Em consonância com o dia 08 de março, Dia Internacional da Mulher, o Conselho Nacional de Saúde (CNS) realiza uma série de matérias e entrevistas com mulheres que integram o colegiado e se destacam pela sua atuação na defesa de seus direitos. A conselheira Carmen Lúcia, que representa a União Brasileira de Mulheres (UBM) no segmento de usuárias, fala um pouco sobre a pauta feminina.
Carmen destaca a importância da luta das mulheres para garantir mais direitos à saúde pública e nenhum retrocesso no que tange o Sistema Único de Saúde (SUS). A conselheira é sanitarista especializada em psiquiatria social, atua há quase 30 anos no movimento de mulheres, trabalhou na Secretaria de Saúde de Florianópolis e coordenou a rede de atenção integral às vítimas de violência sexual.
Leia a entrevista a seguir
Como você avalia a evolução da saúde da mulher com relação ao SUS?
Carmem Lúcia: Antes do SUS, a saúde da mulher tinham ações específicas para este público. Com a criação do SUS, as mulheres passaram a integrar programas de saúde reprodutiva. É preciso retomar a questão de todos os métodos contraceptivos, tratar a sexualidade e encarar de forma ética, política e coerente a legalização do aborto, que hoje é a quinta causa de morte das mulheres. Os agravos provocados por abortos ilegais trazem problemas enormes tanto para a saúde da mulher, quanto para os serviços de saúde. A saúde da mulher deve trazer o debate a público. Em países como a França, o direito ao aborto é uma opção de acordo com a grave aflição que a gravidez pode provocar. A mulher é dona do seu próprio corpo.
Quais os principais avanços que as mulheres devem comemorar sobre a saúde da mulher?
Carmem Lúcia: A criação das redes de atenção às vítimas de violência sexual, com a realização do aborto legal nas vítimas de violência sexual. A nova notificação para mulheres em situação de violência, em especial quanto à identidade de gênero e orientação sexual, é outro avanço importante.
Com a ameaça constante do vírus Zika, como as mulheres organizadas estão enfrentando a questão da microcefalia e a maternidade?
Carmem Lúcia: É complexo. Ainda não debatemos no CNS. Pretendemos fazer essa conversa na próxima reunião ordinária. Precisamos fechar a posição do colegiado sobre esse tema. A partir de testes realizados por pesquisadores da Fiocruz, foram comprovados a vinculação do vírus Zika com a microcefalia. Ou seja, aquilo que antes era apenas uma suspeita passou a ser a realidade na vida das mulheres.
Como o movimento de mulheres avalia a Lei 13.239/2015, que dispõe sobre a oferta e a realização, no âmbito do SUS, da cirurgia plástica reparadora de sequelas e lesões causadas por atos de violência contra a mulher?
Carmem Lúcia: Esta lei é muito importante Já deveria estar nas ruas há tempos. Uma mulher que sofre uma violência grave, o Estado deve sim reparar este dano. Acredito que devemos aprimorar ainda mais os serviços de atendimento às mulheres vítimas de violência como, por exemplo, a saúde mental, em que muitas mulheres não têm o atendimento adequado. Os serviços de saúde mental não têm um olhar de gênero dentro do seu projeto de atenção.
Qual mensagem a conselheira gostaria de passar para todas as mulheres no dia 08 de Março?
Carmem Lúcia: Que o dia 08 de Março, quando a pauta feminina ganha espaço, pudesse se repetir em todos os outros dias do ano e o debate do enfrentamento às dificuldades que a mulher sofre na sociedade fosse constante. Que esta entrevista aconteça sempre, com empenho, nessa luta cotidiana. A construção da equidade só virá quando o poder público e a sociedade estiverem juntos e organizados.
Fonte: CNS, Mariana Moura