11º Congresso inicia com reflexões sobre as crises e seus impactos no mundo do trabalho 

A primeira mesa de debates do 11º Congresso da Fenafar, realizada na tarde do dia 5 de agosto, abordou o tema “Quais os impactos das crises econômica e política no mundo do trabalho para as farmacêuticas e os farmacêuticos?”, reunindo sindicalistas e especialistas para uma discussão qualificada, coletiva e propositiva. 

Com coordenação de Renata Gonçalves, presidenta do Sindicato dos Farmacêuticos de São Paulo e diretora de Relações Institucionais da Fenafar, a mesa abriu os trabalhos com uma reflexão sobre os desafios enfrentados pela categoria nos últimos anos.  

Renata apontou como as políticas econômicas globais e nacionais afetam diretamente as negociações salariais e as condições de trabalho. Segundo ela, “é preciso dar visibilidade a esses impactos e fortalecer a mobilização da categoria”. 

A exposição principal foi feita pelo sociólogo Luiz Carlos da Silva, que possui ampla experiência em assessoria sindical e parlamentar. Luiz Carlos traçou um panorama histórico das transformações do capitalismo e como elas têm gerado insegurança e precarização nas relações de trabalho. Ele também ressaltou o poder crescente das grandes corporações farmacêuticas (Big Pharma), os efeitos do neoliberalismo nas políticas públicas e a urgência de os profissionais de saúde, especialmente farmacêuticos, se articularem mais com a sociedade. 

Luiz Carlos também abordou o desinvestimento em ciência e tecnologia, fazendo um chamado à categoria para ocupar espaços de diálogo e decisão política. “É preciso romper a bolha e comunicar à população a importância estratégica do nosso trabalho para a saúde e a soberania nacional”, afirmou. 

Dinâmica participativa: perguntas reflexivas e construção coletiva 

Após a palestra, os congressistas foram divididos em quatro grupos e participaram de uma dinâmica inovadora, discutindo três perguntas reflexivas: 

Como enfrentar o poder das grandes corporações farmacêuticas e os impactos do monopólio das redes de farmácias nas condições de trabalho? 

De que forma os sindicatos podem se organizar frente à alta dos juros, ao subfinanciamento do SUS e ao avanço de projetos políticos conservadores? 

Como construir propostas de jornadas de trabalho mais justas e sustentáveis, que valorizem a qualidade de vida dos farmacêuticos? 

O debate evidenciou que as crises recentes, combinando instabilidade política, recessão econômica e avanço de grandes corporações no setor, têm aprofundado a precarização das relações de trabalho. A concentração de mercado, em que apenas três redes detêm mais de 50% do varejo farmacêutico, foi apontada como um dos fatores que fragilizam a autonomia técnica do farmacêutico e priorizam interesses comerciais sobre a função sanitária das farmácias.

Entre as principais pautas comuns levantadas pelos grupos, destacam-se:

Redução da jornada de trabalho para 30 horas semanais e fim da escala 6×1, com valorização salarial e condições dignas.

Fortalecimento das entidades sindicais e dos conselhos profissionais, ampliando a articulação com o Ministério Público do Trabalho e demais órgãos de defesa dos direitos trabalhistas.

Uso estratégico da Lei nº 13.021/2014, que reconhece a farmácia como estabelecimento de saúde, para garantir o cumprimento do papel clínico do farmacêutico.

Aprimoramento da comunicação e da formação política, atraindo novos profissionais à sindicalização e ampliando o diálogo com estudantes, trabalhadores e sociedade.

Ocupação de espaços políticos e de controle social, incentivando a eleição de representantes da categoria e participação ativa em conselhos e conferências de saúde.

As propostas incluíram desde a criação de aplicativos para facilitar denúncias trabalhistas até a formação de frentes parlamentares em defesa do trabalho farmacêutico. Houve consenso de que a resistência exige unidade, mobilização e estratégia, tanto no campo jurídico e sindical quanto na esfera legislativa.

Os grupos também denunciaram o impacto das políticas de austeridade e das reformas regressivas — como a Reforma Trabalhista e o teto de gastos — sobre o financiamento do SUS e a valorização profissional. Para enfrentar esse cenário, defenderam uma agenda que una sindicatos, movimentos sociais, universidades e outras categorias da saúde na luta por juros mais baixos, justiça fiscal e fortalecimento dos serviços públicos.

As falas dos participantes reforçaram que o farmacêutico precisa ser reconhecido como trabalhador essencial à saúde e à comunidade, rompendo com a visão mercantilizada imposta pelas grandes redes. “A luta é para que o farmacêutico seja visto como profissional da saúde, não da doença”, resumiu um dos representantes.

A síntese dos trabalhos da Mesa 1 será incorporada ao documento final do Congresso, servindo de referência para a atuação da Fenafar e dos sindicatos nos próximos anos, com uma agenda que alia defesa da saúde pública, soberania nacional e valorização da categoria.

Debatedores reforçam necessidade de organização e ação política 

A mesa foi finalizada com comentários dos debatedores, Fábio Basílio, presidente da Fenafar; Júnia Dark Vieira Lelis Ligório, coordenadora do Sindicato dos Farmacêuticos de Minas Gerais e diretora de Formação Sindical da Fenafa e o próprio palestrante, Luiz Carlos da Silva. 

Os debatedores reforçaram o chamado à organização sindical e à participação política da categoria, tanto nas pautas corporativas quanto nos grandes temas nacionais, como a defesa do SUS, a regulação do mercado farmacêutico e a proteção dos direitos trabalhistas. 

Com uma metodologia dinâmica e centrada no protagonismo dos participantes, a Fenafar dá o tom de um congresso que busca construir caminhos concretos para o fortalecimento da profissão e da luta em defesa da saúde pública. 

O 11º Congresso da Fenafar segue até 8 de agosto, em Ouro Preto (MG), reunindo farmacêuticos de todo o país. Acompanhe a cobertura completa nas redes sociais da Fenafar.