medicamentos genéricos e a ameaça constante de retrocessos, como a proposta de venda de medicamentos em supermercados.
“A organização e a luta da categoria foram fundamentais para as conquistas que temos hoje. Precisamos manter a vigilância e ampliar a presença dos farmacêuticos nos espaços de decisão, pois somos a profissão da saúde mais acessível à população brasileira”, afirmou.
O palestrante também alertou para a urgência de garantir soberania nacional na produção de medicamentos e insumos estratégicos, especialmente após as fragilidades expostas pela pandemia da Covid-19.
Dinâmica participativa e debates
Após a palestra, os congressistas se dividiram em grupos para discutir perguntas orientadoras, refletindo sobre os desafios locais e nacionais da assistência farmacêutica.
Na sequência, os resultados dos grupos foram apresentados em plenária, revelando a diversidade das realidades enfrentadas em todo o país, mas também a potência da categoria em construir caminhos coletivos.
Em seguida os debatedores fizeram uso da palavra para comentar. Representando a Sociedade Brasileira de Farmácia Hospitalar e Serviços de Saúde (SBRAFH), a farmacêutica Maely Peçanha Fávero Retto destacou o avanço das práticas clínicas e a importância da aproximação da SBRAFH com a Fenafar, numa articulação entre o movimento sindical e as entidades científicas.
Ela relembrou sua trajetória como servidora pública no Rio de Janeiro, com dupla jornada no SUS, e criticou a precarização das condições de trabalho, como a retirada da insalubridade dos profissionais que manipulam quimioterápicos.
“A gente precisa se reconhecer como trabalhadoras e trabalhadores da saúde, com direitos. Somos agentes centrais no cuidado, na educação em saúde, no acesso a medicamentos e também no enfrentamento à desigualdade e à violência. Precisamos ocupar esses espaços com protagonismo e qualificação”, defendeu.
O presidente do Sindicato dos Farmacêuticos do Ceará, André Cavalcante, trouxe uma provocação importante ao plenário: a necessidade de a Fenafar intensificar sua atuação na defesa das e dos profissionais que atuam no setor privado.
“O farmacêutico do comércio não parou na pandemia. Estava lá, atendendo, muitas vezes sem EPI, sem reconhecimento, sem insalubridade. E ainda hoje, sofre com assédio moral, sobrecarga e precarização”, afirmou.
De volta à plenária, Marco Aurélio retomou a palavra para chamar a atenção para os riscos da desinformação: “Estamos entrando em um período eleitoral e os ataques virão não só contra o governo, mas contra o SUS e a própria assistência farmacêutica. Precisamos estar preparados, com dados, com discurso, com unidade”.
Ao final, ele fez um apelo à categoria: “Se não formos nós, que estamos do lado certo da história, a defender o que é público, ninguém fará por nós”.