6º Congresso

6º Congresso

Nos dias 04 e 05 de abril, na cidade de João Pessoa, na Paraíba, a diretoria da Federação Nacional dos Farmacêuticos se reuniu para convocar o 6º Congresso da entidade e o 2º Simpósio Nacional de Assistência Farmacêutica, que acontecerão paralelamente entre os dias 13 e 15 de agosto em Salvador, na Bahia.


capateseO Congresso acontece no momento em que a Fenafar completa 35 anos de luta em defesa do farmacêutico, de uma política nacional de Assistência Farmacêutica e pela universalização do atendimento à saúde. Reafirmar o compromisso da Fenafar com essas lutas e impulsionar a organização da categoria para alcançar conquistas efetivas estão entre os objetivos do Congresso.

Entre os temas que serão abordados nos debates do Congresso, cuja etapa nacional será precedida de discussões em todo o país, estão as questões relacionadas à situação política e econômica nacional e internacional, debate que terá como pano de fundo a crise econômica mundial em curso.

Diretoria discute a crise
Na reunião da diretoria a discussão da crise teve centralidade. Os diretores ressaltaram a importância da participação da Fenafar, dos sindicatos e de toda a categoria nas lutas para impedir que os impactos dessa crise – que é uma crise do sistema capitalista gestada pelo capital especulativo – não seja paga com a retirada de direitos dos trabalhadores, com o desemprego em massa e com o empobrecimento ainda maior do povo brasileiro. “Esta não é uma crise momentânea, mas do sistema, e as teses que a Fenafar vem apresentando nos seus últimos congressos mostra um acerto para a condução do enfretamento destas crises e destes sistema”, salientou Marco Aurélio, tesoureiro da Fenafar.

A crise e o mercado farmacêutico
Durante a reunião, também foi abordado o impacto da crise econômica mundial sobre os insumos, medicamentos, e as negociações trabalhistas. A avaliação é que no caso dos trabalhadores farmacêuticos esse reflexo deverá ser melhor medido a partir de abril, quando a categoria entre no processo de negociação de sua data-base. Também foi salientado que a indústria de fármacos é uma das mais rentáveis do mundo não havendo ainda dados concretos de perdas significativas no setor. Há alguns segmentos da indústria e do varejo farmacêutico que têm uma rentabilidade de 90 a 100% de lucro.

Acompanhe passo-a-passo o 6º Congresso
Todas as informações referentes aos 6º Congresso da Fenafar e ao 2º Simpósio Nacional de Assistência Farmacêutica serão divulgadas pelo site da Fenafar. As logomarcas e o cartaz já estão disponívies para download, dessa forma os sindicatos e outras entidades já podem começar a ampla divulgação dessa importante atividade para toda a categoria.

Também serão disponibilizados no site o Caderno de Debates do Congresso, que irá subsdiar os debates nos locais. Um mecanismo de consulta on-line para o envio de emendas ao Caderno será oferecido aos farmacêuticos. O objetivo da diretoria da Fenafar é ampliar o máximo possível a participação da categoria, de forma democrática e transparente.

Veja, abaixo, a programação do 6º Congresso da Fenafar e do 2º Simpósio Nacional de Assistência Farmacêutica

13/08/2009 – Quinta-Feira
8h30 – Abertura dos trabalhos e composição da 1ª mesa do simpósio

9h às 12h – Avanços e Desafios da Assistência Farmacêutica no Brasil             
Tópicos a serem abordados: Qualificação; NASF e Vigilância Sanitária.

13h às 15h – 1º Tema do Congresso Situação Política Nacional e Internacional 
Tópicos a serem abordados – avaliação política do governo nos últimos anos (após 5º congresso, desenvolvimento, soberania, integração latino americano, crise internacional)

15h30 às 19h30 – Mundo do trabalho farmacêutico e organização sindical : atualidades e perspectivas 
Tópicos a serem abordados: formação do farmacêutico generalista; inserção do profissional no mercado de trabalho; novos postos de trabalho; condições sanitárias de trabalho, mercado de trabalho, negociação sindical dos farmacêuticos.

20h30 – Abertura oficial do 2º Simpósio Nacional de Assistência Farmacêutica

14/08/2009 – Sexta-Feira
9h às 12h – Saúde: quem paga a conta? 
Tópicos a serem abordados: políticas públicas e privadas; judicialização; acesso e uso racional, farmácia estabelecimento de saúde; política de assistência farmacêutica, vigilância sanitária e farmacovigilância.

13h às 16h – Os impactos da Inovação tecnológica nas Políticas de Saúde e Assistência farmacêutica
Tópicos a serem abordados: produção de fármacos, acesso a medicamentos e patentes.

16h30 – Grupos de Discussão do 6º Congresso da Fenafar

19h30 – Encerramento dos Trabalhos dos grupos

15/08/2009 – Sábado 
9h às 17h – Plenária Final do 6º Congresso da Fenafar

Programação do 6° Congresso da Fenafar, 2º Simpósio Nacional de Assistência Farmacêutica e 2º Encontro de Farmacêuticos no Controle Social

13/08/2009 – Quinta-Feira
8h30 – Abertura dos trabalhos e composição da 1ª mesa do simpósio



Gilda Almeida de Souza – Presidente da Escola Nacional dos Farmacêuticos
Célia Chaves – Presidente da Fenafar

9h às 12h – Avanços e Desafios da Assistência Farmacêutica no Brasil

Tópicos a serem abordados: Qualificação; NASF e Vigilância Sanitária.

Debatedores convidados:
Dirceu Raposo – Presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária – Anvisa.
José Miguel do Nascimento Júnior – Diretor do Departamento de Assistência Farmacêutica e Insumos Estratégicos do Ministério da Saúde.
Gisélia Santana Souza – Superintendente de Assistência Farmacêutica, Ciência e Tecnologia em Saúde da Secretaria Estadual de Saúde da Bahia ( Sesab).
Célia Machado Gervásio Chaves – Presidente da Federação Nacional dos Farmacêuticos.
Rilke Novato Públio – Secretário Geral da Escola Nacional dos Farmacêuticos (mediador).

13h às 15h – Integração da América Latina  e Desenvolvimento Nacional: os desafios do Brasil diante da crise 

Tópicos a serem abordados – avaliação política do governo nos últimos anos (após 5º congresso, desenvolvimento, soberania,  integração latino americano, crise internacional)

Debatedores Convidados:
Alice Portugal – Deputada Federal – Presidente da Frente Parlamentar de Assistência Farmacêutica.
Gerson Luiz de Almeida Silva – Assessor Especial do Ministro -Chefe da Secretaria Geral da Presidência da República, sr. Luiz Soares Dulce
Gilda Almeida de Souza – Diretoria de Relações Internacionais da Fenafar (mediadora)

15h30 às 19h30 – Mundo do trabalho farmacêutico e organização sindical : atualidades e perspectivas

Tópicos a serem abordados: formação do farmacêutico generalista; inserção do profissional no mercado de trabalho; novos postos de trabalho; condições sanitárias de trabalho, mercado de trabalho, negociação sindical dos farmacêuticos.

Debatedores convidados:
*Artur Henrique – Presidente Nacional da CUT.
Nilton Vasconcelos – Secretario Estadual de Trabalho, Emprego, Renda e Esporte da Bahia
Maria Helena Braga – Presidente da Associação Brasileira de Ensino Farmacêutico – Abenfar.
Nilce Barbosa – Presidente do Grupo Racine
Marco Aurélio Pereira – Diretor da Escola Nacional dos Farmacêuticos.
Eliane Simões – Presidente do Sindicato dos Farmacêuticos da Bahia (mediadora).

20h30 – Abertura oficial do 6º Congresso da Fenafar, 2º Simpósio Nacional de Assistência Farmacêutica e 2º Encontro Nacional de Farmacêuticos no Controle Social

14/08/2009 – Sexta-Feira
8h às 9h – Apresentação da Política Estadual de Assistência Farmacêutica e o Plano de Implantação da Fitoterapia no SUS no Estado da Bahia

9h às 12h – Saúde: quem paga a conta? O papel do controle social e da Gestão Participativa
Tópicos a serem abordados: políticas públicas e privadas; judicialização; acesso e uso racional, farmácia estabelecimento de saúde; política de assistência farmacêutica, controle social, vigilância sanitária e farmacovigilância.

Debatedores convidados:
Francisco Batista Júnior – Presidente do Conselho Nacional de Saúde
Jussara Cony – Diretora superintendente do Grupo Hospitalar Conceição – Porto Alegre – Rio Grande do Sul.
Gonzalo Vecina Neto – Superintendente Corporativo do Hospital Sírio Libanês e Ex-Presidente da Anvisa.
Dirceu Aparecido Barbano – Diretor da Agência Nacional de Vigilância Sanitária – Anvisa.
Ronald Ferreira dos Santos – Diretor de Educação da Escola Nacional dos Farmacêuticos (mediador)

13h às 15h45 – Os impactos da Inovação tecnológica nas Políticas de Saúde e Assistência farmacêutica

Tópicos a serem abordados: produção de fármacos, acesso a medicamentos e patentes.

Debatedores Convidados:
*Paulo Gadelha – Presidente da Fundação Osvaldo Cruz.
Gabriela Chaves – Farmacêutica da Campanha de Acesso a Medicamentos Essenciais dos Médicos Sem Fronteiras.
*Carlos Alexandre Geyer – Presidente da Associação dos Laboratórios Farmacêuticos Nacionais – Alanac.
Norberto Rech – Diretor Adjunto da Agência Nacional de Vigilância Sanitária.
José Liporage – Presidente da Associação Brasileira dos Farmacêuticos – ABF.
 16h – Grupos de Discussão

15/08/2009 – Sábado
9h às 17h – Plenária Final do 6º Congresso da Fenafar

Coordenadores da Mesa
Célia Chaves – Presidente da Fenafar
Maria Maruza – Secretária Geral da Fenafar
Rilke Públio – Primeiro Vice Presidente da Fenafar
Eliane Simões – Presidente do Sindicato dos Farmacêuticos no estado da BA


* Convidados a Confirmar

Com o objetivo de envolver o maior número possível de profissionais e estudantes de farmácia nos debates do 6º Congresso da Fenafar, a diretoria da entidade disponibiliza aqui a íntegra do Caderno de Debates que subsidia as discussões do Congresso.

No Caderno de Debates os temas abordados são: o Balanço da Diretoria da Fenafar – gestão 2006-2009; um documento com a análise da situação política nacional e internacional intitulado Integração da América Latina e Desenvolvimento Nacional: Os desafios do Brasil diante da crise; um texto sobre os organização sindical faz um raio X do movimento sindical no Brasil e as relações de trabalho na profissão farmacêutica. Por fim, um documento sobre a Assistência Farmacêutica no Brasil: Avanços, Desafios e Perspectivas. Clique aqui para acessar a íntegra do Caderno de Debates.

Para participar do congresso da Fenafar procure o sindicato em seu estado e informe-se sobre a data da realização da Assembleia que vai discutir os temas e eleger os representantes para a etapa nacional do Congresso, que vai acontecer na cidade de 

Salvador entre os dias 13 e 15 de agosto. Essas informações também poderão ser obtidas aqui na página 

da Fenafar.

Para criar um canal 

direto de debate, a Fenafar também vai disponibilizar um 

Fórum de Debates online para o envio de sugestões e propostas ao Congresso. Em breve o Fórum estará 

disponível para acesso com todos os critérios de participação.

Há pouco mais de um mês da realização do 6º Congresso da Fenafar, os preparativos e a mobilização para debater as questões relativas aos desafios da Assistência Farmacêutica, à valorização da profissão e também à situação do Brasil e do mundo diante da crise econômica internacional estão em pleno vapor. Leia entrevista com a presidente da Fenafar, Célia Chaves, que fala um pouco destes e de outros temas que serão debatidos no Congresso da Federação.


 

0911Estamos nos aproximando do final de mais uma gestão da Fenafar. Nestes três anos, o que você destacaria da atuação da entidade?
Célia – Houve a continuidade de várias ações que já vinham sendo desenvolvidas pelas gestões anteriores e surgiram, também, novas demandas. Temos as questões relativas à organização dos trabalhadores, da estruturação dos sindicatos. Já há algum tempo estão em curso tentativas de mudanças na estrutura sindical e dos direitos trabalhistas. Coube-nos acompanhar a luta em defesa desses direitos que foram conquistados na Constituição. Essa é uma luta permanente da nossa Federação ao lado das outras entidades sindicais dos trabalhadores. Uma outra questão ligada à área profissional e que vem de várias gestões da Federação, desde a década de 90, foi a luta pela aprovação do PL 4385/94, o substitutivo do deputado Ivan Valente. Essa luta nos envolveu bastante com realização de muitas atividades, absorvendo muito da nossa energia e dos sindicatos, visando transformar a farmácia num estabelecimento de saúde. No Congresso que deu início a esta gestão, relançamos com força a campanha Farmácia Estabelecimento de Saúde e estamos encerrando nosso mandato com a perspectiva de ver esse projeto votado depois de praticamente 15 anos de tramitação no Congresso Nacional. Essa foi outra grande luta que realizamos em torno da questão da Assistência Farmacêutica e da Saúde Pública. Houve, também, a questão da organização da Federação e dos sindicatos. Nessa gestão nós realizamos um seminário de planejamento estratégico, onde tiramos prioridades e a marca da gestão, definida pelo conjunto dos sindicatos presentes. A marca aprovada foi o fortalecimento dos sindicatos, que contribui para o próprio fortalecimento da Federação. Nós realizamos uma série de cursos de formação sindical, procurando justamente dar um suporte, dar condições para que os sindicatos consigam se desenvolver mais, ter uma organização melhor e atingir a categoria, trazendo-a para participar do sindicato. Participamos, também, das lutas mais gerais envolvendo as questões políticas e econômicas que acabam influenciando tanto na vida dos trabalhadores. E outra questão que atinge diretamente o nosso fazer farmacêutico, foi a luta contra as patentes pipeline, uma forma perversa de aplicação das patentes no Brasil que dificultou muito o acesso da população aos medicamentos, principalmente aqueles considerados essenciais para doenças como aids e câncer. Nós também estamos com a expectativa de terminar este mandato tendo êxito no nosso pleito de considerar essas patentes inconstitucionais, já que o tema está em tramitação no Supremo Tribunal Federal e, com isso, reverter todo um processo que sem dúvida foi muito nefasto para a Assistência Farmacêutica e para o acesso aos medicamentos. Essas foram lutas que tiveram uma repercussão grande não só para a categoria, mas para a sociedade em geral.

Você fez um panorama que mostra como é ampla a atuação política da Fenafar. O congresso é um espaço privilegiado para a realização dos debates sobre esses temas. Quais os assuntos em debate no congresso devem polarizar a discussão?
Célia – Na questão política mais geral, sem sombra de dúvida será a situação que vivemos hoje no mundo, de crise econômica gerada pelo capitalista, que tem repercussão também no Brasil. Sentimos isso em nosso dia-a-dia como e, na nossa profissão, sentimos o impacto da crise porque lidamos com produtos que sofrem muito com a incidência das questões econômicas. Também há o debate dos impactos da crise sobre o emprego dos trabalhadores brasileiros e, mais particularmente, dos farmacêuticos. Ai, aparecem as preocupações com as questões envolvendo as negociações salariais, a ameaça de não haver aumentos em função da crise, de termos mais dificuldade de lutar por reajustes adequados. Essa é uma situação para a qual nós temos que nos preparar, ou seja, como enfrentarmos um ambiente que talvez não seja tão favorável. Nas questões mais relativas à organização sindical, será importante a discussão do fortalecimento dos sindicatos para enfrentar esse cenário mais adverso. Temos alguns sindicatos que necessitam de mais estruturação, do ponto de vista organizativo e também de sua mobilização, que precisam ampliar as filiações e a participação da categoria para conseguir ter força para enfrentar tudo isso. Essa é uma preocupação permanente nossa. Na questão da Assistência Farmacêutica, se até o congresso nós não tivermos aprovado o substitutivo do deputado Ivan Valente e ter uma lei que garanta o caráter da farmácia estabelecimento de saúde, essa com certeza será uma luta que teremos que manter, porque estamos próximos de ter uma conquista. Se o projeto for aprovado, inicia-se uma nova etapa dessa luta que é transformar a lei aprovada em realidade para garantir sua aplicação. Um outro aspecto que precisa ser posto em novo patamar é o desafio de qualificar a presença do farmacêutico na farmácia. Nossas ações devem se concentrar na qualificação desse profissional. E nisso vamos ter uma participação muito importante da nossa Escola dos Farmacêuticos, que está se fortalecendo e realizará junto com o nosso congresso o 2º Simpósio Nacional de Assistência Farmacêutica. A partir de agora temos que empreender muitos esforços nesse sentido. Devemos realizar, junto com outras entidades, um grande número de atividades de qualificação do profissional para atuar nos pontos de dispensação de medicamentos – tanto as farmácias privadas como também no setor público –, onde estamos ampliando a presença do farmacêutico e avançando na compreensão de que somos um profissional essencial nesse processo. No meu entender esse é um dos nossos grandes desafios.

Nós defendemos propostas no âmbito da Assistência Farmacêutica que atingem diretamente a sociedade. Defendemos mudar a forma como a farmácia se organiza, defendemos novas regras para a propaganda de medicamentos. Como se dá a sensibilização da sociedade para esses temas?
Célia – Em relação à propaganda é uma luta bastante difícil, porque ela é muito assimétrica, ou seja, se compararmos o poder da indústria na veiculação de propaganda e o bombardeio que elas realizam, com o nosso espaço para colocar a nossa opinião de que existe uma outra verdade sobre a questão do medicamento, realmente é uma luta muito difícil. Temos muita dificuldade de fazer uma contra-propaganda, digamos assim. Mas acho que temos avançado muito em fazer a população entender essas questões. O processo das Conferências de Saúde, a Conferência de Assistência Farmacêutica, em 2003, e toda a nossa participação no controle social, nos conselhos de saúde e em todas as instâncias – porque onde houver uma instância discutindo saúde e assistência farmacêutica, a Federação está lá dando o seu recado e procurando através daquelas lideranças atingir uma parcela da população. Outra forma de atingir a população é através do nosso próprio trabalho. Por isso, o profissional que hoje está na farmácia prestando uma assistência de qualidade, não só apenas vendendo e empurrando o medicamento para o paciente, mas oferecendo uma orientação adequada, está começando a fazer a diferença. As pessoas estão se dando conta de que é muito melhor ter essa orientação e procurar os locais onde hajam profissionais capacitados do que simplesmente ir num lugar mais barato, mais próximo de casa, de mais fácil acesso. Eu tenho percebido isso por relatos de colegas, que me dizem que mudaram de farmácia e os clientes estão indo atrás deles. Essa pode ser uma mudança pequena, mas é parte de um processo longo de trabalho. Não é algo massivo como a propaganda que atinge milhões de pessoas, é um trabalho mais de formiguinha, mas tem sortido efeito.

Como é a mobilização da categoria para as discussões do congresso?
Célia – Basicamente de duas formas. Através da realização das assembléias que obrigatoriamente tem que acontecer para discutir os documentos base do congresso e elegerem os delegados. Esse é um processo que ocorre até por uma exigência legal. Os estatutos e regulamentos de realização do congresso preveem essas formas. Os delegados de cada estado onde nós temos sindicatos filiados e também os observadores que participam representando os Estados onde não temos sindicatos filiados têm que necessariamente passar por essas assembléias. A outra forma que estamos inaugurando é um fórum de discussão para os profissionais que queiram contribuir mesmo que não tenham conseguido participar do processo das assembléias. Ou seja, os que queiram dar sugestões e enriquecer os debates. Nós vamos inaugurar nesse congresso essa possibilidade de uma participação maior. Os documentos estão sendo enviados para os farmacêuticos e para outras instâncias. O debate não tem se restringido apenas as assembléias para eleger os delegados. Há estados que estão aproveitando outras atividades para fazer o debate.

A Presidente do Sindicato dos Farmacêuticos do Estado da Bahia, fala ao portal da Fenafar sobre a importância da realização do 6º Congresso em Salvador, e de como os reflexos dos debates que serão realizados podem impactar positivamente na organização dos farmacêuticos baianos.


elianesimoesbapeqPela primeira vez o Congresso da Fenafar será realizado na Bahia. Quais os reflexos que isso pode trazer para o nosso Sindicato e para a luta dos farmacêuticos do nosso estado? 
Receber um evento como este vai trazer a informação, o debate e a discussão para mais perto dos profissionais farmacêuticos baianos. Traz a oportunidade de uma maior participação e interação das questões referentes ao seu cotidiano. Acreditamos que esta participação trará para todos nós um maior envolvimento nas lutas abraçadas, fará com que os momentos de luta sejam ampliados e construídos conjuntamente.  

Quanto à participação e à mobilização da categoria, quais as expectativas do Sindicato para o congresso e o simpósio? 
Acreditamos que no momento atual, em que o profissional farmacêutico tem o seu papel mais evidenciado, o mesmo sinta-se motivado à mobilização e à participação, tornando-as  expressivas e determinantes na contribuição dos debates e formulação de propostas que possam colaborar para o crescimento da categoria.

Quais são os principais desafios que o Sindifarma tem enfrentado? Quais são as principais demandas da classe?  
Um dos principais desafios é recuperar a capacidade de mobilização na busca pela organização da classe trabalhadora farmacêutica, fazendo-a partícipe das lutas sindicais. Em relação às demandas, são varias. Fazer da farmácia um estabelecimento de saúde, qualificar a assistência farmacêutica prestada à população e a saúde do trabalhador, estão entre as principais. Há também o problema das condições de trabalho. Atualmente, tem nos preocupado muito a fragilidade dos vínculos laborais, dos contratos precários e dos vínculos temporários, que suprimem os direitos trabalhistas. Os trabalhadores vivem inquietações constantes, por conta das distorções que se processam no mundo do trabalho. 

E como atendê-las? Como se dão as lutas do sindicato?
As dificuldades para atender as demandas surgem a partir do momento em que os trabalhadores não atendem as convocações para participar das assembleias e, também, pela ausência de canais de negociação. Faltam espaços democratizadores das relações trabalhistas, para que as reivindicações dos trabalhadores sejam discutidas. A dificuldade de constituir mesas de negociação acontece nas esferas públicas, estadual e municipal, e ainda nas negociações coletivas de trabalho com o setor privado, pois alguns patronais não contribuem para instituição de um processo regular de negociação. Mas continuamos em busca e novas conquistas e lutando para manter as que alcançamos no passado.

Debate sobre os desafios da Assistência Farmacêutica no Brasil abre o Congresso da Fenafar e o Simpósio Nacional de Assistência Farmacêutica, nesta quinta-feira, 13/08, em Salvador. O Congresso também irá discutir a situação política e econômica no Brasil e os caminhos para a integração latino-americana, a organização sindical e a luta dos farmacêuticos por melhores condições de trabalho e valorização profissional.

Renata Mielli, de Salvador


 

assistencia6congressoUm debate abrangente tanto no resgate histórico dos processos e debates que culminaram no atual desenho da Assistência Farmacêutica existente no Brasil como nos vários aspectos abordados entre análises, desafios e com algumas posições controversas que merecem ser mais aprofundadas.
O debate Avanços e Desafios da Assistência Farmacêutica no Brasil contou com a participação do Diretor do Departamento de Assistência Farmacêutica (DAF) do Ministério da Saúde, José Miguel do Nascimento Júnior, do diretor adjunto da Anvisa, Norberto Rech, da Superintendente.de Assistência Farmacêutica, Ciência e Tecnologia em Saúde da Secretaria Estadual de Saúde da Bahia – Sesab, Gisélia Santana Souza, de Célia Chaves, presidente da Fenafar. O debate foi coordenado pelo vice-presidente da Federação, Rilke Novato.

O diretor do DAF fez um retrospecto da elaboração e aplicação das políticas de Assistência Farmacêutica pontuando o que considera os aspectos mais relevantes desse processo, como a inclusão dos medicamentos fitoterápicos na lista de atenção básica e o fomento a produção desses produtos,  a inclusão dos homeopáticos e a constituição do Comitê para o Uso Racional de Medicamentos que tem interagido dinamicamente com as ações e orientações do ministério, além da consolidação da Farmácia Popular, como instrumento de democratização do acesso ao medicamento.

José Miguel destacou que apesar de avanços nesse campo, o Brasil precisa de um novo marco regulatório no que tange as normas de regulação sanitária sobre a produção, já que em razão dos diferentes arranjos produtivos existentes no país, elas podem contribuir para o desenvolvimento do sistema ou fazer com que ele desapareça. No caso da produção dos fitoterápicos, Miguel deu o exemplo do cenário do Estado de Santa Catarina, onde nos anos 90 havia 36 fábricas que trabalhavam com plantas medicinais e hoje há apenas seis.

Medicamento não é mercadoria
Sobre a Farmácia Popular, José Miguel informou que os dados disponíveis mostram que mais de 2 milhões de pessoas estão adquirindo medicamentos através da Farmácia Popular por mês. Ele observa que alguns medicamentos apresentam um consumo em alguns casos superior em relação aos medicamentos da mesma classe terapêutica que não estão na farmácia popular. Como exemplo ele citou o enalapril  (4 vezes mais), atenolol (3 vezes mais). “Isso sugere, numa análise que precisa ser mais cuidadosa, que a ampliação de mercado para estes medicamentos mostra que podemos ter ampliado o acesso aos medicamentos através  da farmácia popular para a população brasileira”, analisa.

Situar no contexto político e econômico do Brasil a questão da Assistência Farmacêutico, a partir de um olhar mais estruturante foi a principal contribuição da representante da Sesab, Gisélia Santana Souza. Ela resgata o conceito de mercadoria no capitalismo para mostrar que o medicamento não tem um valor de uso a priori, mas que sua utilidade só existe se houver a mediação entre o medicamento e o usuário. “O medicamento, essa tecnologia, para ser utilizada precisa de uma mediação, ou seja, quem define seu valor de uso, quem orienta a forma de consumo, a quantidade, o momento, é o profissional prescritor – o médico ou o farmacêutico”.

Essa característica confere ao medicamento uma característica de bem público e, na avaliação de Gisélia, no sistema capitalista isso gera uma profunda contradição, qual seja: a necessidade do lucro da empresa e a necessidade de acesso da população. “A indústria farmacêutica cresce e se desenvolve a partir da mediação dos profissionais de saúde e isso nos leva a refletir porque o mercado farmacêutico tem os contornos que tem hoje – a questão das patentes, da inovação tecnológica o que é inovação na área de medicamentos – a incorporação dessas inovações não deveria ocorrer apenas por critérios técnicos e científicos. Daí a importância em tentar construir essa ponte entre a necessidade de discutir o medicamento e como a Assistência Farmacêutica incorpora e assimila essas questões na hora de definição dessas política. Não existe assistência farmacêutica isolada dos outros serviços de saúde portanto sua institucionalização passa por ela estar organizada no serviço de forma condizente e para isso é preciso conscientizar os gestores de que a assistência é uma política estruturante”.

Novos horizontes 
Norberto Rech, da ANVISA, focou sua apresentação na necessidade de se trilhar no sentido de conquistar novos horizontes para a aplicação da Assistência Farmacêutica. “Os avanços que conquistamos até o momento não bastam, o que foi conseguido já se transformou em realidade e agora nós temos outros desafios. Porque esses avanços não podem ser tidos como suficientes”. Norberto parte das profundas carências que marcam o Brasil, o número de pessoas em situação de exclusão e que ainda não têm acesso ao sistema de saúde e às políticas de Assistência Farmacêutica.
Ele fez considerações sobre a necessidade de haver uma maior capacitação profissional dos farmacêuticos para atuarem em todas as etapas da saúde, e no desenvolvimento de ações de saúde não para o uso do medicamento, mas para o não uso, numa visão de prevenção que deve prevalecer num sistema melhor estruturado.

A presidente da Fenafar, Célia Chaves, recuperou o histórico da Fenafar, desde sua fundação – fazendo referência à exposição montada em comemoração aos 35 anos da entidade – e focou em sua exposição a luta pela transformação da farmácia num estabelecimento de saúde, ressaltando que as ações de Assistência Farmacêutica devem ser observadas não somente no setor pública, mas também e principalmente no setor privado.
Ela registrou, também, a questão da necessidade de o Brasil avançar como produtor de insumos e medicamentos para garantir a soberania nacional e o acesso da população aos medicamentos. Nesse sentido, lembrou a lei das patentes, aprovada em 1996, que colocou a produção nacional em condição de subalternidade perante as indústrias multinacionais de fármacos. Um episódio recente que contou com a participação da Federação nesse campo foi a apresentação da representação junto a Advocacia Geral da União pedindo a inconstitucionalidade dos artigos 230 e 231 da Lei de Propriedade Intelectual que instituiu as patentes pipeline.

A abertura do Congresso da Federação Nacional dos Farmacêuticos aconteceu com um ato representativo, que demonstrou a referência política que a Fenafar exerce sobre entidades e instituições que atuam na área da saúde e o papel que a entidade teve nestes 35 anos na luta pela soberania nacional e pela defesa da saúde pública no Brasil.

Renata Mielli, de Salvador


abertura materiaEntre as entidades e instituições que participaram do ato estavam o Ministério da Saúde, Agência Nacional de Vigilância Sanitária, Opas, Confederação Nacional dos Trabalhadores Universitários (CNTU), Universidade Federal da Bahia, Universidade Estadual da Bahia, Fiocruz Bahia, Secretaria de Saúde do Município de Salvador, Conselho Federal de Farmácia, Executiva Nacional dos Estudantes de Farmácia.

O ato foi aberto pela anfitriã, Eliane Simões, presidente do Sindicato dos Farmacêuticos da Bahia, que deus as boas-vindas aos congressistas e agradeceu a Fenafar pela realização do congresso em Salvador “na certeza de que todos os farmacêuticos baianos sejam atores no processo de transformação no rumo das conquistas, e de que marcharemos juntos e mobilizados pelas bandeiras do trabalho e dos direitos dos trabalhadores que estão cada vez mais ameaçados em torno dessas lutas buscamos nossa unidade”.

Nas saudações realizadas, os convidados destacaram a trajetória de lutas que a Fenafar desenvolve desde sua fundação, há 35 anos. A participação na histórica 8ª Conferência de Saúde que apresentou a proposta do SUS, a luta contra a aprovação das patentes e o papel determinante da Federação na elaboração de políticas que estão em aplicação hoje, como a Política Nacional de Assistência Farmacêutica.

Luis Henrique Costa, da Opas, destacou como o Brasil é referência internacional na área de políticas de Saúde e registrou que “os congressos da Fenafar tem contribuído para elaborar as políticas de Assistência Farmacêutica no país, com suas resoluções e seus debates. Nós queremos e vamos dar visibilidade para essa entidade que é uma referência teórica e de políticas para a assistência farmacêutica”.

O vice-presidente da Fenafar e também vice-presidente da Escola Nacional de Farmacêuticos , Rilke Novato, destacou a realização do 2º Seminário Nacional de Assistência Farmacêutica que “culmina com os propósitos para os quais foi criada a Escola Nacional, que nasceu com o entendimento de que é preciso trabalhar pela capacitação dos profissionais farmacêuticos, mas sobretudo capacitar para transformar a nossa realidade”.

A presidente da Fenafar, Célia Chaves, ressaltou o “orgulho de olhar a trajetória de luta de nossa entidade. Fomos protagonistas na luta pela valorização do profissional farmacêutico, na defesa do Sistema Único de Saúde, nas ações desenvolvidas para fortalecer os sindicatos em todo o País. Participamos de forma ativa, ao lado de outras entidades e setores sociais, em todos os momentos de luta em prol da soberania nacional, da democracia e pelos direitos humanos. Olhar essa história nos mostra a importância e a responsabilidade de conduzir uma entidade como a Fenafar”.

Ela resgatou as principais lutas desenvolvidas na gestão e olhou para os desafios que estão colocados para a próxima diretoria que será eleita, como a participação ativa nas eleições presidenciais de 2010, para evitar retrocessos nas conquistas obtidas nos últimos períodos.

Leia, aqui, a integra do discurso da presidente da Fenafar no ato de abertura do Congresso.

Estamos realizando nosso 6º Congresso num momento muito especial para os farmacêuticos do Brasil e da Bahia. Estamos comemorando os 35 anos da Fenafar e os 50 anos do Sindicato dos Farmacêuticos da Bahia.

Nos enche de orgulho olhar a trajetória de luta de nossa entidade. Fomos protagonistas na luta pela valorização do profissional farmacêutico, na defesa do Sistema Único de Saúde, nas ações desenvolvidas para fortalecer os sindicatos em todo o País. Participamos de forma ativa, ao lado de outras entidades e setores sociais, em todos os momentos de luta em prol da soberania nacional, da democracia e pelos direitos humanos. Olhar essa história nos mostra a importância e a responsabilidade de conduzir uma entidade como a Fenafar.

Ao longo desses anos, todos nós temos dado importantes contribuições para fortalecer a nossa entidade, desde os estudantes de farmácia, nossos parceiros em muitas lutas, passando pela imprescindível participação dos farmacêuticos e dos dirigentes sindicais.

Nesta gestão, que se iniciou em agosto de 2006, nos coube dar continuidade a essa trajetória, focando nossas energias em alguns temas definidos pelo congresso anterior como prioritários para a nossa atuação. Chegamos aqui com o sentimento do dever cumprindo e com a consciência de que ainda há muito para se fazer na luta por melhores condições de trabalho, para o fortalecimento da Política Nacional de Assistência Farmacêutica, pelo enraizamento das nossas entidades e na defesa de uma nação socialmente mais justa, com mais democracia, mais participação social, mais direitos, mais desenvolvida e mais soberana.

Vou lembrar, aqui, alguma das ações que desenvolvemos nestes últimos 3 anos.

A campanha pela redução da jornada de trabalho para 30 horas semanais, sem redução de salário, tem sido uma das principais bandeiras da Fenafar. Esta luta não se limita à reivindicação da redução do tempo de trabalho, mas está vinculada ao reconhecimento do farmacêutico como profissional de saúde, à valorização do seu trabalho no setor público e privado, ao reconhecimento de que as farmácias não são meros estabelecimentos comerciais, mas sim estabelecimentos de saúde e de que o medicamento não é uma mera mercadoria. São lutas articuladas e que precisam do apoio da sociedade para que o Brasil conquiste uma Política Nacional de Saúde democrática e de qualidade.

Nesse sentido, a intensificação e o debate em torno da campanha Farmácia Estabelecimento de Saúde tem caráter estratégico e foi uma das prioridades dessa gestão.

A concepção de que a farmácia precisa ser vista como um posto avançado de saúde permeia toda a trajetória da nossa entidade. Esta é uma batalha histórica de nossa categoria. Em 1994, com a apresentação do Projeto de Lei 4385/94, da senadora Marluce Pinto, essa luta ganhou novo fôlego, uma vez que organizou nossa categoria e outros setores da sociedade para se contrapor à visão privatista que orientava a proposta. O resultado disso foi a elaboração de um substitutivo que reunia um elenco de proposições avançadas para transformar a farmácia num estabelecimento de Saúde.

Infelizmente, por 10 anos, o lobby do setor privado e das indústrias farmacêuticas somado à insegurança e falta de decisão política dos aliados impediu que o substitutivo aprovado em todas as comissões entrasse na pauta de votação na Câmara dos Deputados.

Determinada a alterar esse cenário, a Fenafar, junto com os sindicatos e conselhos, iniciou uma série de ações, que culminaram com a realização de um ato na Esplanada dos Ministérios, em junho de 2008, para pressionar parlamentares e exigir o apoio do governo para que o projeto fosse votado.
Tivemos uma grande vitória. O projeto foi colocado na pauta do plenário em 20 de novembro de 2008, onde recebeu duas emendas apresentadas pelo deputado Ricardo Barros que contrariam a versão original do substitutivo. A Fenafar iniciou, então, o contato com as Comissões para que as emendas fossem rejeitadas, ação que tem sido positiva até o momento.

A nova diretoria, que será eleita neste congresso, deverá abraçar com ênfase essa batalha e garantir que os deputados aprovem o substitutivo ao PL 4385/94, coroando com uma grande vitória uma luta de décadas e inaugurando novos desafios para a nossa categoria.

Também merece registro a participação da Fenafar na luta pela liberdade do uso do conhecimento que marcou, na década de 90, as ações contra a aprovação da Lei de Patentes no Brasil. Alertávamos, naquele momento, os perigos que essa lei traria para a soberania nacional e para o desenvolvimento científico e tecnológico de insumos e medicamentos no Brasil, que nos colocaria na condição de dependência externa e à mercê das multinacionais farmacêuticas.

Infelizmente, a década de 90 foi marcada pela ofensiva privatista em todas as esferas da nossa sociedade. O pensamento único neoliberal prevaleceu na política, na economia, na cultura. Mas, em 2004, um novo ciclo foi iniciado em nosso país, com a eleição de Lula. Observamos avanços em vários setores de nossa sociedade, houve mais abertura para o diálogo entre governo e movimentos sociais, permitindo que nossas propostas pudessem ser acolhidas e transformadas em políticas públicas.

O tema das patentes e da produção nacional de medicamentos ganhou novo significado. O Brasil está ousando e colocando os interesses públicos à frente dos interesses particulares. Foi assim com o licenciamento compulsório do Efavirenz e está sendo assim, também, com as várias iniciativas tomadas para retomar a produção nacional de insumos e medicamentos.

Nesse contexto, a Fenafar retomou com força a luta em defesa do acesso universal a medicamentos, em 2007, ao ingressar, em parceria com a Rebrip, com uma representação junto à Procuradoria Geral da República visando à propositura de uma ação direta de inconstitucionalidade aos artigos 230 e 231 da Lei de Propriedade Industrial. Esses artigos instituíram o mecanismo de concessão de patentes pipeline, que permite às indústrias solicitarem o reconhecimento de patentes publicadas em outros países sem análise técnica e anuência prévia da Anvisa – Agência Nacional de Vigilância Sanitária.

A iniciativa da Fenafar foi acolhida pela Advocacia Geral da União que ingressou junto ao Supremo Tribunal Federal com o pedido de inconstitucionalidade das patentes pipeline. A decisão da AGU abre nova etapa na luta contra a propriedade do conhecimento, contra os monopólios privados sobre a produção de fármacos e insumos que já deveriam estar sendo produzidos em larga escala, não fosse o dispositivo das patentes pipeline.

Se por um lado lutamos para ampliarmos o acesso da população aos medicamentos, do outro atuamos para firmar a consciência na sociedade de que o medicamento não pode ser tratado como mercadoria e que seu uso deve ser pautado pela racionalidade e mediante orientação de um profissional farmacêutico. Daí, nossa intensa participação nas campanhas pelo Uso Racional de Medicamentos.

Além das lutas mais específicas, a Fenafar e os sindicatos dos farmacêuticos nos estados participam ativamente das mobilizações nacionais convocadas pelas Centrais Sindicais em defesa dos direitos dos trabalhadores. Nos engajamos em pautas como a luta pelo fim da violência contra a mulher, nas discussões em torno da ampliação do acesso ao ensino superior entre outras.

A Fenafar compreende que todas essas lutas, desde as mais gerais, até as mais específicas da categoria, só resultarão em conquistas efetivas a partir da mobilização e organização de vários atores sociais, e no nosso caso particular, dos farmacêuticos. Por isso, temos dedicado atenção especial para aprimorar a estruturação e organização da Federação e dos sindicatos, por compreender que a luta da categoria na defesa da saúde e da valorização profissional se dá através da ação dinâmica dos sindicatos.

Este é um pequeno extrato do que realizamos neste último período. Neste congresso fizemos uma programação com o objetivo de proporcionar a reflexão dos delegados, observadores e convidados sobre estes temas e outros que estão abordados em nosso caderno de debates. Nosso desafio maior, no entanto, é preparar as ações futuras da entidade e forjar nossa categoria para intervir de forma protagonista em um momento importante da vida do país, que será a sucessão presidencial de 2010.

Nas próximas eleições, o Brasil estará chamado a se posicionar sobre dois projetos distintos de nação: um que aponta para a ampliação das conquistas obtidas até o momento, no rumo da construção de um país mais desenvolvido e soberano; e outro que pode representar o retrocesso no campo do crescimento econômico sustentado, que pode frear as políticas que afirmam a independência nacional e a integração solidária com nossos vizinhos latino-americanos. Esse processo tem relação direta com o que esperamos das políticas de promoção da Saúde e da Assistência Farmacêutico como direitos.

Esperamos que a programação deste Congresso contribua para enriquecer o debate sobre todos esses temas e para construir uma plataforma de lutas para os próximos três anos. A nossa disposição para enfrentar os desafios colocados é grande, e estamos certos de que teremos muitas conquistas.

Neste sábado (15/08), o 6º Congresso da Fenafar elegeu a diretoria para conduzir a entidade no triênio 2009-2012. Os delegados presentes reconduziram à presidência da Fenafar a farmacêutica Célia Chaves.


O Congresso aprovou, ainda, a criação de um Conselho Consultivo da entidade que terá como presidente a farmacêutica fundadora da Fenafar, Maria de Lourdes Soares.Um elenco de resoluções sobre a situação política nacional e internacional, sobre a organização sindical e sobre Assistência Farmacêutica foi objetivo de apreciação dos delegados. Em breve, consulte na página da Fenafar as resoluções completas do 6º Congresso.

Também foram aprovadas moções sobre assuntos variados que serão publicadas aqui em breve.

Veja, abaixo, a composição da nova diretoria da Fenafar.

CargoFarmacêutico
 PresidenteCélia Machado Gervásio Chaves
 Primeiro Vice PresidenteRilke Novato Públio
 Segundo Vice PresidenteFrancisco Batista Junior
 Secretario GeralMaria Maruza Carlesso
 Primeiro SecretárioVeridiana Ribeiro da Silva
 TesoureiroGilda Almeida de Souza
 Primeiro TesoureiroMaria do Socorro Cordeiro Ferreira
 Diretoria de ComunicaçãoRonald Ferreira dos Santos
 Diretoria de Formação SindicalJoão Marques de Farias
 Diretoria de Relações InstitucionaisJúlio César Gomes de Oliveira
 Diretoria de Relações InternacionaisMarco Aurélio Pereira
 Diretoria de Organização SindicalWaltovânio Cordeiro de Vasconcelos
 Diretoria da MulherLia Mello de Almeida Rech
 Diretoria de EducaçãoCaroline Junkes da Silva
  
 Primeiro SuplenteLígia Maria de Oliveira Barbosa
 Segundo SuplenteJosé Liporage Teixeira
 Terceiro SuplenteDébora Raymundo Melechi
 Quarto SuplenteMargot Gomes de Oliveira Karnikowski
 Quinto SuplenteFábio José Basílio
 Sexto SuplenteJosé Marcio Machado Batista
 Sétimo SuplenteCristiane Teixeira Ferreira
  
 Conselho Fiscal EfetivoSirlete Maria Orleti
 Conselho Fiscal EfetivoJosias Pina
 Conselho Fiscal EfetivoCristiane Oliveira Costa
  
 Suplente do Conselho FiscalAntônio Ferreira de Oliveira Jr
 Suplente do Conselho FiscalAntônio Lima Pellizzetti
 Suplente do Conselho Fiscal

Michael dos Santos

 

Nosso continente passou, pelos últimos anos, por um processo de efervescência política que deu uma nova face para a região. Na década de 70, 80 ditaduras militares sangraram nossos países; na década de 90 a democratização política não resultou automaticamente na democratização do Estado, da sociedade e na inclusão econômica de largos contingentes populacionais. Pelo contrário, nossos países foram laboratório para o receituário neoliberal que saqueou nossas riquezas, desmontou os Estados nacionais e nos colocou em condição de subalternidade com relação aos países ricos, criando um exército de excluídos.

A partir do final dos anos 90 e mais acentuadamente nos anos 2000, uma série de processos políticos de mobilização dos movimentos sociais contra o neoliberalismo desembocou na eleição de governos de cunho democrático e com plataformas populares e comprometidas com as bandeiras dos povos.
Assistindo o crescimento de um campo alternativo, o imperialismo norte-americano tem reativado e acelerado a ocupação de posições estratégicas no continente, com a instalação e recuperação de bases militares na região.

Tensões políticas e sociais existentes em nosso continente, como por exemplo as tensas relações entre Colômbia e Venezuela, tem sido fustigadas no sentido de gerar focos de conflito e desestabilizar os países governados por governos democráticos e populares. Outro exemplo é o recente golpe de Estado ocorrido em Honduras, que teve em seus bastidores e entre seus idealizadores pessoas da inteligência norte-americana.

Nós, farmacêuticos presentes ao 6º Congresso da Fenafar, entidade que historicamente tem estado ao lado das lutas pela paz em todo o mundo, reiteramos que somos contrários a ativação das bases militares norte-americanas na América Latina, defendemos a retirada da 4º frota dos mares do Atlântico Sul e repudiamos a tentativa dos Estados Unidos de fazer da Colômbia uma base de operações táticas e foco de desestabilização da região.

Pela paz no mundo!
Pela paz na América Latina!

São Paulo, 15 de agosto de 2009

O 6º Congresso da Fenafar, que aconteceu entre os dias 13 e 15 de Agosto, em Salvador – BA, debateu temas realcionados à situação política nacional e internacional, organização sindical, saúde, assistência farmacêutica e aprovou uma plataforma de lutas e resoluções que vão orientar a ação da entidade até o próximo Congresso.


Soberania dos Povos e do Brasil

A FENAFAR, com a devida orientação aos seus sindicatos filiados, deve:

1. Apoiar as políticas de fortalecimento da soberania nacional em especial dos países latino-americanos, repudiando intervenções imperialistas;

2. Apoiar ações de promoção ao fim do bloqueio a Cuba.

3. Apoiar ações de promoção contra a guerra e pela paz, pelo direito de autodeterminação dos povos e soberania das nações, através da solidariedade ativa à luta dos trabalhadores e contra a política destruidora do imperialismo.

4. Apoiar a política externa implementada pelo governo federal, que tenha como referência o fortalecimento da América Latina, do MERCOSUL e em defesa da autodeterminação dos povos.

5. Defender a retomada do crescimento do setor produtivo nacional, visando à geração de empregos. Mais investimentos públicos em infraestrutura e em projetos como o PAC – Plano de Aceleração do Crescimento.

6. Defender a Amazônia em território brasileiro e defesa incondicional dos recursos naturais do país, biodiversidade, bem como, ao combate a biopirataria.

7. Aprofundar o debate frente ao patenteamento da vida e da biodiversidade nacional, tendo como pressuposto a garantia do interesse do conjunto da sociedade brasileira e do desenvolvimento sustentável do País.

8. Promover e incentivar o debate sobre a revisão da Lei de Propriedade Industrial, fortalecendo a soberania nacional e o acesso a medicamentos pela população. Pela revogação dos artigos que criaram o mecanismo das patentes pipeline.

9. Apoiar as ações que fortaleçam a assistência farmacêutica no Mercosul, bem como, as que incrementem suas relações comerciais e tecnológicas no âmbito do medicamento.

10. Defender uma política de democratização dos meios de comunicação (rádio e TV), rompendo com a hegemonia de grupos econômicos e que garanta acesso aos movimentos sociais.

11. Participar ativamente do processo eleitoral de 2010, orientando os sindicatos farmacêuticos a aprofundarem o debate, analisar criticamente as propostas dos candidatos à presidência da República, Dep. Estaduais, Dep. Federais, Deputados Distritais, Governadores e Senadores, no que se refere à saúde pública, a defesa do SUS, e sobretudo a profissão farmacêutica e as bandeiras aprovadas pelo 6º  Congresso da FENAFAR.

12. Defender a ampliação dos investimentos públicos nas áreas sociais e em programas de geração de emprego e renda.

13. Continuar a luta em defesa do SUS, pela ampliação do acesso aos serviços com qualidade e racionalidade.

14. Aprofundar o debate sobre conjuntura nacional e internacional, em especial sobre a crise econômica mundial, como forma de politizar as discussões sobre o tema, dando ampla divulgação a categoria. 

15. Aprofundar o debate sobre a camada de petróleo e de pré-sal e dar ampla divulgação a sociedade brasileira sobre suas perspectivas.  


16. Defender intransigentemente a Petrobrás enquanto uma empresa estatal e patrimônio do povo brasileiro. 

17. Ampliar o debate sobre a 4ª frota da marinha americana, denunciando seu caráter belicista e a defesa da soberania dos povos da America latina. 

18. Defender a bandeira do socialismo enquanto uma ação estreitamente ligada a luta pela paz, por uma nova ordem econômica e política mundial, baseada na solidariedade, na sustentabilidade, no respeito à autodeterminação das nações e na solução pacífica das contradições e conflitos entre as nações.

19. Apoiar candidaturas a presidência da República, Dep. Estaduais, Dep. Federais, Deputados Distritais, Governadores e Senadores que defendam o SUS e as bandeiras aprovadas no 6º Congresso da Fenafar, priorizando a continuidade, com avanços, do projeto político, hoje representando pelo presidente Lula e pelas forças políticas que o apóiam, que amplie as conquistas econômicas e sociais e que garanta a soberania e a superação dos entraves gerados pelo neoliberalismo. 

Organização Sindical

A FENAFAR, com a devida orientação aos seus sindicatos filiados, deve:

1. Lutar contra emendas à Constituição que violem direitos trabalhistas. 

2. Apoiar e lutar, juntamente com as Centrais Sindicais e os Movimentos Sociais, pela aprovação das Convenções 151 e 156 da OIT. 

3. Intensificar a campanha nacional pela jornada de trabalho semanal de 30 horas, sem redução do salário, com ampliação da ação dos sindicatos e dos farmacêuticos na sua defesa e também apoiar a luta pela redução da jornada de trabalho dos profissionais de saúde para 30 horas. 

4. Continuar a luta pela redução da jornada de trabalho, sem redução dos salários a todos os trabalhadores, devendo articular-se com outras entidades sindicais e parlamentares para conseguir este objetivo. 

5. Defender que a geração de empregos seja acompanhada de políticas públicas voltadas à garantia de salários e condições dignas de trabalho, com ampliação dos direitos dos trabalhadores. 

6. Exigir uma política salarial de reajustes automáticos e de verdadeira recuperação do poder de compra do Salário Mínimo.

7. Intensificar a participação nas mesas de negociação do SUS (nacional, estaduais e municipais) e na defesa da implantação de Plano de Cargos, Carreiras e Salários – PCCS do SUS, de acordo  com o Protocolo das Diretrizes Nacionais do CNS e que atendam os interesses dos profissionais farmacêuticos como trabalhadores de saúde.

8. Posicionar-se contra toda e qualquer forma de precarização do trabalho. 

9. Denunciar ao Ministério Público a não contratação de servidores através de concurso público e a contratação dos serviços terceirizados e todo tipo de contratação temporária (salvo em casos previstos em lei). 

10. Exigir do Ministério Público o cumprimento da Lei, por concursos públicos com salários e jornadas de trabalho dignos, com planos de carreira para cargos e salários com regimes estatutários. 
11. Combater e divulgar para a categoria a precarização do vínculo trabalhista e das relações empregado/empregador, a fim de evitar a fragilidade dessas relações no setor privado, com destaque para as cooperativas, terceirização, sociedades e estabelecimentos de dispensação de medicamentos. 

12. Viabilizar e apoiar projetos, ações e mobilização que visem a consolidação e fortalecimento da categoria farmacêutica.

13. Mobilizar, fortalecer e apoiar entidades e profissionais farmacêuticos que tenham interesse na integração dos sindicatos à FENAFAR, visando o crescimento e valorização da profissão. 

14. Ampliar as ações voltadas à organização sindical da categoria farmacêutica, com especial atenção aos sindicatos que necessitem de apoio estrutural, financeiro, político e de formação sindical.

15. Estimular os sindicatos e outras entidades à realização de cursos de atualização e aperfeiçoamento em todas áreas de atuação farmacêutica.

16. Estimular a organização da diretoria de educação no âmbito dos sindicatos. 

17. Realizar campanhas para ampliação de filiação sindical e conscientização sobre a importância do pagamento das contribuições sindicais aos sindicatos dos farmacêuticos.

18. Realizar curso de formação política e sindical, de forma continuada, para trabalhadores e diretores sindicais. 

19. Ampliar as ações de divulgação, informação e debate com o conjunto da categoria, utilizando os instrumentos e as ferramentas de comunicação possíveis e em ação conjunta com os sindicatos, tendo como objetivos a aglutinação dos farmacêuticos e o consequente fortalecimento das entidades sindicais na defesa dos interesses da categoria e do conjunto dos trabalhadores. 

20. Intensificar a aproximação com as universidades, na perspectiva de gerar interfaces positivas e a ampliação do debate político sobre as questões de interesse da categoria e dos trabalhadores com o conjunto dos docentes e estudantes de farmácia, por meio de suas respectivas entidades representativas e com respeito às suas autonomias. 

21. Divulgar amplamente por meio de campanhas sobre importância do profissional farmacêutico para a sociedade.

22. Promover e/ou participar, em conjunto com outras entidades sindicais de uma mobilização nacional pela revogação do artigo 114 da Emenda Constitucional 45/2004, articulando o seu pedido de sua inconstitucionalidade.

23. Fortalecer a organização do trabalho do profissional farmacêutico, no âmbito do setor público em geral, por meio de ações assertivas e educacionais, junto aos gestores e profissionais de saúde.

24. Organizar Câmaras Técnicas temática visando à formação de lideranças e construçao do  conhecimento, e também, para a promoção de intervenções em suas realidades locais.

25. Lutar pela aprovação de projetos de lei que tratem do piso salarial nacional farmacêutico, com vistas a garantir melhor remuneração do profissional, bem como da garantia de isonomia salarial e demais gratificações e vantagens entre os trabalhadores de nível superior da saúde e dignidade salarial de todos os profissionais da saúde.

26. Aprofundar os debates dentro do movimento sindical e apresentar ações concretas referentes a assuntos relacionados ao cotidiano da categoria farmacêutica, com destaque para: saúde do trabalhador, saúde da mulher, saúde do homem e assédio moral nas relações trabalhistas.

27. Divulgar e apoiar a PEC 362/09, de autoria do Deputado Maurício Rands (PT-PE), que inclui na Constituição a obrigatoriedade de implantação de plano de carreira e de piso salarial para os trabalhadores do Sistema Único de Saúde, tendo como referência as diretrizes nacionais para a construção dos PCCS aprovados pelo CNS.

28. Participar no processo de luta por uma reforma tributária que enfrente os privilégios, concretize uma justiça tributária, garanta que o Estado cumpra sua função de proteção social e de implementação de políticas de desenvolvimento econômico, social e humano. 

29. A FENAFAR deve aprofundar o debate sobre as centrais sindicais, buscando aquela que realmente representa os interesses da categoria e dos trabalhadores, indo ao encontro de todas as resoluções aprovadas nos últimos congressos, devendo tal decisão ser tomada em fórum extraordinário convocado para este fim em um prazo máximo de 12 meses.

30. Definir políticas de fortalecimento dos sindicatos já filiados.

31. Promover um debate amplo sobre a formação do farmacêutico generalista e sua habilitação para o exercício das diversas áreas do âmbito profissional farmacêutico, em articulação com a Abenfar.

32. Estimular ações para o aumento do financiamento dos sindicatos farmacêuticos, entre elas, campanha de potencialização da arrecadação para financiamento das entidades sindicais, e de prevenção da fuga de arrecadação para outros sindicatos majoritários.

33. Que a Fenafar e os sindicatos filiados se posicionem pelo fortalecimento das entidades farmacêuticas, inclusive os conselhos, questionando e condenando práticas políticas de gestão e métodos antagônicos à ampliação da democracia e transparência, se posicionando firmemente pela eleição direta para o CFF. 

34. Promover a discussão em torno da revisão da NR15 de 1978 que versa sobre riscos inerentes à algumas substâncias e atividades, buscando garantir aos trabalhadores o recebimento devido ao adicional de insalubridade frente aos riscos à sua saúde, em especial atenção, à inclusão dos agentes quimioterápicos na listagem da NR15.

35. Promover a discussão para que a base de cálculo da insalubridade tenha por referência o piso salarial da categoria, e na sua ausência, o salário base.

36. Elaborar um guia de orientação para elaboração de estatuto para os sindicatos que necessitem de atualização ou adequação a legislação vigente.

37. Apoiar o PL do Senador Paulo Pain que trata do reajuste dos benefícios previdenciários.

38. Lutar pela aprovação de projetos de lei que tratem positivamente da inserção, atuação e valorização do profissional farmacêutico no SUS, na iniciativa privada e outras áreas de interesse da categoria.

39. Discutir a política de arrecadação financeira de repasse à FENAFAR pelos sindicatos filiados.

Assistência Farmacêutica

A Fenafar reafirma a sua luta por:

•    Efetiva implantação da Política Nacional de Assistência Farmacêutica, em todos os níveis de atenção a saúde: atenção básica, média e alta complexidade, considerando o acesso universal, as características sociais e as especificidades regionais, com desenvolvimento, valorização, formação, fixação e capacitação de recursos humanos.

•    Manutenção de serviços de assistência farmacêutica na rede pública de saúde, nos diferentes níveis de atenção, considerando a necessária articulação e observância das prioridades regionais definidas nas instâncias gestoras do SUS.

•    Qualificação dos serviços de assistência farmacêutica existente, em articulação com os gestores estaduais e municipais, nos diferentes níveis de atenção.

•    Implementação de forma intersetorial, e em particular, com o Ministério da Ciência e tecnologia, de uma política pública de desenvolvimento científico e tecnológico, envolvendo os centros de pesquisa e as universidades brasileiras, com o objetivo do desenvolvimento de inovações tecnológicas que atendam os interesses nacionais e às necessidades e prioridades do SUS.

•    Modernização e ampliação da capacidade instalada e de produção dos laboratórios farmacêuticos oficiais, visando o suprimento do SUS e o cumprimento do seu papel como referências de custo e qualidade de produção de medicamentos, incluindo-se a produção de fitoterápicos.

A FENAFAR, com a devida orientação aos seus sindicatos filiados, deve:

1. Intensificar a luta pela aprovação do substitutivo ao Projeto de Lei 4385/94 que dispõe sobre a Farmácia como Estabelecimento de Saúde, com vistas a garantir a Assistência Farmacêutica nos estabelecimentos de dispensação de medicamentos.

2. Lutar pelo fortalecimento e ampliação da presença do farmacêutico na rede hospitalar, clínicas e outros estabelecimentos de serviços de saúde do país em todos os níveis de complexidade.

3. Apoiar as ações para a aprovação de dotação orçamentária própria de rubrica específica para investimentos em Assistência Farmacêutica, com critérios e parâmetros definidos para sua utilização.

4. Ampliar o debate e a ações políticas no sentido de incluir no PPA e no Plano Nacional de Saúde as questões referentes a garantia de efetiva implementação e estruturação dos serviços e ações de assistência farmacêutica, com financiamento suficiente e perene, nos diferentes níveis de atenção a saúde e esferas de governo. 

5. Apoiar ações que favoreçam a independência da produção de produtos de interesse para saúde, com ênfase nos insumos e medicamentos essenciais.
Apoiar ações que fomentem o desenvolvimento nacional e independente em ciência, tecnologia e inovação na produção de insumos, medicamentos essenciais e produtos para a saúde. 

6. Lutar pela melhoria da formação profissional, na busca pela regulação da abertura de novos cursos de farmácia e pela avaliação e otimização dos cursos já existentes garantindo a qualidade.

7. Manifestar às prefeituras do país sobre a necessidade legal e os motivos para realização de concursos para incorporação de farmacêuticos nos municípios.

8. Sugerir ao Conselho Nacional de Saúde que proponha a criação de câmara técnica de assistência farmacêutica nos demais conselhos de saúde (DF, estados e municípios) do país.

9. Lutar pela efetivação do Sistema Nacional de Vigilância Sanitária, garantindo, de fato, a constituição de uma rede articulada entre Municípios, Estados e União.

10. Buscar interlocução permanente com os diversos setores com vistas a incorporação permanente de tecnologias, adequadas, com avaliações de custo x efetividade, considerando os critérios da essencialidade, de forma transparente, democrática e técnica.

11. Propor a criação de uma Câmara Técnica ou outra estrutura formal, no âmbito do CNS, com vistas a definir critérios e acompanhar a incorporação de tecnologias no SUS, com avaliação de custos x efetividade a fim de garantir maior transparência e democratização do processo de decisão.

12. Fortalecer a discussão sobre a Farmácia como Unidade de Saúde, com vistas a quebra de paradigma, consolidando a farmácia como um estabelecimento e não como extensão ou apêndice de unidades de saúde.

13. Apoiar as ações no âmbito federal do SUS de elaboração e implantação de protocolos para a padronização de condutas terapêuticas, tendo como instrumento racionalizador a RENAME, com o objetivo de qualificar a assistência a saúde.

14. Lutar pela ampliação da presença do farmacêutico na saúde comunitária.

15. Apoiar aos estudos que possibilitem a produção de fitoterápicos com base nas diretrizes definidas na política nacional e plantas medicinais e fitoterápicos.

16. Solicitar posicionamento da ANVISA quanto a Consulta Pública nº 69/07 e publicação de nova Resolução em substituição a RDC 328/99 no sentido de aprimorar a regulamentação das Boas Práticas de Dispensação e dos serviços farmacêuticos que possibilitem a prática de Atenção Farmacêutica em Farmácias e Drogarias.

17. Dar continuidade ao movimento pelo fim de qualquer propaganda de medicamentos em veículos de massa.

18. Apoiar a convocação e a participação nas Conferências de Vigilância Sanitária, de Ciência Tecnológica e de Saúde Mental.

19. Realizar seminários de avaliação e implementação da Política Nacional de Assistência Farmacêutica.

20. Apoiar a Convocação da 2ª Conferência Nacional de Assistência Farmacêutica e Política de Medicamentos.

21. Estimular a discussão sobre a questão dos técnicos e auxiliares de farmácia sob supervisão do farmacêutico, com vistas a qualificação dos serviços, em especial na rede pública.

22. Utilização da Relação Nacional de Medicamentos Essenciais (RENAME), atualizada periodicamente, como instrumento racionalizador das ações no âmbito da assistência farmacêutica e como norteadora do acesso aos medicamentos. 

23. Pactuação de ações intersetoriais que visem a internalização e o desenvolvimento de tecnologias que atendam às necessidades de produtos e serviços do SUS nos diferentes níveis de atenção.

24. Definição e pactuação de ações intersetoriais que visem a utilização das plantas medicinais e medicamentos fitoterápicos no processo de atenção a saúde, com respeito aos conhecimentos tradicionais incorporados, com embasamento científico, com adoção de políticas de geração de emprego e renda, com qualificação e fixação de produtores, envolvimento dos trabalhadores em saúde no processo de incorporação desta opção terapêutica e baseado no incentivo à produção nacional, com a utilização da biodiversidade existente no país.

25. Estabelecimento de mecanismos adequados para a regulação e monitoramento do mercado de insumos e produtos estratégicos para a saúde, incluindo os medicamentos.

26. Promoção do uso racional de medicamentos, por intermédio de ações que disciplinem a prescrição, a dispensação e o consumo.

27. Desenvolvimento, valorização, formação, fixação e capacitação de recursos humanos.

28. Apoiar a construção de uma Política de Vigilância em Saúde que garanta o acesso da população a serviços e produtos seguros, eficazes e com qualidade, que considere as características políticas, técnicas e de desenvolvimento nacional. Que esta construção se dê por meios preconizados na lei 8142/90.

29. Apoiar as medidas da RDC 96/08 da ANVISA, que aprimora o controle sobre a propaganda de medicamentos no país. Nova Redação proibição e apoio a RDC

30.Definir e implementar mecanismos e instrumentos para o monitoramento e avaliação permanente da Política Nacional de Assistência Farmacêutica, incluindo aprofundamento da discussão referente aos conceitos inerentes aos diferentes aspectos desta política.

31. Definir e implementar mecanismos de avaliação e monitoramento da Política Nacional de Medicamentos, incluindo a possibilidade de sua revisão, bem como sua articulação com a Política Nacional de Assistência Farmacêutica, considerando-se esta última como sua norteadora.

32. Apoiar e incentivar a criação de Comissões farmacoterapeutas com o objetivo de consolidar as atividades da Assistência Farmacêutica nos âmbitos estaduais e municipais.

33. Lutar pela ampliação da presença do farmacêutico na estratégia na saúde da Família.

34. Lutar para que as unidades de dispensação de medicamentos antirretrovirais tenham farmacêutico atuando efetivamente na atenção à saúde dos usuários, garantindo o uso correto dos medicamentos e a adesão à terapêutica.

35. Estimular a participação dos farmacêuticos nos diversos conselhos municipais e estaduais de saúde (de entorpecentes, de segurança alimentar, de saúde do trabalhador, de educação, da criança e do adolescente, etc), com vistas ao fortalecimento e efetivação do controle social na saúde, bem como da disseminação do conhecimento sobre a Política Nacional de Assistência Farmacêutica.

36. Estimular a participação dos farmacêuticos nas diversas comissões dos Conselhos de saúde, em especial a de finanças e orçamentos e inserir o debate sobre a qualidade da AF prestada, destinação de recursos, e enfrentar o debate da judicialização com os demais conselheiros.

37. Promover a apoiar, em conjunto com a Escola Nacional dos Farmacêuticos, a realização de encontros entre os profissionais farmacêuticos que atuam no controle social.

38. Apoiar e participar da construção de documento orientador da Política Nacional de Assistência Farmacêutica para todos os conselheiros de saúde.

39. Estimular que sejam garantidas pautas no âmbito dos Conselhos Municipais e Estaduais de Saúde que possam contribuir para o debate sobre Assistência Farmacêutica com interface nas demais áreas da saúde.

40. Incluir no BPA(Boletim de Produção Ambulatorial- SUS) a rubrica do serviço de dispensação e orientação farmacêutica.

O 2º Simpósio de Assistência Farmacêutica que aconteceu nos dias 13 a 15 de agosto em Salvador, junto como 6º Congresso da Federação Nacional dos Farmacêuticos – Fenafar, fez uma análise do atual estágio da implementação da Política Nacional de Assistência Farmacêutica e debateu temas específicos como a organização sindical dos farmacêuticos e o financiamento e controle social da saúde no Brasil.


saudecontaO Simpósio contou com a presença de importantes personalidades da área da saúde pública e também privada do país, como o presidente da Anvisa, Dirceu Raposo, e o Superintendente Coorporativo do Hospital Sírio Libanês, Gonçalo Vecina.

Um dos debates que trouxe um panorama abrangente da situação do sistema de saúde no país foi – Saúde: quem paga a conta? O papel do controle social e da gestão participativa. Essa discussão contou com as participações de Vecina, da diretora superintendente do Grupo Hospitalar Conceição de Porto Alegre, Jussara Cony, da diretora do Núcleo de Gestão do Sistema Nacional de Notificação e Investigação em Vigilância Sanitária da Anvisa Maria Eugênia Cury e do presidente do Conselho Nacional de Saúde, Francisco Batista Júnior, com a mediação do diretor de comunicação da Fenafar, Ronald Ferreira dos Santos.

Gonçalo Vecina fez um resgate histórico da estruturação do sistema de saúde no Brasil, ressaltando que o subssistema privado sempre teve um peso importante, com cerca de 70% da oferta de atendimento, da qual 30% com finalidade lucrativa. “Essa predominância” avaliou, “diz respeito ao próprio modelo de construção do sistema, que remonta a década de 40. A partir dos anos 60, começou a se estruturar um novo sistema de atenção à saúde, com a criação da medicina de grupo. Na década de 70 nascem as cooperativas médicas e o modelo da autogestão que hoje é importantemente representado por instituições com relações com o Estado – bancos estatais entre outros. Em seguida, no final da década de 70 nasce o seguro saúde, que aqui difere de outros países, aqui não é exatamente seguro, tem mais a ver com medicina de grupo do que com seguro”, pontuou.

Falta dinheiro para a Saúde 
Do ponto de vista do usuário, Vecina afirmou que, “cerca de 23% são cobertos por planos de saúde – aproximadamente de 45 milhões de pessoas. Os outros 145 milhões têm os SUS. Mas, de acordo com o que está na Constituição, 190 milhões têm o SUS e 45 milhões tem o SUS e também a medicina privada, porque de acordo com a Constituição o sistema privado é suplementar. Dos 45 milhões de brasileiros que têm acesso aos planos privados, 85% estão em planos coletivos – alguém está pagando por eles – é um benefício trabalhista. Os outros 15% são compradores individuais do plano de saúde, que são objeto de controle e regulação da Agência Nacional de Saúde Suplementar criada em 2000 e que obriga que os planos tenham homogeinidade em termos de oferta de cobertura”.

Contudo, aponta Vecina, “essa homogeneidade ainda está distante do que deveria ser para prestar saúde para a população. Os planos privados não prestam assistência farmacêutica, não fazem transplantes e estes procedimentos continuam recaindo para o SUS”.

Gonçalo Vecina trouxe ainda dados sobre recursos para a Saúde, mostrando que metade do dinheiro que se coloca na saúde hoje vem do bolso privado e a outra metade vem do modelo de assistência médica suplementar e do gasto estatal direto – 45 bilhões do Ministério da Saúde, 25 bilhões de municípios e 25 bilhões dos estados, cumprindo a Emenda Constitucional 29. Esses valores somam em aproximadamente 500 reais per capita ano. Enquanto isso, na iniciativa privada, foi investido aproximadamente 50 bilhões para atender 40 milhões de pessoas – o que resulta em R$ 1000,00 per capita. “Vira e mexe, quando discutimos saúde, dizem que não falta dinheiro, mas sim qualidade de gestão. Mas olhando esses números vemos que falta dinheiro sim nessa equação. E o que se faz na iniciativa privada também é insuficiente e não oferece a qualidade que a assistência deveria ter”, avalia.

Leitos
Com relação a rede hospitalar brasileira, são cerca de 7200 hospitais, com 440 mil leitos para 190 milhões de brasileiros. “Está sobrando leito no Brasil, nós temos 2,2 mil leitos por habitante. Mas temos leitos de má qualidade. Apenas 3% são de UTI, quando um bom processo de atenção exige 10% de leitos de UTI. Temos muitos hospitais de pequeno porte com menos de 50 leitos”, observa Vecina. “Os dados de internação dizem que o SUS interna 8% da população, a medicina privada interna 15%. O SUS entrega 3% de consulta ano, a medicina privada está entregando 6%. Isso pode estar demonstrando que, do lado da iniciativa privada está se demonstrando a coisificação da medicina enquanto do lado do setor privado há baixo atendimento”.

Esses dados, para Vecina, apontam que “a sociedade, através do estado, preciso olhar para isso. Temos que pensar assistência médica de forma integrada”.

Veja mais:
Jussara Cony: Os desafios de pegar um complexo como o Conceição e transformá-lo em um serviço 100% público

Maria Eugênia: Como a política de vigilância sanitária pode contribuir para otimizar os gastos com saúde

Francisco Jr: SUS: uma política ousada, que aponta para a democracia participativa, num país altamente autoritário

Jussara Cony, superintendente do Grupo Hospitalar Conceição de Porto Alegre, trouxe informações sobre a estruturação do Grupo e o desafio de transformar o complexo em um serviço 100% público. “São 7500 trabalhadores dos quais 70% são mulheres que estão nos ajudando a fazer a gestão. Desde 2003, o Conceição é 100% SUS. Atendemos média e alta complexidade e temos a porta aberta 24 horas nas emergências”, relatou.


O 2º Simpósio Nacional de Assistência Farmacêutica, promovido pela Escola Nacional dos Farmacêuticos em parceria com a Fenafar realizou o debate Saúde: quem paga a conta? O papel do controle social e da gestão participativa. Essa discussão contou com as participações do superintendente coorporativo do Hospital Sírio Libanês, Gonçalo Vecina, da diretora superintendente do Grupo Hospitalar Conceição de Porto Alegre, Jussara Cony, da diretora do Núcleo de Gestão do Sistema Nacional de Notificação e Investigação em Vigilância Sanitária da Anvisa Maria Eugênia Cury e do presidente do Conselho Nacional de Saúde, Francisco Batista Júnior, com a mediação do diretor de comunicação da Fenafar, Ronald Ferreira dos Santos.

A diretora do Grupo Hospitalar Conceição, Jussara Cony, introduziu o debate contextualizando o momento político internacional, de crise do capitalismo e de transformações profundas em curso, com o embate entre mudança e continuidade. “Essa crise coloca em xeque o que sempre ouvimos, que o Estado seria um entrave para o desenvolvimento. Mas, o que vemos hoje é exatamente o inverso, é que o Estado tem um papel indutor para o desenvolvimento”, destaca.

O Grupo Conceição é composto por quatro hospitais – Conceição, Criança Conceição, Cristo Redentor, Fêmina – com mais de mil leitos. “Temos uma agenda estratégica de gestão em consonância com os pilares básicos do PAC da saúde voltado para a integralidade. Para nós é isso a pessoa é o centro.

A superintendente destacou que é importante “a adesão ao SUS de camadas médias, inclusive de trabalhadores do setor público, para garantir mais força política para avançar no SUS”, referindo-se a necessidade de ampliação do público.

Saúde e Educação
Jussara informou que o Grupo está se capacitando para se transformar num pólo de informação e pesquisa. “A educação é ferramenta estratégica para implantação do SUS e já estamos nos certificando como instituição de pesquisa, para participarmos da Unasus – Universidade aberta do SUS. “Vamos nos voltar para termos conteúdos, práticas e pesquisas em função das necessidades da população. Também pretendemos redirecionar a residência médica, para que ela esteja integrada a equipes multidisciplinares de saúde. Isso é a valorização do trabalhador”, conclui.

Gonçalo Vecina – Falta dinheiro para estruturar o sistema de Saúde

Maria Eugênia Cury – Como a política de vigilância sanitária pode contribuir para otimizar os gastos com saúde

Francisco Batista Júnior – SUS: uma política ousada, que aponta para a democracia participativa, num país altamente autoritário

No debate Saúde: Quem paga a conta? a diretora do Núcleo de Gestão do Sistema Nacional de Notificação e Investigação em Vigilância Sanitária (Nuvig) da Anvisa, Maria Eugênia Cury, partiu do ponto de vista das ações promovidas pela vigilância sanitária que podem contribuir para reduzir gastos que poderiam ser evitados.


meugenia“Se fizermos uma relação da Política de Farmacovigilância com o uso racional de medicamentos e a proposta do debate, saúde, quem paga a conta, veremos que ações adequadas poderiam evitar que os transtornos causados pelo uso indevido de medicamentos levassem a utilização de leitos hospitalares e a atendimentos, que têm um custo para o sistema. Ou seja, se eu der o medicamento certo, na hora certa, na dose certa, eu promovo o uso racional do medicamento e reduzo substancialmente os gastos com atendimentos e internações”, afirma Maria Eugênia.

O desafio, segundo a diretoria do Nuvig “é como construir uma política de vigilância sanitária que possa contribuir para isso, como desenvolver políticas estruturantes que diminuam os gasto com aquilo que não precisaria ser gasto”.

O caminho delineado por Maria Eugênia é o de termos medicamentos eficazes, seguros e de qualidade, “o que depende do processo de avaliação da pós-comercialização que aparece dentro de uma lógica de mudança do foco da vigilância sanitária, que antes estava apenas centrada no produto de forma ainda cartorial, porque se baseava em fatores desenvolvidos a partir de documentos apresentados para o registro do produto. Temos que passar a fazer uma vigilância sanitária e usar recursos públicos para monitorar e relacionar as consequências do uso dos produtos pela população”, defende. 

Ela argumenta que é necessário desenvolver uma política de estudo de pós- comercialização, “porque as informações contidas no processo de registro não são insuficientes para saber quais as reações adversas dos medicamentos”.

“A partir desse novo foco, a farmacovigilância passa a ter um caráter que não é só científico, para ser encarada num contexto de estratégia para desenvolver produtos com maior segurança. É a interface entre a prática clínica e a regulação de medicamentos. É ter uma política de farmacovigilância preventiva, porque isso é pensar no dinheiro da saúde”, conclui Maria Eugênia.

Gonçalo Vecina: Falta dinheiro para estruturar o sistema de Saúde

Jussara Cony: Os desafios de pegar um complexo como o Conceição e transformá-lo em um serviço 100% público.

Francisco Jr: SUS: uma política ousada, que aponta para a democracia participativa, num país altamente autoritário.

O presidente do Conselho Nacional de Saúde, Francisco Batista Junior, participou do 2º Simpósio Nacional de Assistência Farmacêutica da Fenafar no debate: Saúde, quem paga a conta?, onde fez um breve resgate da aprovação do SUS, em 1988 e fez um alerta: é preciso resgatar os princípios do SUS, que está passando pelo seu pior momento.


batistajrBatista Junior debateu a questão do financiamento da saúde ao lado de Gonçalo Vecina, superintendente do Hospital Sírio Libanês, da diretora superintendente do Grupo Hospitalar Conceição de Porto Alegre, Jussara Cony, da diretora do Núcleo de Gestão do Sistema Nacional de Notificação e Investigação em Vigilância Sanitária da Anvisa Maria Eugênia Cury.

Na avaliação de Batista Júnior, “nós conseguimos aprovar o SUS na Constituição de 88 pela conjunção política que vivíamos naquele momento, senão o Brasil não teria o SUS. O SUS é uma política atrevida, porque num país patrimonialista como o nosso é uma política que aponta para a universalidade e integralidade”.

Outros aspectos que revelam o “atrevimento” que representa o SUS é o modelo que  aponta para uma democracia participativa, com controle social, conselhos de saúde, também; porque aponta para a prevenção e não para o cuidado de doenças já instaladas e porque trata a saúde como um direito do cidadão, segundo Batista Júnior.

“Apesar dos enormes avanços que o SUS conseguiu nestes 20 anos, não dá para comparar o que era o Brasil em termos de sistema de saúde hoje e o que era depois do SUS. Mas o SUS está passando pelo seu mais grave momento. Vem resistindo bravamente, vem sobrevivendo, mas ou repensamos muita coisa e tentamos resgatar muita coisa que ficou pelo meio do caminho ou o SUS pode se inviabilizar”, alertou o presidente do CNS.

Ele avalia que “estamos enfrentando um desmonte do espaço público, no aspecto do financiamento, sucateamento, terceirização completa, a partir do decreto de Fernando Henrique Cardoso que previu a terceirização do trabalhador da saúde, de forma totalmente inconstitucional. Não contentes com isso, privatizaram a gestão a partir das organizações sociais, sob o discurso de que é preciso entregar para o privado porque o Estado é incompetente. Um discurso reacionário que a administração passou a ser ditada pelo interesse privado. E, agora, vem o projeto da fundação estatal de direito privado, um equivoco que não representa nada de inovador, pelo contrário, é o abandono do projeto do SUS”.

Para Francisco Batista Júnior é urgente recuperar, até o final do governo Lula, os princípios do SUS, senão vamos inviabilizar o SUS.

Gonçalo Vecina: Falta dinheiro para estruturar o sistema de Saúde

Jussara Cony: Os desafios de pegar um complexo como o Conceição e transformá-lo em um serviço 100% público

Maria Eugênia Cury: Como a política de vigilância sanitária pode contribuir para otimizar os gastos com saúde

A independência do Brasil é uma construção cotidiana, um desafio de todas as gerações de brasileiros, ressaltou o presidente da República durante pronunciamento em cadeia nacional por ocasião das comemorações do dia 07 de setembro. A luta por um projeto nacional de desenvolvimento, que esteja baseado na soberania da nação, e que venha acompanhado de uma política de integração solidária com os países da América Latina é uma pauta permanente da Fenafar e foi um dos principais temas debatidos no seu 6º Congresso.


javierO debate Integração da América Latina e Desenvolvimento Nacional: os desafios do Brasil diante da crise teve como palestrantes o deputado estadual do PCdoB da Bahia, Javier Alfaya e de Weber de Avelar Silva, assessor da Secretaria Nacional de Articulação Social da Secretária-Geral da Presidência da República

Em sua exposição, Javier Alfaya fez um resgate das lutas nacionais e de libertação colonial dos países da América Latina e no Brasil, para concluir que “cada país seguiu seu caminho e passamos 200 anos como de costas uns para os outros”, refletindo a respeito da ausência do debate sobre integração, que para Alfaya foi retomado na década de 70, “com a luta contra as ditaduras voltou a se falar da integração”, disse.

Contudo, mais recentemente outro processo político e econômico que tirou a integração da pauta foi o neoliberalismo vivido nos anos 90. “Mas chegamos no século XXI num cenário diferente dos anteriores, porque através de processos eleitorais e usando as regras das elites que estavam no poder na América do Sul várias forças políticas ganharam as eleições nos seus países e partiram para fazer as mudanças que a sociedade reivindicava. Isso começou com Chávez – que é muito atacado pela mídia – mas que faz um governo muito comprometido com o seu povo”, observou Alfaya.

Ele citou os presidentes que têm contribuído com essas mudanças na região. Michelle Bachelet, no Chile, Néstor e Cristina Kirchner, na Argentina, Lula no Brasil, Rafael Correa no Equador, Evo Morales na Bolívia. “Não houve golpe, mas pela via eleitoral e com as normas adotadas pelos governos anteriores essa sequência de vitórias criou um panorama político muito diferente na América do Sul e se iniciou a discussão de um projeto latino-americano. Saímos da fase onde a bandeira da unidade latinoamericana era uma bandeira romântica, de poetas. Naquela época era uma vontade, hoje é uma concretude, um processo que está sendo conduzido por vários governos da América do sul, em particular pelo presidente Lula” avaliou.

O deputado baiano listou as propostas de integração, entre as quais estão:

1) As articulações para a criação da União das Nações Sul Americanas (Unasul) – que convive com a proposta mais limitada do MERCOSUL – doze nações das treze do continente –excluindo a Guiana Francesa –estão engajadas nesse projeto, que já criou um tratado energético sul americano, de defesa.

2) A proposta de criação de um conselho sulamericano de defesa.

3) O Banco do Sul, que vai ser implantado a partir de dezembro. “A ideia é criar um banco para que não precisemos pedir dinheiro para o Banco Mundial, seria uma espécie de BNDES da América do Sul, os países entrariam com alguma cota e esse banco seria dedicado a desenvolver a infraestrutura para os países da região”, explicou Alfaya.

4) Ele pontou, ainda, que a Argentina e Brasil também firmaram um acordo em que o comércio entre esses países fossem feito nas moedas locais e não em dólar, salientando que 80% dos contratos do mundo são feitos em dólar. “É preciso deslocar a hegemonia do dólar”.

Além dessas iniciativas na área da economia, Javier aponta a urgência em se construir redes de ferrovias e rodovias entre os países da América do Sul, “porque fomos construídos para sermos exportadores de insumos e matérias primas para fora da América do Sul e, agora, temos que rever essa malha olhando para dentro da América do Sul. Ainda nos falta um projeto interno, não dá para ter um intercâmbio sem a infraestrutura para isso”, disse.

Javier falou, ainda, das ameaças que o nosso continente tem sofrido com a interferência militar dos Estados Unidos na região. Com a ativação de bases militares e da 4ª frota nos mares do Atlântico. Desse debate, resultou a elaboração de uma moção aprovada no congresso em defesa da paz na região.

Participação e fortalecimento de políticas públicas
O assessor da Secretaria Geral da Presidência, Weber de Avelar Silva, fez uma exposição sobre as atribuições da Secretaria Geral, “que cumpre o papel de ser a ponte entre os movimentos sociais e o governo federal.

Ele disse que uma das atribuições da secretaria é acompanhar a realização das conferências nacionais setoriais, “um processo político e social impulsionado pelo governo Lula para envolver a população na elaboração e deliberação das políticas públicas no nosso país”.

Avelar destaca, contudo, que a participação ainda é um desafio. “Fazer com que o Estado seja mais poroso às agendas produzidas na esfera pública e crie formas de incorporar novos sujeitos sociais na produção de políticas públicas é uma busca constante”.

“A interação da sociedade civil organizada serve tanto para as questões nacionais, quanto para as áreas internacionais, com iniciativas para realizar eventos na América Latina na área do trabalho, educação, cultura”, afirma Weber de Avelar ao falar do processo de integração da América Latina que podem ser aprofundados a partir da ação cidadã.

Ele também falou sobre as políticas de geração de emprego e renda, como um instrumento de desenvolvimento econômico e social no país, visando a diminuição das desigualdades, como o Bolsa Família, que atende mais de 10 milhões de famílias.

Um dos gargalos na política de saúde e assistência farmacêutica no país é a forte dependência externa de insumos e medicamentos, o que aumenta o custo da saúde, reduz o acesso e aumenta a dependência do Brasil.



Esse foi um dos focos do debate Os impactos da Inovação tecnológica nas Políticas de Saúde e Assistência Farmacêutica, realizado no 2º Simpósio Nacional de Assistência Farmacêutica promovido pela Escola Nacional dos Farmacêuticos durante o 6º Congresso da Fenafar.

Participaram do debate a farmacêutica Gabriela Chaves, da Campanha de Acesso a Medicamentos Essenciais dos Médicos Sem Fronteiras e do grupo de trabalho de propriedade intelectual da Rebrip, o coordenador da Alanac, Douglas, e o diretor adjunto da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, Norberto Rech. A mediação do debate foi feita pelo presidente da Associação Brasileira dos Farmacêuticos, José Liporage.

A constatação dos palestrantes foi a de que, apesar do aumento da participação de produtos nacionais no mercado de medicamentos, o Brasil ainda é fortemente dependente de insumos e medicamentos estrangeiros.

O impacto das patentes
Várias são as origens dessa dependência, mas certamente a adoção, pelo Brasil, dos acordos de livre comércio da OMC – Organização Mundial do Comércio – que incluíram em seu rol os medicamentos como se fossem uma mercadoria qualquer é um dos principais.

A adoção dessa política teve impactos econômicos e sociais para o Brasil, avaliou Gabriela Chaves, que considera “as novas formas de luta contra as patentes a continuação de resistir à colonização”.

Sob o argumento de que a patente seria uma “mola propulsora da inovação” no campo de fármacos se promoveu uma monopolização feroz nesse setor da economia. Contudo, os números mostram a baixa inovação no campo de fármacos. “Temos 13 anos do acordo de livro comércio e essa política, contribuiu para a inovação? Apenas 15% dos novos medicamentos aprovados pelo FDA entre 89 e 2000 tinham inovação, 85% não. Dos novos produtos na França entre 1981 e 2004, 68% não trouxeram nada de novo com relação aos produtos já disponíveis no mercado. No Canadá, 6% dos produtos patenteados entre 90 e 2000 foram classificados como reais inovações. O que a gente vê é a perpetuação de produtos que já existem a partir de algumas modificações que são produzidas”.

Fortalecer a indústria nacional
O representante da Alanac apresentou dados da participação dos produtos nacionais no mercado farmacêutico, mas chamou a atenção para o fato de que “a indústria nacional é recente e há 20 anos não estava preparada para atuar no campo da inovação. Mas com a criação da Anvisa, em 99, avançamos muito, foi impactante para a indústria.Houve um aumento de 114% da participação no mercado da indústria nacional, desde 2003, a indústria está buscando inovação”, avalia.

Uma das políticas que contribui para isso foi a dos medicamentos genéricos, que é um mercado em expansão. Os genéricos diminuem o preço do produto e aumenta a acessibilidade”. 

Douglas mostrou que o Brasil está em 9º lugar no ranking de produção e consumo de produtos farmacêuticos. “Os investimentos em 2005 para novos produtos foram de 51,4 milhões de reais. Em 2008, esse montante saltou para 225, 4 milhões de reais, um aumento de 560% no investimento. Um saldo considerável de 2003 para cá, que foi possível a partir de um pacote de resoluções da Anvisa para aumentar o nível técnico dos produtos”, informou.

“A Alanac sempre lutou e continua lutando pelo desenvolvimento da indústria nacional e soberania nacional face à indústria farmacêutica internacional”, ressaltou o representante dos laboratórios nacionais, apontando que esta é uma luta permanente e estratégica para o Brasil.

Contudo, alerta, a política de inovação ainda “não está fundamentada na inovação radical tanto para as doenças negligenciadas como para outros produtos patenteados para aumentar a competitividade do Brasil e para reduzir os custos efetivos da saúde pública. Isso, porque a ainda são poucas as empresas que conseguem investir uma porcentagem considerável do seu orçamento em P&D. Por isso, é fundamental o diálogo entre governo, indústria e academia”.

“Essa é uma mudança de paradigma. Não temos o costume de investir em coisas novas. Esse mercado começa a ser vislumbrado agora, pensando que é ele que vai garantir a subrevivência da indústria nacional no futuro”, conclui.

Visão intersetorial
O diretor adjunto da Anvisa, Norberto Rech, traçou um paralelo entre as várias políticas de saúde para analisar a questão da inovação e sua relação com a Política Nacional de Assistência Farmacêutica. “O nosso entendimento da política de assistência farmacêutica é a de uma política intersetorial e, portanto, ela deve definir parâmetros para outras políticas setoriais, como medicamentos, industrial, C&T. Esse é o entendimento que temos construído na última década e que o controle social do SUS tem defendido como diretriz”, disse Rech. Para ele, “não adianta falarmos em C&T e inovação com o objetivo de termos um impacto positivo em saúde, se nós não verificarmos as inter-relações dessas áreas todas. Porque do contrário podemos não ter os impactos previstos”.

Avaliando o desenho atual do mercado farmacêutico, Norberto ressalta que “há quatro anos que o mercado permanece mais ou menos no mesmo patamar, ocupando entre a 10ª e a 9ª posição, movimentando algo em torno de 8 a 10 bilhões de reais, num mercado fortemente monopolizado, concentrado em segmentos por classe terapêutica e isso tem um impacto no que entendemos por inovação”.

Ele ressalta, ainda, que os medicamentos mais recentes “são cada vez mais produtos de curta vida útil, de preço elevado, que entra primeiramente nos mercados internacionais para definir um preço mais elevado de entrada nos outros países, num processo de internacionalização das estratégias e decisões desse setor”. 

Também salientou o alto grau de dependência do Brasil. “Temos uma dependência de substâncias ativas e de medicamentos que gira em torno de 80% da demanda. Nós somos, hoje, um país importador dessas tecnologias. Continuamos importando com baixos investimentos em C&T. Essas empresas que trabalham nesses mercados concentrados não têm interesse em promover redução dos preços. Pelo contrário, ela tem interesse de ativar os mecanismos artificiais de diferenciação dos produtos, que na verdade são os mesmos, a partir das diferentes marcas, com alegação de benefícios múltiplos e adicionais. E ai, certamente, se justifica o grande gasto em publicidade e propaganda que em alguns casos atinge 40% dos custos finais do produto”, alertou Rech.

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ASSISTÊNCIA FARMACÊUTICA:

1. A FENAFAR deve defender a implementação efetiva do SUS e a rápida implementação de práticas complementares e integrativas conforme a política nacional aprovada pelo Conselho Nacional de Saúde.

2. As entidades farmacêuticas devem valorizar a profissão farmacêutica buscando eliminar os obstáculos existentes nas políticas públicas de saúde.

3. Considerando a realização e as propostas aprovadas na 1ª Conferência Nacional de Medicamentos e Assistência Farmacêutica e nas Conferências Nacionais de Saúde a FENAFAR deve: Cobrar uma prestação de contas junto ao Ministério da Saúde das ações que foram implantadas após a 12ª Conferência Nacional de Saúde no sentido da inclusão plena da Assistência Farmacêutica em todos os níveis de atenção a saúde. Levar novamente ao debate, na 13ª Conferência Nacional de Saúde as propostas aprovadas durante a 1ª Conferência Nacional de Medicamentos e Assistência Farmacêutica e ainda não implementadas. Fomentar a discussão sobre a reestruturação do atual modelo adotado no Programa de Saúde da Família, questionando a sua formulação teórica, pois não contempla a atenção primária à saúde, enquanto política estruturante do SUS.

4. Considerando que a inserção das ações de assistência farmacêutica no âmbito da atenção básica deve estar em acordo com o disposto na Resolução 338/2004 do Conselho Nacional de Saúde, que estabelece a Política Nacional de Assistência Farmacêutica, a qual foi resultante de amplo processo de debate nacional devem ser priorizadas: A ampliação da divulgação e o debate em torno das questões envolvidas com a implementação desta política no âmbito do SUS. A ampliação da atuação da FENAFAR e dos sindicatos filiados no processo de transformação das farmácias em estabelecimento de saúde, como parte da política de assistência farmacêutica do País, atendendo às definições da referida resolução. Em relação à Portaria MS 698/06, a FENAFAR deve ampliar sua participação no debate sobre a inserção das ações de assistência farmacêutica e dos profissionais farmacêuticos no âmbito da atenção básica à saúde, com destaque para:

i) Definição sobre quais são as ações prioritárias de qualificação dos serviços.

ii) Definição sobre o financiamento das ações de assistência farmacêutica, incluindo a qualificação dos serviços.

iii) Definir a forma de inserção dos profissionais farmacêuticos.

5. Que a FENAFAR participe de todas as discussões no Congresso Nacional sobre a inserção das farmácias no SUS, procurando definir e apoiar aquela proposta que atenda aos interesses da população brasileira com vistas na promoção do uso racional de medicamentos.

6. Que a FENAFAR e demais entidades farmacêuticas, busquem através dos instrumentos legais e políticos pertinentes, o aumento do repasse de recursos para o financiamento da Assistência Farmacêutica Integral, baseada em indicadores epidemiológicos.

7. A FENAFAR deve lutar pela contratação e manutenção do farmacêutico nas unidades básicas de saúde do SUS, com vistas ao trabalho interdisciplinar em saúde na busca da integralidade da atenção.

8. Que a FENAFAR cobre da ANVISA uma revisão da Resolução 328/99 no sentido de regulamentar os serviços farmacêuticos que possibilitem a prática de Atenção Farmacêutica.

9. A FENAFAR deve apoiar a luta pela inserção da atividade de atenção farmacêutica no SUS como mecanismo de acompanhamento e avaliação da terapêutica e de problemas relacionados a medicamentos, bem como da promoção da saúde.

10. A FENAFAR deve buscar o fortalecimento das ações de promoção da saúde, como parte do conjunto das ações da assistência farmacêutica.

11. A FENAFAR deve buscar a normatização da assistência farmacêutica em nível hospitalar junto ao Ministério da Saúde.

12. Que a FENAFAR e os sindicatos filiados aprofundem o debate e as ações referentes à qualificação dos chamados “técnicos em farmácia” como auxiliares da atividade profissional dos farmacêuticos, bem como à definição legal dos limites de suas atribuições profissionais, considerando-se a farmácia como estabelecimento de saúde.

13. Que a FENAFAR e os sindicatos filiados atuem de forma articulada para estimular e aprofundar o debate sobre a necessidade de que a legislação brasileira considere, necessariamente, os parâmetros populacionais e epidemiológicos para a autorização da implantação de farmácias privadas.

14. Que a FENAFAR e os sindicatos filiados atuem no sentido de internalizar, no âmbito das instituições públicas, particularmente no Ministério da Saúde e ANVISA, das definições da Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos.

15. Que a FENAFAR participe das discussões sobre Fitoterápicos em todos os âmbitos, principalmente nos aspectos da regulamentação da produção e a sua comercialização. 16. Que a FENAFAR lute pelo resgate do conceito de ervanário da Lei 5991/73 qualificando-o como estabelecimento farmacêutico.

Com relação à Política industrial Farmacêutica a FENAFAR deve:

1. Promover e incentivar o debate e lutar pela implementação de uma Política de Ciência e Tecnologia, integrando Centros de Pesquisas, Laboratórios Oficiais e Universidades visando à pesquisa e o desenvolvimento de insumos farmacêuticos e medicamentos, incluindo fitoterápicos, a fim de diminuir gradativamente a dependência externa do país e criar referência em termos de custo.

2. Posicionar-se contra a importação de medicamentos que estejam ou possam estar sendo produzidos no país em quantidade suficiente.

3. Apoiar iniciativas, fortalecimento e ampliação da capacidade de pesquisa e produção de fármacos e medicamentos pelos Laboratórios Oficiais, incluindo medicamentos fitoterápicos.

4. Lutar pelo investimento e fortalecimento da produção nacional, visando a autonomia da produção farmacêutica do país.

5. Estatização da produção de medicamentos essenciais para abastecimentos do SUS!

6. Cobrar do governo o fomento efetivo à produção dos medicamentos essenciais, e de qualidade, que fazem parte da RENAME, bem como da revisão e atualização permanente desta relação nacional.

7. Promover e incentivar o debate sobre a revisão da atual Lei de Patentes fortalecendo a soberania nacional e o acesso a medicamentos a população.

No que diz respeito aos medicamentos genéricos a Fenafar deve:

1. Manifestar-se contrariamente à importação de medicamentos genéricos.

2. Lutar com as demais entidades farmacêuticas para que haja investimentos governamentais nos Laboratórios Oficiais, para suprir a demanda pública através da produção de medicamentos genéricos.

3. Explicitar para a sociedade que a Lei dos Medicamentos Genéricos do modo como foi aprovada pelo Congresso Nacional e regulamentada pelo Ministério da Saúde, não contempla as orientações da Organização Mundial de Saúde (OMS), por não garantir a sociedade o acesso aos medicamentos essencias, salientando que esta atende apenas a interesses mercadológico da indústria farmacêutica.

4. Exigir a revisão imediata da lista de medicamentos de referência para o registro de medicamentos genéricos, tendo como base a RENAME e o estabelecimento de padrões de referência terapêuticos e de qualidade a partir da produção oficial.

5. Solicitar a retirada do recurso da “não intercambilidade pelo médico prescritor”.

Em relação à Vigilância Sanitária a FENAFAR deve:

1. Solicitar à Anvisa que realize revisão geral dos registros de medicamentos, para avaliação técnica e científica da qualidade e essencialidade dos produtos, visando ao saneamento do mercado brasileiro por meio da eliminação de produtos de eficácia não comprovada e cancelamento do registro de produtos não mais comercializados.

2. Dirigir-se à Anvisa para exigir o cumprimento de todas as normas que visem à garantia da qualidade dos produtos farmacêuticos, a fim de localizar eventuais produtos falsificados à venda no comércio, agindo imediatamente de acordo com a legislação vigente.

3. Incentivar a ampliação do sistema nacional de farmacovigilância e o Programa de Farmácias Notificadoras.

4. Indicar aos sindicatos a necessidade da cobrança aos CRF’s e serviços de vigilância sanitária o cumprimento da legislação sanitária vigente no tocante ao funcionamento de estabelecimentos farmacêuticos e denunciar ao Ministério Público o descumprimento da Lei 5991/73.

5. Lutar pela presença do farmacêutico como um membro da equipe das vigilâncias sanitárias e com remuneração pela dedicação exclusiva.

6. Lutar pela efetividade da atuação da Vigilância Sanitária na fiscalização dos estabelecimentos farmacêuticos, por meio de concurso público e sua estruturação, visando à garantia da qualidade de produtos e serviços farmacêuticos para a população.

7. Fomentar a discussão sobre o destino dos recursos arrecadados pela ANVISA, em especial aqueles destinados à fiscalização de estabelecimentos farmacêuticos. 8. Criar um grupo de trabalho emergencial para avaliação das propostas de legislações correntes referentes à profissão farmacêutica, sobretudo a proposta de reformulação da Lei 5991/73, fomentando o debate junto às entidades e aos sindicatos da categoria.

Referente ao Uso Racional de Medicamentos a FENAFAR deve:

1. Retomar junto à população, a Campanha Nacional pelo Uso Racional de Medicamentos, juntamente com outras entidades e instituições e buscar o envolvimento do Ministério da Saúde.

2. Realizar junto à população a Campanha de esclarecimento sobre o uso de plantas medicinais, juntamente com outras entidades e instituições e buscar o envolvimento do Ministério da Saúde.

3. Levando-se em consideração a inclusão dos fitoterápicos no SUS cobrar das Vigilâncias Sanitárias Estaduais e Municipais, que seja fiscalizado com rigor a manipulação de fitoterápicos por leigos e que são comercializados ilegalmente.

4. Solicitar a ANVISA trabalho de conscientização junto aos médicos em relação à letra ilegível em receituários, pois pode acarretar erro na interpretação podendo levar a graves conseqüências.

Concernente aos Recursos Humanos a FENAFAR deve:

1. Lutar pela garantia da assistência farmacêutica em todos os níveis das ações de saúde, garantindo recursos humanos de qualidade.

2. Apoiar a qualificação profissional e a adequada regulamentação da assistência farmacêutica nos serviços de saúde.

3. Buscar com as demais entidades farmacêuticas através dos instrumentos legais e políticos a estruturação dos serviços de Assistência Farmacêutica em todos os Municípios garantindo a infra-estrutura necessária para sua implementação incluindo a contratação de farmacêuticos para a equipe de saúde.

4. Lutar para que a União, Estados e Municípios desenvolvam mecanismos para a qualificação e requalificação permanente do seu quadro de pessoal para a garantia da qualidade na gestão dos serviços de Assistência Farmacêutica baseados nas diretrizes da NOB/RH.

5. Lutar pela inclusão do farmacêutico no Pró Saúde e apoiar os pólos de educação permanente.

6. Promover uma discussão nacional com os seus sindicatos sobre a Resolução 261/94 do CFF, que prevê diferentes funções do farmacêutico na farmácia, visando acordos coletivos que valorizam o trabalho farmacêutico.

7. Apoiar as resoluções diplomáticas brasileiras. – Harmonização das relações de trabalho no Mercosul.

Relativo à Educação Farmacêutica a Fenafar deve:

1. Retomar e liderar, juntamente com a Executiva Nacional dos Estudantes de Farmácia, o debate sobre a educação farmacêutica.

2. Avaliar criticamente a política de ensino farmacêutico no País, face ao crescimento do número de faculdades de farmácia, posicionando-se contra a abertura indiscriminada e sem critério de novos cursos de farmácia e lutar pelo retorno da avaliação prévia pelos CNS, com caráter terminativo, sobre a necessidade social e viabilidade para esta abertura. Cobrar do MEC a justificativa da aprovação da abertura de cursos.

3. Fazer gestões junto ao Conselho Nacional de Saúde e Conselho Nacional de Educação, visando ao estabelecimento de critérios rígidos para a abertura e funcionamento de cursos de graduação de Farmácia no País.

4. Defender o estabelecimento da avaliação do sistema de ensino de forma a promover a formação de recursos humanos capacitados para a assistência farmacêutica, tanto no âmbito público como no setor privado, respeitando as suas características.

5. Solicitar juntamente com os sindicatos revisão das Diretrizes Curriculares para os cursos de farmácia, a fim de sugerir definições sobre a preparação de recursos humanos para a assistência farmacêutica.

6. Lutar pela construção de mecanismos efetivos de educação continuada que fomentem o aprimoramento profissional para prestação de serviços de assistência farmacêutica qualificados que visem os interesses do conjunto da sociedade.

7. Lutar contra o exame de proficiência, principalmente nos moldes que está sendo proposto pelo CFF.

8. Lutar para que a formação dos trabalhadores em Saúde atenda as necessidades da população brasileira na perspectiva da integralidade da atenção e do trabalho em equipe.

9. Estimular a educação farmacêutica continuada e permanente, conjuntamente as entidades e órgãos competentes.

10. Articular com as demais organizações da categoria ações para viabilizar a participação dos farmacêuticos nos esforços de mudanças no processo de formação, levando em conta as políticas definidas para a saúde (educação permanente, pró-saúde, vigilância em saúde, incluindo a vigilância sanitária), bem como para o desenvolvimento industrial (fármacos e medicamentos).

 Referente à Saúde do Trabalhador a FENAFAR deve:

1. Promover estudos sobre a incidência de acidentes e doenças relacionadas ao trabalho dos farmacêuticos.

2. Fomentar que os sindicatos afiliados emitam a CAT (Comunicação de Acidentes de Trabalho) para os farmacêuticos vítimas de acidentes e doenças relacionadas ao trabalho, quando não realizada pelo empregador.

3. Lutar pela implementação e adoção de medidas de proteção coletivas e individuais no ambiente do trabalho, conforme as normas regulamentadoras do Ministério do Trabalho.

4. Participar com seus sindicatos afiliados da construção da RENAST (Rede Nacional de Assistência em Saúde do Trabalhador) e da política nacional de saúde do trabalhador.

5. Lutar pela implementação das resoluções da 3a Conferência Nacional de Saúde do Trabalhador.

Em relação ao Controle Social no Âmbito do SUS a FENAFAR deve:

1. Encaminhar ao Conselho Nacional de Saúde uma solicitação de ampliação do debate da proposta de reformulação da Lei 5991/73 junto aos Conselhos Estaduais e Municipais de Saúde, incluindo a discussão pelo fim da venda de medicamentos em qualquer estabelecimento comercial que não a farmácia.

2. Estimular os sindicatos a continuarem e ampliarem suas participações nos Conselhos de Saúde, Saúde da Mulher, Saúde do Trabalhador, Entorpecentes, Ambiental e outros conselhos diversos, fortalecendo o segmento dos trabalhadores no controle social.

Outras Propostas:

1. A FENAFAR deve repudiar o PL 25/2002, em tramitação no Senado Federal, que pretende regulamentar o Ato Médico, em defesa intransigente do SUS e seus princípios: universalidade, integralidade, equidade e controle social.

2. Que a FENAFAR crie uma comissão para estudar a abertura de uma linha de crédito específico para o profissional farmacêutico, junto ao Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, BNDS e outros.

3. Que a FENAFAR acompanhe a alteração da Lei 3820/60 e demais decretos afins.

4. Que a FENAFAR acompanhe o PL sobre âmbito profissional proposto pela Dep. Alice Portugal, bem como de outros projetos referentes ao mesmo tema.

ORIENTAÇÕES:

1. Revisão dos programas de medicamentos pelo Ministério da Saúde, no sentido de manter somente os programas realmente estratégicos, garantindo o planejamento participativo das três esferas de governo (Federal, Estadual e Municipal), bem como, para os programas extintos, a redefinição das competências e a realocação dos recursos, respeitando o princípio da descentralização.

TEMA 2

Organização Sindical:

1. Aprovar a plataforma de luta e a plataforma de ação referente à organização sindical apresentada no Caderno de Debates do 5º Congresso da FENAFAR.

2. Reafirmar a posição quanto à chamada “reforma sindical” e pela unidade da luta dos trabalhadores e fortalecimento da CUT.

3. Recusar emendas à Constituição que violem direitos trabalhistas.

4. Lutar pela manutenção do poder normativo da Justiça do Trabalho.

5. Apoiar, acompanhar e participar das reformas sindical e trabalhista, garantindo fortalecimento das entidades sindicais e os direitos dos trabalhadores.

6. A ratificação da Convenção 156 da Organização Internacional do Trabalho na qual os trabalhadores têm liberdade de decidir sobre suas organizações e estabilidade no emprego, ou seja, não deve ser o Estado que define quem o representa e sim os próprios trabalhadores.

7. Intensificar a campanha nacional pelas 30 horas, com ampliação da ação dos sindicatos e dos farmacêuticos na sua defesa.

8. Continuar a luta pela redução da jornada de trabalho, sem redução dos salários a todos os trabalhadores, devendo articular-se com outras entidades sindicais e parlamentares para conseguir este objetivo.

9. Que a geração de empregos seja acompanhada de políticas públicas voltadas à garantia de salários e condições dignas de trabalho, com ampliação dos direitos dos trabalhadores. 10. Exigir uma política salarial de reajustes automáticos e de verdadeira recuperação do poder de compra do Salário Mínimo.

11. Intensificar sua ação e a dos sindicatos nas mesas de negociação do SUS (nacional, estaduais e municipais) e na defesa do estabelecimento de planos de carreira e salários que atendam os interesses dos profissionais farmacêuticos como trabalhadores de saúde.

12. Posicionar-se contra toda e qualquer forma de precarização do trabalho e denunciar ao Ministério Público a não contratação de servidores através de concurso público e a contratação dos serviços terceirizados e todo tipo de contratação temporária. Exigir do Ministério Público o cumprimento da Lei, através de concursos públicos com salários e jornadas de trabalho dignas. Com planos de carreira para cargos e salários com regimes estatutários.

13. Combater a precarização do vínculo trabalhista e das relações empregador e empregado, a fim de evitar a fragilidade dessas relações no setor privado.

14. Viabilizar e apoiar projetos, ações e mobilização que visem a consolidação e fortalecimento da categoria farmacêutica.

15. Ampliar suas ações voltadas à organização sindical da categoria farmacêutica, com destaque para o apoio aos sindicatos do Norte e Nordeste do Brasil.

16. Mobilizar, fortalecer e apoiar entidades e grupos que tenham interesse na integração dos sindicatos estaduais à FENAFAR, visando o crescimento e valorização da profissão.

17. Estimular os sindicatos estaduais à realização de cursos de atualização e aperfeiçoamento em assistência farmacêutica.

18. Realizar campanhas para estimulação da filiação sindical.

19. Estimular a organização da diretoria de educação no âmbito dos sindicatos.

20. Realizar curso de formação política e sindical para trabalhadores e diretores sindicais.

21. Ampliar as ações de divulgação, informação e debate com o conjunto da categoria, utilizando os instrumentos e as ferramentas de comunicação possíveis e em ação conjunta com os sindicatos, tendo como objetivos a aglutinação dos farmacêuticos e o conseqüente fortalecimento das entidades sindicais na defesa dos interesses da categoria e do conjunto dos trabalhadores.

22. Reafirmar a importância de que a FENAFAR e os sindicatos aproximem-se das universidades, na perspectiva de gerar interfaces positivas e a ampliação do debate político sobre as questões de interesse da categoria e dos trabalhadores com o conjunto dos docentes e estudantes de farmácia, por meio de suas respectivas entidades representativas e com respeito às suas respectivas autonomias.

23. Divulgar amplamente por meio de campanhas sobre a importância do profissional para a sociedade.

24. Defesa de sindicatos independentes dos patrões, dos Governos e do Estado burguês.

25. A valorização do profissional farmacêutico também passa pela melhor remuneração. Considerando que a maior parte da categoria trabalhe em comércio varejista, uma forma de buscar mais empregos e melhores remunerações é a redução da carga tributária imposta aos estabelecimentos, exceto aqueles que não prejudiquem o trabalhador (exemplo: IRPJ, IPTU, ISSQN, ICMS,…).

26. Orientar os sindicatos para que, no processo de negociação coletiva, aponte nas suas pautas de reivindicações a questão do número de profissionais farmacêuticos por número de leitos, complexidade de serviços executados, horário de funcionamento, tendo como referência o que recomenda a SBRAFH.

27. Apoio aos trabalhadores das fábricas ocupadas Cipla, interfibra (SC), Flaskô e Flakepet (SP), na sua exigência ao governo de estatização para garantir os empregos e salários.

28. Combater a utilização partidária dos sindicatos, a fim de evitar a transformação do sindicato em arena de disputa partidária ou espaço antidemocrático.

TEMA 1

Soberania dos Povos e do Brasil:

1. A FENAFAR deve apoiar políticas de fortalecimento do Estado perante o mundo eliminando a imagem de “Brasil-Colônia”.

2. A FENAFAR deve se manifestar contra o criminoso bloqueio a Cuba e defender a democracia e as reformas antineoliberais do governo Hugo Chávez na Venezuela, repudiando o golpismo fascista.

3. A FENAFAR deve posicionar-se radicalmente contra a guerra e pela paz, reforçando o direito de autodeterminação dos povos e soberania das nações, através da solidariedade ativa a luta dos trabalhadores e contra a política destruidora do imperialismo.

4. A FENAFAR deve apoiar a política externa que vem sendo implementada pelo governo federal, tais como: o fortalecimento da América Latina, do Mercosul e em defesa da autodeterminação dos povos.

5. A FENAFAR defende a Soberania dos paises da América.

6. A FENAFAR deve apoiar o fortalecimento do comércio de medicamentos no Mercosul.

7. A FENAFAR deve se contrapor ao Estado Mínimo, característico da política neoliberal e defender a mudança no modelo com a adoção de um Estado Forte baseado na diminuição das desigualdades sociais, em defesa da soberania nacional. A contraposição ao “Estado Mínimo” deve pressupor a articulação internacional e a garantia de Estados Nacionais independentes e soberanos.

8. A FENAFAR deve se posicionar em defesa da retomada do crescimento do setor produtivo nacional, visando à geração de empregos.

9. A FENAFAR deve se posicionar em defesa da Amazônia como território brasileiro.

10. Defesa incondicional dos Recursos Naturais (petróleo, Amazônia e etc).

11. A FENAFAR deve definir ações estratégicas específicas no âmbito da biodiversidade nacional frente ao avanço da exploração de empresas, entidades e instituições nacionais e estrangeiras e na perspectiva da garantia da Soberania do Brasil.

12. Compromisso da FENAFAR de aprofundar o debate quanto às salvaguardas nacionais frente ao patenteamento da vida e da biodiversidade nacional, tendo como pressuposto a garantia do interesse do conjunto da sociedade brasileira e do desenvolvimento sustentável do País.

13. Respeitar todo e qualquer movimento cultural de todos os paises, como forma de assegurar a soberania dos mesmos.

14. Promover e incentivar o debate sobre a revisão Lei de patentes, fortalecendo a soberania nacional e o acesso a medicamentos pela população.

Situação internacional e nacional:

1. Dívida interna: A FENAFAR deve buscar, com demais órgãos sindicais, a reabertura das discussões, sobre as dívidas internas dos Estados de forma a garantir a mudança dos mecanismos de pagamento para que, de fato, a dívida possa decrescer, para que os Estados possam aumentar seus investimentos na área social.

2. Ruptura com a política ditada pelo FMI e Banco Mundial!

3. O Brasil deve tomar medidas de solidariedade com o povo haitiano, colaborando na recuperação das questões referentes à Educação, Saúde, Infra-estrutura e Emprego revendo sua participação militar no País.

4. Nacionalidade sem indenização dos recursos naturais – petróleo, gás, minérios, etc – que pertencem aos povos!

5. Revogação de todas as medidas da reforma da Previdência – Emenda Constitucional 41, pela Previdência Pública e Solidariedade para todos os trabalhadores.

6. Garantia do Emprego de todos os trabalhadores!

7. Lutar contra corrupção, exigir a elucidação dos casos e apoiar a punição exemplar dos culpados, cobrando resultados práticos.

8. Cobrar do Governo Federal a retomada das reformas em caráter de urgência.

9. Suspensão da compra de vagas nas universidades privadas e investimentos nas universidades públicas, na tentativa de reverter o sucateamento das mesmas.

10. Defesa de uma política de democratização dos meios de comunicação (rádio e tv), rompendo com a hegemonia de grupos econômicos e que garanta acesso aos movimentos sociais. 11. Criar um programa de empregos, em substituição ao modelo automatizado que gera desemprego.

12. A FENAFAR deve realizar discussões e seminários como o objetivo de aprofundar o debate sobre a questão racial e inclusive o Estatuto da Igualdade Social.

13. Revogação da lei das organizações sociais!

14. A questão dos aposentados no Brasil é precária e preocupante, nesse sentido a FENAFAR deve apoiar e solidariza-se com a luta dos mesmos.

15. A FENAFAR deve engajar-se na luta para que os recursos da CPMF sejam aplicados especificamente no campo da saúde.

16. Em relação ao setor farmacêutico, aponta-se a necessidade de articulações internacionais que se contraponham àquelas iniciativas nocivas às condições de vida e saúde das populações nacionais e que atendem apenas aos interesses de lucro e acumulação do setor produtivo de medicamentos e insumos farmoquímicos.

17. A FENAFAR deve posicionar-se radicalmente contra o tráfico de entorpecentes e o crime organizado que o promove e que participe ativamente do processo de busca de mecanismos de ressociabilização dos usuários de drogas de abuso.

18. Que a FENAFAR e os sindicatos filiados participem do processo de debate e definição das diretrizes para a atenção à saúde no sistema prisional e das políticas públicas de reavaliação deste sistema.

19. Lutar contra a abertura desenfreada de cursos de nível superior e buscar a qualidade nesses cursos.

20. A FENAFAR deve integrar o Movimento Internacional pela Paz.

21. A FENAFAR deve atuar para que a ação sindical seja um dos instrumentos para a integração do Mercosul, considerando os princípios que devem nortear o desenvolvimento da região e a garantia dos interesses dos trabalhadores.

22. Incorporar as bandeiras de lutas da coordenação dos movimentos sociais; necessidade de incorporar a participação da FENAFAR nos movimentos sociais com integração dos sindicatos e entidades.

23. A FENAFAR deve posicionar-se radicalmente contra a guerra, o fim das ocupações do Líbano, Palestina, Iraque e Afeganistão, combatendo assim o imperialismo norte-americano.

Eleições 2006:

1. Analisar criticamente as propostas dos candidatos à presidência da República no que se refere à saúde pública e sobre tudo a profissão farmacêutica, com a devida divulgação aos sindicatos estaduais.

Governo Federal:

2. A FENAFAR deve se posicionar com independência em relação ao Governo, apoiando suas propostas quando consideradas justas para os trabalhadores, posicionando-se contra aquelas que afrontem os direitos conquistados, bem como as que promovam piora das condições de trabalho da população brasileira.

3. A FENAFAR deve atuar junto ao INPI e na fiscalização das patentes de descobertas brasileiras e em defesa do instituto da anuência prévia para a concessão de patentes para produtos e processos farmacêuticos.

4. A FENAFAR deve cobrar o aumento dos investimentos sociais.

5. A FENAFAR deve manter sua atuação com autonomia e independência política, mantendo sua participação nos fóruns democráticos garantindo a defesa dos interesses da categoria e intensificando o processo de mobilização da categoria e trabalhadores em geral.

6. A FENAFAR deve se manifestar quanto à necessidade de planejamento estratégico com definição de prioridades, para implantação de políticas governamentais visando o fortalecimento da cidadania.

7. A FENAFAR deve cobrar dos governos municipais, estaduais e federal os compromissos de campanha, através de medidas mais efetivas que contemplem os anseios da população.

8. A FENAFAR juntamente com outros segmentos da nossa sociedade comprometidos no avanço das forças produtivas deverão participar da definição e negociação de um pacto nacional pelo crescimento e o emprego.

9. Que a FENAFAR mantenha uma avaliação da conjuntura política de forma crítica, visando manter a categoria mais atualizada e mais estimulada a participar das lutas dos trabalhadores e da sociedade.

10. A FENAFAR deve acompanhar a conjuntura fazendo sempre que necessário, críticas construtivas à política nacional desenvolvida pelo governo, visando sempre a garantia dos direitos da população e o crescimento do país.

11. Que as Agências Reguladoras atuem como instrumentos do Estado Brasileiro para a garantia do interesse público, estando subordinadas às políticas públicas e sob controle social.

Reformas (Tributária, Previdência, Política e Sindical. etc):

1. A FENAFAR e os Sindicatos dos Farmacêuticos devem promover um amplo debate com a categoria e a sociedade em geral, sobre a reforma tributária e política.

2. A FENAFAR deve defender uma reforma previdenciária que garanta os direitos dos trabalhadores, legitimamente conquistados e legalmente contratados, e a ampliação da cobertura através da reversão do desemprego, eliminação do trabalho escravo, do trabalho informal e da precarização dos contratos.

3. A FENAFAR deve organizar um calendário de atividades com os Sindicatos para debater a ALCA, as Reformas da Previdência, Trabalhista, Tributária e Política.

4. A FENAFAR deve apoiar a necessidade de Reforma Tributária imediata visando incentivar o setor produtivo e a geração de empregos.

5. A FENAFAR deve apoiar uma Reforma do Judiciário que vise a moralização do poder e o expurgo da corrupção.

Recursos Ambientais, Minerais, Fauna e Flora:

1. A FENAFAR deve cobrar a prestação de contas das atividades ambientais do Governo e o combate a biopirataria.

2. A FENAFAR deve cobrar a ampliação dos debates sobre a transposição do Rio São Francisco.

3. A FENAFAR deve se posicionar a favor da preservação das reservas ambientais e minerais e contra a invasão das áreas de preservação ecológica e contra a construção indiscriminada e invasiva das áreas do litoral brasileiro.

 PROJETOS:

1. Realização de curso de formação política e sindical para trabalhadores e diretores sindicais.

2. Campanha Nacional Unificada por melhores condições de trabalho! Melhores salários! Pela jornada de trinta horas.

3. Desprecarização do trabalho em saúde! Plano de cargos e carreiras do Serviço Público.

4. Campanha Nacional de sindicalização.

5. Campanha pelo direcionamento total dos recursos do CPMF para a saúde e ao SUS.

6. Luta pela estruturação da Farmobras – Empresa Pública Nacional de Produção de Farmoquímicos e Medicamentos.

7. Que a FENAFAR, juntamente com a Federação Nacional dos Médicos, formule e busque o apoio para a apresentação de um Projeto-de-Lei de origem popular que trate da proibição da propaganda de medicamentos no Brasil.

8. Campanha pela presença do farmacêutico nas unidades de saúde.

9. Campanha contra a exploração sexual de mulheres e crianças pela indústria do turismo.

10. Campanha contra as OSCIPS e OS.

Sindicalismo, Trabalho e Organização da Categoria

Ofensiva neoliberal contra o movimento sindical

 

1. Na história recente do País nunca se viu uma situação tão adversa para o povo brasileiro e, particularmente, para os trabalhadores. O governo FHC tem sido fiel na aplicação do “receituário” imposto pelo FMI, que faz parte do processo de consolidação da política neoliberal.

2. Conseqüências perversas dessa política são os altos índices de desemprego e o fechamento definitivo de postos de trabalho – conjuntura que tem fragilizado os trabalhadores e suas formas de organização.

3. Numa clara intenção de enfraquecer ainda mais e engessar a luta de resistência dos trabalhadores, o governo firmou uma carta de intenção com o FMI a respeito da chamada “reforma trabalhista”, que compreende uma série de iniciativas, tais como:

3.1 Arbitrárias “medidas provisórias” versando sobre a flexibilização de direitos sociais e trabalhistas, como a desregulamentação das relações de trabalho; a precarização do vínculo empregatício, com a implantação do contrato de trabalho temporário e sua suspensão temporária; aplicação do banco de horas.

3.2 Formulação da Proposta de Emenda Constitucional, PEC 623/98, que altera os artigos 8.º, 111 e 114 da Constituição Federal – CF, e cujas premissas (o fim da unicidade sindical e da contribuição confederativa) estabelecem a pulverização sindical e a asfixia financeira das entidades representativas dos trabalhadores. Não bastasse, a mesma emenda propõe a extinção do poder normativo da Justiça do Trabalho e a criação de obstáculos para propositura de Reclamatórias Trabalhistas.

3.3 Aprovação da lei 9.985/2000 que autoriza a criação das Comissões de Conciliação Prévia (órgãos de representação paritária, de criação, ainda, facultativa), pelas quais deverão passar, prévia e obrigatoriamente, qualquer reclamação de empregado ou empregador que vier a ser apresentada à Justiça do Trabalho. Tal mecanismo implica o agravante de que, uma vez feita a conciliação na Comissão, se o trabalhador se sentir prejudicado, perde o direito de recorrer à justiça.

3.4 Intenção do governo, já veiculada na imprensa, de alterar o artigo 7.º da Constituição, com o fito de abolir direitos sociais e trabalhistas básicos e criando o contrato coletivo de trabalho como instrumento para que esses direitos dependam de negociações entre empregadores e trabalhadores. Esses direitos são, basicamente: FGTS e multa de 40%; férias remuneradas, com 1/3 acima do salário; 13.º salário; hora-extra, com remuneração de, no mínimo, 50% superior ao salário; jornada de 8 horas diárias e 44 horas semanais; licença-maternidade e licença-paternidade.

3.5 Não ratificação, a partir de 1997, por parte do governo brasileiro, da Convenção 158 da OIT, que garante a motivação para o término da relação de trabalho por iniciativa do empregador. Tendo em vista o grave problema do desemprego, gerador do enorme contingente de trabalhadores integrantes do exército de reserva – situação que favorece ao empregador que, para diminuir custos, intensifica a rotatividade da sua mão de obra e, assim, pode contratar empregados por menor salário – o Estado brasileiro tomou uma medida que o isenta de proteger o trabalhador da dispensa imotivada. Resistência dos Trabalhadores

4. Nos últimos três anos, cresceu, no movimento sindical, um amplo debate acerca do poder de resistência dos trabalhadores, o que otimizou nas organizações sindicais seu caráter de instrumento de contraposição à exclusão de direitos e massacre da classe trabalhadora.

5. Nesse debate, é consenso a necessidade de mudanças na estrutura sindical, de tal forma que permita a unidade dos trabalhadores para lutar por seus direitos. Tais mudanças, no entanto, devem nascer justamente deste amplo debate entre os próprios trabalhadores e as entidades sindicais, e não impositivamente, para que não prevaleçam interesses alheios à classe trabalhadora.

6. Dentre os vários desafios que se colocam ao movimento sindical, existem algumas estratégias que devem nortear as ações das entidades sindicais. São elas: Luta política de massas: as entidades sindicais devem ser instrumentos de organização dos trabalhadores e de integração dos mesmos nas lutas mais gerais do povo brasileiro. Lutas que, neste momento, se traduzem na defesa do Brasil, da democracia e do trabalho. Fortalecimento dos sindicatos: lutar contra qualquer proposta que signifique o enfraquecimento e a fragmentação dos sindicatos, principalmente no que se refere à sua representatividade e à sua capacidade de unir os trabalhadores. Os sindicatos devem ter como base de representação todos os trabalhadores, associados ou não, e devem estabelecer estratégias que aumentem a sua capacidade de sindicalização, considerando o contigente de desempregados e terceirizados que compõem sua base. Sindicatos por ramos: difundir nas bases e promover debates sobre a viabilidade da construção de fortes sindicatos por ramos de atividade; da fusão de pequenas entidades, no sentido de manter a unicidade sindical, contrapondo-se à fragmentação e pulverização dos trabalhadores nos sindicatos por empresa. Iniciativas assim são alternativas para aumentar a representatividade das entidades sindicais e otimizar a canalização de recursos financeiros para a sustentação das ações. Organização no local de trabalho: fortalecer o trabalho de base dos sindicatos tornando-os mais próximos das necessidades dos locais de trabalho, descentralizando e democratizando mais as ações e, ao mesmo tempo, aglutinando e unindo mais os trabalhadores. A organização dos trabalhadores nos seus locais de trabalho se coloca como uma estratégia fundamental para o fortalecimento das ações e da sustentação financeira dos sindicatos. Formação sindical: difundir e democratizar a formação sindical entre os trabalhadores para melhor prepará-los para as lutas por seus direitos, a partir da compreensão histórica das lutas do povo brasileiro, da construção do movimento sindical, das questões políticas e econômicas que permeiam as relações de trabalho, e, mais especificamente, a compreensão dos determinantes gerais das questões específicas vividas por determinadas categorias. Solidariedade sindical: a luta sindical está inserida no contexto das lutas mais gerais, a partir das quais se estabelece a unidade dos trabalhadores. É necessário romper com o corporativismo muitas vezes expresso nas atividades sindicais e estabelecer relações intersindicais que extrapolem os interesses regionalizados e de determinadas categorias. Recursos Financeiros: o fortalecimento das estruturas sindicais passa pela sua sustentação financeira, compatível com a responsabilidade no desenvolvimento de ações que garantam os direitos sociais e trabalhistas do conjunto dos assalariados, de forma independente do Estado e, cuja fonte, deve ser proveniente de todos os trabalhadores. Numa conjuntura tão difícil aos trabalhadores, principalmente, com a grave crise econômica que vivem, a resposta dos mesmos para essa sustentação financeira depende de um efetivo trabalho dos sindicatos nas suas bases e da canalização de esforços.

Princípios da organização da categoria

7. O 1.º e o 2.º Congressos da Fenafar (1994 e 1997, respectivamente) aprovaram o perfil de unidade da organização sindical dos farmacêuticos com a Federação Nacional, congregando sindicatos estaduais capazes de representar os interesses gerais da categoria, respeitadas as particularidades regionais.

8. O 3.º Congresso reafirma e indica os seguintes princípios de organização da Federação e sindicatos. Eles devem ser: de luta: que preparem os trabalhadores para as lutas políticas, sindicais e econômicas. organizados: que desenvolvam a luta de forma planejada, preparando a sua estrutura e sua base de representação. unitários: que representem o conjunto da categoria, independente de suas posições políticas, sociais, religiosas e área profissional no âmbito da profissão. democráticos: que respeitem os fóruns de decisões, sendo pluralistas no debate das idéias, garantindo espaço para todos. politizados: que vinculem a luta econômica com a luta política, na medida certa, para estar sempre próximos da sua base e possibilitar respostas mais duradouras aos problemas que atingem aos trabalhadores. solidários: que estabeleçam, entre si e com outras entidades sindicais, relações de solidariedade que extrapolem os interesses regionalizados e da categoria. independentes: a atuação deve estar comprometida com os trabalhadores, independente de partidos políticos, governos e entidades patronais. Atuação Fenafar/sindicatos

9. A partir de resoluções do 2.º Congresso, houve um crescimento significativo, em termos quantitativos e qualitativos, da participação e atuação na estrutura Fenafar/sindicatos, através de quatro ações fundamentais: o fortalecimento dos sindicatos já estruturados há bastante tempo, o impulso a entidades novas que estavam se formando já no período do último congresso, a criação de um novo sindicato e reestruturação de sindicatos desestruturados. Porém, é necessário intensificar este trabalho. Porém, é necessário intensificar este trabalho

10. Contamos com a seguinte situação:

 Sindicatos funcionando com comissões diretivas provisórias.

 Sindicatos pequenos que enfrentam dificuldades de auto sustentação financeira e, conseqüentemente, encontram limitações na atuação.

 Sindicatos que se desfiliaram da Fenafar (Rio de Janeiro e Goiás) sem amplo debate com a base destes estados, levando-os à marginalização das ações unitárias dos farmacêuticos.

11. Devemos aperfeiçoar ainda mais a relação com os sindicatos e com as bases nos estados, auxiliando-os política, técnica e administrativamente com ações de:

 Unidade do movimento sindical farmacêutico: defender a unidade do movimento farmacêutico, através do fortalecimento das suas entidades de representação, deve ser objetivo maior de cada profissional. Toda e qualquer tentativa de divisão do movimento deve ser repudiada. O divisionismo enfraquece o poder de mobilização da categoria, enquanto a unidade fortalece e prepara os profissionais para luta em defesa da profissão e de seus direitos.

 Ampla participação nos fóruns da Fenafar e dos sindicatos: dar continuidade à realização de conselhos de representantes, reuniões de diretoria e comissões amplas e abertas que valorizem a participação de todos, inclusive da base, e não somente dos dirigentes.

 Trabalho de base: manter a presença da Fenafar nos vários estados, e incentivar os sindicatos a ampliar o seu trabalho na base, inclusive o esforço de organização dos farmacêuticos nos locais de trabalho de maior concentração da categoria.

 Formação profissional: incentivar a realização de debates, cursos e seminários que atendam às necessidades de atualização profissional da categoria, bem como capacitem as entidades para a correlação pertinente das questões técnicas e políticas que permeiam as ações profissionais.

 Formação sindical: incentivo e realização de cursos de formação sindical para os dirigentes das entidades, a fim de melhor capacitá-los para o planejamento e

 execução das ações; e para a base, a fim de despertar novas lideranças e aumentar o contingente de dirigentes sindicais para a categoria.

 Inserção junto a comunidade: incentivo a realização de fóruns e debates junto a população no tocante ao âmbito profissional e ações da saúde.

 Disponibilidade de diretores: a busca pela melhor capacitação dos dirigentes dos sindicatos deve ser aliada à viabilização de disponibilizá-los para a tarefa diária de conduzir as lutas definidas pelos profissionais. Recursos financeiros: a sustentação financeira da Fenafar e dos sindicatos é, sem dúvida, um dos maiores problemas enfrentados nos últimos anos. A crise recessiva afeta o bolso dos profissionais, única fonte de arrecadação das entidades, e, consequentemente, abala a sustentação das mesmas. É necessário estabelecer uma agenda de discussões aprofundadas a respeito de alternativas e saídas para essa situação, baseadas na conjuntura desfavorável que se apresenta para o movimento sindical. A Fenafar, conjuntamente com os sindicatos, deve difundir e ampliar na categoria essas discussões, que passam pelas questões de melhoria dos instrumentos e formas de arrecadação e pela otimização de suas estruturas para as ações. Relações externas da Fenafar/sindicatos 12. Intensificar a relação da Fenafar e dos sindicatos com as demais entidades sindicais dos trabalhadores é fundamental para a integração da categoria com as lutas mais gerais e para a materialização da solidariedade sindical. Isto pode se dar a partir de algumas instâncias de participação, quais sejam:

 Intersindicais: participação nos fóruns intersindicais que têm se formado nos estados e dos quais participam entidades representativas de trabalhadores de variadas categorias e setores econômicos.

 CUT/CNTSS: A Fenafar e alguns sindicatos dos farmacêuticos são filiados à CUT, inclusive fazendo parte da direção nacional da Central e da direção da CNTSS (Confederação Nacional dos Trabalhadores em Seguridade Social). Porém, precisamos intensificar essa relação, valorizando a participação e intervindo mais nas instâncias decisórias da Central e Confederação.

 CNPL: defender o projeto político da Fenafar junto aos Fóruns da CNPL.

 Sociedade civil organizada: participar de forma ativa dos fóruns, congressos e outros , promovendo intercâmbio de informações e Ações relacionadas a profissão farmacêutica. Outros sindicatos que contam com farmacêuticos em sua base: incentivar a aproximação buscando a troca de experiências e o fortalecimento nas negociações salariais e de condições de trabalho. 13. A Fenafar vem participando, nos últimos anos, do Fórum Nacional das Entidades dos Trabalhadores em Saúde, que tem por objetivo aglutinar as entidades dos trabalhadores em saúde em torno de uma melhor intervenção junto ao Conselho Nacional de Saúde. Intensificar e estimular a participação dos sindicatos nos conselhos estaduais e municipais de saúde é fundamental para ampliar as relações e intervenções diretas das entidades sindicais farmacêuticas na sociedade. 14. Intensificar a relação com o movimento estudantil de farmácia, através da Enefar, mostrando a importância do movimento sindical como instrumento fundamental de luta e defesa da classe trabalhadora e da profissão farmacêutica. 15. A busca de relações da Fenafar com entidades internacionais é necessária por dois aspectos fundamentais: Relações de solidariedade entre os trabalhadores de forma geral e unidade na luta contra a exploração da classe trabalhadora. Aprofundamento do intercâmbio profissional com farmacêuticos dos outros países, principalmente em torno da Assistência Farmacêutica.

Política nacional de Assistência Farmacêutica inserida numa política de saúde

 

1. A garantia da cidadania passa, necessariamente, pela garantia do direito à saúde, ao trabalho e à qualidade de vida. Transcendendo a defesa apenas do Sistema Único de Saúde, a conquista e manutenção destes direitos exigem um modelo de Estado que garanta a diminuição das desigualdades sociais e a eliminação da exclusão, princípios negados por modelos econômicos que atendem apenas aos interesses da internacionalização do capital.

2. Os princípios e diretrizes do Sistema Único de Saúde (SUS), consignados na Constituição de 1988, consagram a saúde como um dos direitos fundamentais da pessoa. A saúde, portanto, não pode ser vista apenas como um “setor”, mas também como resultado de um conjunto de condições sociais e econômicas, e cuja promoção exige que se implementem ações pautadas por relações intersetoriais e transdisciplinares, garantidas por políticas públicas voltadas aos interesses da população. O mercado farmacêutico no Brasil

3. A indústria farmacêutica no Brasil, em geral, não apresenta uma verticalização adequada do processo produtivo, ou seja, não desenvolve de maneira integral e articulada os diferentes estágios tecnológicos característicos desse segmento. São desenvolvidos apenas aqueles estágios referentes aos processos físicos de transformação para a produção de especialidades farmacêuticas e às atividades de marketing e comercialização. As atividades de pesquisa e desenvolvimento de novos fármacos (o que gera maior agregação de valor), e de obtenção de processos de produção em escala industrial (o que gera agregação de tecnologia), são realizados apenas pelas matrizes dos laboratórios transnacionais, as quais se articulam com suas subsidiárias localizadas no Brasil e promovem a integração de todas as etapas produtivas. Este processo de “integração” confere maior poder de competição às empresas transnacionais frente às empresas de capital nacional, tanto em decorrência do domínio tecnológico, como do conseqüente domínio econômico.

4. A estratégia de competição da indústria está baseada na multiplicação artificial de produtos e sua diferenciação através de agressivas campanhas publicitárias em torno dos nomes de marca, privilegiando o uso abusivo e irracional de medicamentos. Assim, a população brasileira convive com milhares de especialidades farmacêuticas à disposição no mercado, enquanto apenas 500 substâncias são necessárias para a cobertura da maioria das doenças prevalentes no país.

5. O medicamento deixa de ser entendido como bem essencial às ações de saúde e passa a ser considerado como uma mercadoria qualquer, cuja principal função é garantir elevada lucratividade, mesmo desconsiderando as necessidades da maioria da população. Esse quadro é agravado drasticamente pela existência desordenada de aproximadamente 60.000 farmácias e/ou drogarias, sem qualquer relação com os indicadores epidemiológicos e/ou demográficos. (dar a fonte dos dados).

6. O setor farmacêutico, cuja movimentação financeira atingiu a cifra de aproximadamente 12 bilhões de dólares no ano de 1999, apresenta-se oligopolizado e cartelizado – o que é evidenciado pelo domínio de aproximadamente 85% do mercado brasileiro de medicamentos por poucos laboratórios produtores, em sua maioria empresas de capital transnacional, que vem se agravando pelas grandes fusões das mesmas e cujo número não ultrapassa 15% do total de laboratórios existentes no País.

7. Os aumentos abusivos dos preços de medicamentos verificados no Brasil guardam relação direta com a forma de organização do setor e com a conivência governamental. Porém, a prática da cartelização não se explicita apenas na definição do preço dos medicamentos, mas também no poder de decisão de poucos laboratórios sobre quais medicamentos devem ser produzidos, quando produzi-los, para quem produzi-los – o que coloca em risco a própria soberania do país.

8. Esses fatos assumem proporções desastrosas para o conjunto da sociedade, principalmente ao se verificar que os 15% da população brasileira que possuem renda mensal acima de 10 salários mínimos são responsáveis pelo consumo de 48% dos medicamentos colocados no mercado brasileiro. A maioria da população, representada pelos 51% dos cidadãos com renda entre 0 e 4 salários mínimos, é responsável pelo consumo de aproximadamente 16% dos medicamentos produzidos. Soma-se a isso a falta de dados referentes a distorção da relação entre consumo e uso racional de medicamentos e a real necessidade de produção para atender as demandas da população.

9. O aspecto oligopólico é fortalecido, tanto pela adoção da chamada “Lei de Patentes” (1996), como pelo acelerado processo de desregulamentação econômica em implantação no Brasil, o que leva ao nítido privilégio dos interesses do mercado e transfere a este a definição política das ações, dos produtos e dos serviços a serem colocados à disposição da população, bem como dos preços que serão praticados, mesmo em detrimento dos interesses da maioria do povo brasileiro. As altas taxas cobradas pela ANVS acabam por fortalecer e até ampliar o oligopólio existente.

10. As importações de medicamentos no Brasil passaram de 50 milhões de dólares, antes da adoção da “Lei de Patentes”, para a incrível cifra de 1 bilhão e 300 milhões de dólares anuais. Isso demonstra que a manutenção de um mercado oligopolizado que caminha para uma maior concentração, associada ao Domínio dos processos de produção de insumos e produtos acabados, atende principalmente às expectativas de lucro das empresas transnacionais, as quais praticam preços exorbitantes no mercado nacional, ao mesmo tempo em que remetem divisas às suas matrizes no exterior através do super-faturamento de matérias-primas produzidas por estas últimas.

11. Este fato, além de aumentar o déficit da balança comercial brasileira, transfere ao exterior recursos que deixam de ser aplicados na ampliação do parque industrial nacional, no desenvolvimento científico e tecnológico do próprio País e na ampliação dos postos de trabalho no setor, ao mesmo tempo em que tem reflexo direto sobre a composição do preço final dos medicamentos disponíveis no mercado. A Assistência Farmacêutica como política pública e direito de cidadania

12. Compreendendo a Assistência Farmacêutica como um conjunto de ações, centradas no medicamento e executadas no âmbito do Sistema Único de Saúde, visando a promover, proteger e recuperar a saúde da população, em seus aspectos individuais e coletivos. Estas ações, necessariamente baseadas no método epidemiológico, deverão envolver: informação, seleção, padronização, prescrição, programação, aquisição, armazenamento, distribuição, dispensação, produção, controle de Qualidade, educação em saúde, vigilância farmacológica e sanitária, pesquisa e desenvolvimento de medicamentos, imunoterápicos e hemoderivados.

13. A implementação da Assistência Farmacêutica, ao objetivar o acesso e o uso racional dos medicamentos, bem como nortear as políticas de medicamentos, de recursos humanos e de desenvolvimento científico e tecnológico para o setor, cumpre o papel de política que contribui para a definição de diretrizes ordenadoras, que envolvem os setores público e privado de atenção à saúde, estratégicas para a garantia do direito de cidadania.

14. Esse direito passa pelo acesso ao medicamento adequado, para uma finalidade específica, em dosagem correta, por tempo adequado e cuja utilização racional resulte em resolutividade. Portanto, não se esgota no pagamento pelo medicamento recebido, mas estende-se ao recebimento de informações adequadas e acesso a todas as ações inerentes à atenção à saúde.

15. Ainda que se considere positiva a publicação da Portaria 3.916, denominada Política Nacional de Medicamentos, esta restringiu-se a um ato burocrático não se efetivando na prática, na medida em que não aponta soluções, principalmente no que diz respeito ao financiamento, além de explicitar a concepção equivocada do Governo Federal que entende como central a política de medicamentos e não a Assistência Farmacêutica.

16. A política de medicamentos deve estar baseada em indicadores gerados pela dinâmica da Assistência Farmacêutica, utilizando-se de uma Relação Nacional de Medicamentos Essenciais (RENAME), atualizada, no máximo a cada dois anos, de acordo com o quadro de morbi-mortalidade prevalecente no país. Esta RENAME, cuja institucionalização objetiva atender à maioria das necessidades de saúde da população, caracteriza-se como instrumento racionalizador no âmbito do Sistema Único de Saúde e expressa, na sua implementação, um compromisso do Estado com a garantia da atenção à saúde dos cidadãos.

17. A RENAME é um dos instrumentos necessários ao estabelecimento de uma abordagem estratégica visando à auto-suficiência nacional em medicamentos, uma vez que a produção de medicamentos essenciais deve ser entendida como questão de segurança nacional e de soberania, dada a sua influência direta nos níveis de saúde da população e sua importância em situações de emergência.

18. Uma das estratégias para o desenvolvimento da política de medicamentos é o fortalecimento do setor estatal de produção, representado pelos laboratórios oficiais, que vêm sendo sistematicamente sucateados, correndo inclusive o risco de privatização, como instrumento de referência em termos de qualidade, custo e descentralização da produção; como parte de uma política de ciência e tecnologia para o setor que permita a ocupação plena e a expansão da capacidade produtiva desses laboratórios, bem como o estabelecimento de um plano integrado e inter-setorial para o desenvolvimento e a produção de medicamentos essenciais

19. Em função da possível necessidade de complementaridade, a busca de interfaces com o setor representado pelos laboratórios privados, de capital nacional, deve estar baseada no fomento de uma política de desenvolvimento tecnológico e na verdadeira execução de uma política de medicamentos genéricos.

20. Por ocasião da aprovação da chamada “Lei dos Genéricos” (Lei 9787/99), a população foi alvo de ampla campanha publicitária visando ao descrédito dos medicamentos genéricos e o questionamento quanto à Qualidade do chamados “medicamentos similares” existentes no mercado. A partir da ampla cobertura da mídia, a sociedade brasileira também acompanhou o desenrolar das atividades da atual “CPI dos Medicamentos”, em cujo diagnóstico destacou a necessidade de estímulo à produção nacional e ao registro de medicamentos genéricos, bem como a efetiva garantia da qualidade destes e dos demais medicamentos colocados à disposição dos usuários.

21. A adoção de uma política de medicamentos genéricos, como parte da Política Nacional de Medicamentos, constitui estratégia essencial para a readequação do mercado, para a garantia dos direitos dos usuários ao acesso racional aos medicamentos, para a diminuição do preço final e para a identificação destes, evitando erros de prescrição e de dispensação, para o incentivo a produção de monofármacos e para a racionalização da propaganda de medicamentos, não podendo estar restrita a um único texto legal.

22. Os laboratórios oficiais devem ser dotados de capacidade técnica e científica, não apenas para a produção, mas também para o estabelecimento e acompanhamento dos parâmetros de referência destinados ao registro e autorização de uso dos medicamentos genéricos e sua conseqüente intercambialidade.

23. A atuação da Secretaria de Vigilância Sanitária nos últimos anos (especialmente no período compreendido entre 1.997 e janeiro de 1.999) refletia a existência de um aparato desconectado das ações e diretrizes inerentes ao Sistema Único de Saúde, com definição de estratégias e ações sem a devida articulação com as diferentes esferas de governo, com reduzido quadro de recursos humanos capacitados, sem o investimento necessário à execução de ações prioritárias, com características centralizadoras e conformando um modelo nitidamente autoritário, cujas atividades estavam voltadas para a regulamentação e controle de produtos, levando ao fortalecimento de uma concepção fragmentada e inadequada às premissas do SUS.

24. A partir de 26 de janeiro de 1.999, com a criação da “Agência Nacional de Vigilância Sanitária” (Lei n.° 9782), caracterizada como uma autarquia especial e com personalidade jurídica de direito público, essa realidade pouco se modificou. Esse modelo descaracteriza as ações de Vigilância Sanitária como sendo típicas e exclusivas de Estado, recentralizando na contramão do SUS, bem como impede a criação de um Sistema Nacional articulado nas três esferas de poder. A criação desta Agência traduz a visão estratégica do governo federal, segundo a qual o Estado deve abrir mão de sua responsabilidade para com a garantia dos direitos dos cidadãos. No tocante aos medicamentos, a criação de um organismo independente e desvinculado das diretrizes gerais da política de saúde do País, alheio à necessidade de definição e análise dos indicadores epidemiológicos nacionais, finda por desvincular estrategicamente o medicamento do contexto da saúde, o que resulta na ratificação das distorções existentes e na sua descaraterização como bem essencial às ações de saúde.

25. A construção de uma política de vigilância sanitária se constitui em instrumento fundamental para a garantia de acesso da população a serviços e a produtos de interesse sanitário seguros, eficazes e com Qualidade. O estabelecimento de uma rede de laboratórios públicos de controle de qualidade de serviços e produtos é condição essencial para a implementação adequada da Assistência Farmacêutica com controle de Estado e da sociedade através dos Conselhos de Saúde.

26. Além da garantia de financiamento para manutenção e expansão da capacidade instalada dos serviços já existentes, há necessidade de um programa inter-setorial envolvendo universidades e centros de pesquisa com o objetivo de formar e capacitar os recursos humanos exigidos, bem como buscar o desenvolvimento de tecnologias internas adequadas às funções dessa rede.

27. A implementação e manutenção dessa rede, como parte integrante da estrutura do Estado e sob a responsabilidade dos níveis federal e estaduais de governo, é condição essencial à agilização dos procedimentos fiscais de controle da qualidade dos produtos e serviços colocados à disposição da população, com caráter rotineiro e abrangendo desde o setor produtivo, até a rede de distribuição de produtos e prestação dos serviços de saúde. O papel do profissional farmacêutico na Assistência Farmacêutica

28. O uso racional de medicamentos, considerando todos os seus condicionantes, deverá ser implementado, na prática, pela ação multiprofissional, sendo essencial à formação e à capacitação dos profissionais envolvidos nessas atividades, de maneira a instrumentalizá-los para o desenvolvimento da Assistência Farmacêutica.

29. O papel do farmacêutico, no que respeita a Assistência Farmacêutica, tem sido estratégico para a garantia dos direitos dos consumidores de medicamentos, principalmente diante dos fatos relativos a avalanche de medicamentos falsificados no mercado, às mudanças significativas na legislação como a Portaria 344/98 e a Lei dos Genéricos, Resolução nº 328 e RDC nº 33.

30. Estes fatos têm contribuído para um maior reconhecimento social do papel do Farmacêutico na prestação da Assistência Farmacêutica, tanto no serviço público, quanto no privado. No entanto, ainda é preciso avançar nesta atuação. As Unidades de Saúde do SUS e os serviços de vigilância sanitária ainda carecem de farmacêuticos em suas equipes, e as condições de trabalho para os farmacêuticos no serviço privado ainda não atendem as necessidades para uma efetiva prestação de assistência. Apesar disto os farmacêuticos vem reconquistando seu espaço principalmente na farmácia privada, e trabalhando na construção da assistência farmacêutica no seu sentido mais amplo.

31. Os farmacêuticos, como profissionais de saúde que têm no medicamento seu principal objeto de trabalho, devem exercer a função primordial de orientação quanto ao uso racional e a intercambialidade de medicamentos, tanto para os usuários destes, quanto para os profissionais de saúde responsáveis pela prescrição ou administração dos medicamentos.

32. Portanto, o movimento sindical farmacêutico, em conjunto com a categoria, deve avançar, ainda mais, na luta pela mudança de concepção dos estabelecimentos farmacêuticos, públicos e privados: de meros entregadores de medicamentos ou de comércio dos mesmos, para unidades de saúde onde o farmacêutico, tenha as condições asseguradas para garantir os direitos dos consumidores de medicamentos, respeitando-se o uso racional dos mesmos, buscando a melhoria das condições de saúde da população.

33. A formação profissional: graduação, pós graduação, atualização e educação continuada tem papel fundamental na construção e efetivação de um modelo de assistência farmacêutica, possibilitando o cumprimento do papel do farmacêutico no sistema único de saúde de modo a satisfazer as necessidades legais e sociais e como estratégia para a implementação das ações diagnosticadas pelas teses do 3º Congresso da Fenafar. Nesse sentido assume papel fundamental a articulação com estudantes (Cas, Das, Enefar), universidades e faculdades, Conselhos, entidades e organizações comprometidas com a mudança curricular, a pesquisa e o ensino de Qualidade e a geração de saber.

Perspectiva Econômica e Social do Brasil

 

1. Desde seu 2.º Congresso, realizado em 1997, a Federação Nacional dos Farmacêuticos, em sua tese “Reflexões acerca da situação internacional e nacional”, apontava de forma clara que o governo de Fernando Henrique Cardoso, ao implementar a política neoliberal no Brasil, deixaria milhares de pessoas sem emprego, na miséria; cortaria gastos na área social e a economia seria um fracasso. Após os 3 anos que se passaram do 2.º Congresso, é preciso novamente avaliar as conseqüências desta política para a nossa economia e para toda a população brasileira.

2. Por que é necessário que os farmacêuticos discutam os problemas econômicos e sociais do país? Por que não discutimos somente questões da categoria e do medicamento? A Fenafar entende que os farmacêuticos não estão fora da realidade econômica, social e política que envolve o País. O debate em torno dos problemas da categoria, como salários, condições de trabalho e outras questões, acaba por ser parte inseparável dos efeitos da política econômica implementada pelo governo brasileiro, articulada com os preceitos do neoliberalismo elaborados mundialmente.

3. Ao debater-se medicamentos, discute-se inevitavelmente a questão da soberania nacional, dos investimentos em ciência e tecnologia e a situação da saúde no País – o que redunda, por fim, em discutir os cortes de verbas na área social como um todo. A orientação política, econômica e social, traçada pelos países desenvolvidos e por suas instituições globais, tem efeitos no nosso dia-a-dia. Por isso, há necessidade de discutir e exigir do governo brasileiro saídas para a crise que ora enfrentamos. A crise e as instituições globais

4. O sistema capitalista mundial como um todo está em crise e não é auto-sustentável. As grandes corporações financeiras globais estão interligadas, realizando transações em tempo real, graças ao avanço das telecomunicações. Fruto deste processo de mundialização, as economias nacionais estão ameaçadas, as conseqüências sociais são gigantescas e o aumento de desemprego, além de conjuntural, é estrutural.

5. Uma das forças determinantes da crise financeira mundial é, sem dúvida, o desequilíbrio das contas externas dos EUA, influenciando o movimento de dinheiro excedente no globo – o que contribui para a crise cambial e alta do dólar nos países economicamente dependentes, como o Brasil.

6. Para resolver a crise global, os países hegemônicos e os grandes centros financeiros, através de seus órgãos e instituições reguladoras globais, como o Fundo Monetário Internacional – FMI, Banco Mundial e a Organização Mundial do Comércio, adotam uma política chamada neoliberal. A qualquer custo, impõem, aos países em desenvolvimento, sua política econômica, desrespeitando a soberania das nações, interferindo em áreas estratégicas como: investimentos estrangeiros, biodiversidade, propriedade intelectual, legalização da biopirataria e transgênicos – tudo em nome do “desenvolvimento econômico”.

Dívida Externa e o cardápio do FMI

 

7. A partir de 1997, após a explosão da crise financeira no sudeste asiático, a orientação do FMI e do Banco Mundial era a de que os ajustes deveriam, necessariamente, ser feitos levando em consideração a “diminuição da pobreza”. O que se presencia cada vez mais é uma política inversa, impondo regras severas para que os países cumpram com seus “deveres” de ajustar as economias sob a égide dos EUA e de enviar anualmente bilhões de dólares para pagamento das dívidas externas.

8. As regras do FMI e dos países credores impostas são sempre as mesmas, e suas conseqüências já conhecidas:

 austeridade orçamentária, com corte nos gastos nas áreas sociais e aumento da tributação, para honrar o pagamento da dívida e dos altos juros prometidos aos investidores internacionais;

 abertura total do comércio e do sistema financeiro nacional, provocando a desestruturação das empresas nacionais e o conseqüente fechamento de milhares de postos de trabalho;

 privatização e desnacionalização, através da venda indiscriminada das empresas estatais e nacionais ao capital internacional privado e estatal. Isso acabou destruindo o pouco da independência em setores econômicos estratégicos que os países em desenvolvimento ainda possuíam.

9. Existe uma relação estreita entre a dívida externa e a reforma macroeconômica. As economias nacionais dos países devedores se sujeitam a todo o tipo de obrigações financeiras. Há uma engenharia no reescalonamento da dívida: o principal é adiado, enquanto que o pagamento dos juros é obrigatório. Assim, dinheiro novo é emprestado às nações à beira da falência, para pagamento dos juros dos débitos anteriores. Mas o empréstimo novo somente é feito caso a nação devedora se submeta às condições das reformas estruturais e dos prazos para pagamento. Aumento do fosso entre os pobres e os ricos

10. A população do mundo ultrapassa os 6 bilhões de habitantes, dos quais 5 bilhões estão vivendo em países pobres. Os países ricos, que representam cerca de 15% da população mundial, controlam 80% da renda mundial. A disputa tecnológica por mercados e a concentração de capital provocam desigualdades imensas entre os países, regiões e classes sociais.

A globalização da miséria

 

11. O Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), no Relatório do Desenvolvimento Humano de 1998, aponta que:

 só 20% da população mundial participa nos 86% dos gastos com o consumo individual;

 o consumo mundial de bens e serviços irá superar os 24 trilhões de dólares, valor seis vezes mais elevado do que o atingido em 1975;

 4,4 bilhões de pessoas vivem em países em desenvolvimento;

 2,64 bilhões vivem em comunidades sem saneamento básico;

 880 milhões carecem de água potável;

 1,1 bilhão não têm habitação adequada;

 880 milhões não têm acesso a serviços de saúde modernos;

 880 milhões de crianças não chegam a concluir os estudos básicos e são mal nutridas O Relatório conclui que as desigualdades gritantes no que se refere às oportunidades de consumo conduziram à exclusão de bilhões de pessoas. Elas não chegam sequer a satisfazer suas necessidades básicas de consumo.

12. As marcas da política da globalização também se refletem no emprego. Muitos países em desenvolvimento possuem verdadeiros exércitos de reservas. Estes países estão inseridos na economia global da mão-de-obra barata. Esta reserva é fundamental para o capital, pois determina, mundialmente, os custos do trabalho. Caso ocorram greves, e pressões por melhorias das condições de trabalho ou salariais nos países em desenvolvimento, simplesmente o capital transnacional transfere suas indústrias ou subcontratam sua produção em lugares alternativos, longe da organização dos trabalhadores.

13. A globalização financeira neoliberal têm deixado milhões de pessoas desempregadas e na miséria. Segundo a Organização Internacional do Trabalho – OIT, o desemprego e o subemprego atingiram 1 bilhão de pessoas no mundo, aproximadamente 30% da População Economicamente Ativa. Na América Latina, as taxas são alarmantes. Na Argentina, por exemplo, as taxas de desemprego passaram de 6,3%, em 1991, para 15% em 1997; no Brasil, de 6,4%, em 1995, para 9%, no final de 99.

Os blocos econômicos

14. Os reflexos das orientações e desregulamentações da OMC ainda serão mais intensos no campo do comércio internacional. O início das negociações da Área Livre de Comércio das Américas – Alca, o avanço das negociações do Mercado Comum do Sul – Mercosul e o Tratado Norte-americano de Livre Comércio – Nafta são as principais iniciativas que atingem diretamente o continente americano nessa área. A Alca é inaceitável e injusta. Os EUA tentam de todas as formas impor a liberalização comercial na América Latina; querem ser hegemônicos para superar o desequilíbrio das contas externas. O fortalecimento do MERCOSUL através do debate democrático torna-se imprescindível para o combate às negociações da ALCA forcados pelos EUA. Nessas relações, necessitamos uma maior aproximação com outros parceiros econômicos (Mercado Comum Europeu, por exemplo) para não cairmos obrigatoriamente nas intenções da ALCA.

Ofensiva do Imperialismo

15. Um outro foco de problemas, entrelaçado com a crise econômica financeira, é a brutal ofensiva do imperialismo norte americano em todo o globo, nas esferas econômica, política e militar. Fatos como a covarde guerra contra a Iugoslávia, as intermitentes provocações contra o Iraque, entre outros, denunciam a escalada belicista dos EUA e a intenção disfarçada de consolidar sua hegemonia e estabelecer, sob pressão militar, uma nova ordem mundial. Na América Latina, além do histórico bloqueio econômico a Cuba, são ostensivos os preparativos para uma intervenção militar na Colômbia.

 O Brasil diante da crise

16. Diante da crise mundial e da orientação política neoliberal impostas pelos países hegemônicos, principalmente os EUA, o Brasil vive uma de suas piores crises – crise econômica, política e social. O País esteve à beira de um colapso cambial por causa da subordinação da nossa economia aos ditames dos centros financeiros globais. A economia brasileira está totalmente dependente da política monetarista neoliberal do FMI e do Banco Central dos EUA. O Brasil está vulnerável, instável e sem autonomia para tentar reverter o quadro de crise.

17. Graças aos cinco anos de governo de FHC, o Brasil bate recordes em desemprego, em miséria e nível mais baixo de desempenho econômico. Conseguiu fazer com que o crescimento econômico da década de 90 fosse pior que a década de 80, conhecida como a década perdida. Desde o pós-guerra, até 1970, o Brasil vinha apresentando uma taxa média de crescimento anual da ordem de 7%. Nos anos 80, a taxa média não ultrapassou os 3%. O saldo de crescimento médio anual na década de 90 foi, em média, 1,4% ao ano, o que significou uma queda de renda per capita da ordem de 2%, segundo informações da revista Emprego e Renda, do Desep/CUT, de maio de 1999.

18. Em contrapartida, o governo fez crescer a economia de outros países, vendendo as empresas, permitindo as remessas de lucros e ajudando os banqueiros e agiotas internacionais. A remessa de lucros das multinacionais, em 1994, foi de 2,5 bilhões de dólares; em 1997, foi de 5,7 bilhões de dólares e, em 1998, passou para 7,2 bilhões de dólares. A manutenção dos investimentos externos através da alta de juros com conseqüente incremento de capital externo especulativo leva à falsa impressão da estabilidade da moeda, principal motivo de campanha eleitoral do governo FHC. No entanto, o capital especulativo não é utilizado em investimentos de produção, limitando cada vez mais o crescimento da nação.

19. O governo deu as costas à nação para manter uma “estabilidade” virtual da moeda e para por fim à inflação. Manteve, por largo período, uma moeda sobrevalorizada Tentando reagir à crise de 1997, alterou a política cambial, desvalorizando a moeda nacional frente ao dólar em cerca de 80%. Tal processo mostrou a incapacidade do governo e a inconsistência do modelo de ajuste da economia.

Abertura comercial e o Brasil privatizado

20. Para manter a política de ajuste estrutural neoliberal, o governo vem desnacionalizando a economia e o sistema financeiro, promovendo uma total desorganização nas cadeias produtivas. O conseqüente fechamento de indústrias, fábricas, pequenas e médias empresas, vem extinguindo definitivamente milhares de postos de trabalho, além dos profissionais que estão sendo dispensados ainda ocorre a substituição por mão de obra vinda de fora.

21. A abertura indiscriminada promoveu um gigantesco processo de fusões e aquisições de grandes empresas estatais e de capital nacional pelas empresas multinacionais que atuam nos setores mais dinâmicos da economia. São exemplos: eletro-eletrônica, telecomunicações, informática, autopeças, siderurgia, sistema financeiro, papel e celulose, comércio varejista, entre outros. O governo de FHC, antes de vender as empresas telefônicas, investiu 7,5 bilhões de reais em 1996, chegou aos 8,5 bilhões de reais em 1997 e investiu mais 5 bilhões em 1998, totalizando 21 bilhões de reais no setor em dois anos e meio. Vendeu tudo por uma “entrada” de 8,8 bilhões de reais. A abertura comercial para indústrias de medicamentos e reagentes diagnósticos, assim como biotecnologia deve ser regulamentada a fim de proteger a pesquisa e a produção nacional, estabelecendo políticas de incentivo.

22. Para dar continuidade ao esfacelamento da nação, o governo de FHC recorre ao FMI, pegando mais dinheiro emprestado. Em contrapartida, abre mão do gerenciamento da economia, assinando carta de intenções, na qual se compromete com: pagamento da dívida externa, privatização do que resta dos setores estratégicos (Petrobrás, Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal), flexibilização dos direitos trabalhistas e fim dos sindicatos.

Divida externa e miséria

23. A Dívida externa brasileira é um absurdo: quanto mais se paga mais se deve:

 A dívida pública federal, interna e externa, já ultrapassa a casa dos 248 bilhões de dólares;

 Neste ano, a soma dos juros, mais amortização da dívida, devem chegar a 50,3 bilhões de dólares;

 Em 1999, o peso da dívida externa em relação ao PIB foi de 43,24%;

 Dos 45,8 bilhões de reais arrecadados com a entrega das estatais, 97% foram gastos com juros da dívida;

 Segundo o Tribunal da Dívida Externa, esta, a partir da última renegociação há cinco anos, aumentou, de US$ 148 bilhões em 1994, para US$ 235 bilhões, em novembro de 1998, e que no período foram pagos cerca de US$ 126 bilhões aos credores externos.

 Ainda, segundo o veredicto do tribunal, a dívida externa é uma das principais causas que originam a miséria da população brasileira, pois o governo sacrifica a parte do orçamento dedicada a despesas com políticas sociais e de dinamização da economia interna para manter em dia o pagamento das dívidas financeiras.

Política de (des)ajustes e desemprego

24. Segundo Pochmann, o desemprego aumenta junto com a abertura econômica; com a vinda de produtos importados: “Entre 1995 e 1998, a exposição à concorrência externa aumentou 30%, e a fatia brasileira no desemprego do mundo, 21%”. Toda vez que a economia fica mais exposta ao comércio internacional, há aumento do desemprego brasileiro. Foi assim durante os últimos 20 anos. O Brasil estava em 13.º na classificação dos países segundo o número de desempregados, em 1986. A partir de 1994, passou para 4.º lugar e, em 1999, passou para o 3.º, perdendo apenas para a Índia e Rússia.

25. Este quadro de calamidade pública tem deixado 1,7 milhão de pessoas desempregadas (18,6% da População Economicamente Ativa) na Região Metropolitana de São Paulo, em outubro de 1999. Na Região Metropolitana de Porto Alegre, chegou a 351 mil desempregados. Na Região do Distrito Federal, 180.100. Em Salvador, 404 mil. Em Belo Horizonte, 341 mil e, em Recife, 317 mil (Dados do DIEESE/Seade). No país, segundo o IBGE, calcula-se que aproximadamente 5 milhões de pessoas estão desempregadas.

Política econômica e concentração de renda

26. O crescimento econômico nem sempre serviu para a diminuição das desigualdades sociais. Houve épocas de grande desempenho da economia e forte concentração de renda – característica permanente do Brasil. Após a implementação da política econômica adotada pelo governo FHC, baseada numa taxa de câmbio artificial durante 4 anos e meio, forte endividamento externo, e aumento brutal da dívida pública, cresceu o contigente populacional que vive abaixo da linha de pobreza e de miséria e o empobrecimento da classe média. Segundo dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – IPEA, 57 milhões de pessoas – ou seja, 35% da população brasileira – estão abaixo da linha da pobreza. Destes, 17 milhões em condições de miséria absoluta.

 Democracia e direitos ameaçados

27. Uma orientação econômica que preconiza a integração submissa do Brasil à nova ordem internacional, além de exercer pressão avassaladora sobre as empresas nacionais e forçar a revogação dos direitos sociais historicamente conquistados pelos trabalhadores, exige a implementação de um modelo político autoritário. FHC, coerente com sua subserviência às orientações de Washington, toma, no Brasil, atitudes institucionais que levam a recuos democráticos: a reforma política e eleitoral, visando a restringir os espaços da oposição; o uso da força e da violência no trato com o MST e outros movimentos sociais; os ataques aos sindicatos e à unicidade sindical – são exemplos eloqüentes.

 Em defesa da unidade e de um projeto alternativo

28. O primeiro passo para construir um projeto alternativo é unir os trabalhadores e aproveitar as eleições municipais de 2000 para abordar os problemas do País. Precisamos organizar debates com os candidatos a prefeito para discutir as questões municipais e, também, os problemas de ordem nacional. Muitos querem restringir o debate, mas é necessário entender que a orientação política, social e econômica do governo federal reflete diretamente nos municípios. Portanto, as eleições de 2000 devem ter caráter plebiscitário, de condenação à política neoliberal. O objetivo é acumular forças para as eleições presidenciais de 2002.

29. O 3.º Congresso da Fenafar tem uma grande responsabilidade: apresentar um plano de lutas que se contraponha à política de ajuste neoliberal de FHC e do FMI. Para isso, é necessário integrar-se e fortalecer um amplo movimento cívico, em conjunto com as entidades farmacêuticas, estudantis e representativas de outros segmentos da população – em defesa do Brasil, do trabalho e dos direitos sociais.

Política de Assistência Farmacêutica

Construindo um modelo de atenção à saúde

  1. Nos últimos anos, a “Assistência Farmacêutica” tem sido objeto de importantes reflexões no processo de discussão e aprofundamento das diferentes questões relativas à saúde. Alavancadas principalmente por algumas entidades da categoria farmacêutica, muitas vezes em parceria com outras entidades e instituições, estas reflexões têm propiciado o afloramento dos diferentes entendimentos sobre o tema, envolvendo tanto as concepções teóricas como os aspectos políticos e técnicos relacionados à sua formulação e implementação.
  2. As experiências acumuladas e a necessidade de inserção da assistência farmacêutica no âmbito das ações necessárias à assistência à saúde levaram à participação da Fenafar na organização e realização do “Seminário Nacional Sobre Política de Medicamentos”, cujo tema central foi “Assistência Farmacêutica: Acesso aos Medicamentos e Qualidade de Vida – Rumos e Perspectivas no Brasil” (Brasília, 1996). Este evento, promovido em parceria com a ENSP/Fiocruz1, o Unicef2, a Opas/OMS3, a Sobravime4, o Conass5 e o Conasems6, representou iniciativa importante no processo de preparação para a 10ª Conferência Nacional de Saúde (Brasília, 1996). Nesta Conferência, a partir dos marcos conceituais gestados ao longo do tempo, a intervenção da Fenafar na Mesa Complementar sobre “Política Nacional de Medicamentos” possibilitou a explicitação de concepções fundamentais para a formulação de uma política de assistência farmacêutica para o Brasil
  3. É fundamental que as entidades sindicais da categoria e o conjunto dos farmacêuticos do país promovam o debate exaustivo das várias condicionantes relativas à Assistência Farmacêutica. Todavia, é necessário que este aprofundamento resulte em proposições concretas para a formulação e efetiva implantação de uma Política Nacional de Assistência Farmacêutica. Este desafio traz consigo a elevada responsabilidade da categoria farmacêutica em contribuir decisivamente para o avanço em relação aos diagnósticos e conceituações já realizados, buscando a definição de ações que visem a inserção da Assistência Farmacêutica como parte integrante do processo de construção do modelo de atenção à saúde que assegure eqüidade e universalidade
  4. Considerando a Assistência Farmacêutica enquanto parte integrante da política de saúde, quaisquer proposições que busquem sua implantação efetiva não podem estar desvinculadas da análise realista da conjuntura nacional, da apurada avaliação das políticas públicas adotadas no país e de suas inter-relações com o campo da saúdeAssistência Farmacêutica
  5. Como uma das faces aparentes da lógica baseada na dependência, o medicamento surge como instrumento de estratégias de dominação técnica e econômica, a partir das quais são definidas e implementadas políticas claramente antagônicas aos interesses populares e nacionais, cujo exemplo é a vergonhosa Lei de Patentes aprovada em 1996 pelo Congresso Nacional. Portanto, torna-se fácil entender as razões pelas quais os medicamentos sofreram, nas últimas décadas, um processo de descaracterização enquanto insumos essenciais para o conjunto de ações e medidas destinadas à promoção e recuperação da saúde. Assim, as concepções referentes aos medicamentos não podem ser analisadas de forma isolada, mas estão relacionadas com a necessidade do estabelecimento de uma Política Nacional de Assistência Farmacêutica, inserida no Sistema Único de Saúde.
  6. Sob esta ótica, é fundamental explicitar o entendimento da Assistência Farmacêutica enquanto política norteadora para a formulação de políticas setoriais, entre as quais destaca-se a política de medicamentos, garantindo, dessa maneira, a intersetorialidade inerente ao próprio Sistema Único de Saúde.
  7. Segundo essa concepção, a Assistência Farmacêutica trata-se de um conjunto de ações, centradas no medicamento e executadas no âmbito do Sistema Único de Saúde, visando a prevenção da doença, e a promoção, proteção e recuperação da saúde da população, compreendendo os seus aspectos individuais e coletivos.
  8. Estas ações, necessariamente baseadas no método epidemiológico, deverão envolver: padronização, prescrição, programação, aquisição, armazenamento, distribuição, dispensação, produção, controle de qualidade, educação em saúde, vigilância farmacológica e sanitária, pesquisa e desenvolvimento de medicamentos, imunoterápicos e hemoderivados, o acesso e a informações sobre o uso correto, consumo e cuidados com os medicamentos. A sua implementação visa garantir o acesso e o uso racional, bem como nortear as políticas de medicamentos, de recursos humanos e de desenvolvimento científico e tecnológico.
  9. Como já foi mencionado, e tendo como base as concepções referentes à Assistência Farmacêutica, incluindo-se aquelas referentes à política de medicamentos, é fundamental que o conjunto da categoria reflita sobre algumas questões pontuais, na perspectiva de resoluções efetivas e que contribuam decisivamente para sua implementação no Sistema Único de Saúde. Entre estas questões destacam-se:Relação Nacional de Medicamentos Essenciais
  10. Quanto à política de medicamentos, compreendida segundo a concepção explicitada anteriormente, é importante que sua implementação esteja baseada em indicadores gerados pela dinâmica da Assistência Farmacêutica, utilizando-se de uma Relação Nacional de Medicamentos Essenciais (Rename), atualizada periodicamente de acordo com o quadro de morbi-mortalidade existente no país, bem como considerando também os efeitos farmacoiatrogênicos destas substâncias, aquelas já abolidas em outros países, custos, recebendo aval do CNS e, ainda, a obrigatoriedade de implementação nos estados por deliberações dos CES. Esta Rename, cuja institucionalização objetiva atender à maioria das necessidades

 

      Sindicalismo classista e a organização da categoria

 

1. O 1º Congresso da Fenafar (julho/94), visando garantir um sindicalismo que represente os interesses da categoria e dos demais trabalhadores no Brasil, apontou para a necessidade de um movimento sindical com o seguinte perfil:

  1. Federação e sindicatos de luta: que preparem os trabalhadores para as lutas políticas, sindicais e econômicas, tendo como princípio básico a defesa do interesse mais elementar dos trabalhadores: qualidade de vida;
  2.  Federação e sindicatos organizados: que desenvolvam a luta de forma planejada, preparando sua estrutura (delegacias sindicais, diretorias regionais, comissões, etc.) e sua base de representação para responder aos ataques sofridos por parte dos patrões e do governo;
  3. Federação e sindicatos unitários: que representem o conjunto da categoria independente de suas posições políticas, sociais ou religiosas. A Federação e os sindicatos são patrimônio de toda a categoria;
  4. Federação e sindicatos democráticos: que respeitem os fóruns de decisões, sendo pluralistas no debate das idéias, abrindo espaço para todos os que queiram contribuir;
  5. Federação e sindicatos politizados: que vinculem a luta econômica com a luta política. Priorizar somente a ação política acarreta o afastamento de sua base sindical, ou, ao contrário, priorizar somente a ação econômica impossibilitar responder ao conjunto de problemas que atingem os trabalhadores;
  6. Federação e sindicatos independentes: que mantenham-se independentes em relação aos patrões, aos partidos políticos e aos governos, resguardando suas identidades próprias, não impedindo de desenvolver ações que venham beneficiar os trabalhadores que representam.

2. Avaliar criticamente a atuação da Federação Nacional dos Farmacêuticos no último período, confrontando-a com o perfil de entidade sindical aprovado no 1º Congresso, é determinante para planejar sua atuação futura. Neste sentido procuramos destacar as principais atividades desenvolvidas desde julho de 1994 até janeiro de 1997:

  1. Ação de inconstitucionalidade da MP do Real, que instituiu a venda de medicamentos em supermercados;
  2. Ações de contraposição ao Projeto de Lei da Senadora Marluce Pinto, que acabou configurando-se como a principal batalha do último período;
  3. Acompanhamento dos projetos de lei, em trâmite no Congresso Nacional, de interesse dos farmacêuticos e trabalhadores;
  4. Participação ativa nas atividades contrárias à revisão constitucional;
  5. Participação destacada na luta contra a Lei de Patentes, ao lado de outros segmentos da sociedade;
  6. Participou de diversas atividades junto ao poder executivo, audiências com vários Ministros de Estado, etc;
  7. Organização da Campanha pelo Uso Correto dos Medicamentos;
  8. Participação no Congresso Nacional da CSC, em Salvador e engajamento na Campanha pela redução da jornada de trabalho (40 h/semanais);
  9. Organização, em conjunto com o CFF e a Enefar, do 7º Seminário Nacional de Currículo de Farmácia e o 4º Encontro Nacional de Reforma Curricular, que culminou com a aprovação do documento “Proposta de Reformulação do Ensino de Farmácia no Brasil” entregue ao MEC;
  10. Realização de três atividades de formação sindical, com destaque para a experiência do Curso Regional de Formação e Planejamento Sindical;
  11. Realização da Campanha para aquisição da sede em Brasília;
  12. Participação na “III Conferencia Panamericana de Educación em Farmacia” e “I Congresso Panamericano de Educación y Perspectiva Farmaceutica”, em Buenos Aires – Argentina;
  13. Organização conjunta com outras entidades do Seminário Nacional sobre Assistência Farmacêutica;n) Participação efetiva na X Conferência Nacional de Saúde;
  14. Esteve presente nos estados, através do acompanhamento das atividades dos sindicatos, contribuindo para o aperfeiçoamento de sua estrutura político/administrativa.

3. As atividades desenvolvidas no último período inegavelmente demonstram uma maior maturidade da entidade. No entanto, superar as limitações objetivas de ordem organizativa e financeira, além de conferir maior disponibilidade ao conjunto dos diretores é tarefa que se impõe.

4. A necessidade de contraposição ao projeto neoliberal impõem a existência de amplos segmentos voltados para o estabelecimento de um programa econômico e político alternativo que resista à barbárie neoliberal e à acomodação social-democrata. Neste sentido a atuação intersindical e extrasindical que busca a unidade na ação, assume caráter estratégico para a efetivação das ações de resistência e contraposição ao neoliberalismo. A Federação e os sindicatos devem partir para a luta política de massas. A Fenafar deve ter presença destacada em todas as ações e movimentos que visem a construção desse programa, contribuindo nas questões relacionadas principalmente ao setor saúde.

5. O receituário neoliberal, no tocante ao movimento sindical, é muito claro: repressão a toda e qualquer forma de organização crítica dos trabalhadores (limitação ao direito de greves) e asfixia das estruturas sindicais (desmonte das contribuições aos sindicatos, etc.). Somente com uma atuação conseqüente de oposição aos ataques neoliberais pode-se fazer frente a esse receituário. É preciso através de um sindicalismo classista, que caracteriza-se principalmente pelo entendimento de que a luta sindical está inserida no contexto das lutas mais gerais do País, romper com o corporativismo expresso muitas vezes nas atividades sindicais e debater amplamente a necessidade de ligação das questões gerais às específicas. Cada farmacêutico deve ser capaz de fazer essa ligação no seu dia-a-dia profissional.

6. A partir da necessidade de participação no movimento mais geral e com a aprovação da filiação à CUT em 1994 esperava-se um incremento da atuação intersindical, no entanto a participação no interior da central, através dos seus fóruns, foi limitada uma vez que a Fenafar não incorporou o modelo orgânico imposto às confederações e federações cutistas. Apesar disso a atuação da Fenafar através de uma fisionomia classista tem sido de fundamental importância para o estreitamento da federação com as lutas mais gerais.

7. O sindicalismo no Brasil passa por uma crise, ocasionada por fatores objetivos, como o desemprego estrutural e conjuntural e subjetivos, como o imediatismo e ativismo das entidades sindicais, que apontam bases fundamentalmente políticas para a sua superação. Neste sentido as recentes deliberações da CUT sobre a criação do sindicato orgânico (os sindicatos filiados deixariam de existir enquanto entidades únicas, independentes e passariam a se organizar enquanto uma seção da CUT, com estruturas compartilhadas) como estratégia para responder a essa crise, mostram-se equivocadas e são alvo de um posicionamento contrário dos farmacêuticos e da Fenafar. A criação do sindicato orgânico, traz como conseqüência o fim da unicidade sindical, existência de um sindicato único por atividade ou ramos de atividades, e a possibilidade de criação de vários sindicatos para uma mesma base, diluindo o poder de mobilização e representatividade frente aos trabalhadores e enfraquecendo a resistência dessas entidades. É preciso reafirmar junto aos trabalhadores o papel da CUT como única central capaz de se contrapor ao projeto neoliberal.

8. A descentralização das ações, através do fortalecimento dos sindicatos existentes e criação nos locais onde os mesmos não existam há muito vem demonstrando ser o caminho para a aproximação da entidade com os profissionais. Cabe ressaltar que no período do 1º ao 2° Congresso, contávamos com 13 sindicatos que já estavam organizados, 5 sindicatos reestruturados e duas comissões provisórias. Devemos aperfeiçoar a relação com os sindicatos nos estados, auxiliando-os política e administrativamente, elevando a um novo patamar a formação dos dirigentes regionais, contribuindo para o estabelecimento de planos viáveis em cada região, criando instrumentos ágeis de comunicação e informação entre a Fenafar e cada sindicato, entre outras medidas.

9. É necessário a ampliação dos fóruns de debates da Fenafar, através do incentivo à ampla participação das entidades no País e farmacêuticos nos estadosem debates, cursos, reuniões de Diretoria e do Conselho de Representantes, seminários, congressos.

10. Atuar conjuntamente com os sindicatos no estabelecimento de parcerias com profissionais, associações, universidades, através de convênios que aproximem os profissionais dos sindicatos e, conseqüentemente da Fenafar, é de fundamental importância para a garantia da representatividade das entidades. Visando unificar e incentivar essas ações a Fenafar poderá confeccionar uma carteira sindical nacional única para os farmacêuticos em todo o País, que seria emitida pelas entidades locais. Por exemplo, a discussão do incentivo às cooperativas de profissionais para a abertura e estruturação de estabelecimentos farmacêuticos e a capacitação dos mesmos para a prestação de Assistência Farmacêutica.

11. A continuidade da prática de planejamento das ações sindicais, a exemplo das atividades já realizadas, permite, além de uma melhor distribuição dos   esforços, um efetivo controle do cumprimento das etapas aprovadas e sua avaliação. Não será possível construirmos um movimento sindical representativo sem dirigentes que compreendam as questões que se impõem ao movimento.

12. Apoiar o movimento estudantil de farmácia, através da Enefar, discutindo os problemas, lutas e desafios da profissão. Incentivar a participação dos estudantes nas atividades relacionadas à formação profissional.

13. Realizar, em parceria com os sindicatos nos estados, um estudo/pesquisa sobre os profissionais e locais de trabalho da categoria, visando obter subsídios para a atuação das entidades em consonâncias com os anseios da profissão.

14. Finalizar a campanha para aquisição da sede da Fenafar em Brasília e discutir as demandas gerais e específicas que virão em conseqüência da nova estrutura de atuação. Desenvolver meios para disponibilizar diretores para a atuação sindical.

15. A Federação e os sindicatos tem a responsabilidade de intervir nas políticas de formação e reciclagem profissional, neste sentido a continuidade do movimento de reforma curricular, que em 1996 teve seu maior momento com a entrega da “Proposta de Reformulação do Ensino de Farmácia no Brasil”, ao MEC, deve ser prioridade para a Fenafar. Estreitar as relações com as universidades e com o movimento estudantil, promover debates sobre o tema nas regiões, procurar os órgãos governamentais envolvidos com a questão e entidades da área da saúde é de fundamental importância para que o trabalho     desenvolvido nos últimos dez anos não seja perdido.

16. Retomar a Campanha pelo Uso Correto dos Medicamentos, em novo patamar, garantindo a associação com outras entidades (OPAS, OMS, etc.) e a confecção de materiais que possam apresentar os objetivos da campanha para toda a sociedade. A produção de materiais de comunicação (vídeo, panfletos, namual de utilização de medicamentos, etc.) deve ser buscada como suporte às atividades da campanha.

17. Defender a unidade do movimento farmacêutico, através do fortalecimento das suas entidades de representação deve ser o objetivo maior de cada profissional. Toda e qualquer tentativa de divisão do movimento deve ser repudiada e divulgada de forma a esclarecer a categoria o porque dos osicionamentos contrários. Neste momento o divisionismo não prepara os profissionais para as lutas em defesa da profissão, e da saúde pública, ao contrário, enfraquece essa luta e só interessa ao comércio de medicamentos, aos patrões e ao governo que tudo fazem para aviltar a nossa profissão.

    Em defesa do Sistema Único de Saúde

 

  1. Partindo da premissa de que os princípios e diretrizes do Sistema Único de Saúde (SUS), concebidos na Constituição de 1988, consagram o direito à saúde como um dos direitos fundamentais da pessoa humana, a Federação Nacional dos Farmacêuticos reafirma o entendimento de que a saúde não pode ser vista apenas como um “setor”, mas sim como o resultado de um conjunto de condições sociais e econômicas cuja promoção exige a implementação de ações pautadas nas relações intersetoriais e transdisciplinares, garantidas por políticas públicas voltadas aos interesses da maioria da população.
  2. Esse entendimento significa a percepção da existência de uma relação intrínseca entre “Saúde” e “Qualidade de Vida”. Todavia, a compreensão dessa relação não pode restringir-se à conceituação de qualidade de vida enquanto qualidade dos serviços de saúde e dos aspectos tecnológicos envolvidos na sua prestação.
  3. Ao reduzir-se a concepção de saúde à prestação de serviços, a questão da qualidade passa a ser analisada apenas sob os aspectos do gerenciamento, dos aparatos tecnológicos envolvidos, entre outros, e onde se destaca o binômio “missão” versus “objetivo” do serviço em questão. Através deste reducionismo são claramente escamoteadas as condicionantes sociais e políticas envolvidas no processo de garantia à saúde, tais como o direito dos cidadãos a trabalho e salário dignos, de acesso à educação e à informação de qualidade, o direito a condições adequadas de moradia e saneamento e o direito a condições ambientais adequadas à vida, entre outros.
  4. As concepções apresentadas acima nos remetem à reflexão de que a garantia do exercício da cidadania passa pela defesa do direito à saúde e à qualidade de vida, transcendendo a defesa apenas do Sistema Único de Saúde e exigindo um modelo de Estado que garanta a diminuição das desigualdades sociais e a eliminação da exclusão, princípios negados por modelos econômicos que atendem apenas aos interesses da internacionalização do capital.
  5. Portanto, a defesa do Sistema Único de Saúde exige ações concretas de enfrentamento do projeto neoliberal em implantação no país, caracterizado pelas políticas de privatização das atividades estatais, de redução da ação reguladora e disciplinadora do Estado nos campos da economia e das relações de trabalho e da política clara de abertura da economia ao capital internacional.
  6. Como resultado dessas políticas, o país assiste à acentuada intervenção estatal em favor da acumulação e movimentação do capital, com o privilegiamento dos interesses dominantes da oligarquia financeira; ao desmonte da Seguridade Social, com o objetivo explícito de privatizar a Previdência e a Saúde; à reforma administrativa e à “publicização” de setores estratégicos para a garantia do comando estatal sobre as políticas sociais; ao abandono das universidade públicas e hospitais universitários; arrocho salarial e quebra dos direitos trabalhistas; restrição crescente da democracia, com cerceamento do livre funcionamento partidário e sindical.
  7. Estas características delineiam uma concepção de Estado elitista e excludente, em cujo núcleo estratégico não estão integradas as bases para a garantia do pleno direito à cidadania e da soberania de forma geral e, em particular, dos direitos sociais da grande maioria do povo brasileiro. Por força dessa concepção, o Brasil vive um momento histórico marcado pela crescente dependência em relação às nações hegemônicas e organismos financeiros internacionais, encoberto pelo discurso falacioso da modernidade e da globalização.
  8. Sob essa ótica, quaisquer proposições que busquem a garantia e a implementação efetiva do Sistema Único de Saúde não podem estar desvinculadas da análise realista da conjuntura nacional, da apurada avaliação das políticas públicas adotadas no país e de suas inter-relações com o campo da saúde.
  9. Assim, é fundamental que se aprofunde a reflexão sobre algumas questões pontuais, consideradas enquanto determinantes para a garantia de uma Política Nacional de Saúde que reflita os interesses e atenda às necessidades da maioria da população. Entre essas questões destacam-se:

a) Lutar pela efetiva implantação do SUS significa concretizar um importante instrumento de materialização da política de saúde, alicerçada em princípios democráticos de exercício da cidadania. Portanto, a defesa dos princípios e diretrizes do SUS, tais como equidade, universalidade, integralidade e controle social, está inserida no plano mais geral de luta pela democracia. Esta luta envolve a garantia do direito de todos terem acesso, sem qualquer discriminação, às ações de saúde em todos os níveis, bem como da responsabilidade do Estado em garantir o pleno gozo desse direito.

b) Entretanto, o caráter democrático do SUS não está restrito apenas à viabilização de acesso e à resolutividade das ações de saúde, mas envolve, necessariamente, a participação ativa da sociedade no processo de formulação, avaliação e controle das políticas implementadas no âmbito do Sistema. Nesse sentido, é fundamental que as entidades da categoria farmacêutica busquem articulações que contribuam para o fortalecimento do controle social, concretizado nos Conselhos de Saúde dos diferentes níveis de organização do SUS.

c) Vale ressaltar que o controle social é fator decisivo para a implementação da qualidade e eficácia que a população defende e necessita. Todavia, os Conselhos de Saúde só terão capacidade de cumprir o seu papel e defender os interesses da maioria da população se estiverem munidos de um conjunto de informações, gerais e específicas, que criem condições de debate e ampliação de conhecimento às pessoas. Nesse sentido, também deve ser considerado como elemento do processo participativo o dever de as instituições oferecerem as informações e conhecimentos necessários para que a população se posicione.

d) Aliado às questões já abordadas, o estabelecimento de financiamento adequado e permanente é fator essencial para a preservação da Seguridade Social e a implantação efetiva do SUS. Neste aspecto, é importante destacar que com a definição constitucional do conceito de Seguridade Social criou-se uma base de financiamento corrente, diversificada e com participação da a sociedade.

e) Entretanto, as ações definidas pela política neoliberal de desmonte do Estado, implementadas a partir do governo Collor, entre as quais o descumprimento das disposições constitucionais que destinavam 30% do orçamento da Seguridade Social para a Saúde, buscam inviabilizar fontes adequadas e permanentes de financiamento, obrigando a adoção de soluções emergenciais.

f) Esse processo leva à fragilização do Sistema, além de possibilitar a ingerência direta do setor privado nas ações inerentes ao SUS. A característica perniciosa dessa ingerência decorre da distorção, politicamente determinada, do conceito de complementaridade, segundo o qual o interesse público deve prevalecer sobre o particular, devendo estar garantidos os princípios de universalidade, equidade, integralidade e controle social, como se o serviço privado fosse público.

g) Ao se reafirmar os princípios e diretrizes do Sistema Único de Saúde – SUS, entende-se que os Conselhos de Saúde (nacional, estaduais e municipais) devem assumir, de fato, o seu caráter deliberativo sobre as questões referentes às políticas, às estratégias e às ações próprias do Sistema, interferindo concretamente no modelo de gestão a ser adotado nas diferentes esferas.

h) Considerando o caráter de intersetorialidade inerente à Política de Saúde, é essencial destacar a relação implícita entre esta e as políticas industrial e de desenvolvimento científico e tecnológico do país. Nesse aspecto, vale ressaltar que o desenvolvimento de tecnologias internas, a incorporação de conhecimentos e a produção de insumos essenciais desempenham papel importante na implementação das ações do SUS. Nesse sentido, a aprovação da Lei de Patentes tem resultados desastrosos frente à perspectiva de desenvolvimento e independência do país, gerando interferências negativas no que se refere à qualidade e eficácia do Sistema.

i) Também como característica da intersetorialidade e tendo em vista o caráter multiprofissional das ações próprias da atenção à saúde, é fundamental a reflexão sobre a necessária adequação da política de formação e capacitação de recursos humanos voltados ao atendimento das diretrizes traçadas no âmbito da Política de Saúde.

10. Assim, é de fundamental importância que as entidades da categoria farmacêutica estejam inseridas no processo de discussão com a sociedade, participando ativamente de sua mobilização e articulação política, visando a interferência nas diversas esferas de governo (executivo, legislativo e judiciário) com o estabelecimento e implementação de políticas públicas voltadas à garantia da cidadania e, na defesa intransigente da Qualidade de Vida de todos a população brasileira.

 

Reflexões sobre a situação internacional e nacional

 

1. Os anos 90 foram marcados por uma ofensiva do pensamento conservador em todo o mundo, reforçado pela queda da União Soviética (URSS) e dos regimes ditos socialistas do Leste Europeu e por um grande movimento do capital financeiro em escala mundial, a chamada globalização. A desintegração da URSS significou a vitória da guerra fria por parte dos Estados Unidos (EUA) e o estabelecimento de uma nova ordem mundial completamente hegemonizada pela superpotência norte-americana.

2. Desde os anos 70, com a vitória de Margaret Thatcher na Inglaterra e Ronald Reagan nos EUA, que o pensamento conservador foi impulsionado. Com a crescente crise capitalista já naquela época, com recessão econômica e inflação ascendente, Thatcher investiu contra o estado de bem estar social, culpando os gastos públicos nas áreas sociais e as reivindicações dos sindicatos como as causas básicas da crise. Enquanto isso, Reagan intensificou a ofensiva político-militar contra a União Soviética, aumentando enormemente os gastos militares e promovendo, assim, um crescimento espetacular da dívida pública norte-americana e o aumento dos ganhos do setor financeiro, fatos esses que estão na origem da atual globalização neoliberal.

3. Mas foi na época de George Bush que o noliberalismo tomou impulso como saída para a crise mundial do capitalismo. Foi uma autêntica contra-revolução teórica, política e ideológica, o que existe de mais reacionário da produção intelectual burguesa capitalista. Surgiu como uma proposta de mudança para tudo continuar como está: manter a exploração sobre os trabalhadores e os povos do mundo em benefício da oligarquia financeira internacional, com um novo discurso.

4. O receituário neoliberal disseminou-se amplamente, atingindo os EUA, a Europa Ocidental, o Leste Europeu, a antiga URSS e a América Latina. Em todo o mundo capitalista o neoliberalismo fez com que a renda se concentrasse, os gastos financeiros do Estado crescessem e os gastos sociais diminuíssem. Um novo surto capitalista se iniciou, caracterizado pela ordem mundial dominada pelos EUA, por uma nova onda de globalização dos mercados, por gigantescas fusões patrocinadas pelo capital financeiro e por uma grande crise social e de desemprego em âmbito mundial, acompanhada por um ataque às organizações dos trabalhadores e aos direitos sociais duramente conquistados.

5. Hoje a nova ordem é a globalização neoliberal como única forma de reverter o progressivo declínio das taxas de crescimento econômico, bem como a crise social. Os países da Organização Continental para o Desenvolvimento Econômico (OCDE), tiveram taxas de crescimento de 5% em 1950; taxas que durante os anos 60 caíram para 3,5%. Os países do G-7, entre 1971 e 78, mantiveram suas taxas em torno de 3,5%, mas desde 1989 diminuíram para 2,1%. No caso do Japão, a queda foi maior ainda: de 1971 a 1978, o crescimento era de 4,5% ao ano, mas desabou para 2,4% até 19961. O projeto também visa a “solucionar” a incapacidade do sistema de resolver suas contradições e dar respostas aos problemas estruturais, como a fome e o desemprego. Ver tabela 1.

Tabela 1 – Declínio das taxas de crescimento econômico

Ano PAÍSES TAXA DE CRESCIMENTO
1950 OCDE 5%
1960 OCDE 3,50%
1971 e 1978 G-7 3,50%
1989 G-7 2,10%
1971 a 1978 Japão 4,50%
1996 Japão 2,40%

6. O neoliberalismo é a alternativa capitalista para a crise. Concebido visando a “modernização” do Estado e a internacionalização da economia, através da globalização das relações comerciais, a implantação do projeto neoliberal é incompatível com a democracia e a manutenção dos direitos sociais. O neoliberalismo é a manifestação triunfalista atual do capital financeiro, ideologia anti-social, que procura justificar o desemprego e a exclusão social como mal necessário à modernização econômica. Esta é a regra em todos os países que adotaram esse modelo.

7. Conforme avança o processo da globalização neoliberal, as medidas políticas, as mudanças econômicas e os efeitos sociais aumentam extraordinariamente as contradições do capitalismo em decadência histórica. A ultraconcentração do capital e a feroz disputa tecnológica por comércio e mercados provocaram desigualdades imensas entre países, regiões e classes sociais.

8. A busca desesperada de um novo estágio de acumulação capitalista, como saída para a queda das taxas de lucro, implica necessariamente numa pilhagem e devastação dos Estados Nacionais e suas economias nunca vistas.

9. Mas é o desemprego em massa, crescente, conjuntural e estrutural, o principal produto da globalização neoliberal. Segundo relatório de 1995 do Banco Mundial, nos países da OCDE havia 8 milhões de desempregados em 1970; em 1994 o número era de 35 milhões de desempregados, 8% da mão-de-obra, na maioria trabalhadores não especializados. Nos EUA, atualmente com cerca de 7 milhões de desempregados, entre 1978 e 1990 eliminou-se 1,4 milhão de empregos exclusivamente no setor industrial. Enquanto isso, de 1973 a 1993 o salário real do trabalhador norte-americano, sem curso secundário completo, caiu de 11,85 dólares/hora para 8,64 dólares/hora2. Ver tabela 2.

Tabela 2 – Número de desempregados

ANO PAÍSES TAXA DE CRESCIMENTO
1950
OCDE 5%
1960
OCDE 3,50%
1971 e 1978
G-7 3,50%
1989
G-7 2,10%
1971 a 1978
Japão 4,50%
1996
Japão 2,40%

10. Na França, o desemprego médio entre 1969 e 1973 era de 2,6%; hoje alcança 11%. Na Alemanha3, entre 1969 e 1973 era menos de 1%, atualmente alcança 10%, com 4 milhões de desempregados, a maior taxa de desemprego desde os anos 30. Na Bélgica, o desemprego quadruplicou, atingindo hoje 10,6% da população economicamente ativa. Cerca de 24% dos trabalhadores espanhóis estão desempregados.

11. O desmantelamento de parques industriais consolidados vem no rastro do furacão neoliberal em todos os cantos do planeta. No Leste Europeu, a Hungria, a Polônia e a Bulgária sofreram níveis de desemprego dramáticos: de 1988 a 1993 a Hungria passou de 0,3% (dados oficiais) para 12,6%; a Polônia elevou o desemprego de 0,1% para 15,7%, sendo que mais de 33% dos trabalhadores empregavam-se em tempo integral ou parcial no setor informal; o salário real dos trabalhadores poloneses caiu 32% em 1994; na Bulgária a taxa de desemprego ultrapassou 15%. Ver tabela 3.

Tabela 3 – Taxa de desemprego

PAÍSES TAXA DE DESEMPREGO EM % ANO
França 2,60% 1969 e 1973
França 11% 1997
Alemanha 1% 1969 e 1973
Alemanha 10% 1997
Bélgica 10,60% 1997
Espanha 24% 1997
Hungria 0,30% 1988
Hungria 12,60% 1993

12. Em outras áreas do planeta (África e América Latina), constata-se a mesma situação. Na Zâmbia o “emprego” no mercado informal cresceu de 3% em 1988 para 21% em 1992. No Equador, passou de 19% em 1978 para 52% em 1992. Neste país, no Estado de Guayaquil, o número de mulheres casadas forçadas a trabalhar no mercado informal subiu de 45% para 90%.

13. Atualmente, segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT), o desemprego e o subemprego atingem 1 bilhão de pessoas no mundo, aproximadamente 30% da população economicamente ativa (1996). Nos países da União Européia aproximam-se de 20 milhões os trabalhadores desempregados.

14. 14.Deve-se também levar em consideração a reestruturação produtiva, que eliminou muitos postos de trabalho. Foram introduzidas, no interior das indústrias e do sistema financeiro, novas formas organizacionais e de gerenciamento o que provocou e ainda provocará muito desemprego. O capitalismo se utiliza de várias formas para maximizar os lucros e minimizar os custos. Com isto a utilização da tecnologia, na visão neoliberal, é fundamental, pois o trabalhador é substituído por máquinas, computadores e robôs.

15. Para os países desenvolvidos os efeitos desta reestruturação neoliberal são cada vez mais agravantes. Já para os países em desenvolvimento, no caso do Brasil, ainda os efeitos são menores, por causa do atraso e da dependência tecnológica em vários setores da economia nacional. O Brasil precisa urgentemente de um projeto de desenvolvimento tecnológico independente que supere o atraso, mas que leve em conta a realidade do país e utilize essa própria tecnologia para aumentar a produção e a competitividade e trazer benefício para o trabalhador, através da diminuição da jornada de trabalho sem redução de salário.

16. Em síntese, a globalização neoliberal, comandada por EUA, Alemanha e Japão, exige o controle quase absoluto dos processos políticos em evolução nos países vinculados aos seus megamercados, os chamados blocos econômicos. Não lhes interessa muito os tipos de partidos que governam esses países. Mas é condição sine-qua-non que os governos subalternos assegurem aos investidores da oligarquia financeira a continuidade do saque, a “governabilidade” econômica global. Ainda mais, este novo “poder soberano”, concentrador da “geopolítica monetária” e dos centros de decisão sobre investimentos, transformou-se num algoz das políticas econômicas dos Estados capitalistas dependentes na globalização.

17. Na América Latina, por exemplo, é o que estabelece o “Consenso de Washington” e é por isso que a pressão foi descarada pela reeleição de Menen na Argentina, de Fujimori no Peru e agora de FHC no Brasil. O objetivo é impedir o prosseguimento da oposição de esquerda e dos setores democráticos ao neoliberalismo. 18. Diante dessa situação, os trabalhadores dão resposta aos planos econômicos e à partilha do mundo. É o caso das greves e movimentos que aconteceram na Argentina, na França, na Bélgica, na Coréia do Sul, em Israel, na Espanha, no México e recentemente na Alemanha, onde os trabalhadores cruzaram os braços contra o desemprego que se alastra pelo país. Ou seja, há manifestações em todos os continentes e que podem ser consideradas resposta a este modelo econômico que exclui e aumenta as diferenças sociais.

Projeto neoliberal e o Brasil

 

19. Para o Brasil entrar na era da globalização neoliberal, deveria necessariamente estabilizar sua economia, promover reformas sociais e enxugar o Estado, com eliminação de despesas e privatização em massa, diminuindo ao limite a intervenção estatal no mercado.

20. Durante o governo Collor, tentou-se implementar o projeto neoliberal com a privatização das estatais, a aprovação da nova legislação patentária, a reforma administrativa, a reforma partidária e eleitoral e o esfacelamento dos movimentos populares, particularmente o sindical.

21. Mas o governo de Collor se desmorona quando a população descobre o ninho de corrupção, benefícios e vantagens pessoais que habitava o Palácio do Planalto e impõe o impeachment. Assume o governo o vice Itamar Franco.

22. O governo de Itamar Franco mantem na essência as diretrizes que vinham sendo adotadas por Collor, ou seja, a implantação do projeto neoliberal. A seis meses do fim de seu mandato, Itamar apresenta ao país o Plano Real, instituído quando FHC era ministro da Fazenda. Plano essencialmente noliberal.

23. Com a vitória de Fernando Henrique Cardoso no primeiro turno e com o plano obtendo popularidade de aproximadamente 85%, o projeto neoliberal ganha força4. A estabilidade econômica, provocada pelos resultados do plano no combate à inflação, é a responsável por isso.

24. Mas tal estabilidade tem preço caro para a população, típico dos planos dessa natureza. O aumento do arrocho salarial, do desemprego e do número de miseráveis é o exemplo mais concreto do teor nocivo do plano. No Brasil são mais de 4 milhões de desempregados, pelos dados do IBGE. Só na Grande São Paulo são mais de 1,3 milhão de desempregados e taxa de desemprego em torno de 16% da população economicamente ativa, conforme pesquisa da Fundação Seade5 e do Dieese6.

25. Através da reforma constitucional, FHC e seus aliados procuram reduzir o tamanho do Estado na economia, privatizando setores estratégicos e rentáveis. Desde Collor, o projeto neoliberal privatizou a Companhia Siderúrgica Nacional, a Light, a Usiminas, entre outras. Todas as principais empresas foram entregues ao capital privado em troca de moedas podres (títulos da dívida pública), a preços subfaturados e em condições de pagamento inexistentes ao cidadão comum. Agora privatizaram a Vale do Rio Doce, quarta maior empresa de minério do mundo, venda que encontrou resistência de setores nacionalistas que não concordaram com o que consideraram vender “uma agência de desenvolvimento”, com produção em oito estados, a setores privados nacionais e multinacionais, comprometendo este ramo vital ao desenvolvimento do país (minerais não renováveis).

26. Após a grande investida nas privatizações, FHC se empenhou para aprovar a Lei de Patentes. Exigência do governo norte-americano, o Brasil se vê pressionado e aprova na Câmara e no Senado uma Lei que cede mais do que é exigido pelo Acordo Geral de Tarifas e Comércio (Gatt), hoje Organização Mundial do Comércio (OMC). A aprovação da Lei de Patentes é a prova da exigência do neoliberalismo chefiado pelos EUA. O governo colaborou intensamente no patenteamento da vida, uma das concessões brasileiras.

27. Ao contrário dos EUA, o Brasil sempre respeitou a legislação internacional sobre patentes. É um dos onze signatários originais da Convenção de Paris, de 1883, que regulamentou pela primeira vez o tema em âmbito internacional; desde então, subscreveu e cumpriu as oito modificações que o tratado sofreu. Já o EUA descumpriram mais de um século a legislação internacional. Hoje, na vanguarda da indústria farmacêutica mundial, forçam a alteração dessas leis para que os países não exijam, em troca do patenteamento, a produção local do invento e sua descrição completa, que propiciaria o desenvolvimento tecnológico nacional7.

28. A abertura indiscriminada da economia e outras medidas de cunho neoliberal destroem o país. O plano se mantém a custa dos juros estratosféricos. A ajuda aos bancos em mais de 12 bilhões de reais contribuiu no crescimento da dívida pública federal em mais de 120% em 15 meses (de dezembro de 1994 a março de 1996)8. Esta política econômica beneficia o grande capital financeiro e comprime gastos com a área social. De 1995 para 1996, a participação dos gastos com saúde e saneamento caiu de 6,17% para 5,16% e das despesas com educação e cultura, de 3,82% para 3,30%9.

29. A proposta do governo de revisão da Constituição de 1988 revela outra face da implantação do neoliberalismo, a investida contra os direitos sociais garantidos aos trabalhadores. FHC e seus seguidores propõem descaradamente o desmonte do sistema de seguridade social pregando o fim da universalidade no atendimento à saúde, a privatização do SUS e do Sistema de Vigilância Sanitária e a alteração na legislação de previdência social.

30. A reforma constitucional, parte integrante do plano, também avilta a soberania nacional, ataca os direitos dos trabalhadores e torna ainda mais formal a democracia existente no Brasil. Propõem a desestruturação dos sindicatos, através da aprovação do fim da unicidade sindical (um único sindicato por categoria, por ramo de atividade e etc), a restrição ao direito de greve e o esvaziamento das entidades, inclusive com o fim das contribuições sindicais. Greves e movimentos de trabalhadores são brutalmente reprimidos e sindicatos são condenados a inexplicáveis indenizações, caso do movimento dos petroleiros. Trabalhadores rurais em luta pelo direito à terra são recebidos a bala pelos latifundiários e o governo é conivente com tal situação. Tragédias como a de Eldorado dos Carajás, chacinas intermináveis de menores de rua em São Paulo e no Rio de Janeiro, mortes nas clínicas de Caruaru e Santa Genoveva dão prova de que FHC não governa para o povo.

31. A educação também é alvo do projeto neoliberal através do sucateamento das universidades públicas, da elitização do ensino via desregulamentação dos reajustes das mensalidades e do não-incentivo à pesquisa e extensão.

32. Recentemente o governo mostrou do que é capaz para continuar no poder, sem ao menos consultar a população sobre uma questão histórica para o Brasil: aprovou a reeleição, da forma mais antidemocrática possível. Nunca houve reeleição no país, nem mesmo na ditadura militar, mas FHC esqueceu disso. O governo e seus aliados não esconderam a troca de favores, ameaças de demissão de apadrinhados, “caça” de parlamentares no aeroporto de Brasília, cobrança de empresários nos gabinetes, pressão de governadores e prefeitos nos corredores do Congresso Nacional, negação do acesso da população às galerias do plenário, notícias triunfalistas plantadas nos meios de comunicações para pressionar os indecisos. Tudo foi feito pelos governistas para reunir a maioria de deputados e senadores que aprovaram a emenda. O Congresso Nacional e o Palácio do Planalto foram um verdadeiro balcão de negócios com a finalidade de romper uma tradição secular de nosso direito e alterar uma norma básica de ordem política e democrática.

33. Com a aprovação da emenda da reeleição, a formação de um esquema político em torno de FHC se consolida criando um novo quadro político no país. O presidente lança-se em campanha eleitoral. Momentaneamente fortalecido, governa com a perspectiva de exercer um novo mandato, faz plano de longo prazo e desvenda os verdadeiros propósitos do seu governo. Com uma base maior no Congresso Nacional, há perspectivas de aprovar todas as reformas prevista pelo projeto neoliberal.

34. As estripulias governamentais em torno da reeleição não constituem um episódio isolado. Com a edição e a reedição de centenas de medidas provisórias, o Poder Executivo esvaziou o Poder Legislativo. Com apoio dos parlamentares governistas, o Executivo dita a pauta do Legislativo e interfere na escolha das mesas da Câmara e do Senado. O Poder Judiciário também já foi pressionado por ministros do governo na competência que lhe cabe de salvaguardar os direitos coletivos e individuais garantidos pela Constituição.

35. Todas essas atitudes do governo causam perplexidade e levam a um recuo na democracia revigorada por ampla participação popular e impõem um modelo político de presidencialismo imperial, autoritarismo civil e liberdades restringidas. Tudo submetido a uma orientação econômica que preconiza a integração submissa do Brasil na nova ordem internacional, a pressão avassaladora sobre as empresas nacionais e a revogação de direitos históricos conquistados pelos trabalhadores. Em resumo, com a perspectiva da reeleição aprofunda-se a posição antidemocrática, antipopular e antinacional do governo FHC, que assume definitivamente seu reacionarismo e a missão em que foi investido pelo imperialismo internacional e pelos setores mais expressivos das classes dominantes nacionais: executor da estratégia neoliberal no país.

36. Vale destacar que mesmo com a ofensiva neoliberal de FHC, os trabalhadores deram uma demonstração de força na greve geral de junho de 1996, com a adesão de 12 milhões de assalariados; foi a primeira resposta unificada ao governo. Já o Movimento dos Sem-Terra (MST), através de permanentes e corajosas ações pela reforma agrária, constituiu-se no principal foco de resistência de massas ao governo.

37. O 2° Congresso da Fenafar procura apresentar à categoria um plano de lutas coerente com as necessidade de contraposição ao projeto neoliberal. Lutando pela unificação de todos os trabalhadores, estudantes e suas entidades com objetivo de construir um projeto econômico e político alternativo ao projeto neoliberal. As associações de farmacêuticos, os sindicatos e conselho regionais não podem limitar suas ações à esfera corporativo-econômica. A superação da atual política das classes dominantes será fruto da atividade organizada de todos os brasileiros e suas entidades.

Referências Bibliográfica:

 

PUPO, Fernando, Neoliberalismo: promessas e realidade, Revista Princípios, São Paulo, n° 20, abril de 1991;

FOSTER, John Bellamy, Trabalho e Capital Monopolista vinte anos depois, Revista Princípios, São Paulo, n° 43, janeiro de 1997;

ALMEIDA, Milton B. de & VASCONCELOS, Nilton, Trabalho e qualidade total, Revista Princípios, São Paulo, n° 43, janeiro de 1997;

FERNANDES, Luis, Os mitos da globalização e os desafios do desenvolvimento, Revista Princípios, São Paulo, n° 43, janeiro de 1997;

GOMES, Luiz Marcos, Construindo o Estado do mal-estar social, Revista Princípios, São Paulo, n° 43, janeiro de 1997;

Neoliberalismo e os Trabalhadores, documento da Corrente Sindical Classista;

Conjuntura Nacional e Mercado de Trabalho, Teses do 2° Congresso do Sinfar-SP;

Nuevas Tecnologias, Difusion Sectorial, Empleo y Trabajo en Brasil: Un Balance, documento da Organização Internacional do Trabalho, Prealc, agosto de 1990;

CANO, Wilson, Reflexões Sobre o Brasil e a Nova (des)ordem Internacional, Revista Atenção, São Paulo, ano II, nº 4, outubro de 1991;

 

Notas:

 

1 – “O Neoliberalismo e os Trabalhadores”, documento aprovado pela Corrente Sindical Classista, São Paulo/1996.

2 – Relatório Sobre Desenvolvimento Mundial, Banco Mundial, 1995.

3 – “O Neoliberalismo e os Trabalhadores”, São Paulo, 1996.

4 – Tese do 2° Congresso do Sinfar, 1996.

5 – Fundação Serviço Estadual de Análise de Dados.

6 – Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos

7 – Revista Atenção, ano 2, n° 4, 1996

8 – “O Neoliberalismo e os Trabalhadores”, São Paulo, 1996.

9 – Folha de S. Paulo, de 13 de fevereiro de 1997.