Após meses de mobilização, os farmacêuticos e farmacêuticas que atuam na rede Pague Menos em Roraima conquistaram avanços concretos. A pressão organizada surtiu efeito imediato. A empresa abriu o diálogo, reconheceu a legitimidade das reivindicações e anunciou o pagamento de reajuste salarial que estava congelado desde 2023.
A negociação segue em curso, com a minuta do Acordo Coletivo de Trabalho (ACT) em análise e a expectativa de consolidar um piso salarial e corrigir distorções históricas na remuneração e nas condições de trabalho.
Mas essa conquista não começou nas mesas de negociação, ela nasceu da coragem de uma categoria que, mesmo sem sindicato próprio, decidiu se unir e lutar.
Quando a ausência vira força
Em Roraima, os farmacêuticos sempre trabalharam em condições desiguais. Sem uma convenção coletiva específica, a categoria era incluída em acordos dos trabalhadores da saúde, o que, na prática, significava ignorar as responsabilidades técnicas e sanitárias específicas da profissão farmacêutica. “Não havia quem nos representasse de fato”, lembra Clarissa Xavier, uma das lideranças do movimento.
Tudo começou em meados de 2024, quando um grupo de profissionais começou a trocar mensagens, compartilhar insatisfações e organizar reuniões. O estopim foi a rotatividade alta e o desrespeito às funções do farmacêutico dentro das lojas da Pague Menos. “Queriam que o responsável técnico fizesse de tudo, do caixa à reposição de mercadoria, e deixasse o cuidado clínico em segundo plano”, conta Clarissa.
Em fevereiro de 2025, a mobilização chegou ao ponto alto: uma assembleia histórica reuniu dezenas de farmacêuticos e trouxe, pela primeira vez, o gerente regional da empresa para ouvir as reivindicações.
O apoio que fez a diferença
A negociação, no entanto, começou a emperrar. A empresa dizia que não havia entidade legítima para representar os farmacêuticos. Foi nesse momento que a Fenafar entrou em cena, garantindo respaldo jurídico, legitimidade sindical e força política à mobilização.
Com a federação à frente, a minuta do acordo foi reenviada à empresa e as tratativas foram retomadas. Quando as respostas demoraram, os profissionais decidiram dar um passo ousado: decretar estado de greve e marcar uma paralisação.
O resultado foi imediato. Antes mesmo da paralisação, a empresa retornou à mesa de negociação, reconhecendo a pauta da categoria e propondo o reajuste salarial atrasado há dois anos. “A pressão organizada funcionou. A união mostrou o poder que temos quando falamos juntos”, afirma Clarissa.
Mais que um acordo: o nascimento de uma consciência coletiva
A mobilização trouxe algo ainda maior do que conquistas salariais. Ela reacendeu o sentimento de pertencimento e mostrou que os farmacêuticos de Roraima não estão sozinhos.
Hoje, muitos deles participam do Curso de Formação Sindical promovido pela Fenafar, passo fundamental para a criação de um sindicato próprio no estado. “A gente entendeu que não basta reclamar. É preciso se organizar, estudar, ocupar o nosso espaço. A farmácia só pode abrir se tiver um farmacêutico — e isso precisa ser valorizado”, reforça Clarissa.
O movimento segue firme. O estado de greve está mantido até que as negociações avancem e a empresa reconheça plenamente os direitos da categoria — inclusive o pagamento justo da insalubridade e a implantação de um piso salarial que valorize o trabalho técnico e clínico.
Uma lição que vale para todo o país
A história dos farmacêuticos de Roraima é, antes de tudo, um lembrete de que a união transforma indignação em conquista. Sem sindicato próprio, com poucos recursos e enfrentando resistências, eles provaram que a força coletiva é o caminho para mudar realidades.
E mostraram, também, o papel fundamental da Fenafar como instrumento de amparo, articulação e fortalecimento da luta profissional.
“Quando o farmacêutico é respeitado, todos ganham: o trabalhador, a empresa e a população que recebe um atendimento melhor. O que queremos é simples: dignidade, reconhecimento e condições de trabalho justas”, resume Clarissa.
Em Roraima, essa história ainda está sendo escrita, mas já deixou uma marca profunda: a convicção de que só a mobilização coletiva faz a diferença.